Senhor
Primeiro-Ministro, senhores membros do Governo, senhor Presidente da JSD, caros
colegas, restantes presentes, muito boa tarde. Eu, em representação dos alunos
da Universidade de Verão 2011, venho em primeiro lugar prestar uma homenagem a
um grande senhor, o Deputado Carlos Coelho.
[APLAUSOS]
[JSD!
JSD!...]
Foi uma
semana de intenso trabalho, onde muitos de nós aprendemos a crescer como
pessoas, como cidadãos e acima de tudo aprendemos a crescer emocionalmente.
Aprendemos o valor da solidariedade e aprendemos o valor do companheirismo.
Tudo isso não seria possível sem a excelente organização e sobretudo sem o
"Reitor” Carlos Coelho. Mais uma vez um grande aplauso.
Este placard
foi assinado por todos nós e, em primeiro lugar, começa com uma grande frase de
um grande autor, Fernando Pessoa, "o
homem é do tamanho do seu sonho”. Apenas partindo de bons exemplos do
Presente se constroem as grandes realizações no Futuro. Assim pelo
extraordinário exemplo, pela indiscutível entrega e incomensurável crescimento
que proporcionou aos alunos da UV 2011, estes, reconhecidos, agradecem ao
magnífico "Reitor” Carlos Coelho essa inesquecível experiência. Muito obrigado!
[APLAUSOS]
Dep.Carlos Coelho
Senhor
Primeiro-Ministro, senhor Presidente da JSD, senhores Ministros Miguel Relvas e
Miguel Macedo, senhor Secretário-Geral do PSD, senhor Director-Adjunto da
Universidade de Verão, deputado Nuno Matias, senhores deputados à Assembleia da
República e ao Parlamento Europeu, senhor Presidente da Câmara Municipal de
Castelo de Vide, senhor Presidente da Assembleia Municipal e restantes autarcas
presentes, caros dirigentes do PSD e da JSD ao nível nacional, ao nível
distrital e ao nível local, senhores patrocinadores, senhores conselheiros,
senhores avaliadores, minhas senhoras e meus senhores, esta é a sessão de
encerramento da nona edição da Universidade de Verão, ou Universidade de Verão
2011.
No
primeiro dia, quando tive o privilégio de receber os cem participantes no hotel
à nossa frente, disse-lhes que havia regras para tudo mas que havia cinco
regras mais importantes. A primeira é ter vontade! Podem acreditar que é muito
gratificante ver que há jovens com vontade de fazer intervenção cívica
qualificada. Trezentos e cinquenta jovens que se candidataram a esta
Universidade e cem foram selecionados, dando o seu melhor numa semana intensiva
de trabalho.
Parabéns
pelo trabalho que fizeram ao longo desta semana.
[APLAUSOS]
A
segunda regra é querer saber mais. Dizem que a curiosidade é um sinal de
inteligência e isto notou-se nestes cem participantes ao longo desta semana.
Esta edição da Universidade de Verão estabeleceu o recorde de perguntas feitas
em sessão plenária. Isso deve-se não apenas à iniciativa dos jovens, mas também
à disponibilidade dos nossos convidados. O recordista em nove edições de
resposta foi alguém que respondeu praticamente a quarenta perguntas no espaço
de duas horas e meia: o senhor Ministro Miguel Relvas.
A
terceira regra é ser pontual. Num país que está habituado aos atrasos, nós
tentamos sempre provar que os jovens sociais-democratas são diferentes, que
aqui há rigor, que há pontualidade e uma vez mais demos esse exemplo ao país. É
complicado lá fora perceberem como é que tudo aqui começou a horas e isso
deveu-se à vossa pontualidade. Muito obrigado a todos vós.
A quarta
regra é ser solidário e por isso a Universidade está organizada por grupos, o
núcleo mais íntimo da Universidade de Verão é cada um dos dez grupos em que
está dividida e foi notória a solidariedade e algum espírito de competição
saudável que se estabeleceu entre os grupos. Sei que cada um de vocês acha que
o vosso grupo é a melhor equipa, mas perdoarão que eu diga que a melhor equipa
é a equipa que organiza a Universidade de Verão.
[APLAUSOS]
Fico,
naturalmente, muito sensibilizado com a iniciativa que vocês tomaram de iniciar
esta sessão de encerramento com algo que não estava no guião, mas o
agradecimento não me é devido. Eu fico sempre muito incomodado quando o
agradecimento se centra na minha pessoa, eu era incapaz de fazer a Universidade
de Verão sem as vinte pessoas que vocês conheceram ao longo da semana: desde o
som à criação gráfica, dos conselheiros aos avaliadores, do apoio à UVTV e ao
JUV, a Revista de Imprensa, muitos dão o seu melhor e o seu tempo generoso para
assegurar que vocês têm aqui a melhor experiência de formação política que o
país pode oferecer.
Finalmente
a última regra é ser construtivo, dando sugestões, querendo melhorar. E, senhor
Primeiro-Ministro, o trabalho de grupo que estes jovens fizeram teve a ver com
isso mesmo: foi centrado nas melhorias para o sistema político e eleitoral de
forma a combater o divórcio que muitas vezes se sente entre a maior parte dos
jovens e as organizações democráticas.
Mas não
era possível termos a qualidade da formação sem aqueles que deram da sua
experiência e do seu saber. Queria aqui publicamente, tendo-vos como
testemunhas, agradecer a Manuel Meirinho, Jorge Moreira da Silva, Manuel de
Lemos, Nuno Crato, Miguel Relvas, João de Deus Pinheiro, Rodrigo Moita de Deus,
Mariano Rajoy, Henrique Monteiro, Vasco Graça Moura, Assunção Esteves, Mário
Soares, Vítor Gaspar, António Barreto, Pedro Duarte e Tomaz Morais e ainda
aqueles que não estando fisicamente presente aceitaram responder, à distância,
às nossas perguntas: Durão Barroso, Maria Graça Carvalho, Paulo Rangel, o alpinista
João Garcia e Miguel Santos que foi o jovem premiado com a medalha de ouro nas
Olimpíadas da Matemática, a todos eles o nosso muito, muito obrigado.
Tivemos
também uma noite diferente, e fizemos uma homenagem ao Fado no âmbito da
candidatura a Património Imaterial da Humanidade, onde tivemos o virtuoso da
guitarra portuguesa António Chaínho que nos proporcionou uma noite inesquecível
na Universidade de Verão 2011.
Senhor
Dr. Pedro Passos Coelho, os últimos são os primeiros. No ano passado, quando
tive a honra de o receber, disse-lhe que tinha muito prazer em tê-lo aqui como
Presidente do PSD mas que a próxima Universidade de Verão teríamos ainda mais
prazer porque não teríamos apenas o Presidente do Partido mas também o
Primeiro-Ministro de Portugal.
É esse o
prazer e a honra que Vossa Excelência nos dá. Na altura, disse-lhe que os
jovens que olham para si, olham-no recordando que foi também um líder da JSD e
que o tomam como líder e como modelo e que essa é uma especial
responsabilidade. Admiramos o seu compromisso com a verdade: não vende ilusões
nem falsas facilidades, diz o que pensa sem exaltações fúteis, é um homem
sereno mas firme. Ninguém no seu juízo perfeito inveja o seu papel, herdou o
país numa situação calamitosa, tem seguramente à sua frente uma tarefa
colossal.
Quando
ambos estávamos na JSD, e olhávamos com exigência os políticos mais velhos,
fazíamos a distinção entre o que era ser político e o que era ser estadista. Na
altura dizíamos, recordará, que político era aquele que governava a pensar nas
próximas eleições e estadista era aquele que o fazia pensando nas próximas
gerações.
[APLAUSOS]
Estes
jovens querem ver em si o estadista, porque sabem que acautelar o futuro deles
é preservar o futuro de Portugal.
[APLAUSOS]
Duarte Marques
Senhor
Primeiro-Ministro, senhores membros do Governo, senhores deputados, caros
convidados, normalmente começa-se pelos mais importantes, mas eu hoje deixo os
mais importantes para o fim porque para mim os mais importantes são sempre os
jovens e, neste caso, os jovens alunos da Universidade de Verão.
Mas há
um jovem que apesar de ter saído da JSD há muitos anos nunca deixou de fazer
parte da nossa geração, do nosso coração, mas sobretudo do nosso futuro, que é
o Carlos Coelho.
[APLAUSOS]
Carlos,
ao longo dos últimos meses, tentaste obrigar-me a tratar-te por tu e não é
fácil, mas quero dizer que a melhor homenagem que te podemos fazer é esta
geração e aquela que está ali ao lado, todas as outras, partilharmos ao serviço
das nossas terras, das nossas gentes, tudo o que nos ensinaste.
Eu
próprio falo aqui como Presidente da JSD, pela primeira vez, e falo num palco
que contigo e com estes todos que aqui estão ajudei a criar. Não há melhor
espaço, não há sítio onde tenha mais orgulho de falar como Presidente da JSD do
que na Universidade de Verão.
[APLAUSOS]
Senhor
Presidente do PSD, senhor Secretário-Geral, Dr. Matos Rosa, que foi um dos pais
também desta iniciativa, não podia deixar de vos dizer que ao vosso lado têm o
treinador, o coach – como dizia o
Tomaz Morais – das novas gerações do PSD e que boas gerações são essas!
Não
podia também deixar de agradecer todo o empenho de toda a malta do staff, que é a nossa malta, a nossa
família, do JUV, do som, dos vídeos, do hotel, da imagem, os avaliadores, os
conselheiros, foram grandes, que fizeram desta, mais uma vez, uma grande
família. O meu muito, muito obrigado a todos e em especial aos mais novos e
mais novas que pela primeira vez participaram.
[APLAUSOS]
A
Universidade de Verão é a cada ano que passa mais fantástica que as anteriores.
Há uma coisa que eu nunca me esqueço e que eu sempre reparo: nós próprios a
trabalharmos em equipa conseguimos surpreender-nos a nós e aos outros, porque
quando nos empenhamos a sério, quando damos o nosso melhor, olhando para o
objectivo comum e não ao nosso objectivo pessoal surpreendemos toda a gente e
conseguimos fazer ainda melhor do que sonhámos e foi isso que vocês fizeram
esta semana, foi isto que eles fizeram o ano passado, é isto que nós todos
juntos temos de fazer por Portugal.
Nunca se
esqueçam desses valores, do trabalho em equipa, do trabalho coordenado, mas
sobretudo o trabalho em que acreditamos que somos capazes de fazer sempre
melhor do que o passado.
Caros
amigos e companheiros, há outra coisa que eu gostava de vos dizer. Nós
começámos esta Universidade de Verão com uma homenagem ao Diogo Vasconcelos e
ele usava uma frase que vocês ficaram a conhecer: "nós somos aquilo que partilhamos” e essa agora é a vossa missão,
irem para casa e porem ao serviço dos vossos concelhos, das vossas associações,
das vossas escolas, dos vossos colegas de trabalho, dos vossos colegas de rua,
todos os valores que aqui aprenderam e que aqui apuraram. São os valores do
sacrifício, do empreendedorismo, da criatividade, da solidariedade, de
excelência e da pontualidade – é isso que Portugal precisa e é essa a missão
que vocês têm em mãos e que vos é entregue por nós a partir de hoje.
Peço-vos
uma grande salva de palmas para todos estes alunos que aqui estão, que fizeram
um trabalho fantástico ao longo da última semana.
[APLAUSOS]
Aprendemos
também que os políticos têm de liderar pelo exemplo, com o Doutor António
Barreto; com a Dra. Assunção Esteves, homenagear o pensamento é passar à acção
e com o senhor Ministro Adjunto, Dr. Miguel Relvas, aprendemos uma frase que
todos acharam muita piada e eu pessoalmente percebi o que ele queria dizer, "um social-democrata só recua para poder
ganhar balanço”, é esse balanço que nós precisamos.
Caros
amigos e companheiros, senhor Primeiro-Ministro, é por conhecer esta geração, é
por ver muitos jovens de quinze e dezasseis anos preparados para lutar,
preparados para dar a sua opinião, preparados para participar, é por conhecer
exemplos de qualidade, de exigência e de excelência, é por acreditar que a
partir da próxima semana vamos finalmente ter um ano lectivo com exigência,
rigor e qualidade, é por acreditar que nos próximos anos vamos ter um escola
que forma cidadãos e gente preparada para participar na nossa sociedade, é por
essa razão que lhe digo que daqui a poucos anos vamos poder baixar a idade de
voto para os dezasseis anos e permitir que quem estiver e quem estiver
preparado e quiser participar, pode decidir o futuro da sua geração.
Senhor
Presidente do PSD, peço-lhe também um sonho bem pessoal, que finalmente neste
ano lectivo e ao contrário do que aconteceu no passado, os nossos jovens
estudantes universitários não sejam obrigados a abandonar o Ensino Superior por
falta de condições financeiras, porque foi isso que o Governo anterior os
obrigou a fazer e eu acredito no seu empenho pessoal e na sua vontade que
nenhum estudante em Portugal deixe de estudar por falta de condições
financeiras.
Senhor Presidente
do PSD, caros amigos e amigas, nós estamos no interior de Portugal, estamos em
Castelo de Vide, e não podia deixar de deixar aqui uma palavra para as pessoas
do Interior. O Interior também é Portugal e é por isso que vamos organizar um
congresso da Interioridade no final de Outubro. Peço a sua melhor atenção para
o país menos desenvolvido, que às vezes está escondido mas tem gente de muita
qualidade e de grande valor.
Senhor
Primeiro-Ministro, já nesta condição agora, do fundo do coração quero lhe dizer
que esta geração acredita muito em si e que vai ajudar a resgatar o futuro das
novas gerações. O seu sucesso será o nosso sucesso, tem aqui a sua gente, tem
aqui o seu exército para batalhar por um Portugal mais justo, mais coeso e
sobretudo um Portugal com futuro. Acreditamos em si, acredite também em nós
para dar a Portugal o futuro que merece e que nós também merecemos.
Viva o
PSD, viva a JSD, mas viva sempre, sempre, Portugal!
[APLAUSOS]
Dr.Pedro Passos Coelho
Caro Carlos Coelho, ilustríssimo reitor desta universidade, que ano
após ano traz um sucesso renovado ao PSD e à JSD. Não há dúvida de que esta
iniciativa não poderia ter lugar sem a tua direcção. É, portanto, mais do que
justa a referência que aqui foi feita e eu só posso associar-me a ela. Esta
universidade consegue todos os anos atrair a curiosidade, o interesse, o saber
e conseguir oferecer os valores e o resultado que muitos que por aqui passaram
foram acumulando, porque muita gente se junta para que ela seja possível, mas
ela nunca teria nascido com esta força, com este desenho, com esta
autenticidade se não fosse o Carlos Coelho.
Os meus parabéns Carlos por continuares a oferecer ao PSD o melhor do
que tens, o melhor do que sabes, somos todos os que aproveitamos essa tua
experiência e esse teu saber que agradecemos.
(APLAUSOS)
Senhor Presidente da JSD, caros amigos deixem-me começar por
manifestar o prazer que sinto ao poder estar aqui a falar convosco no âmbito
desta universidade que tem como propósito entre muitos outros, como é evidente,
cultivar o pensamento e a discussão política.
Os Portugueses esperam do PSD, como o maior partido político da nossa
democracia, que este seja um interlocutor activo e criativo no debate das
grandes questões nacionais. É essa a sua responsabilidade e essa é parte integrante
da sua missão. Permitam-me que diga muito directamente que se enganam os que
porventura pensarem que seria mais conveniente para o Governo que o PSD fosse
um partido passivo e inerte, a dormir à sombra dos últimos sucessos eleitorais.
Em democracia não existem sucessos eleitorais definitivos, existem sim,
provisórios e condicionais votos de confiança. Para se manter, essa confiança
precisa de ser preservada. O PSD sabe disso. Será pois uma voz sensata e
crítica no debate nacional, mas só poderá sê-lo se internamente cultivar a
conversação contínua entre os seus militantes de norte a sul, de litoral a
interior, de todos os grupos sociais e de todas as faixas etárias. No debate
público nacional o país precisa da participação activa do PSD e o PSD precisa
da participação activa de todos os seus militantes.
Uma sociedade democrática tem de cultivar o pensamento e o debate
público com rigor, responsabilidade, abertura e civilidade. Em democracia, as
decisões são antecedidas por um debate vivo, trocamos razões e argumentos para
tomar decisões informadas. Este é pois um lugar muito adequado para renovar o
pacto de confiança, responsabilidade e abertura que propus aos portugueses
quando o Governo tomou posse. É nesse espírito que hoje quero falar-vos de escolhas.
Hoje mais do que nunca é importante escolher. É importante que essas escolhas
sejam precedidas do debate que é necessário aos olhos dos portugueses. O
Governo nunca apresentou as suas intenções e os seus projectos, como se não
houvesse outras escolhas. O Governo não procurou portanto, nem procurará
esgotar o debate político. Propomos as nossas escolhas. É certo que são sempre escolhas condicionadas
pelas circunstâncias. Mas em política, é uma ilusão supor que se tem uma
escolha ilimitada de meios ou que o leque de escolhas é infinitamente amplo. As
escolhas políticas são sempre limitadas e situadas. Pensar e agir politicamente
significa perceber isso mesmo. Por isso é preciso dizer que certas propostas,
meus caros amigos, não são escolhas, são exercícios de fantasia próprios de um
mundo de fingimento, são lamentos extenuados de quem já não tem a energia de
perceber o mundo em que vivemos. Não são escolhas, não desistências. São
renúncias de quem prefere o conforto dos seus desígnios ideológicos, a lidar
com os problemas concretos e a encontrar soluções viáveis. Têm a aparência de
gritos de revolta, mas na verdade são meios para fazer adormecer. Ora um povo
livre nunca se deixa adormecer.
(APLAUSOS)
Há sempre uma tensão entre liberdade e necessidade, isto é, entre
escolha e força das circunstâncias. A força das actuais circunstâncias é
verdadeiramente poderosa, como sabemos. Defrontamos uma crise sem paralelo na
nossa História democrática e já tivemos escolhas que foram impostas em grande
medida pelas circunstâncias que nos foram dadas. Por exemplo, não escolhemos
uma deficiente execução orçamental que por sua vez nos levou a aumentar
impostos; também não escolhemos níveis assustadores de endividamento público e
privado, que nos obrigaram a iniciar um processo rápido de desalavancagem; não
escolhemos os efeitos acumulados de escolhas que durante anos e anos não foram
feitas; não escolhemos os resultados, hoje bem evidentes, de sucessivos
adiamentos. Agora é preciso dizer, nós
escolhemos não adiar mais. Quero dizer-vos que não podemos mais aceitar a
arrogância da nossa política que constrói castelos no ar feitos de leis
altissonantes, de instituições distantes e de belos princípios para do alto das
suas nuvens poder olhar para as casernas sombrias onde as pessoas vivem. A
política tem de estar ao serviço das pessoas tal como as leis têm de estar ao
serviço da sociedade. E que princípios são esses que multiplicam os pretextos
para irmos perdendo mais e mais oportunidades? Escolhemos este momento para
agir de uma vez por todas sobre os nossos desequilíbrios financeiros, sobre o
nosso endividamento, sobre os bloqueios económicos, sobre as insuficiências da
nossa educação, sobre a lentidão da nossa justiça, sobre as ineficiências nos
serviços estatais, sobre os nossos imobilismos e desigualdades sociais, sobre
as assimetrias regionais. Este é o momento para o fazer. Escolhemos converter
estas terríveis circunstâncias numa grande oportunidade e essa é uma escolha
nossa. A História dos povos tem um longo registo de momentos de crise que não
encontraram respostas adequadas. Muitas vezes as sociedades humanas quando
confrontam grandes mudanças cometem erros históricos, umas vezes porque as
consequências são decepcionantes, outras vezes porque perdem a oportunidade de
se regenerar. E esse sentimento de uma oportunidade que foi perdida marca
indelevelmente as sociedades e persegue-as durante gerações como um peso morto.
E esses erros, nós não queremos cometer. Mas não somos impacientes porque temos
consciência da natureza e complexidade dos problemas que enfrentamos e porque
confiamos na clareza dos nossos objectivos. Não somos impacientes porque
sabemos o perigo que se esconde por detrás de certas formas de impaciência,
julgam que tudo se pode recompor de um dia para o outro. Não somos impacientes,
porque compreendemos que neste árduo caminho não podemos dar passos em falso.
Este é portanto o momento para iniciar o período de transição que deixe para
trás um Estado hipertrofiado, uma economia soluçante e uma sociedade empobrecida
e desigual. É este o momento, portanto, para iniciar um período de transição
que prepare as bases sãs e sustentáveis de um novo ciclo de prosperidade que
emagreça e fortaleça o Estado recentrando as suas funções, modernizando a sua
gestão e tornando mais eficazes as suas intervenções. É o momento para iniciar
um período de transição que abra a sociedade. Escolhemos este momento com plena
consciência da sua gravidade e de que será ainda demorado o processo que
enfrentamos. A este respeito é preciso é preciso dizer sem ambiguidades que no
memorando de entendimento que foi assinado com a União Europeia e com o Fundo
Monetário Internacional também há escolhas que são nossas. Muitas vezes ouvimos
sustentar a defesa desta medida ou de outra medida pelo facto de ela estar
inscrita no memorando de entendimento. Há quem julgue que o memorando passou a
ser uma muleta para todas as decisões, ora bem, o memorando de entendimento tem
uma componente de redução da nossa despesa do gasto público, da restrição
orçamental, pela simples razão de que uma sociedade que anos e anos a fio
gastou mais do que tinha, comprometendo com isso os impostos das futuras
gerações não pode manter o ritmo do endividamento e do gasto que trazia de
trás.
(APLAUSOS)
Essa parte está inscrita no memorando, mas se não estivesse nós
teríamos de a cumprir ainda assim. Mas o memorando de entendimento comporta
também um conjunto muito diversificado de propostas de mudança estrutural da
sociedade portuguesa e essas medidas de mudança estrutural o país teve muitos
anos para as fazer e adiou-as. Se elas não estivessem neste memorando de
entendimento, este Governo que é um Governo de Portugal iria concretizar essas
mudanças porque elas são necessárias para que no futuro nós possamos crescer
criando mais emprego e gerando mais justiça social.
(APLAUSOS)
Nesse sentido o memorando de entendimento e o programa de assistência
acordado com a troika representam, portanto, uma escolha que também é nossa. Os
resultados das nossas escolhas dependem muito do modo como nos entregamos a
elas. Fazemos estas escolhas e assumimos a responsabilidade por elas com
convicção. Enganam-se os que julgam que a eficácia da execução e implementação
do muito que é exigido de nós, incluindo as medidas que constam no memorando de
entendimento, não sofreriam com acções a contra-gosto e com abundantes reservas
mentais. Só quem acreditar na capacidade da sociedade portuguesa para cumprir
este programa exigente é que pode liderar com sucesso o país. Como já disse em
várias ocasiões não cabe apenas ao Governo fazer esta escolha, ela cabe a todo
o povo português. É uma escolha nacional. Confio na escolha dos portugueses
assim como os portugueses podem confiar nas escolhas do Governo, porque todos
sabemos que vale a pena cuidar já do nosso futuro, vale a pena recuperar a
nossa autonomia e voltarmos a sermos responsáveis pelo nosso próprio destino.
Não nos envergonhamos do que somos, mas sabemos que podemos fazer melhor, viver
melhor se nos for dada uma nova oportunidade. Com os erros anteriores
devidamente corrigidos e as lições do passado efectivamente assimiladas. Temos
os olhos do mundo postos em nós. Há muita gente que acompanha com grande
expectativa o desfecho deste teste a que todos, como povo, estamos sujeitos. Em
parte porque se sabe que o sucesso português será também o sucesso da área do
Euro e de toda a União Europeia, em parte também porque a saída portuguesa da
crise seria, não o escondemos, um forte sinal de esperança na resolução de
problemas estruturais que em diversos graus assolam muitas das democracias
europeias para não falar de outras por esse mundo fora. Com um pouco de sorte e
com muito, muito trabalho, Portugal tem a oportunidade de se converter num
exemplo de recuperação e de reestruturação da sua economia e das suas
instituições.
(APLAUSOS)
Podemos, por isso, ser um símbolo de esperança em tempos de
pessimismo.
Acreditamos que num grande esforço conjunto poderemos deixar para trás
o sentimento de desconfiança que muitos lá fora (e cá dentro) ainda têm de nós
e constituirmo-nos como um exemplo digno de uma nação, como um exemplo de um
povo que deu rapidamente a volta a dificuldades a que tantos diagnosticaram
como insuperáveis. Neste aspecto, as escolhas que fizermos nesta altura podem
ser as primeiras linhas de uma página edificante na História da Europa. E
talvez no futuro muitos portugueses possam olhar para trás e sentir com
justificado orgulho que ajudaram a escrever essa página. É verdade que também
há muita gente, entre nós e no estrangeiro, que nos vê com uma grande dose de
pessimismo, cepticismo mesmo, e que dizem que os portugueses não serão capazes
de resolver os seus problemas nem de levar a bom porto o programa de
assistência económica e financeira. A esses respondo que ninguém diz aos
portugueses que há coisas que eles não conseguem fazer.
(APLAUSOS)
Quem faz estes comentários e estes vaticínios não nos conhece, não
conhece o que move a nossa alma, não conhece a nossa resistência, a nossa
vontade, o modo como nos unimos em momentos cruciais e nos mostramos à altura
dos desafios, não conhece a nobreza do nosso espírito. Foi com ambição que
partimos para este projecto e é com ambição que o estamos a concretizar. Em
dois meses, o Governo deu boa conta da sua agenda reformista em consonância com
o memorando e para além dele, respeitando o seu programa apresentado na
Assembleia da República. Não existe um esforço de consolidação orçamental que
esteja desligado da agenda de reforma estrutural que apresentámos ao país. Na
verdade, sem levarmos a cabo a reforma estrutural do Estado, da economia, das
instituições, o esforço de consolidação orçamental será feito em vão e os
sacrifícios que os portugueses já suportam seriam desperdiçados. Procedemos
imediatamente às reformas estruturais para regressarmos ao crescimento e à
criação de emprego tão rapidamente quanto possível. E porque sem elas, sem
crescimento e emprego não há esforço de equilíbrio financeiro que resista. Do
mesmo modo partimos do equilíbrio financeiro para temos uma economia mais
dinâmica. Também precisamos de uma economia mais dinâmica e aberta para termos
equilíbrio financeiro sustentado. Com esse fito iniciámos no âmbito do programa
PREMAC, um trabalho de dignificação, racionalização e dinamização eficiente dos
serviços da administração pública, que será acompanhado de um processo de fusão
e de extinção de entidades dos serviços da administração indirecta do Estado,
na área não empresarial e também de um processo de reorganização administrativa
no nosso território. Começámos a imperativa reestruturação do sector público
empresarial e pusemos em curso uma ampla reforma administrativa autárquica;
fixámos tectos para a despesa em todos os departamentos governamentais e por
todos os programas; atacámos os excessos nos consumos ministeriais. Extinguimos
os direitos especiais, as chamadas golden share, e abrimos o programa de
privatizações sem reservas como nenhum outro país europeu o fez até hoje.
Queremos continuar o processo de modernização das leis laborais e articularemos
com a nova lei do arrendamento encetando um diálogo em sede de concertação
social. Mas não esquecemos o programa de emergência social, nem a actualização
das tarifas sociais dos transportes.
(APLAUSOS)
Deixem-me, de resto a este propósito, anotar a confusão que se
estabeleceu no país a propósito dos passes sociais. Como se o Governo agora
tivesse acabado com o passe social e o destinasse apenas às famílias de menores
rendimentos. O Governo actualizou os preços dos passes sociais, mas criou um
novo passe social para aqueles que têm rendimentos mais baixos de modo a que
esses possam enfrentar preços nos transportes mais baratos ainda do que aqueles
que enfrentavam no início desta crise.
(APLAUSOS)
Reforçámos o ensino do português e da matemática para o próximo ano e
propusemos o reforço da autonomia financeira das universidades, decidimos o
alargamento do mercado dos genéricos e implementámos a obrigatoriedade da
prescrição electrónica e terapêutica. E se mantivemos o congelamento da maior
parte das pensões de reforma, descongelámos as pensões mínimas. Cumprimos com
isso os prazos necessários para a avaliação da troika e antecipámos muitos
outros. Os nossos objectivos são claros e ambiciosos, tanto no que diz respeito
ao défice orçamental como à dívida e à despesa pública. Em 2012 planeamos obter
já um superavit orçamental primário de 0,4% do PIB. Em 2013 conseguiremos
finalmente travar o crescimento da dívida pública e daí em diante reduzir-se-á
o endividamento do Estado. A despesa pública em percentagem do produto descerá
significativamente já este ano, mas em 2012 e 2013 será alvo de grandes
reduções na ordem, respectivamente, dos 3 e 2 pontos percentuais. Se em 2010 o
peso total da despesa pública equivalia a 50,6% do produto, no final da
programação orçamental esse nível terá descido para 43,5%.
(APLAUSOS)
Assim, a redução da despesa pública em percentagem do PIB começa já em
2011 e prosseguirá até 2015 a um ritmo e a uma escala que o país não conheceu
nas últimas décadas e que inaugurará uma nova relação do Estado com a sociedade
e com os cidadãos em geral. A partir de 2013 começaremos finalmente a libertar
os portugueses do fardo da dívida, quando esta entrar no seu plano inclinado de
redução. No meio de tantos números e de tantos indicadores, com tantas mãos a
acudir, com tantos problemas para resolver, com tantos projectos postos em
marcha é natural que as pessoas tenham sentido alguma dificuldade em
compreender o sentido último do nosso rumo. Permitam-me portanto que aproveite
esta oportunidade para o explicitar melhor. Reduzir o endividamento do Estado e
da economia não é uma questão que diga respeito apenas às finanças, é uma
questão necessária para libertar a economia produtiva, mas mais
fundamentalmente reduzir o endividamento é um modo directo de recuperarmos a
nossa capacidade de escolha e a nossa autonomia enquanto comunidade política.
Deixem-me dar mais dois exemplos, a nossa política assumidamente ambiciosa de
privatizações também não pode ser confundida com um simples expediente de
natureza financeira. Tem um intuito bem mais abrangente que se inscreve na
nossa intenção de fazer de Portugal um país mais aberto com uma economia mais
aberta. A atracção de capital estrangeiro visa trazer uma nova vitalidade a
Portugal, ao nosso tecido empresarial e à nossa sociedade, visa pormos em contacto
com as redes internacionais mais dinâmicas em termos empresariais e em termos
tecnológicos. Essa também é uma escolha nossa, entre ser
uma sociedade fechada e lamurienta ou uma sociedade aberta e dinâmica que pode
concorrer e competir em qualquer parte do mundo. Esta é uma escolha nossa e
este é o momento certo para fazer essa escolha. A nossa estratégia de inverter
a centralização da acção social e de pelo contrário envolver as instituições de
solidariedade social que conhecem bem o terreno, as pessoas com carências e a
natureza dessas carências, não obedece apenas a imperativos de eficiência no
dispêndio de recursos, nem somente ao propósito geral de descentralizar e
desburocratizar a nossa administração. Procura também permitir um maior
envolvimento no auxílio aos mais vulneráveis e conferir um sentido mais
comunitário, menos impessoal, mais humano a esse auxílio. Procura incentivar um
estreitamento das relações humanas entre, por um lado, aqueles cujas carências
vão empurrando para fora das margens da sociedade e, por outro, todos os outros
que sentem que faz parte da sua realização pessoal e dos seus deveres de
cidadania empenharem as suas vidas, o seu tempo, o seu trabalho no alívio
dessas carências. É este o momento para decidir esse envolvimento maior cívico
de toda a sociedade.
(APLAUSOS)
Procurámos proteger os mais desfavorecidos nestas últimas subidas de
impostos. Foram necessárias para, perante sinais preocupantes de desvios muito
sérios, proteger o país de efeitos muito negativos que resultariam de percalços
não resolvidos. Foi por isso que agimos preventivamente, por antecipação aos
problemas, como agiremos sempre para fugirmos de perigos bem reais. Nessa
medida onerámos os mais desafogados e não tenho dúvida que dado o carácter
estritamente temporário destas medidas, estes grupos sócio-económicos estão
disponíveis para ajudar a poupar os mais vulneráveis durante este período de
transição. Isto não diminui, sei-o bem, o peso destes sacrifícios, mas estou
certo que os termos em que os aprovámos lhes conferem um sentido mais razoável
para todos. Não tenho dúvida que há grupos que têm sentido mais fortemente os
efeitos da crise do que outros. Sei que há regiões do país que têm pago um
custo desproporcionado da crise nacional nos últimos anos. Também estes
desequilíbrios terão que ser corrigidos. Aqui também se joga a coesão nacional
e a concretização da justiça social. Alguém disse que um país deve ser a
promessa e a confiança do futuro. Ora a missão do Governo que chefio consiste
em voltar a fazer de Portugal a promessa e a confiança do futuro. Isso
significa recobrar as nossas energias económicas, sociais, culturais, em suma
recobrar as nossas energias espirituais. É missão deste Governo dar um novo
alento à força da nossa democracia e estender a envergadura da nossa presença
no mundo. É este o momento também para o fazer. As reformas económicas e
financeiras que propomos para não mencionar todas as outras que abrangem as
diferentes áreas de governação, não são apenas um conjunto de respostas rápidas
a uma emergência geral. Essa seria uma interpretação muito estreita daquilo que
estamos a fazer. São, isso sim, num sentido mais profundo, meios para
recuperarmos essas energias e essas forças. São meios para recuperarmos a nossa
autonomia e o nosso dinamismo enquanto comunidade política. São meios para
afirmarmos os nossos valores e para darmos o nosso contributo para o património
comum da Humanidade.
(APLAUSOS)
Escolhemos fazer do ano de 2012 o ano do princípio do fim da
emergência nacional.
(APLAUSOS)
Como todos os períodos de transição, será um ano duro, repleto de
desafios e de obstáculos. Resta acrescentar que juntos iremos vencê-los. No fim
deste processo teremos adaptado a nossa economia e o nosso modelo de governação
ao regime muito mais exigente que vivemos hoje, à altura das exigências que
definem o horizonte europeu e global. Este Governo vê a integração europeia
como um regime colectivo através do qual diferentes Estados se comprometem
entre si e perante as suas populações a aumentar o nível de exigência da sua
governação política e económica. Quero dizer que vivemos há demasiado tempo num
teimoso isolamento como se fosse possível continuar a fazer tudo da mesma
maneira. Vivemos há demasiado tempo acomodados a certos instintos
irreflectidos, como se o grande projecto europeu em que estamos envolvidos não
reclamasse mais de nós, não nos obrigasse a ser melhores. Vivemos há demasiado
tempo entregues à resignação como se o rápido mundo da globalização se
compadecesse da nossa desistência, mas no fim deste processo teremos feito mais
do que elevar o nível de exigência e de qualidade da nossa política e da nossa
economia.
Mais, em que sentido? O que pode ser mais importante do que isto? Meus
amigos, o mais importante é que teremos sido nós a operar esta grande
transformação e a passar por este grande teste. E começando com tantos
obstáculos, com uma montanha tão íngreme para escalar, não tenho dúvidas de que
nos poderemos orgulhar do nosso trabalho, do nosso brio e que a capacidade que
demonstrarmos na adversidade será o nosso grande capital quando vier a bonança.
Se somos capazes de ultrapassar um teste cuja dificuldade rivaliza com qualquer
outro, quem sabe do que seremos capazes uma vez feito o mais difícil.
(APLAUSOS)
Um dia, quando este encontro for já uma memória distante olharemos
para trás, para estes dois anos em que trabalhámos e vivemos em condições tão
delicadas e poderemos dizer que fomos os artífices desta mudança, que
participámos nos dois anos decisivos em que o nosso País decidiu não adiar mais
as suas escolhas e tomou nas suas mãos o seu próprio destino. Não se esqueçam
do que iremos fazer juntos porque vamos ter de contar esta história no futuro,
temos de explicar algures lá mais à frente este momento tão importante, este
momento de crise e de ressurgimento. Talvez nesses tempos mais felizes nem
todos se lembrem de como tudo começou, mas tenho a certeza de que todos os que
aqui estão hoje se lembrarão. Nós saberemos como tudo começou e de como tudo
acabará melhor do que nos prometeram.