Como tem visto a Comissão Europeia, o cumprimento do plano da Troika para Portugal e se acha que este tipo de planos, de ajuda económica é a solução para ajudar a sobrevivência da União Europeia?
Os planos de ajuda económica à Grécia, à Irlanda e a Portugal visam apoiar estes países a ultrapassar as dificuldades económicas e os problemas nas finanças públicas de modo a retomarem o caminho da prosperidade. São exemplos da solidariedade europeia e qualquer Estado membro contará com o apoio dos seus parceiros e das instituições europeias se necessitar.
No caso de Portugal, há uma satisfação geral com o desempenho do plano de ajuda da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu e do FMI. O governo está a cumprir as metas e os compromissos assumidos. Será um caminho difícil e duro, mas existem as condições políticas para o país alcançar com sucesso os objectivos estabelecidos. Além do mais, confio no povo português. Sei que é perante os maiores testes que o nosso valor e as nossas virtudes se manifestam.
Como político europeu, gostaria de saber a sua opinião sobre o futuro da UE. O nosso país pode correr o risco de vir a sair desta união, como se falou em tempos? Ou a solução passa por solidificar e fortalecer esta união não só económica, mas também política e social.
Em tempos de grandes dificuldades e desafios, ouvem-se todo o tipo de especulações. Mas posso dizer-vos que Portugal não corre o risco de sair da União Europeia. É fundamental manter a lucidez e evitar cenários irrealistas.
Concordo com a segunda parte da sua questão. A saída da crise exige o reforço da construção europeia, sobre isso não tenho dúvidas. Estou convencido que o futuro me dará razão: teremos uma União mais forte e mais preparada para lidar como os desafios que se colocam aos europeus. E nenhum país deverá cair na tentação de pensar que se livrará de problemas se outros se afundarem. Como já afirmei várias vezes, ou chegamos juntos a bom porto ou afundamo-nos separados.
O que acha das cimeiras franco-germânicas acerca de soluções para a crise? Não estarão a pôr em causa o eqilibrio político da UE e da própria Comissão Europeia?
Antes de mais, todos os Estados membros gozam do direito de se reunirem nas configurações que entenderem. Por exemplo, Portugal e Espanha reúnem-se igualmente em Cimeiras bilaterais com regularidade. Devemos ainda entender o papel central da Alemanha e da França nomeadamente como as duas maiores economias da zona Euro. Além disso, a reconciliação franco-alemã, após as guerras da primeira metade do século XX, ocupa um lugar decisivo na história da integração europeia.
Dito isto, a Alemanha e a França não falam pela União. Apenas as instituições representam a União. Nenhum governo tem essa legitimidade. Como mostra o meu comportamento como político, desde PM português até hoje, sempre me opus a todos os tipos de directórios; e continuarei a apor-me. Os valores democráticos, a essência da União Europeia, são incompatíveis com directórios. E todas as capitais, com maior ou menor trabalho, acabarão por o entender. Só com instituições europeias fortes – e foram os Estados-membros que criaram essas mesmas instituições, consagradas hoje no Tratado de Lisboa – poderemos evitar que a Europa volte à sua experiência de equilíbrio ou desequilíbrio de forças e às confrontações entre países que, no passado, conduziram a tantas calamidades. É trabalhando juntos, na base de regras e instituições que podemos defender o interesse europeu e promover as aspirações dos nossos cidadãos.
Até que ponto a decisão do Banco Mundial de mudar o actual sistema de divisas, para um sistema multi-divisas no futuro, pode ter tido influência numa tentativa das agências de rating americanas de abater o euro, pondo em causa essa decisão?
Sabendo que a sobrevivência da economia dos EUA depende exclusivamente do poder da sua moeda no mundo.
A entrada da Turquia na União Europeia poderá ser ainda mais adiada com a actual "crise da Europa" ou o seu potencial económico e geoestratégico pode acelerar o processo?
Desde que é presidente da Comissão Europeia a Europa sofreu grandes alterações. Existe alguma medida que gostaria de ter tomado para evitar o actual ataque à união monetária?
Ao longo dos anos, esta questão foi diversas vezes colocada e discutida. Gostava de saber qual a sua posição para uma provável criação dos "Estados Unidos da Europa" com um Mega-Governo que controlasse as questões financeiras do continente.
Qual é a sensação de ter de lidar com os interesses comuns e singulares dos 27 países que lidera, sabendo o peso de determinados como a Alemanha e a França, nunca abdicando da equidade de direitos de todos os estados membros?
Como Presidente da Comissão Europeia, gostaria de saber a sua opinião acerca do desempenho do novo governo português face à resolução dos problemas da dívida externa portuguesa.
Não terão sido excessivas as políticas de alargamento da UE ao longo dos anos quando os vários países se encontravam em fase de desenvolvimento e crescimento tão distintas, facto que agora parece enfraquecer qualquer política comum de resolução da crise (dado que as políticas direccionadas para os países em dificuldades têm repercussões financeiras substanciais para os países menos debilitados, nem sempre fáceis de explicar à população dos que auxiliam)?
Como compaginar numa perspectiva de combate ao famigerado "déficit democrático"que permeia o edifício institucional europeu, a emissão de eurobonds com a criação de instituições sem a devida legitimação democrática? Irá a União Europeia desrespeitar o famoso principio"no taxation Without representation"?
Nuna altura em que há quem diga prever a morte da Europa, acredita que as soluções temporárias serão suficientes para trazer estabilidade, ou são necessárias alterações profundas? Por exemplo no sistema social ou no sistema capitalista.
Tendo em conta a actual crise económica, não considera que a União Europeia deveria fazer um maior investimento nas matérias primas, fazendo assim com que os Estados Membros produzissem, por exemplo, mais produtos hortícolas e alimentares, pugnando assim por um aumento da exportação para outros continentes e consequente melhoria da economia?
Aos mais importantes níveis da nossa vivência em sociedade: A Europa tem sofrido uma mutação nos últimos anos. Considera urgente e verdadeiramente crucial uma reforma dos pressupostos comunitários?
Estando vossa excelência num alto cargo europeu, observando toda a Europa, dê-nos a sua opinião da justificação das diferenças entre a sociedade portuguesa, e o resto da Europa, no que diz respeito á distribuição de riqueza, justiça social, educação, tribunais, etc. Em suma, o que tem impedido o desenvolvimento harmonioso, equivalente à Europa, da qualidade de vida, do povo português? Onde temos errado?
Com o evoluir da crise da dívida soberana no seio da União Europeia, há cada vez mais vozes a criticar o atraso na reacção concertada dos Estados-Membros, denunciando um problema de liderança. Como responde a estas críticas?
A alteração do sistema salarial de mensal para semanal poderá ajudar as economias locais e a incentivar a poupança em geral, é possível, a curto médio prazos, aplicar esse modelo numa escala europeia?
Acredita que a solução para a estabilização económica, numa dimensão europeísta, passará pela implementação de uma união política, de carácter federal?
Tendo em conta os recentes ataques terroristas levados a cabo pelas agências de rating norte-americano, para quando a criação de uma agência de rating eurupeia?
O Dr. Carlos Carreiras disse que com a crise "vai nascer uma Europa nova" directamente ligada ao federalismo. Com o aparecimento do federalismo, os Estados poderão vir a perder as suas autonomias e poder de decisão?
Gostaria de saber a opinião do Dr. Durão Barroso acerca das Lideranças Europeias, ou seja se hoje é mais fácil chegar a um acordo entre os países da U.E do que por exemplo há 10 anos atrás. E se foi dificil como Português mostrar que temos a mesma capacidade de Liderança e Governança, ou mesmo talvez mais, que qualquer outro país da U.E? Obrigado e bem haja.
"O projecto europeu é incompleto e tende a desaparecer, não porque não haja coesão económica, mas porque nos esquecemos da coesão de culturas, do respeito entre povos e da solidariedade". Esta frase é de Jacques Delors e hoje mais que nunca é própria, tendo em conta o "ambiente" auster que se vive entre estados membro. A Europa ainda vai a tempo de re-escrever o seu projecto, para a própria europa e para o mundo, ou tendemos a depender de um eixo (fraco-alemão) que se afigura cada vez mais dominador de uma europa cada vez mais egoísta do ponto de vista económico, ignorando o propósito pela qual foi criada?
Dr. Durão Barroso, quais são os planos da Europa face à entrada de produtos provenientes das potências emergentes que chegam à UE a baixo custo, competindo deslealmente com a nossa produção e consequentemente asfixiando a nossa economia.
Como Presidente da Comissão Europeia, defende ou não uma união política europeia e a constituição de um orçamento geral europeu, como resposta ao não funcionamento actual da união monetária europeia, o euro ?