Muito
boa tarde a todos, vamos dar início aos exercícios de Simulação de Assembleias.
Connosco
temos o Dr. Pedro Duarte, antigo Presidente da JSD.
Foi
deputado à Assembleia da República, vice-presidente da Bancada Parlamentar, um
deputado notável.
Por
sua iniciativa interrompeu o protagonismo político para se dedicar à vida
empresarial.
Está
num grande grupo, é o responsável da Microsoft para uma área estratégica e, por
isso, renunciou a um lugar que lhe caberia nas listas para a Assembleia da
República.
O
Dr. Pedro Duarte tem como hobby o convívio com amigos; a comida preferida é um
bom peixe grelhado, se possível com vista de mar e acompanhado por um bom
branco gelado; o animal preferido é o cão; o livro que sugere é a "Utopia” de
Thomas More; o filme é de Sergio Leone, "Once upon a time in America” e a qualidade
que mais aprecia é a frontalidade.
Pedro,
muito obrigado pela presença aqui.
Dito
isto, transfiro a condução dos trabalhos para a Mesa.
Duarte Marques
Bom
dia senhores membros do Governo e Senhores Deputados, vamos dar início à primeira
sessão da Assembleia da Universidade de Verão.
A
proposta do Governo do Grupo Amarelo é a "Legalização da Eutanásia”. Na
Oposição estão os grupos Roxo e Castanho. Dou a palavra à Marta Lopes para uma
intervenção de 5 minutos.
Marta Lopes
Muito obrigada.
Senhor Presidente
Senhoras
e Senhores Deputados
O
Grupo Amarelo dirige-se a todos vós para defender uma bandeira do seu programa:
a legalização da eutanásia.
Em
primeiro lugar, para aniquilar de raiz mal-entendidos, começamos por definir o
conceito de eutanásia. Entenda-se qual é o conceito que nós defendemos, porque
são variados.
Só
a partir do mesmo ponto poderemos seguir todos juntos para este debate.
A
palavra eutanásia é composta por duas palavras gregas: "eu”, de bom, e "thanatos”,
de morte. Trata-se de uma morte boa, sem sofrimento.
Ocorre
quando alguém acaba com a vida de outra pessoa para benefício desta.
Este
entendimento da palavra realça dois importantes componentes: há um terceiro a
praticar o acto, sempre com um factor de benefício para quem a vida pertence.
É,
portanto, um processo clínico excepcional de assistência na morte, praticada
por terceiros. Entenda-se "profissionais
de saúde”. É desencadeado pela manifestação de vontade, expressa e
inequívoca de um portador de doença incurável ou terminal, irreversível e
incapacitante, de pôr termo à sua vida.
Existirá
um regime de excepção: nem todos poderão usufruir da eutanásia; é proporcionado
a doentes terminais, incapacitados quer de pôr termo à própria vida quer de a
gozar de forma digna.
Implica
o benefício do doente, a vontade do próprio doente e é operada por terceiros.
Como?
As medidas do programa são explícitas, vertidas em diplomas legais. O Governo
não age sem lei. Desresponsabilizamos os profissionais de saúde: se o
procedimento partir do doente, o médico não é responsabilizado dado que apenas
ajuda à concretização da vontade do primeiro.
A
estes profissionais reserva-se o direito de invocarem objecção de consciência.
Existe
depois um Conselho Hospitalar, composto por dois médicos e um psicólogo clínico
para analisar a situação do doente e se não haverá externalidades como, por
exemplo, pressões da família para que o próprio doente decida morrer por sentir
que é um peso.
Queremos
com a nossa proposta pôr termo ao sofrimento sem sentido, proveniente não
apenas da doença mas também das condições de dependência total que deixa sem
propósito a própria vida.
Queremos
também pôr fim à hipocrisia da sociedade que assegura que aos doentes em estado
terminal sejam dadas condições de conforto até aos últimos dias, condições que
não lhes permitem pôr fim ao sofrimento. Ou seja, as condições são para
alargamento do próprio sofrimento.
Mas
mais: queremos acabar com a injustiça e com a desigualdade pois apesar do
suicídio ser considerado homicídio qualificado, nós – pessoas normais –
fazemo-lo independentemente disso, e estas pessoas não têm essa hipótese.
[AVISO
DA MESA PARA TERMINAR]
Temos
de deixar de ser hipócritas, dizendo que defendemos a vida mas afinal estamos a
sacrificar aqueles que não a podem viver.
Duarte Marques
Muito
obrigado. Dou agora a palavra ao senhor deputado Rui Bernardino, do Grupo Roxo.
Tem três minutos.
Rui Bernardino
Senhor Presidente da Assembleia da República
Senhores membros do Governo
Senhoras
e Senhores Deputados
Este
Governo vem aqui hoje trazer-nos o tema da eutanásia.
É
tal a importância deste tema que demonstraremos as falácias em que assenta a
proposta.
Sabemos
que o portador de uma doença intratável e irreversível, como é descrito na
proposta, raramente está em condições intelectuais de poder decidir dar "carta
branca” para que lhe terminem o seu bem mais precioso: a vida.
[APLAUSOS]
Não
pode ser assim!
Moralmente,
sabendo todos nós que o centro das políticas tem como pressuposto a dignidade
do ser humano, não podemos seguir pela solução fácil, como V. Exas. pretendem.
Meus
senhores e minhas senhoras,
Torna-se
evidente a desumanização desta medida. Aquilo que os senhores pretendem é
atacar o fundamento da comunidade.
No
dia em que nascemos esperam-nos deveres para com a nossa família, com a
educação dos nossos filhos, com o pagamento de impostos, entre outros.
Esta
vossa medida ignora esse valor ético, o da solidariedade. Para nós, escolher a
morte, é uma violação à moral humana, uma ofensa à dignidade do Homem, um crime
contra a vida, um atentado à Humanidade.
[APLAUSOS]
Não
é isto que o nosso partido defende: somos contra a solução fácil. Somos pela
vida.
Meus
senhores e minhas senhoras,
Medicamente,
nunca se poderá afirmar com total certeza que uma doença é totalmente
incurável. Matar não pode ser nunca um acto médico nem um acto de terceiro.
O
que importa salientar, e os senhores naturalmente ignoraram, é que é necessário
aliviar a dor e promover o conforto do paciente.
O
paciente está em primeiro lugar, disso não haja dúvidas.
Importa,
isso sim, apostar em melhores cuidados de saúde, cuidados paliativos, a
promoção da investigação médica. Importa recusar em absoluto este programa,
porque nós prestamos cuidado à vida e não à morte.
[APLAUSOS]
Também
se esqueceram V. Exas. que na constituição exalta-se a dignidade da pessoa
humana, em consequência da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Consagra-se o direito à vida, o dever de a defender e de a promover, a sua e a
dos outros, sustentando-se que a vida humana é inviolável.
Também
isto, naturalmente, V. Exas. ignoraram. A Declaração Universal dos Direitos
Humanos não contém o direito à morte. Neste sentido se pronunciou, aliás, o
Tribunal Europeu dos Direitos do Homem no caso que opôs Diane Prety contra o
Reino Unido.
Parece
que o ignoraram na vossa reflexão.
Não
podem também ignorar que o Código Penal, quando se refere ao homicídio ou
auxílio a homicídio, contém uma alusão à eutanásia, sob qualquer das suas
formas. O Governo não o quis ver.
[AVISO
DA MESA PARA TERMINAR]
A
vida torna-se mais imperiosa tanto quanto mais espaço ganha à morte.
Para
terminar, como já dissemos, nós prestamos cuidado à vida e não é morte: os
senhores fazer o contrário!
[APLAUSOS]
Duarte Marques
Muito
obrigado. Dou agora a palavra à senhora deputada Rosa Nogueira dos Santos, do
Grupo Castanho. Tem três minutos.
Rosa Nogueira dos Santos
Senhor
Presidente
Senhor
Primeiro-Ministro
Senhores
Ministros
Senhores
Deputados
É
fundamental ser brioso na forma como se estudam os problemas do País. Tenho,
por isso, de dar os parabéns a este Governo pois em muitos anos nunca vi um
programa tão descuidado.
Este
Governo fala daquilo que desconhece.
É
preciso ter mais responsabilidade e competência na análise destas matérias.
Ao
pegar nesse documento, só me vem à cabeça que o Governo não estudou este
assunto. Está em pleno desconhecimento. Caso contrário saberia que há doenças
crónicas – sem cura, evidentemente – mas que conseguem ser controladas. Falo da
doença de Crohn, diabetes, hipertensão e muitas outras.
Alguém
que se debruçasse a fundo sobre este assunto saberia que é muito mais
importante apostar na prevenção primária e secundária, em vez de promover e
encaminhar os doentes para o suicídio.
[APLAUSOS]
VOZES
Muito
bem!
A Oradora
Nos
vossos objectivos, lê-se "compreender a
vida enquanto bem extrajurídico e tornar este mecanismo acessível em casos
muito restritos”. Este é um objectivo bastante lato e pouco específico.
Resta perguntar se esta avaliação está determinada pelo bom-senso hospitalar
que referem. Deixará a vida de ser um bem extrajurídico?
Existe
um código deontológico dos médicos, em que é defendido um Princípios daBeneficência e Não-maleficência dos
doentes.
A legalização
da eutanásia obrigará à mudança deste código e que se revejam as reflexões
bioéticas? Estarão elas erradas?
Gostaria de
relembrar que os doentes acamados estão afectados psicologicamente, por vezes
deprimidos. Será uma boa altura para uma decisão tão importante, senhora
Ministra?
Como garante
que não haverá qualquer externalidade a influenciar o doente? As famílias podem
muito bem influenciar um doente dependente...
Ou os
gestores hospitalares e das unidades de cuidados continuados, que não estão
ligados à medicina nem tem qualquer código deontológico. Não porão os interesses
económicos acima dos do doente?
Já agora,
quais os custos desta medida? Não será mais uma medida encapotada para cortar
nos gastos do SNS?
O que faria
deste Governo um orgulho nacional seria a apresentação de medidas para evitar a
eutanásia em vez de a propor.
A morte é a
verdadeira doença irreversível.
Termino
perguntando que a vossa real proposta é legalizar a eutanásia ou encaminhar as
pessoas para um suicídio assistido?
[APLAUSOS]
Duarte Marques
Muito
obrigado. Dou agora a palavra ao senhor Ministro Gonçalo Rodrigues, do Grupo
Amarelo. Tem três minutos para responder.
Gonçalo Picarote Rodrigues
Senhor Presidente
Senhoras
e Senhores Deputados
A
minha primeira pergunta aos senhores deputados que intervieram é se leram o
programa.
Nós
tentámos explicar o conceito de eutanásia mas parece que não ficou claro.
A
eutanásia é feita numa situação verdadeiramente específica. Ela pressupõe a
vontade expressa do doente. Quando os senhores deputados aludiram à deficiente
condição psicológica dos doentes, saibam que esta proposta não é para esses
doentes.
A
eutanásia é uma possibilidade apenas para os que estão plenamente conscientes
do que querem.
Foi
usada aqui muita demagogia: eu também sei ir à wikipédia para buscar
argumentos. O nosso programa é muito claro e deveriam ser essas as propostas a
rebater.
[APLAUSOS]
Respondendo
à senhora deputada Rosa Nogueira dos Santos, o que custará mais? A dignidade da
vida ou os custos que teremos em não fazer parar o sofrimento daqueles que,
estando conscientes, não lhe podem pôr termo?
É
preciso dar vida à vida, até ao último minuto.
[APLAUSOS]
Presidente da Mesa
Muito
obrigado, Senhor Ministro.
Concluímos
a discussão e vamos proceder à votação.
Quem
acha que o debate foi ganho pelo Governo levante o braço.
Quem
acha que ganhou a Oposição 1 levante o braço.
E
quem acha que ganhou a Oposição 2 levante o braço.
Obrigado.
Declaro
como vencedor a Oposição 1.
Parabéns
a todos pelo trabalho que fizeram.
[APLAUSOS]
Passo
agora a palavra ao nosso Júri.
Dep.Carlos Coelho
Este
ano acrescentámos à votação instantânea uma votação secreta.
Nessa
votação vocês podem votar nos vossos grupos, até porque não há forma de vos
inibir de votarem em vós mesmos. A não ser que identificássemos a origem dos
boletins de voto mas achámos que não faria sentido.
Em
todo o caso, é um bom exercício de auto-avaliação.
Dito
isto, este primeiro é sempre o exercício mais delicado, porque o estão a fazer
pela primeira vez.
Três
coisas prévias.
A
primeira é: atenção à postura. A Marta dobrou-se sobre o microfone. O Rui
Bernardino teve uma postura correcta.
Vocês
não tenham problemas aqui com o som. Nós temos profissionais competentes na regie para aumentar o som sempre que for
necessário.
Mas
mais: ao debruçarem-se sobre o microfone, traduzem uma posição de fragilidade.
Um corpo dobrado é um corpo soçobrado. Um corpo direito é um corpo confiante.
Recordem
o que vos dissemos no Falar Claro: até podem ter as pernas a tremer que os
outros não vêem, mas a postura física deve transportar confiança.
Na
minha opinião quem melhor a evidenciou foi o Rui.
Concordo
com a vossa votação, a Oposição 1 ganhou claramente o debate, e digo isto sendo
eu, substantivamente, uma pessoa com opinião mais próxima da do Governo. Sou a
favor da eutanásia: com regras, claro, mas a favor.
Em
todo o caso, acho que o Rui ganhou claramente o debate. Ganhou-o com um texto
escrito, que retira sempre autenticidade mas leu-o bem e o texto estava bem
organizado.
Quando
acharmos que por algum motivo, nomeadamente gestão do tempo, nos devemos
refugiar num texto escrito lembremo-nos que é melhor ler bem um discurso
escrito por nós do que falar de improviso.
Nos
soundbites o Rui esteve muito bem, teve uma linha clara de argumentação e boa
capacidade de comunicação.
Curiosamente,
a seguir, quem teve bons soundbite foi o Gonçalo. Os nervos traíram-no, coisa
que pode acontecer com todos.
Tenham
isto em memória: é melhor terem uma prestação menos bem conseguida aqui, onde
estão rodeados de amigos, do que tê-lo noutra circunstância.
Uma
das maiores surpresas que tive na minha vida foi há dois anos quando uma das
vossas colegas disse ao seu conselheiro que era a primeira vez que falava em
público.
Vocês
podem achar normal, mas era vereadora numa Câmara Municipal. Isto é para vocês
verem que não é apenas quem está fora da política que tem menos prática de
falar em público.
O
Gonçalo foi, portanto, traído pelos nervos mas teve bons soundbites e o último
foi muito bom.
Finalmente,
a Rosa tentou usar ironia mas há coisas em que não de pode usar ironia. No tema
da eutanásia eu não usaria a ironia porque é uma questão muito sensível. Eu não
começaria por dar os parabéns ao Governo.
Noutras
matérias poderia ter passado bem, mas aqui deve seguir-se a lógica do Rui.
Só
mais uma nota, Rosa, lembra-se do que disse o Rodrigo no "Falar Claro” sobre as
mãos? A Rosa, já a terminar, pôs a mão na anca. É um erro capital. Numa
assembleia, numa senhora ou num homem, a mão na anca é proibidíssimo. Numa
senhora é um gesto vulgar de peixeira, num homem é um gesto grosseiro de falta
de respeito pela assembleia.
Nunca
se esqueçam que as mãos são essenciais na gestão da vossa imagem em público.
Pedro Duarte
Muito
obrigado.
Permitam
uma nota inicial para dar conta da minha satisfação e honra de estar presente e
participar neste evento tão importante para a vida política nacional – já não é
apenas importante internamente.
Quanto
à apreciação, subscrevo o que disse o Carlos.
Começo
desde logo por reforçar o alerta sobre as ironias. É um campo sempre arriscado.
Depois,
cuidado quando a linguagem se torna excessivamente técnica, fazendo alusões aos
códigos deontológicos, etc. Cuidado com isso porque pode não ser perceptível
para quem nos está a ouvir.
Outra
recomendação: cuidado com o tempo. Mesmo quando se tem uma declaração escrita,
corremos o risco de ultrapassar o tempo. O Rui, que esteve bem, a certa altura
viu o tempo a acabar e começar a falar muito depressa.
Lembrem-se
que os tempos que são dados são máximos e não mínimo. Achamos que temos de os
cumprir, que temos de gastar três minutos, ou cinco minutos. Não, temos de
gastar um ou dois minutos se isso for suficiente.
Mais
vale deixar uma folga para prevenir riscos de fim de intervenção.
Posto
isto, uma nota mais geral.
É
muito importante nós definirmos o nosso público. Isto é um exercício por isso
não é tão simples de definir o público, mas esse é um ponto fundamental. É que
um dos erros em que muita gente cai é achar que o nosso interlocutor é o nosso
público-alvo. Não é! Nós estamos a falar para terceiros.
Por
isso, nem a Oposição nem o Governo podem pensar que vão conseguir convencer o
adversário com a sua argumentação. A vossa intervenção tem de servir para
convencer terceiros e ganhar aliados.
É por
isso que o excesso de informação, o excesso de dados nem sempre é a melhor
forma de fazerem passar a mensagem.
Quando
falamos devemos querer passar a mensagem. Não podemos ceder à tentação de
querer impressionar os outros.
No
final, a vossa pergunta não poder ser: "será que ficaram impressionados
comigo?”, terá de ser "será que compraram a minha mensagem?”.
Foi
por isso que o Rui ganhou bem: ele tinha uma mensagem clara, a da defesa da
vida, e repetiu-a. Vincou-a de modos diferentes mas andou sempre em torna da
mensagem-chave.
Finalmente,
quero dizer-vos que é fundamental defenderem com muita convicção as vossas
ideias. Não apenas porque é importante sermos verdadeiros e éticos, mas também
pela eficácia da comunicação.
Se
não acreditam nisso, não falem. Ninguém vos obriga a dizer o que não querem.
Ao
contrário do que muitos pensam, os cidadãos, ainda que modestos, têm a
capacidade de perceber quando um político está a ser honesto e genuíno no que
diz.
Mesmo
grande mentirosos, que bem conhecemos do passado recente, eles mentiam com toda
a convicção porque acreditavam naquilo. Por isso convencem os outros.
É
por isso que as brancas do Gonçalo podem não ser graves. As pessoas lá em casa
dirão: "ele não é um grande orador mas
está a ser sincero e a dizer o que pensa”.
Às
vezes as brancas ajudam a dar essa ideia de pessoa genuína.
E
dou-vos a todos os parabéns.
[APLAUSOS]
Nuno Matias
Bom
dia senhores membros do Governo e Senhores Deputados, vamos dar início à
segunda sessão da Assembleia da Universidade de Verão.
A
proposta do Governo do Grupo Encarnado é "Reformular o rendimento social de
inserção”. Dou a palavra ao Ministro Ruben Fonseca.
Rúben Fonseca
Exmo.
Presidente
Senhoras
e Senhores Deputados,
O
Governo vem hoje aqui apresentar uma reforma ao programa do Rendimento Social
de Inserção.
Esta
é uma matéria que se enquadra no âmbito do Ministério da Segurança e
Solidariedade Social. É muito específica e queremos que dela todos retirem o
maior esclarecimento.
O
Governo faz todos para que nenhum seja excluído na nossa sociedade. Entende
como essencial a garantias de certas condições mínimas para os seus cidadãos.
Sempre com o propósito de os vincular a uma força activa da sociedade e não de
os colar a um rendimento que pode ser contínuo.
Os
objectivos desta proposta são claros: desenvolver a regulação e fiscalização do
RSI, restringir as condições de acesso e reforçar a reintegração social e
profissional promovida por este mesmo programa.
No
âmbito das restrições, cujos objectivos já distribuímos às bancadas, fixámos o
tecto máximo de 23 anos para um descendente, tutelado ou adoptado beneficiar do
RSI.
Não
é nosso objectivo criar situações insustentáveis na dependência deste
rendimento. Como tal, 23 anos para este Governo faz todo o sentido. Porquê?
Porque promove uma maior responsabilização. É isso que nós queremos. Queremos
responsabilizar os jovens e não vinculá-los a um subsídio cuja dependência pode
fazê-los não procurar outras condições de subsistência.
Assim,
e para reforçar a integração social e profissional promovida por este programa,
propomos a prestação de um serviço comunitário, na ordem das 10 horas semanais.
Esta
medida não existia. Nós trazemo-la porque queremos integrar as pessoas no seio
da sociedade. O novo RSI não vai excluir: vai incluir.
É
por isso que este serviço comunitário faz todo o sentido.
Estas
pessoas que são, por fortuna da vida, mais infelizes do ponto de vista
económico não mais o serão, porque as incluiremos nos trabalhos comunitários.
Autarquias
locais, empresas, voluntariado, podem ter o serviço destas pessoas.
Esta
prestação restringe-se a pessoas entre os 18 e os 65 anos. E nesta matéria o
Governo teve todo o cuidado de enquadrar estas pessoas.
A
começar pela faixa etária. É óbvio que o Governo não iria pôr as pessoas abaixo
dos 18 anos a trabalhar: o Governo tem todo o respeito pelos estudantes, até
porque ainda estão dependentes do seu agregado familiar.
Também
não íamos, como é óbvio, incluir as pessoas de maior idade, os anciãos, aqueles
que toda a vida trabalharam.
O
Governo tem uma atenção especial com essas pessoas, respeitamo-las mas também
as queremos integrar.
E
há aqui uma salvaguarda, senhores deputados, é que o Governo não só tem atenção
à faixa etária como às situações absolutamente excepcionais. Portanto, este
Projecto-Lei prevê que pessoas com incapacidades físicas ou mentais não possam
ser incluídas neste trabalho comunitário. Isso faz todo o sentido para nós,
porque este trabalho comunitário inclui e não exclui.
Também
objecto deste Projecto-Lei é a questão da renovação. Esta continua a
efectuar-se anualmente, nisso não tocámos, mas já não é automática. Faz-se por
candidatura. Quem usufrui deste rendimento não mais terá a garantia de que o
continuará a usufruir à partida: tem de fazer prova de continuar a precisar
dele.
Esta
medida impede abusos por parte dos particulares. É que ao apresentar a
candidatura, todas as informações prestadas serão confirmadas.
Por
outro lado, o número de famílias acompanhadas por cada técnico restringe-se a
seis, de modo a aumentar a eficácia, porque faz todo o sentido também para nós
[AVISO
DA MESA PARA TERMINAR]
que
estas pessoas não andem sem regulação e fiscalização. É por isso que os
técnicos são importantes.
[AVISO
DA MESA PARA TERMINAR]
Os
objectivos desta proposta são então muito claros e visam a solidariedade
social!
[APLAUSOS]
Nuno Matias
Tem
a palavra por três minutos, a senhora deputada Maria Inês Abreu, do Grupo
Castanho.
Maria Inês Abreu
Caro
senhor Presidente da Assembleia
Senhor
Primeiro-Ministro
Senhores
Deputados
A
reforma do Rendimento Social de Inserção é uma boa ideia, o problema é que a
vossa ideia carece de uma boa estruturação e contém algumas irregularidades.
Vocês
começam por propor que deixem de fazer parte do agregado familiar os
descendentes com mais de 23 anos, fazendo com que as famílias passem a receber
menos RSI. O problema é que se os maiores de 23 deixarem de contar para esse
cálculo, eles ficam com a possibilidade de se candidatarem ao próprio RSI como
titulares únicos, dado que a sua situação mantém-se, ficando assim a receber
cerca de 180 euros por mês em vez dos cerca de 130.
Isso
traduz-se no aumento de 43% na despesa do Estado por cada indivíduo nesta
situação. Dito isto, o acrescimento de despesa do Estado será de 86 milhões
anuais.
[APLAUSOS]
VOZES
Muito
bem!
A Oradora
Em
segundo lugar, o senhor Primeiro-Ministro, em relação ao acompanhamento do
programa de inserção, propôs que, e cito, "o
número de famílias acompanhadas por cada técnico restringe-se a seis, de modo a
aumentar a eficácia”. O que acontece actualmente é que cada técnico
acompanha, no mínimo, 50 famílias.
Visto
que são cerca de 126 mil as famílias com acesso ao RSI, essa redução levará a
um aumento brutal de funcionários, na ordem dos 18.500!
[APLAUSOS]
VOZES
Muito
bem!
A Oradora
Partindo
do pressuposto que esses funcionários ganhariam o ordenado mínimo nacional, o
que não ganham, e que não ganham 13º mês e subsídio de férias, o acréscimo de
despesa do Estado será de 107 milhões de euros.
Perante
estes factos, parece-nos que o senhor Primeiro-Ministro quer criar um mecanismo
de alimentar a ganância e o espírito aproveitador dos indivíduos.
Pergunto:
quer o Governo aumentar a despesa do Estado para estas proporções gigantescas?
Isto
são factos! Factos. Se os senhores não tiverem os vossos factos para suportar a
proposta, nem sequer vale a pena responderem.
[APLAUSOS]
VOZES
Muito
bem!
A Oradora
A
reforma do RSI sim, mas não nestes termos!
[APLAUSOS]
Nuno Matias
A
palavra agora à senhora deputada Célia Sousa, pelo Grupo Cinzento.
Célia Sousa
Senhor Presidente
Senhoras
e Senhores Deputados
Senhores
membros do Governo
Queremos
pôr um travão na injustiça social. A proposta do Governo só servirá para
aumentar essa calamidade.
Basta
ver para isso a alínea b) do n.º 3 da proposta do Governo que propõe restringir
as condições de acesso. Restringir ainda mais, criar mais pobreza e injustiça.
Podemos
observar também no artigo 4º, que se refere à exclusão de pessoas com mais de
23 do agregado familiar. Será que o
Governo conhece o conceito de agregado familiar? De certeza que não! Eu tenho
aqui a definição desse conceito pela Comissão Nacional do RSI: "conjunto de pessoas que vivem em economia
comum; todos os membros a cargo que tenham ou não parentesco com o titular;
poderão ser ainda considerados outros adultos que se encontrem em exclusiva
dependência económica do agregado caso sejam estudantes e estejam dispensados
da disponibilidade activa para a inserção profissional”
[APLAUSOS]
VOZES
Muito
bem!
A Oradora
Acha
que um jovem não pode estudar depois dos 24 ou 25 anos?
Por
que razão após os 23 anos não se pode pertencer ao agregado familiar?
Mais:
os portadores de deficiência não são considerados?
Em
nosso entender estamos perante uma proposta vaga que só visa o aumento da
injustiça social!
[APLAUSOS]
VOZES
Muito
bem!
A Oradora
O
artigo 5º da vossa proposta fala da obrigatoriedade de serviço comunitário.
Estando os beneficiários do RSI na ordem do meio milhão, excluindo 43%
relativos aos menores de idade, as câmaras municipais teriam em média a
responsabilidade de atribuir e fiscalizar o serviço comunitário de cerca de 700
pessoas. Este número parece-nos incomportável.
Além
disso, são ignorados todos os equipamentos sociais: as IPSS, a Santa Casa da
Misericórdia, verdadeiros responsáveis pela resposta social.
Quanto
ao art. 7º, que contempla o acompanhamento dos beneficiários do RSI por
técnicos especializados, o Governo também aqui parece desconhecer a existência
de protocolos com equipas multidisciplinares de 5 elementos, a trabalhar em
exclusivo no desenvolvimento do programa RSI. Há uma totalidade de mais de 200
protocolos em todo o país.
No
que diz respeito à alínea b), que determina a atribuição de um técnico de
segurança social por cada seis beneficiários,
[AVISO
DA MESA PARA TERMINAR]
Termino
dizendo que o Governo está a ser incoerente quando exige uma prestação do
serviço comunitário quando ele próprio não a faz.
[APLAUSOS]
Nuno Matias
Muito
obrigado. Dou agora a palavra ao senhor Primeiro-Ministro, Ruben Fonseca, do
Grupo Encarnado. Tem três minutos.
Rúben Fonseca
Muito
obrigado a todos os grupos parlamentares.
Sabe,
senhora deputada, nós temos uma grande dificuldade consigo: os seus
radicalismos nunca nos levaram a lado nenhum. E a senhora deputada não nos
esclarece aquilo que quer.
Peço-lhe
que siga o meu raciocínio a ver se consegue, no mínimo, concordar com ele.
No
caso dos deficientes, a senhora deputada não pode, em momento algum obrigar uma
pessoa que tem uma deficiência a trabalhar. O Governo teve o cuidado de excluir
essas pessoas para não as fragilizar socialmente.
O
que a senhora está a dizer é o seguinte: "vamos
tratá-los a todos pela mesma fasquia! Sejam deficientes, velhos ou crianças,
têm todos de trabalhar!”
É
errado!
Isso
é um radicalismo da sua bancada parlamentar. Não pode ser!
E
aliás, os anos transactos mostraram-nos que não pode ser assim.
E
perdoe-se, senhora deputada, mas a convicção que emprega torna-se desfasada da
realidade. Veja: não são as câmaras municipais é a segurança social! Eu disse-o
logo no início.
Falta
de atenção a sua, não é, senhora deputada?
Vozes
Muito bem!
[APLAUSOS]
O Orador
Depois
a senhora contraria-se a si própria: uma vez são as câmaras municipais, outra
vez são as IPSS e as Misericórdias.
Peço
desculpa mas assim não contribui para o debate parlamentar.
Quanto
à outra bancada, a senhora deputada disse que acima dos 23 anos ainda se podia
estar a estudar. E falou também em factos. Quanto a factos, durante os vossos
governos o facto é que ninguém fazia serviço comunitário.
No
vosso tempo, sabe quantos dos que usufruíam do RSI cumpriam trabalho comunitário?
Zero!
Os
nosso factos provarão que todos devem ter o direito a receber mas devem ter
também o dever de trabalhar para a sociedade.
A
senhora quer uma sociedade dividida mas nós queremos uma sociedade unida, de
auxílio e um Estado Providência.
Quanto
ao aumento do número de técnicos, eu se estivesse na sua bancada diria o mesmo,
mas se isso acontecer estaremos a diminuir o desemprego nessa área! É tão fácil
pensarmos assim.
[AVISO
DA MESA PARA TERMINAR]
E
repare, senhora o Estado é um Estado-Providência, não é um Estado de
socorrismo.
[VÁRIOS
AVISOS DA MESA PARA TERMINAR]
[APLAUSOS]
Nuno Matias
Muito
obrigado.
Concluímos
a discussão e vamos proceder à votação.
Quem
acha que o debate foi ganho pelo Governo levante o braço.
Quem
acha que ganhou a Oposição 1 levante o braço.
E
quem acha que ganhou a Oposição 2 levante o braço.
Declaro
como vencedor o Governo.
Obrigado
e parabéns a todos.
Passo
agora a palavra ao nosso Júri.
Pedro Duarte
Muito
bem, eu gostei de todas as intervenções deste debate, sobretudo porque cada um
dos que interveio mostrou convicção no que estava a dizer.
Começando
pelo Ruben: pela vivacidade com que falou, talvez tenha sido o exemplo mais
paradigmático disto.
Podemos
discordar dos argumentos mas ficamos todos com a convicção de que ele
acreditava no que estava a dizer.
Isso
é normalmente meio caminho andado para correr bem.
A
ordem com que verificou este factor foi, quanto a mim, primeiro o Ruben, depois
a Inês e por fim a Célia.
Em
segundo lugar, realço a vivacidade usada pelo Ruben na segunda intervenção,
muito mais que na primeira. É que quando estamos a dizer coisas importantes
devemos fazer um esforço para as tornar interessantes.
Uma
coisa que aconteceu em todas as intervenções foi o aproveitamento dos contrastes:
"vocês defendem o branco, eu defendo o preto”. Isso foi muito interessante.
Gostei
de algumas frases muito directas da Inês, os chamados soundbite, como "o aumento da despesa com proporções
gigantescas”. Frases destas são muito impressivas e positivas.
Alertas
finais.
O
primeiro é mais dirigido ao Ruben: cuidado com o excesso de agressividade,
sobretudo quando falamos com senhoras. Andaste ali no limite algumas vezes.
O
segundo é: cuidado com as siglas, números e percentagens. A Inês esteve na
medida certa no que toca aos números, clarificando sempre que "eram factos”.
Mas quanto às siglas, não se esqueçam que isto não é uma conversa entre duas
pessoas. Os terceiros têm de perceber tudo, e aquilo que para nós aqui é muito
óbvio pode não sê-lo lá em casa.
Dep.Carlos Coelho
Eu
concordo com tudo aquilo que o Pedro Duarte disse e só queria acrescentar umas
coisas.
Em
primeiro lugar, parabéns ao Grupo Encarnado por ter arriscado fazer uma
Proposta de Lei. É irrelevante para efeitos de avaliação, mas enveredaram pelo
caminho mais difícil.
O
Ruben ganhou claramente o debate. Foi o mais convincente, ganhou na técnica,
modelou a voz, toda a sua intervenção não foi no mesmo registo, emprestou
autenticidade em ambas as intervenções.
O
único reparo que lhe faço é o seguinte: quando o presidente diz para terminar
metam a última frase (pensada antes) e acabou.
Tentar
continuar com o presidente sempre a dizer "tem de terminar, tem de terminar” dá
uma ideia atabalhoada da última mensagem.
Acho
que as intervenções mais sérias vieram das oposições, particularmente da Maria
Inês. Foi a intervenção mais sólida a demolir a intervenção do Governo. Esta
tinha fragilidades e a questão do custo era evidente. Havia uma grande
demagogia na proposta do Governo.
Portanto,
a intervenção mais séria foi da Oposição 1 mas não teve a força de conseguir a
adesão da assembleia.
Uma
nota para a Maria Inês: no discurso formal o termo "vocês” é proibidíssimo. É
habitual no âmbito coloquial mas em linguagem parlamentar é proibido.
Termino
dizendo que quem tem mais razão pode não ganhar politicamente. Vimos isso neste
exercício.
Duarte Marques
Bem-vindos
à terceira sessão plenária da nossa Assembleia.
A
proposta do Governo do Grupo Azul é a "Limitação
de circulação de viaturas alimentadas a combustíveis fósseis”. Na
Oposição 1 temos o Grupo Amarelo e na 2 temos o Grupo Roxo.
Dou
a palavra à senhora Primeira-Ministra, Carolina Baptista, do Grupo Azul.
Carolina Batista
Muito
obrigado senhor Presidente da Mesa
Caras
e caros deputados
É
com imenso prazer que, na qualidade de Primeira-Ministra me dirijo a este
parlamento para aprovar o programa de governo do Grupo Azul no que diz respeito
à limitação de circulação de viaturas alimentadas a combustíveis fósseis.
No
entendimento do actual executivo, este é o primeiro passo na sensibilização da
sociedade para alcançar o objectivo global de suprir necessidades da geração
presente sem afectar a habilidade das gerações futuras de suprir as suas.
Este
é um ponto fulcral para o desenvolvimento de uma consciencialização
responsável. A salvaguarda do Ambiente ultrapassa qualquer fronteira e deve ser
uma prioridade mundial.
Face
a esta situação, é fundamental fomentar o uso de viaturas alimentadas a
energias alternativas. É o caso dos veículos eléctricos, os movidos a diesel e
outras formas de energia que possam estar em fase de desenvolvimento primário
mas que possam no futuro vir a ser uma alternativa viável.
Não
devemos esquecer o incentivo à utilização dos transportes públicos. Este é um
objectivo claramente transversal das políticas do Estado, políticas que não
anunciaremos para já mas que pertencem ao nosso programa.
Com
a intenção de potenciar os benefícios desta medida é também necessário diminuir
faseadamente o número de veículos
movidos a combustíveis fósseis a circular nas estradas portuguesas. É neste
sentido que nos propomos a aplicar seis medidas
A
primeira é o aumento da carga fiscal sobre os veículos movidos a combustíveis
fósseis, de acordo com as suas emissões.
A
segunda é a promoção, com acções de sensibilização, da aquisição de veículos
movidos a energia eléctrica, para utilização citadina, medida que se relaciona,
obviamente, com a intensificação da rede de postos de carregamento de baterias.
Em
quatro lugar, interessa também legislar sobre a utilização de biodiesel, como
combustível alternativo. É uma lacuna regulamentar que não é admissível e que
deve ser suprida com toda a urgência.
Obviamente
que o desenvolvimento de outras alternativas que se tornem viáveis do ponto de
vista legal também deverá ser acrescentado ao quadro regulamentar.
Em
quinto lugar devem ser desenvolvidas parcerias público-privadas de modo a fixar
a despesa do Estado no sector dos transportes públicos, tendo em conta que este
é um serviço fundamental que não deve ser posto em causa em qualquer
circunstância. Mesmo nas condições em que nos encontramos.
Ainda
visando a diminuição do custo para o utente, e aumentando a qualidade e
funcionalidade do serviço.
Por
fim, e esta é uma medida exemplificativa, deve ser proibida a circulação de
viaturas alimentadas a combustíveis fósseis nos centros urbanos e históricos
das nossas cidades e vilas. Isto será feito em consonância com os Municípios
Portugueses.
Esta
medida é a primeira parte de um plano faseado de restrição ao uso deste tipo de
veículos. A aplicação conjugada destas medidas é um ponto fundamental para que
o resultado obtido seja o desejado, esperando que seja para um futuro próximo,
não longínquo, a total eliminação de viaturas movidas a combustíveis fósseis.
Obrigada!
[APLAUSOS]
Vozes
Muito
bem!
Duarte Marques
Muito
obrigado. Dou agora a palavra ao senhor deputado José Pato, do Grupo Amarelo.
Tem três minutos.
José Pato
Caro
Governo
Caras
bancadas parlamentares
Começo
por congratular este Governo por ter bons princípios. Concordo, mas de boas
intenções está o Inferno cheio.
O
vosso programa, na parte dos combustíveis, pretende acabar com os transportes
rodoviários de mercadorias que representam 72,4% do sector dos transportes de
mercadorias.
Este
sector em 2009 decresceu 6,2%. Com o aumento da carga fiscal, as empresas deixarão
de ter dinheiro para investir e perderão competitividade no sector.
[APLAUSOS]
Vozes
Muito
bem!
O Orador
Peço
à senhora Primeira-Ministra que explique aos empresários como vão sobreviver!
É
um sector que passa por grandes dificuldades, como todos nós sabemos e as
consequências de aumentar a carga fiscal e retirar os combustíveis fósseis
demorarão muitos anos a resolver.
Seria
uma solução, isso sim, criar um gasóleo profissional para transportes de
mercadorias para conseguir dinamizar a competitividade deste sector.
Quanto
ao aumento da rede de carregamento de baterias, eu concordo mas, neste tempo de
crise, pergunto à senhora Primeira-Ministra como explicará aos portugueses que
vai gastar dinheiro público a criar uma rede de distribuição eléctrica pelo
país todo que consiga carregar os carros todos.
E
peço também à senhora Primeira-Ministra que explique como pretende fazer com
que os portugueses adquiram viaturas movidas a energias renováveis.
Não
há dinheiro e não há linhas de financiamento. O Estado paga? Cria linhas de
financiamento?
Eu
acho que não
Vozes
Muito
bem!
O Orador
Senhora
Primeira-Ministra, legislar sobre biocombustíveis? Isso é uma directiva da UE!
Não vejo a necessidade disso...
[APLAUSOS]
Mas
espero que a senhora Primeira-Ministra saiba que este país tem leis.
E
numa altura em que parcerias público-privadas (PPP) são postas em causa devido
ao seu enorme peso no Orçamento de Estado, a senhora pretende criar mais PPP
quando se pretendem acabar? Quer mais exemplos como os da Carris? Do Metro de
Lisboa e do Porto?
Tem
de explicar ao povo como vai pagar isto!
Senhora
Primeira-Ministra, quanto aos centros urbanos, concordo! Criem-se zonas
pedonais ou de acesso restrito, como por exemplo a ambulâncias.
[AVISO
DA MESA PARA TERMINAR]
Este
Governo vai pôr este país a andar de cadeira de rodas!
Vozes
Muito
bem!
[APLAUSOS]
Duarte Marques
Dou
agora a palavra ao senhor deputado Paulo Santos, do Grupo Roxo.
Paulo Tiago Santos
Caríssimo
senhor Presidente da Assembleia da República
Senhores
membros do Governo
Senhores
deputados
Entendemos
o objectivo da vossa proposta, que basicamente se evidencia na redução das
emissões de CO2.
Colocamos,
no entanto, algumas questões que têm a ver essencialmente com os meios que
vocês usam e com os prazos.
Actualmente,
Portugal encontra-se 4.7 mil milhões de toneladas de CO2 abaixo dos limites de
Quioto. A tendência nos próximos dois anos é baixar 7% do preço dos produtos de
combustíveis fósseis.
Ao
mesmo tempo, considera o nosso grupo parlamentar que é difícil continuar a
exigir sempre esforços às mesmas pessoas. Os contribuintes cada vez pagam mais:
basta de políticas erradas.
Vozes
Bem!
[APLAUSOS]
O Orador
Vejamos
ao detalhe, começando pelas medidas fiscais.
Apresentam
vocês um conjunto de medidas, todas elas vazias – não só vazias como não
especificam. Não sei se me fazem um desconto ou um benefício fiscal e, a sê-lo,
não sabemos se será a nível dos veículos ou dos combustíveis.
Só
há um ponto bastante óbvio: o aumento do custo de vida.
É
assim que querem incentivar a nossa economia?
Os
senhores assinaram um memorando com a Troika que consagra um único benefício
fiscal, é o constante no ponto 5.14, e aquilo que vocês fazem é penalizar e
aumentar novamente o custo de vida.
Vozes
Bem!
[APLAUSOS]
O Orador
Ao
nível das políticas energéticas, vocês baseiam-se em duas matérias essenciais:
biodiesel e electricidade. Não sei se tiveram hipótese de consultar o mercado
em si mas com estudos técnicos seria fácil de perceberem que, para obter uma
poupança residual de 5% no gasóleo, necessitarão de algo equivalente a 500 mil
hectares somente para produzir matérias-primas. Não sei se têm noção mas isto
equivale a cerca de 20% do terreno agrícola disponível no país.
Vozes
Muito
bem!
[APLAUSOS]
O Orador
Continuemos
na elecricidade.
Primeira
dúvida de todas: quem é que vai pagar todo este desenvolvimento? Será que nos
vai aumentar o IVA? Será que nos vai atirar com custos fiscais em cima?
Relativamente
às PPP nota-se que não se tratou de um descuido vosso: vocês desconhecem isto
completamente. Mas sosseguem porque os nossos colegas da oposição também
desconhecem.
Vozes
Bem!
[APLAUSOS]
O Orador
Quando
falam de Troika, e a anterior oposição também falou...
[AVISO
DA MESA PARA TERMINAR]
...
é preciso perceber que a Carris não é uma PPP: é uma empresa pública.
[NOVO
AVISO DA MESA PARA TERMINAR]
Por
fim, dou-lhe um conselho... a senhora Primeira-Ministra, a nível de obras
públicas, tem de apanhar o 706 para a Ajuda!
[APLAUSOS]
Duarte Marques
Muito
obrigado. Dou agora a palavra ao senhor ministro Mário Paulino, do Grupo Azul.
Mário Paulino
Senhor Presidente
Senhoras
e Senhores Deputados
Queria
antes de mais agradecer as críticas dirigidas por considerar que todas elas
tiveram um objectivo construtivo.
Na
actual situação do país, creio que todos temos consciência que é fundamental
construir e não destruir.
Vou,
então, tentar responder às críticas que considero de maior relevância.
Comecemos
por uma crítica menos controversa, deixando essas para mais tarde. Falo da
restrição dos veículos. Queremos fazer a curto prazo este esforço de afunilar
de forma faseada a utilização de veículos que usem energias limpas.
Vozes
Bem!
[APLAUSOS]
O Orador
O
nosso objectivo é a utilização exclusiva desses veículos a longo prazo. Assim,
como devem compreender, esta medida irá naturalmente degradar-se a si própria,
pois deixa de ser necessária.
Quanto
à carga fiscal, os senhores perguntaram como iria ser feita. Haveria uma
correlação directa entre a percentagem de emissão e a taxa variável.
Os
senhores consideram que um dos pontos negativos da nossa proposta é a
sustentabilidade da economia. Esta sustentabilidade económica será garantida
pelo correspondente aumento do incentivo à utilização de veículos movidos a
energias eléctricas. Como? Através das acções de sensibilização que referimos
nas nossas medidas. Através do aumento da carga fiscal e da densificação dos
postos.
[PROTESTOS
DA OPOSIÇÃO]
De
referir ainda que em Cacia, no distrito de Aveiro são fabricadas as referidas
baterias, tendo isso um impacto directo na economia.
No
tocante às PPP, eu sei que o sector dos transportes é dos que gasta mais
dinheiro ao Estado, isto acontece porque estamos constantemente a "tapar
buracos”, perdoem a expressão. Promover as PPP traria a fixação do custo do
fornecimento de um serviço fundamental como é o dos transportes públicos.
Traria uma estabilidade nos custos de utilização que resultaria
[AVISO
DA MESA PARA TERMINAR]
no
aumento da competitividade, da qualidade, da funcionalidade e, em tempos de
crise isso é muito importante, no custo de utilização.
[APLAUSOS]
[NOVO
AVISO DA MESA PARA TERMINAR]
Para
terminar, tendo em conta que todas estas medidas estão ligadas às lógicas
ambientais...
Duarte Marques
Tem
de terminar, senhor ministro. Tem de se sentar.
[APLAUSOS]
Duarte Marques
Muito
obrigado a todos.
Vamos
agora votar.
Quem
acha que foi o Governo que ganhou o debate?
Quem
acha que ganhou a Oposição 1 levante o braço.
E
quem acha que ganhou a Oposição 2 levante o braço.
Obrigado.
Declaro
como vencedora a Oposição 2, o Grupo Roxo.
Passo
a palavra ao nosso júri.
Dep.Carlos Coelho
Eu
acho a vossa votação justa mas fico surpreendido por ter sido renhida. É que
para mim foi clara a vitória da Oposição 2.
O
Paulo esteve melhor neste debate. Foi quem teve os argumentos mais sólidos e
mais bem apresentados.
Só
teve três lapsos. O primeiro foi a utilização do "vocês” – que alguns de vocês
utilizam com alguma regularidade – mas o Paulo conseguiu, em 9 anos de UV
ganhar o record! Utilizou "vocês” dezassete vezes no espaço de três minutos.
[RISOS
E APLAUSOS]
Não
foi o único mas foi em quem mais se notou.
Depois
o Paulo tem dois tiques: um é esfregar o nariz. Não é dos piores: pior seria
meter o dedo no nariz.
[RISOS]
O
outro é mais aceitável que é abrir e fechar botões do casaco alternadamente.
Podemos até achar que era um jogo de sedução.
[RISOS]
O
José Pato teve alguns soundbite muitos bons. Gostei do soundbite da cadeira de
rodas e do seu início de intervenção: "de boas intenções está o Inferno cheio.”
Foi uma abordagem muito inteligente dizer que o propósito do Governo até é bom
mas a forma de o realizar é negativa.
Foi
uma boa abordagem de diminuir a contundência e ganhar adeptos.
Do
Governo quero sublinhar ao Mário Paulino que numa assembleia não podemos ser
distraídos pelas vozes. A frase é "o cães ladram e a caravana passa”.
A
menos que dê jeito ao nosso discurso pegar em alguma coisa dita nos apartes – e
para isso é preciso ter endurance -,
o menor é ignorar. Eles podem dizer o que quiserem: temos de considerar que é
ruído e continuar a vender a nossa mensagem.
E,
Mário, já tínhamos aqui falado disso: quando o presidente diz que é para
terminar, é mesmo para terminar. Eu pedi expressamente ao Duarte e ao Nuno que
fizessem o papel de maus: eles têm de cumprir escrupulosamente os tempos. Não
fiquem aborrecidos com eles porque a culpa é minha.
Têm
de aprender a gerir o tempo: definirem o que é essencial e adaptar ao tempo
disponível. É por isso que a Mesa avisa 10 segundos antes que o tempo está a
terminar. Nessa altura vocês engatilham a frase final!
Pedro Duarte
Finalmente
vou discordar do Carlos, vai finalmente haver alguma animação deste lado mas
antes deixo algumas notas.
Os
momentos mais importantes do discurso são o início e o fim. No início ainda
estão todos curiosos para saber o que aí vem e a mensagem final é a que fica.
Portanto
é fundamental que prepararem a forma como vão terminar a vossa intervenção. E
nem deveria ser necessário o auxílio de alguém que vos diz "está a terminar”,
uma coisa que com a prática se adquire.
E
mesmo que estejam a dizer uma coisa que voz pareça muito importante, quando
falta o tempo necessário para a vossa menagem final, têm de se interromper para
soltar essa mensagem.
Quanto
ao registo da Carolina, ele foi muito diferente do anterior Primeiro-Ministro
mas devo dizer que não é pior. Nós devemos saber encontrar o nosso
posicionamento, a nossa forma de intervir e de estar num debate.
Esse
estilo pode ser igualmente eficaz mesmo tendo características completamente
diferentes.
Porém,
num estilo mais formal, como o da Carolina, tenham cuidado com intervenções
demasiado descritivas pois isso torna-as monótonas, pouco sexy para quem está a
ouvir.
Recomendo
que o discurso contenha uma mensagem apenas e tudo gire em torno dessa mensagem
fundamental.
Portanto,
querer descrever a medida legislativa e os impactos todos factos perder
eficácia.
Onde
discordo eu do Carlos? Acho que a mensagem do José Pato foi mais eficaz que a
do Paulo - sendo a do Paulo mais consistente e preparada. Isso foi
evidente.
Há
um truque que podem utilizar: lembre-se do último taxista com quem já viajaram
e imaginem que ele vos está a ouvir na rádio. O que pensará ele da vossa
intervenção? Ao ouvir o José Pato, ele foi muito claro a falar em nome das
pessoas. Coisas como "o que irá esta medida significar para a vida das
empresas?”, "os trabalhadores das empresas poderão ir para o desemprego”,
"explique-me como”, etc, são tudo frases muito impressivas.
A
intervenção do Paulo foi consistente, não o ponho em causa, mas para o tal
taxista falar do CO2, de Quioto, dos milhões de toneladas, etc não funciona,
mesmo que tenha fundamento e seja útil para descredibilizar o adversário. É
mais difícil de passar. Temos de simplificar a nossa mensagem e falar para as
pessoas.
Quanto
ao Mário Paulino, começou bem mas depois não foi coerente. Adoptou uma postura
inicial de considerar construtiva a oposição mas depois foi muito agressivo.
Duarte Marques
Obrigado
a todos, tomem os vossos lugares se fazem favor.
[APLAUSOS]
Nuno Matias
Bom
dia senhores membros do Governo e Senhores Deputados, vamos dar início à quarta
sessão da Assembleia da Universidade de Verão.
A
proposta do Governo do Grupo Laranja é o "Reforço da prestação de serviços comunitários por reclusos”. Dou a
palavra à senhora Primeira-Ministra, Vera Artilheiro.
Vera Artilheiro
Senhor Presidente
Senhoras
e Senhores Deputados
Minhas
senhoras e meus senhores
Portugal
vive hoje momentos críticos ao nível das reformas judiciais e prisionais.
Os
tribunais estão saturados, a população descrente na Justiça e os sistemas
prisionais apresentam uma lotação que nos últimos anos tem estado entre a
sobrelotação e uma assustadora proximidade desta.
Para
agravar ainda mais esta situação, vivemos numa sociedade que não gosta de dar
segundas oportunidades e que renega aqueles que, por alguma razão, cometeram
crimes, independentemente da sua vontade de reintegração. Crimes pelos quais já
foram julgados e condenados.
Este
cenário tem de mudar.
Vivemos
hoje numa época que privilegia o castigo pelo castigo, a punição pela punição,
a ausência de liberdade pela ausência de liberdade. Devemos fazer um esforço,
ainda que medíocre, na reeducação e reintegração social e na retoma da vida
activa de uma boa parte dos reclusos portugueses que, pela gravidade e natureza
do crime cometido, podem ser ainda uma grande mais-valia para a sociedade.
E
o anterior Governo, senhor Presidente e senhores deputados, não passa incólume
ao estado a que chegamos. No entanto, este estado não é situação à qual
estejamos eternamente condenados. A não mudarmos, corremos o risco de que as
medidas disciplinadoras provoquem consequências piores que a situação já
vivida.
Este
Governo tudo fará para evitar esse resultado. Entendemos, tal como prevê o
Código Penal Português, que a execução da pena de prisão deve ir no sentido da reintegração
social do recluso, preparando-o para conduzir a sua vida de modo socialmente
responsável, sem cometer crimes.
Este
pressuposto de base cumpre-se melhor, no nosso entender, reforçando a
aplicabilidade da prestação de serviço comunitário por reclusos como pena
privilegiada, sempre que aplicável.
Acreditamos
ter reunidas as condições necessárias para:
1º
- potenciar as estratégias de inclusão e/ou reintegração dos reclusos na
sociedade através de dias de trabalho comunitário quando se conclui que esta
forma de cumprimento realiza de forma adequada e suficiente as finalidades da
punição.
2º
- agilizar e valorizar a utilização da prestação de serviço comunitário por
reclusos como forma positiva e útil - para si e para a sociedade - de cumprir
uma pena realizando um programa que fomente a valorização do trabalho dos
recluso por parte das comunidades receptoras e que privilegie as oportunidades
de integração social destes. De que forma? Temos soluções concretas para vos
apresentar.
Criando,
gerindo e actualizando uma bolsa de entidades com ofertas de trabalho para
reclusos, sejam elas estabelecimentos, oficinas, obras do Estado, pessoas
colectivas de direito público, IPSS ou ainda outras instituições de comprovado
valor social.
Por
outro lado, desenhando e desenvolvendo planos de formação distritais para
dirigentes ou entidades receptoras dos reclusos...
Uma voz
Isso
é só gastar dinheiro
A Oradora
Isso
é o que você diz.
...
de forma a que os agentes possas ser facilitadores e catalisadores da reintegração
através do processo de coaching.
3º
- optimizar os recursos financeiros das entidades que recebem o trabalho
voluntário do recluso, possibilitando a alocação por parte destas e outras
áreas de acção.
4º
- ao mesmo tempo, diminuir o número de reclusos com penas efectivas de prisão,
privilegiando a reintegração através do trabalho, mitigando a sobrelotação das
cadeias.
Para
isso, propomos uma alteração legislativa ao Código Penal Português adequando-o
aos objectivos estratégicos de forma a que, em sentenças com moldura penal até
aos dois anos efectivos de prisão seja privilegiada a conversão em dias de
trabalho comunitário.
Por
último, e não menos importante, tornar o serviço comunitário por parte do
recluso uma pena efectiva, apenas susceptível de recurso para instância
superior. O não cumprimento desta agravará a pena em prisão efectiva.
Levando
a efeito esta proposta, cumprimos não só a obrigação de pensar nos reclusos e
na sua reintegração pessoal, social e profissional na comunidade, sem descurar a
Justiça e a segurança, diminuímos largamente os orçamentos da rede prisional,
com a redução do número de reclusos com pena efectiva de prisão, e permitimos
ao recluso contribuir para a melhoria da comunidade que agrediu anteriormente,
num processo em que todas as partes (recluso, sociedade e Estado) têm proveitos
presentes e futuros.
Porque
também o futuro, tal como o sol, quando nasce é para todos.
Vozes
Muito
bem!
[APLAUSOS]
Nuno Matias
Pela
Oposição, tem a palavra a deputada Cristina Faria, do Grupo Encarnado. Dispõe
de três minutos.
Cristina Faria
Exmo. Senhor Presidente
Senhoras
e Senhores Deputados
Senhora
Primeira-Ministra
O
que aqui vejo, pelo programa apresentado pelo Governo, é que a senhora
Primeira-Ministra que, sem dúvida, manter os seus belos jardins em S. Bento.
Vozes
Muito
bem!
[APLAUSOS]
A Oradora
É
importante e honroso o seu programa, preocupado com as questões sociais do
país. Mas a sociedade é de todos nós e nós não compactuamos, enquanto grupo
parlamentar encarnado, que o Governo ponha em causa a segurança das pessoas.
O
factor da lotação não pesa!
Ter
reclusos na vida activa é criar risco, receio sobre as vítimas e pôr em causa a
segurança das pessoas.
Vozes
Muito
bem!
[APLAUSOS]
A Oradora
Repare
neste círculo vicioso, senhora Primeira-Ministra: com reclusos em serviço
comunitário vamos aumentar o número de desempregados, certo?
E
com mais desemprego aumentamos a criminalidade é este o círculo vicioso. É um
facto!
Este
governo parece-me estar um pouco desorientado. Quer criar trabalho comunitário
a reclusos sem antes criarem medidas que gerem riqueza.
Mais:
o seu programa não considera o lado empresarial. Ele não é positivo, é
negativo!
Para
um empresa, há problemas de rotatividade por parte dos reclusos, há dificuldade
em fazer horas extraordinárias e, com isto, vamos aumentar a possibilidade de
fuga porque não há um controlo físico por parte do recluso. E nem a pulseira
electrónica é eficaz por ser muito falível.
Concluindo,
para o Governo legislar sobre esta matéria terá de conquistar a Assembleia
porque está no âmbito da reserva relativa, certo? Precisará da autorização
desta assembleia.
A
senhora Primeira-Ministra diz que não há liberdade, mas o princípio é ao
contrário, o princípio é o da liberdade. E a liberdade deverá ser privada em
consequência de uma sentença judicial condenatória. Isso é que é!
Senhores
deputados, hoje as nossas prisões têm condições, não são espaços de tortura,
felizmente. E nós, enquanto grupo parlamentar, não vamos premiar a prática do
crime. Nós temos um Projecto-Lei, temos uma alternativa.
[APLAUSOS]
E
mais, tal como mãe responsável que calculo que seja, que deve educar os seus
filhos com pulso forte, também o Estado não se deve alhear dessa responsabilidade.
Tenho
dito.
Nuno Matias
Muito
obrigado. Pela Oposição 2, tem a palavra a deputada Cristiana Santos, do Grupo
Bege. Dispõe de três minutos.
Cristiana Santos
Senhor Presidente
Senhores
Ministros
Senhoras
e Senhores Deputados
Começo
por considerar vergonhoso que um documento do Governo conter tão elevado número
de incongruências textuais, erros e omissões.
Exemplo
disso é o facto de quererem aumentar o número de prisões com pena efectiva,
através do serviço comunitário, ao mesmo tempo que se propõem diminuir o número
de reclusos com pena de prisão efectiva.
Afinal,
em que ficamos?
Vozes
Muito
bem!
[APLAUSOS]
A Oradora
Se
realmente o vosso objectivo é reduzir o número de prisões efectivas, optando
por penas suspensas, como forma de diminuir a lotação das cadeias, deduzimos
que estes reclusos deixem de pernoitar nas mesmas.
A
nossa Justiça já é conhecida por ser demasiado benevolente, e a senhora
Primeira-Ministra vem aqui incentivar a "mão leve” com os criminosos?
Vozes
Muito
bem!
[APLAUSOS]
A Oradora
É
assim que quer comandar os destinos do nosso país? Posso até dizer-lhe que me
preocupa seriamente que a vossa política torne o crime compensatório.
Vozes
Muito
bem!
[APLAUSOS]
A Oradora
Pois
um desempregado em situação de desespero económico, sem condições de assegurar
as necessidades básicas à vida, poderá chegar a ponderar a situação extrema,
pois a sua vida continuar-se-á a desenrolar em liberdade.
Posso
até adiantar-lhe que um recluso que faça um curso de 90 dias é remunerado com
cerca de 400 euros. Aliás, tem até alimentação e medicamentos pagos, enquanto
mais de um milhão de reformados no nosso país recebe menos de 400 euros.
Vozes
Muito
bem!
[APLAUSOS]
A Oradora
E
por vezes nem tem total comparticipação na medicação. Este é o país justo e
equitativo que prometeram na vossa campanha?
Noutra
situação, um indivíduo pode nem possuir um imóvel ou oportunidade de se
sustentar. Onde pretendiam colocar esses cidadãos? Querem diminuir os presos ao
mesmo tempo que aumentam os sem-abrigo?
Ou
seríamos nós a sustentá-los através do rendimento social de inserção?
É
essa a vossa solução? Só vos posso dizer que não morreriam da doença mas da
cura!
Vozes
Muito
bem!
[APLAUSOS]
A Oradora
Na
vossa segunda medida, propõem uma poolde entidades empresariais disponíveis para acolher os reclusos. Surge aqui uma
injustiça colossal: enquanto um desempregado passa meses em busca de uma
oportunidade de emprego, os senhores conseguem propor uma entrada directa de
reclusos no mercado de trabalho ao mesmo tempo que roubam esse posto de
trabalho a um potencial novo empregado?
Uma voz
Bem
dito!
[AVISO
DA MESA PARA TERMINAR]
A Oradora
Isto
é um ciclo vicioso.
Não
queremos estas políticas.
Esta
na hora de mudar.
[APLAUSOS]
Nuno Matias
Dou
agora a palavra ao Governo. O senhor ministro Joaquim Freitas dispõe de 3
minutos.
Joaquim Freitas
Senhor Presidente da Assembleia
Senhoras
e Senhores Deputados
Vimos
há momentos a crítica pela crítica, criticas inócuas, sem nenhum tipo de proposta
e altamente populistas.
[PROTESTOS
DAS OPOSIÇÕES]
Eu
diria que a defesa dos interesses do país é algo "que não lhes assiste”.
[RISOS
E APLAUSOS]
Mas
não há coincidências, senhoras deputadas: há uma razão muito clara para sermos
nós a estar no governo e vós na oposição.
[PROTESTOS
DA OPOSIÇÃO E APLAUSOS DA BANCADA DO GOVERNO]
Eu
sei que a verdade incomoda mas terão de me deixar falar.
É
que para mudar é precisa inteligência e integridade. Os portugueses precisam
disso.
Os
reclusos com pena efectiva de dois anos de prisão devem poder cumprir,
privilegiadamente, a "prestação de serviço comunitário por reclusos”, como
estipula a nossa proposta.
Repare,
senhora deputada, estamos a falar de crimes como ser apanhada com taxa de
alcoolemia superior a 1,2 gramas de álcool por litro de sangue.
Eu
diria
[PROTESTOS
DAS OPOSIÇÕES]
Nuno Matias
Não
há diálogo!
Joaquim Freitas
Eu
diria que não conhecem a realidade portuguesa, não conhecem o sistema prisional
português e, sobretudo, não estão a trabalhar para o superior interesse de
Portugal.
[APLAUSOS]
Dou-vos
alguns dados: em 2009 foram contabilizados 20.389 crimes por condução com taxa
de alcoolemia igual ou superior a 1,2 gramas de álcool por litro de sangue.
Digam-me: este reclusos não podem ser um elemento positivo no trabalho
comunitário? Não podem estar ao serviço da comunidade, trabalhando para a sua
melhoria, sem pôr em causa quer a segurança quer a Justiça?
Sabem,
senhores deputados, quando preparamos discursos antes de ouvir o programa ou a
intervenção da senhora Primeira-Ministra, corremos o risco da incoerência.
Isso
verificou-se aqui hoje!
Membros do Governo
Muito bem!
[APLAUSOS]
O Orador
Três
notas muito claras para terminar.
Temos
uma sociedade que foi agredida, temos um recluso/agressor que já foi julgado e
um Estado que tem de ser o garante da sociedade.
O
Governo trouxe aqui uma proposta que garante a melhor opção para cada uma
destas células da sociedade. A sociedade foi agredida, o recluso foi condenado
e vai cumprir uma pena ao serviço da própria sociedade.
O
recluso pode não só ajudar a sociedade que agrediu como manter em aberto o seu
futuro. Esta proposta permite que se reintegre e tenha uma vida normal.
[AVISO DA MESA PARA TERMINAR]
Por
outro lado, não só ganha dinheiro como permite-se que tenha futuro!
Presidente da Mesa
Vamos
à votação.
Quem
acha que o debate foi ganho pelo Governo levante o braço.
Quem
acha que ganhou a Oposição 1 levante o braço.
E
quem acha que ganhou a Oposição 2 levante o braço.
Obrigado.
É
claro que ganhou o Governo.
Vamos
ouvir o nosso júri.
Pedro Duarte
Começo
por dizer que a intervenção de que mais gostei foi a da Cristina, pelo que não
corroboro esta votação, mas acho que houve aqui dois blocos de intervenções, de
um lado e do outro, que se distinguem bastante e são importantes para a nossa
reflexão.
Provavelmente
as que tinham mais conteúdo e os argumentos mais bem preparados foram as menos
eficazes. Refiro-me à primeira, da Vera, e à da Cristiana. Os textos eram bem
escritos, bem definidos, bem sistematizados mas ineficazes do ponto de vista
parlamentar.
isso
devido à forma como foram expressos e porque não foram totalmente escritos na
óptica da oralidade.
É
preciso dar outro tipo de emoção e outro espírito de mostrarmos aos outros que
estamos a sentir o que dizemos. Que não é uma mera leitura orgânica, digamos
assim.
No
que diz respeito à Cristina e ao Joaquim aconteceu um pouco o contrário. Não
estiveram tão bem no argumento, terão sido um pouco mais demagógicos, mas na
mensagem foram mais eficazes.
O
Joaquim agarrou-se ao exemplo concreto dos condutores alcoolizados para tentar
dar consistência ao seu argumento, não saiu dele repetindo-o. Isso é bom e foi
eficaz.
A
Cristina teve vários momentos interessantes porque, tendo um argumento menos
fácil de defender, conseguiu falar dos problemas da segurança, da
criminalidade, do desemprego... Conseguiu um conjunto de factores que dizem
alguma coisa às pessoas, tornando mais atractiva a sua argumentação.
E,
no final, teve alguns toques importantes, como o da alternativa. É sempre bom
conseguir aparecer como alternativa e não um oposição meramente destrutiva.
Claro que depois não se conseguiu explicar devido à gestão de tempo, o que deve
ser visto numa próxima vez.
E
a frase final, do apelo à Primeira-Ministra enquanto mãe, fazendo uma pausa,
usando um timbre mais baixo, deu um momento bem conseguido.
Às
vezes os silêncios são os momentos mais valiosos das nossas intervenções.
Dep.Carlos Coelho
Concordo
praticamente com tudo o que o Pedro Duarte disse. Para mim quem ganhou o debate
foi claramente a Oposição 1.
Ao
contrário do Pedro acho que a Cristina conseguiu associar a forma e a
substância de maneira brilhante, teve muito argumentos, transmitiu
espontaneidade, vivacidade, convicção.
A
forma como terminou foi brilhante, do melhor que tenho visto.
Acho
que o Joaquim salvou o Governo com a intervenção final, foi muito convincente.
Mas, ainda assim, acho que a convicção do Governo não deveria ter ganho à
eficácia demolidora da Oposição 1.
Concordo
também com o Pedro relativamente aos outros textos.
A
Vera tem uma excelente intervenção inicial, com boa postura física, bom tom de
voz. Foi excelente, embora um pouco formal demais. Bastava só ter alternado a
voz para ter dado mais vida ao texto.
Duarte Marques
Vamos
dar início à quinta sessão da Assembleia da Universidade de Verão.
A
proposta do Governo do Grupo Cinzento é o "Fim dos feriados religiosos”. Dou a palavra à Leandra Cordeiro.
Nas oposições os grupos Rosa e Encarnado.
Leandra Cordeiro
Senhor
Presidente da Assembleia da República
Senhores
ministros
Caros
deputados
O
Governo traz a esta assembleia a Proposta de Lei n. 78/20 de prevê o fim dos feriados
religiosos. Sabemos que não é da exclusiva responsabilidade desta assembleia
mas queremos preservar a seriedade e o rigor que têm pautado a acção deste
executivo.
Trazemos
uma proposta que, embora possa ser considerada demagógica por alguns, não deixa
de ser pertinente na difícil conjuntura que atravessamos.
Por
princípio, vivemos – como o afirma a Constituição – num Estado laico. Temos, há
quase um século, plena liberdade religiosa, pelo que não se justifica a
efectiva comemoração destas datas com a obrigatoriedade de feriado.
O
Governo não ignora as tradições culturais associadas às comemorações das mesmas
mas não pode esquecer que, se em tantas outras matérias se exige justiça e
igualdade, os credos religiosos não podem nem devem ser factor de descriminação
e exclusão social.
Membros do Governo
Muito bem!
[APLAUSOS]
A Oradora
Depois,
as vicissitudes excepcionais que enfrentamos, como todos sabemos, não podem ser
ignoradas. Pelo contrário, merecem o nosso mais absoluto respeito.
Neste
contexto, qualquer medida que promova o crescimento do país deve ser tomada em
consideração, com a honestidade que é exigido.
Nenhuma
medida, só por si, é válida para assumir as metas definidas por nós – e
relembro o "nós, Governo e Oposição, que connosco assinou o memorando da
Troika.
Elas,
as medidas, só fazem sentido quando enquadradas num conjunto de outros
compromissos assumidos, que visam a redução do défice e, por sua vez, a
promoção da produtividade do nosso tecido empresarial, permitindo não só
assegurar a sua sustentabilidade mas também o objectivo último do crescimento
económico.
Portugal
tem, de uma vez por todas, ser um país competitivo, reforçando assim a sua
posição europeia e mundial.
Nesta
linha de análise é a excepcionalidade do momento que, como temos vindo a
afirmar, exige o sacrifício de todos.
Pode
ler-se no documento disponibilizado aos senhores deputados o fim de seis
feriados religiosos. Abre-se uma excepção ao Natal atendendo à importância
desta data pela relevância cultural na sociedade portuguesa, impondo-se, há
vários séculos, como comemoração universal.
Representa
a família e laços de afecto significativos, valores que defendemos e queremos
salvaguardar.
Por
outro lado, o volume económico que lhe está inerente constitui um factor importante
para as empresas nacionais, o que legitima uma vez mais os argumentos
referidos.
Esta
é, portanto, a proposta do Governo, tendo em linha de conta as inerentes perdas
que estas pausas representam para o país e para a economia nacional.
Talvez
não saibam, senhores deputados, mas cada dia de paragem corresponde a perdas na
ordem dos 37 milhões de euros! Produzem custos de 0,5% do PIB.
Não
estamos em tempos em que podemos desvalorizar estes números.
Por
fim, é uma proposta que traz benefícios aos portugueses na medida em que
assegura uma maior eficiência dos serviços públicos e a sua permanência. Não
esqueçamos também que na base deste documento está a promoção de uma cultura
laboral efectiva de rigor, excelência, exigência e profissionalismo, para em conjunto
nos tornarmos maiores.
Os
portugueses valorizam a tenacidade e a coragem. Isso ficou bem marcado nas
últimas eleições legislativas. Eles sabem que chegou a hora de nos libertarmos
do passado que nos prende e agarrar o futuro que nos liberta.
[APLAUSOS]
Duarte Marques
Obrigado,
senhora Primeira-Ministra. Dou agora a palavra ao deputado Ricardo Galiza, do
Grupo Rosa. Tem 3 minutos.
Ricardo Galiza
Obrigado,
senhor Presidente.
Senhora
Primeira-Ministra
Senhores
ministros
Caros
deputados.
Isto
é pura demagogia, é pura incoerência.
Acha
que esta proposta tem algum nexo? Não tem. Desculpe lá mas não tem.
E
explico-lhe porquê! Acha que com os cortes nos feriados religiosos terá aumento
da produtividade e do PIB?
Veja
exemplos anteriores de outros governos, por favor.
E
isto é uma incoerência porquê? Porque não faz sentido nenhum cortar os feriados
religiosos e deixar o Natal. Ou se cortam todos ou nenhum! Para haver alguma
lógica.
Reparem
também que a Páscoa é uma época alta em termos de turismo. As pessoas que
trabalham em Lisboa, no Porto e no litoral aproveitam a Páscoa para viajar até
ao Sul, para descansar, descarregar as suas negatividades.
Vêm
o Algarve, o Alentejo e as Regiões Autónomas com altas taxas de ocupação
hoteleira. A restauração gera grandes fluxos monetários e o comércio
tradicional também fica a ganhar.
Trás-os-Montes
e Alto Douro também floresce.
Contraria-se
o êxodo rural e a desertificação.
Se
continuarmos com os cortes dos feriados, teremos mais problemas económicos,
mais despedimentos e perderemos hábitos tradicionais judaico-cristãos.
Vozes
Muito bem!
[APLAUSOS]
O Orador
Por
que não 15 ou 30 minutos a mais na carga laboral? Porquê?
A
senhora Primeira-Ministra assinou há dois anos um acordo internacional com a Santa
Sé, veja o artigo 3º - eu dou-lhe cópia no final. Ficará muito desacreditada em
termos internacionais, tal como o senhor Sócrates.
[APLAUSOS
DA OPOSIÇÃO E PROTESTOS DO GOVERNO]
Vai
querer mexer também no Código do Trabalho? Sabe o que isso envolve? Se não sabe
informe-se. Fale com os trabalhadores que são representados pelo sindicato, OK?
Só
mais um ponto, antes que me esqueça: Suécia, Espanha e algumas regiões da
Alemanha têm os mesmos feriados que Portugal.
[PROTESTOS
DO GOVERNO E AVISO DA MESA PARA TERMINAR]
Têm
e posso prová-lo no Diário Económico, e não é por isso que têm menor índice de
produtividade, OK?
Trabalhem!
[APLAUSOS
E PROTESTOS]
Duarte Marques
Peço
que se acalmem.
Assim
que tiver silêncio darei a palavra à senhora deputada Daniela Serrano, do Grupo
Encarnado. Tem três minutos.
Daniela Teixeira Serrano
Exmo.
Senhor Presidente da Assembleia
Senhores
membros do Governo
Senhoras
e senhores deputados.
A
nossa bancada tem uma opinião diversa da ora aqui apresentada.
Esta
proposta não visa verdadeiramente a implantação do Estado laico. Se assim fosse
não contemplaria o Natal como excepção.
Vozes
Muito bem!
[APLAUSOS]
A Oradora
Excepção
por excepção, por que não contemplar outras religiões para além da católica?
Onde fica o Budismo, o Hinduísmo, o Islamismo, o Judaísmo, as Testemunhas de
Jeová,
[APLAUSOS]
o
Umbanda...?
Estado
laico, meus senhores?
Se
o vosso motivo é meramente económico, por que não extinguir definitivamente o
Carnaval como um feriado? "Facultativo mas sempre usufruído...”, certo?
Vozes
Muito bem!
[APLAUSOS]
A Oradora
Não
estaremos nós a debruçar-nos sobre questões mínimas enquanto poderíamos tirar
partido deste tempo para questões de fundo?
Parece-me
mais que V. Exas. querem fazer desta proposta um grande Carnaval.
Se
é certo que os feriados religiosos apresentam ciclos de paragem no país, são
também dias de estimulação da economia. Não representam apenas um corte na
produtividade.
Mais:
um feriado gera estimulação económica no turismo, como o colega aqui dizia.
Agora
que o Turismo de Portugal vem referir que as suas receitas voltaram a crescer,
reforçando o seu contributo para a economia, vêm V. Exas. dar dois passos para
trás em vez de dar um em frente?
Vozes
Muito bem!
[APLAUSOS]
A Oradora
Atendendo
à importância deste sector para a economia do país, poderão V. Exas.
indicar-nos dados concretos do número de portugueses que aproveitam os feriados
para "ir para fora cá dentro”, conjugando os feriados religiosos com as suas
férias?
É
que nós temos esses números e o aumento da receita nestas datas é mais
acentuado.
Esta
dinâmica da economia não pode ser esquecida.
Falaram
também em objectivos como seja o aumento do PIB em 0,2%. Certamente que para a
apresentação deste número tão concreto, foi realizado algum estudo. Pode
elencar-nos qual e em que moldes?
[APLAUSOS]
As
propostas do Governo para reforçar – como afirmaram - a posição económica do
país não deveriam passar mais pelo incentivo ao empreendedorismo, à inovação,
às exportações, à concessão de apoios fiscais, a linhas de crédito orientadas?
Portugal
não é um país igual aos outros. Portugal não é isto nem tem de ser isto.
[AVISO
DA MESA PARA TERMINAR]
Não
basta trabalhar mais: é preciso trabalhar melhor!
Vozes
Muito bem!
[APLAUSOS]
[AVISO
DA MESA PARA TERMINAR]
A Oradora
Isto
é um ciclo vicioso.
Não
queremos estas políticas.
Esta
na hora de mudar.
[APLAUSOS]
Duarte Marques
Muito
obrigado.
Dou
agora a palavra ao Governo.
Senhor
ministro Rui Pinto tem três minutos.
Rui Pinto
Senhor
Presidente da Assembleia da República
Senhores
ministros
Caros
deputados
Tenho
de admitir que fiquei bastante surpreso com a incoerência das duas oposições.
Estamos
a falar de feriados religiosos e vocês justificam a vossa posição com o
turismo.
[PROTESTOS
DA OPOSIÇÃO]
Permitam
que fale. Religião e turismo não estou a perceber.
[OS
PROTESTOS NÃO BAIXAM DE TOM]
Duarte Marques
Eu
peço aos deputados que respeitem o Governo. As bancadas já tiveram o seu tempo,
deixem o senhor ministro terminar.
Rui Pinto
Quantos crentes celebram os feriados como celebrações
religiosas? Será certamente baseado no deus Apolo, ou no Deus-Sol porque vão
todos para a praia!
[APLAUSOS]
E eu pego exactamente em Março e Abril, ou seja, no turismo
balnear. Vê-se, nessa altura, o Algarve cheio dos crentes do deus Apolo.
[PROTESTOS]
É verdade. Se for a vossa religião, é a religião do deus
Apolo, o deus da praia.
A bancada à minha direita falou de demagogia. À acusação de
demagogia eu respondo com a sabedoria popular: grão a grão enche a galinha o
papo!
[APARTE INAUDÍVEL DA OPOSIÇÃO]
Duarte Marques
Peço respeito por quem está a falar.
Rui Pinto
E segundo um estudo da Universidade Autónoma de Lisboa,
coordenado por Luís Bento, o feriado representa uma perda de 37 milhões por
dia. Se para si é pouco, para nós grão a grão enche a galinha o papo.
Quanto a falarmos do Estado, não somos nós que falamos: é a
nossa Constituição. As duas oposições aqui presentes não estão a favor da
liberdade, do respeito pelas minorias e do respeito pela liberdade religiosa.
Porque a nossa Constituição diz claramente que somos um Estado laico.
Não faz sentido haver qualquer tipo de feriados religiosos.
Imaginem o que seria se todas as religiões quisessem os seus feriados. Não se
trabalharia em Portugal!
[APLAUSOS]
O senhor deputado mandou-nos trabalhar. O trabalho a nós não
nos incomoda minimamente, incomoda-o é a sim que está preocupado com os
feriados.
[AVISO DA MESA PARA TERMINAR]
Termino dizendo que o país devia pedir um feriado a estas
oposições!
[APLAUSOS]
Duarte Marques
Muito
obrigado.
Quem
acha que o debate foi ganho pelo Governo?
Quem
acha que ganhou a Oposição 1?
E
quem acha que ganhou a Oposição 2?
Obrigado,
ganhou o Governo.
A
palavra para o júri.
[É
PEDIDA A RECONTAGEM PELO GRUPO ENCARNADO]
Duarte Marques
Podemos
recontar os votos mas daqui de cima a diferença entre a Oposição 2 e o Governo
foi clara.
Dep.Carlos Coelho
A
minha também me parece. Em todo o caso, sendo suscitada a dúvida, é legítimo
haver uma verificação.
Duarte Marques
Vamos
então repetir.
Quem
acha que o Governo ganhou o debate?
Quem
acha que ganhou a Oposição 1?
E
quem acha que ganhou a Oposição 2?
Está
confirmado, ganhou o debate o Governo.
A
palavra para o júri.
Pedro Duarte
Acho
que a nossa Primeira-Ministra fez um bom discurso, bem lido, de forma pausada e
isso é muito importante. Lendo-se pausadamente torna-se a intervenção
perceptível para toda a gente.
Não
teve nenhum rasgo que a marcasse.
Em
contraponto, a Daniela fez uma intervenção com muito ritmo. Quando se interpela
o Governo isso é muito importante.
Ela
evidenciou bem algumas contradições que proposta tem – e refira-se que era mais
difícil a posição do Governo. E utilizou algumas expressões interessantes como
a comparação com o Carnaval, o "trabalhar mais/trabalhar melhor”, etc.
As
intervenções do Ricardo e do Rui merecem-se a seguinte reflexão: quando estamos
num debate político temos muito a tentação – não só vocês mas a generalidade
dos políticos – de achar que se trata de um combate de boxe. Mas atenção, a
ideia não é derrubar o adversário. Temos, isso sim, de convencer terceiros lá
fora.
Digo
isto porque temos a tentação de ser excessivamente beligerantes. Por várias
razões. A primeira delas é termos normalmente ao nosso lado pessoas que gostam
disso. Batem palmas com mais força, batem nas costas, lá fora dão-nos os
parabéns, etc. Fazem isso quando derrubamos os adversários, quando ganhamos o
"combate de boxe”.
E
até a comunicação social gosta mais. Promove quem é mais polémico, mais
irreverente e, às vezes, bruto.
Normalmente
os deputados-estrela são esses e acham que isso é positivo.
São
esses os factores que nos vão movendo para termos esse tipo de atitude, mas
acreditem que eu fim do dia o eleitor não voto naquele que vence o adversário.
Ele vota naquele que foi convincente e que fez passar uma mensagem positiva da
sua atitude na vida política.
Portanto,
faz-se essa confusão e a comunicação é terrível nesse ponto de vista.
As
vossas intervenções foram vivas, tiveram bons argumentos mas foram
excessivamente beligerantes. Ganharam ao "colega do lado” mas em minha opinião
isso não é o mais importante.
Dep.Carlos Coelho
Não tenho nada a acrescentar, concordo com
tudo o que foi dito!
Faremos agora a pausa para o lanche que eu
peço que a encurtem porque estamos ligeiramente atrasados.