Vamos dar início ao próximo debate.
O tema é "adopção por casais do mesmo sexo” e tem a palavra, em representação
do Governo Castanho, o ministro Pedro Veiga. Tem 5 minutos.
Pedro Veiga
Caro Presidente da Assembleia
Senhores ministros
Senhores deputados
É
com muito orgulho que me dirijo a vocês para apresentar o programa do XIX
Governo Constitucional. O programa embate sobre o tema «Adopção por casais do
mesmo sexo». O fim das desigualdades sociais, económica e de identidade é o
escopo fundamental desta proposta. O programa de governo é uma expressão de
vontade e de mudança. A defesa dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais promovendo políticas de inclusão e
de combate à discriminação social, em todas as esferas da vida, é uma das
prioridades nacionais que pretendemos atingir.
A
actual legislação é claramente insuficiente e injusta, pois com ela, muitas
pessoas ficam com acesso a um menor leque de opções e de direitos. O governo
entende que esta é uma problemática que deve ser sanada na actual legislatura.
O
casamento homossexual encontra-se amputado de um aspecto fundamental que viola
o princípio da igualdade entre todas as pessoas. É da nossa responsabilidade
lutar pelas desigualdades sociais e afectivas, dando resposta à discriminação
existente.
Vozes
Muito
bem!
O Orador
Converter
o papel parental a todas as pessoas que assim o anseiam, proporcionar ao maior
número de crianças desprovidas de meio familiar de crescerem no seio de
famílias estruturadas e corresponder à receptividade crescente da sociedade
portuguesa são os três objectivos estratégicos que pretendemos atingir a curto
e médio prazo.
As
medidas que este governo pretende implementarem para cumprimento dos objectivos
anteriormente referidos são: dar possibilidade de adopção e acolhimento de
crianças por parte de todas pessoas sem qualquer exclusão baseada na orientação
sexual, dependendo apenas na escolha com base no critério da capacidade parenta;
reconhecer legalmente todos os pais e mães homossexuais ou bissexuais já existentes
e que formam uma família; dar o direito de inseminação artificial a todas as
mulheres; criar campanhas de sensibilização contra a discriminação de filhos
dos casais do mesmo sexo; consagrar o direito de receber pensões e heranças bem
como passar para filhos do casal quaisquer bens materiais dos mesmo.
Hoje,
igualdade entre géneros é uma ambição mas amanhã, meus amigos, será uma
realidade.
Vozes
Muito
bem!
O Orador
Obrigado.
[APLAUSOS]
Nuno Matias
Obrigado.
Tem agora a palavra pela Oposição 1, do partido Cinzento, o Deputado André
Couceiro. Tem 3 minutos.
André Couceiro
Exmo.
Senhor Presidente da Assembleia
Membros
do Governo
Caros
deputados
Nós
lemos este programa de governo com toda a atenção. Mas atenção é coisa que
parece que não houve aquando da escrita do mesmo. Então foi escrito que é da
responsabilidade deste governo lutar pelas desigualdades. Pelas desigualdades
ou contra as desigualdades?
Vozes
Muito
bem!
[APLAUSOS]
O Orador
Isto
é lamentável, uma vergonha. Só isto bastava para chumbar o programa de uma só
vez. Não queremos um Governo que promova as desigualdades. Queremos um Governo
que lute pela justiça social. Isto não augura um bom futuro, meus amigos, pois
o que nasce torto tarde ou nunca se endireita.
Vozes
Muito
bem!
[APLAUSOS]
O Orador
Nós
estamos contra este documento e porquê? Comecemos pela medida que visa
reconhecer legalmente todos os pais e mães homossexuais ou bissexuais que já
existam e que formam uma família. Querem reconhecer pais que já são pais? Mas
isto já está no registo. Querem adopção, perfilhação? Querem isto escrito no
cartão de cidadão da criança? Tipo: filho de António Pereira e Carlos Morais?
Vozes
Muito
bem!
[APLAUSOS]
O Orador
Ou
filho de Liliana Pereira e Teresa Salvador? Isto é uma confusão!
Em
termos de conteúdo e estrutura este programa de Governo é zero. Não só nas
medidas que apresenta, mas logo nos objectivos do próprio programa. "Adopção
por casais do mesmo sexo”, não faz sentido. Não faz sentido a adopção por
casais do mesmo sexo, não faz sentido! Quando há dois pais ou duas mães o outro
elemento fica de fora da educação da criança. Isto causa um desequilíbrio no
crescimento e desenvolvimento da mesma. É isto que o Governo quer? Condicionar
logo à partida uma geração de crianças e quer fazer uma geração de crianças
naturalmente desequilibradas?
VOZES
Muito
bem!
[APLAUSOS]
O Orador
Posto
isto só posso afirmar: quem nunca deveria ter sido adoptado era este Governo.
Obrigado!
VOZES
Muito
bem!
[APLAUSOS]
Nuno Matias
Muito
obrigado. Pela Oposição 2 a deputado Isa Monteiro do Partido Verde. Dispõe de 3
minutos.
Isa Monteiro
Muito
obrigada, senhor presidente da Mesa
Caro
Primeiro-Ministro e restante executivo
Caros
deputados
Tenho
que dizer que as medidas que pretendem adoptar são completamente
irresponsáveis. Em primeiro lugar: não existem quaisquer estudos científicos, a
longo prazo, que comprovem que uma criança se desenvolva normalmente no seio de
uma família homossexual.
Meus
senhores, não acham francamente que fazer da vida de uma criança um estudo ou
tratá-la como uma cobaia é demasiado penoso? Arriscar desta forma a felicidade
de uma criança... Em que se baseiam?
Se
quiserem podemos discutir a quantidade de estudos científicos, a quantidade de
pessoas que foram acompanhadas ao longo do tempo para vermos, realmente, se
podemos tirar alguma conclusão.
Além
disso, vejamos a nossa sociedade. Os senhores acham que em Portugal as pessoas
estão adaptadas e preparadas para aceitar sem murmúrio incomodativo uma criança
que cresce no seio de uma família homossexual? Uma criança que cresce com
discriminação? Como é que acha que esta criança se vai desenvolver. Acha mesmo
que esta criança vai ser feliz?
Como
o senhor ministro, de certeza, sabe as crianças aprendem por imitação. Se a
criança não tiver a presença de uma mãe e de um pai durante o seu crescimento
mas, em vez disso, um casal homossexual, existe uma grande probabilidade de a
criança adoptar o mesmo comportamento. Imagine então o que seria se grande
parte da nossa sociedade se tornasse homossexual. Imagine ainda que esta
sociedade se queria reproduzir recorrendo à inseminação artificial como os
senhores referem e, aliás, sem qualquer tipo de regulamentação.
Eu
não tenho dúvidas em afirmar o seguinte: a sua proposta pretende fazer da vida
humana um negócio. Para além disso, o direito da inseminação artificial, sem
nenhuma discriminação - como os senhores escreveram mas não leram - leva
inevitavelmente a um mercado desregulado de compra e venda de óvulos, esperma e
barrigas de aluguer. Isto é verdade.
VOZES
Muito
bem!
[APLAUSOS]
A Oradora
Isto
é uma nova forma de prostituição. Veja-se só a realidade dos Estados Unidos. Eu
conheço esta realidade. Isto aqui, sabem o que é? É um anúncio de compra de
óvulos. Esta clínica oferece 6 mil dólares pela compra de óvulos. Isto é um
anúncio numa universidade. O senhor gostaria que a sua filha fosse vender
óvulos por questões económicas. O senhor gostaria de ser filho de um óvulo
implantado numa barriga de aluguer, de pais homossexuais. Como iria definir a
sua identidade? Gostaria de viver nesta sociedade? Eu não!
[AVISO
DA MESA PARA TERMINAR]
A Oradora
Pense
nisto. Não é nesta sociedade que quero viver, não é nesta sociedade que eu
quero que os meus filhos vivam. Por isso…
[NOVO
AVISO DA MESA PARA TERMINAR]
A Oradora
Não
quero Portugal seja um país sem moralidade. Obrigado.
Nuno Matias
Muito
obrigado!
[APLAUSOS]
Pedro Roberto
Muito
obrigado!
Caro
Presidente da Assembleia
Caros
grupos parlamentares
Senhoras
e senhores deputados
Eu
começaria por perguntar a esta assembleia se efectivamente todos os grupos
parlamentares acederam à mesma proposta do Governo. É que a mim parece-me
claramente que não, senhores deputados, a mim parece-me claramente que não.
Os
senhores vêm aqui hoje a esta assembleia reiterar que defendem as crianças? Sinceramente,
senhores deputados! Com as vossas ideias e com as vossas propostas, vocês estão
a fazer tudo menos isso, senhores deputados. Os senhores não só não querem
aprovar esta proposta como, ainda por cima, querem manter esta desigualdade de
direitos.
Senhora
deputada falou sobre os estudos. Há vários estudos, senhora deputada. Há vários
estudos que comprovam o que disse. Há vários estudos…
[INTERRUPÇÕES
DA BANCADA DA OPOSIÇÃO]
Nuno Matias
Não
há diálogo!
Pedro Roberto
Posso
terminar? Senhor Presidente de Mesa, eu gostava de poder…
[APLAUSOS]
Muito
obrigado. Há vários estudos que mostram inclusivamente que as crianças se
desenvolvem em profunda harmonia quer em casais homossexuais quer em casais
heterossexuais. Ou seja, não há diferença nenhuma na integração destas
crianças. E o que dizem os senhores? Pois é, não integremos essas crianças!
[INTERRUPÇÕES
DA BANCADA DA OPOSIÇÃO]
Nuno Matias
Não
há diálogo!
Pedro Roberto
Este
Governo, este governo… não esteja nervosa, senhora deputada…
Este
Governo não vai compactuar com tamanha irresponsabilidade, senhores deputados.
Mais, senhores deputados, mais. Não há
nenhum estudo que comprove uma maior incidência de homossexualidade entre
crianças que cresceram com um casal homossexual. Mas mais: os senhores já
pensaram nos milhares e milhares de crianças que deixarão de ser órfãos uma
vida inteira, senhores deputados. Os senhores já pensaram nisto? Eu percebo que
não tenham pensado, calculo que não, calculo que não…
O
que se trata aqui, senhores deputados, é de capacidade parental. Creio que os
senhores saibam o que significa. Mas eu explico. Capacidade parental significa
competência para educar as crianças, significa criar um conceito universal para
todas as famílias sem excepção e significa sobretudo senhores deputados criar
laços afectivos para todos aqueles que infelizmente não têm ninguém. É disto
que estamos a falar, senhores deputados. É disto que estamos a falar.
Só
para terminar, quero dizer o seguinte aos senhores deputados: não há igualdade
se ela não for global. É disto que estamos a falar. Não há igualdade se ela não
for global, senhores deputados.
Muito
obrigado!
Nuno Matias
Muito
obrigado, Senhor Ministro!
VOZES
Muito
bem!
[INTERRUPÇÕES
DA BANCADA DA OPOSIÇÃO]
Pedro Roberto
Está
enganado, senhor deputado, está enganado, está enganado.
Nuno Matias
Muito
obrigado.
Vamos
passar então à votação. Pedia que, a quem achasse que o governo ganhou o
debate, levantasse o braço.
A
Oposição 1... A Oposição 2. Parece-me claro que ganhou a Oposição 2.
Passo
a palavra ao nosso júri.
Pedro Duarte
Em
primeiro lugar vou repetir três chamadas de atenção. São recorrentes em vários
casos pelo que acho que não se perde em repetir.
Atenção
à linguagem corporal. Voltou a acontecer estarem, nomeadamente, os dois membros
do Governo, bastante vergados.
O
Carlos já alertou para isso, foi até o primeiro apontamento desta mesa.
Em
segundo lugar, atenção aos "vocês”. Continuam a surgir com muita regularidade,
apesar de já se ouvir uns "senhores deputados” aí no meio, já não é mau, mas
ainda há muitos "vocês”.
Em
terceiro lugar, atenção àquilo que também já foi falado sobre os apartes. Se
conseguirem ignorar estoicamente aquilo que está a ser dito, é o ideal. Eu
percebo que às vezes é absolutamente impossível, insustentável. Não nos
conseguimos concentrar e manter no trilho. E se assim for, a reacção que eu
ouvi agora foi correta. Pedir ao presidente da mesa, responder com serenidade,
«tenha calma» ou algo parecido, é o menos mau. Mas o ideal, façam este esforço,
é ignorem estoicamente. Acreditem que quem está com os apartes é que se vai
sentir mal ao fim de alguns segundos.
Quanto
à substância do que foi dito, em primeiro lugar, eu acho que nós vivemos na
época das imagens, já não é a época das palavras.
Acho
que a utilização de imagens é muito positiva. E há aqui dois exemplos de
imagens: uma da Isa que foi exactamente uma imagem física mostrada, que eu acho
que é uma boa técnica. Assim como uma imagem que às vezes é só oralizada,
digamos assim, que o André também utilizou falando, por exemplo, do cartão do
cidadão «imaginem o cartão do cidadão de uma criança”. No fundo, está-se a
construir uma imagem, nós na nossa cabeça estamos a reproduzir essa imagem.
Isto é uma boa técnica, bastante eficaz e que eu acho muito positiva.
Aliás,
quer o André quer a Isa também terminaram muito bem. Acho que preparam o final
e que o fizeram de forma bastante interessante, com uma frase mais
interessante, no sentido de ter sido assertiva da parte do André e com mais
emotividade por parte da Isa.
Última
nota para dizer que na primeira intervenção do Governo falhou isto: num tema
com estes, não tenham dúvidas, o ponto-chave aqui são as crianças. Portanto,
nós temos também daí que perceber que o debate vai sempre estar à volta das
questões das crianças. E o Governo na intervenção inicial falou muito da
igualdade entre cidadãos que têm diferentes opções sexuais, falou muito da
matéria da discriminação, falou muito desse problema e ignorou a parte das
crianças. Portanto, nós também quando estamos neste tipo de debates temos de
perceber qual é o ponto-chave e é a esse ponto-chave que nos devemos agarrar
sempre.
Dep.Carlos Coelho
Concordo
com tudo aquilo que o Pedro Duarte acabou de dizer. Sob esse ponto de vista,
acho que o Pedro Roberto teve na última intervenção o filão, que é exactamente
o interesse das crianças, quando apelou para a questão das crianças
institucionalizadas. O que será melhor: ficarem sem ninguém ou terem uma
família de acolhimento?
De
resto, em termos de postura, em termos de tom de voz, o André e o Pedro são
dotados com boa voz e isso valorizou-os. Acho que das duas oposições, eu gostei
mais, para ser sincero, da Oposição 1. Acho que o André esteve mais eficaz e
acho que a Isa por vezes usou argumentos de moralidade que podem pôr a opinião
pública dividida.
Para
todos os efeitos, estamos num Estado laico, bem sei que a moralidade não é
necessariamente religiosa, mas traduzir para o discurso político questões que
resultam dos preconceitos morais que cada um tem, pode cair numa apreciação,
não digo necessariamente sectária, mas que granjeie o apoio duns e a oposição
doutros. Portanto, cuidado com a introdução de dados de natureza moral no
discurso político.
De
qualquer forma acho que foi um bom exercício este que nós fizemos aqui, numa
matéria que é muito sensível.
Duarte Marques
Vamos
começar agora a 7ª reunião da sessão plenária da UV e há uma proposta do
Governo para fixar constitucionalmente o limite do défice orçamental.
No
Governo está o Grupo Verde. Na Oposição 1 o Laranja e na Oposição 2 o Rosa.
Dou
a palavra por 5 minutos ao primeiro-ministro Rogério Gomes Gouveia. Tem 5
minutos
Rogério Gomes Gouveia
Muito
obrigado.
Exmo.
senhor Presidente
Caras
deputadas e caros deputados
O
Governo está cá hoje reunido nesta assembleia para apresentar aquela solução
que acreditamos ser uma mais-valia para o nosso país, a qual nos vai tornar um
país mais coeso, mais equilibrado e mais forte.
Acreditamos
que esta proposta pode ser uma forma de elevarmos o nível do país, mas também a
nossa imagem. Acreditamos numa medida credível, numa medida consciente, numa
medida, acima de tudo, responsável.
Como
sabemos, Portugal ao longo destes últimos anos tem vindo a apresentar números
elevados de défice do Orçamento de Estado.
Ora
vejamos, em 2009 Portugal sofreu uma recessão económica, sendo necessário criar
medidas de anticrise. É verdade, criaram medidas anticrise. Mas também é
verdade que estas medidas nada resolveram. Só piorou o estado do País, só
piorou o orçamento. Não foram medidas conscientes, não foram medidas credíveis,
não foram medidas responsáveis.
Estas
só contribuíram para denegrir a imagem do país. Face a esta realidade, em 2010
Portugal foi considerado o 4º país da Europa com maior défice, apresentando
neste mesmo ano um buraco orçamental de 9,1% do PIB. Meus amigos fomos o quarto
país da Europa.
Senhor
deputados, senhoras deputadas, isto faz reflectir. Hoje, embora estes valores
tenham vindo a descer, Portugal apresenta ainda uma percentagem de 8,7% do
défice orçamental. Se o governo os braços era uma atitude irresponsável, era
como deixar de remar e ver o barco a afundar. Vejam lá, chegou-se ao ponto de a
União Europeia recomendar que deveríamos descer o défice a 3% do PIB.
Senhores
deputados, é preciso virem outros dizer ao país o que devemos fazer? Só podemos
garantir a estabilidade orçamental, só podemos garantir o melhor futuro do país
estabelecendo um limite constitucional do défice do Orçamento de Estado. E para
que esta medida seja eficaz e eficiente terá de respeitar quatro objectivos
estratégicos fundamentais: 1º estabelecer um limite de forma a garantir a
estabilidade orçamental a médio e longo prazo; 2º restaurar a credibilidade
financeira do país, reduzindo o endividamento nacional do défice externo; 3º regular
e controlar a dívida do Estado; e 4º ir além do limite imposto pela União
Europeia como forma de demonstrar a todos que Portugal tem como primordial
objectivo uma política económica eficaz.
E
agora, senhores deputados, como é natural, pergunto: mas como é que vamos
conseguir alcançar estes objectivos? A resposta é muito simples, senhores
deputados. Em primeiro lugar, o Governo pretende estabelecer um valor-limite do
défice do Orçamento de Estado na Constituição da República Portuguesa.
Ora,
sendo este um governo a favor da valorização do diálogo e na perspectiva de
melhor justiça, propomos que este valor-limite do défice seja negociado com os
partidos políticos, não descurando a importância de ouvir todo o tecido
empresarial, social e económico. E para que possamos alcançar e sermos melhores
que o valor recomendado pela União Europeia, propomos a inscrição de um valor
défice inferior ao valor de referência da União Europeia situado a 3% do PIB,
como aqui já foi dito, para 2013.
Esta
será uma medida que exige grande rigor e fiscalização, nós temos a plena
consciência. Daí a proposta de criar uma comissão fiscalizadora do défice, a
qual será constituída não só por membros internos ao governo mas também
constituída por membros externos.
Esta
comissão terá como função primordial avaliar o défice periodicamente e caso
haja uma previsão acima dos valores definidos, o governo assume a
responsabilidade e terá de tomar imediatamente medidas de forma a corrigir esta
situação.
O
governo está consciente que está será a medida que exige mais esforço por parte
de todos. Estamos conscientes. Mas também estamos conscientes que os
imprevistos acontecem. Daí propor que osa limites podem ser superados em caso
de catástrofes naturais, recessão económica e situações de emergência e
extraordinária.
Senhores
deputados e senhoras deputadas, para finalizar…
[AVISO
DA MESA PARA TERMINAR]
O Orador
Portugal
precisa de nós e nós precisamos Portugal. E tal como comecei o meu discurso,
finalizo: só será possível tornar um país mais coeso, mais equilibrado, mais
forte com as forças de todos nós.
[AVISO
DA MESA PARA TERMINAR]
O Orador
Já
termino. Por isso…
[VOZES
IMPERCEPTÍVEIS]
Duarte Marques
Tem
de terminar
Rogério Gomes Gouveia
… conto com
cada um de vós para recomeçar o novo caminho
Duarte Marques
Muito
obrigado!
VOZES
Muito
bem!
[APLAUSOS]
Duarte Marques
Muito
obrigado, senhor Primeiro-Ministro.
Dou
agora a palavra ao Senhor Deputado Ricardo Santos do Grupo Laranja. Tem 3
minutos.
Ricardo Santos
Muito
obrigado!
Caro
senhor Presidente da Mesa da Assembleia
Caro
Primeiro-Ministro, membros do Governo
Caros
senhores deputados
A
proposta que o governo dos verdes hoje aqui nos traz apresenta claramente uma
falta de rigor. Fixar constitucionalmente um limite para o défice inferior a
3%, número este sem qualquer fundamento económico ou técnico, é preocupante.
Reflecte não só um sinal claro da divergência entre os problemas que nos
afectam e as propostas que se seguem, como também denota, e isto é claramente
preocupante, a desconfiança do próprio governo na sua própria capacidade de
conduzir políticas orçamentais concretas e objectivas de forma a garantir a
sustentabilidade económica mas também social neste nosso Portugal.
Vozes
Muito
bem! Muito bem!
[APLAUSOS]
O Orador
Constitucionalizar
um limite de défice baseado num saldo endogenamente determinado, é importante
referir isto, isto é, um saldo em que o valor de grande parte das receitas e
das despesas não depende exclusivamente do governo, mas sim momento em que a
economia se apresenta, é bastante estranho. Mais estranho ainda é o facto de
este governo desconhecer como é que se executa o Orçamento de Estado.
Esquecem-se por exemplo dos estabilizadores automáticos, que são nada mais nada
menos que aquela coisa que eu chamo de subsídio de desemprego que não é
importante para o meu país.
Mas
façamos o seguinte exercício, entre mim e vocês. Janeiro, entrámos em recessão.
Vocês percebem isso ou a comissão fiscalizadora percebe isso e fazem um
orçamento rectificativo, ou então diminuem a despesa ou aumentam os impostos.
Ora,
tudo bem! No segundo mês a recessão continua, o subsídio de desemprego aumenta,
as receitas diminuem e vocês fazem novamente um orçamento rectificativo ou
aumentam os impostos ou reduzem ainda mais a despesa. Ora o que eu pergunto a
este Governo é: vocês têm uma gestão mensal, semanal, bi-diária? Um Governo é
eleito para dirigir o país a 4 anos, pensar a longo prazo
Vozes
Muito
bem!
O Orador
O
problema trata-se com realidades concretas, com a redução de despesa,
libertação dos mercados de capital, com a libertação desta sociedade
escravizadora de impostos.
[AVISO
DA MESA PARA TERMINAR]
O Orador
Mas
o que mais me preocupa nesta proposta é o facto deste governo eleger este país
como duas sociedades diferentes. Um povo de primeira, um povo de segunda.
[AVISO
DA MESA PARA TERMINAR]
O orador
Esta
geração é a geração mais completa de todos os tempos! E eu acredito que nós…
Duarte Marques
Muito
obrigado! Tem de terminar!
Ricardo Santos
…
somos capazes de gerir este país!
Duarte Marques
Muito
obrigado, senhor deputado.
Dou
agora a palavra ao senhor deputado Francisco Nunes Pereira do Grupo Rosa
Francisco Nunes Pereira
Muito
obrigado, senhor presidente!
Senhor
Presidente
Senhores
membros do Governo
Excelsos
deputados
Eu
confesso que não queria acreditar no que estava a ouvir o senhor Primeiro-Ministro
dizer. O senhor Primeiro-Ministro disse que era para nós um motivo de vergonha
terem de vir os estrangeiros, os outros países europeus, dizer aquilo que nós
tínhamos de fazer.
Também
acho que isso é um motivo de vergonha, mas não posso deixar de assinalar que o
senhor Primeiro-Ministro e o seu Governo protagonizaram uma corrida atrás
daquilo que disseram e adoptaram esta proposta.
Vozes
Muito
bem!
[APLAUSOS]
O orador
Estamos
aqui perante o mais feroz ataque feito à Constituição da República Portuguesa
desde a sua aprovação em 76. A limitação dos limites de défice é uma medida
ideológica e por ser uma medida ideológica não deve estar inscrita na Constituição,
porque governos de um lado e doutro devem poder governar de acordo com esse que
é o documento regulador daquilo que deve ser a política em Portugal.
Vozes
Muito
bem!
O Orador
Fazer
face a uma crise pode ser conseguido através do aumento do nível de défice.
Mas, mesmo em momentos em que a crise não existe
pode
ser viável aumentar o défice em condições macroeconómicas internacionais em que
os juros sejam baixos e em que seja possível, por exemplo, incentivar
investimento público para preparar situações de crise que acontecerão no futuro
e que não acontecem agora.
Mas,
mais do que isso, eu comecei a ler o programa do Governo e confesso que fiquei
um pouco estupefacto. O título é «Fixar constitucionalmente o limite do défice
do Orçamento de Estado» e os senhores numa arte que eu não sei, conseguem
passar do défice orçamental para o défice externo. Ora bem, se os senhores não
sabem eu vou passar a explicar. Défice orçamental é a diferença entre a receita
e a despesa do Estado. Défice externo é a diferença entre aquilo que entra no
país e aquilo que sai do país. Portanto…
[APLAUSOS]
O Orador
…
limitar o défice do Orçamento de Estado constitucionalmente em nada influencia
o défice externo, senhor Primeiro-Ministro
Vozes
Muito
bem!
O Orador
Criar
o défice pode ter o fundamento de reduzir a despesa. No entanto, os senhores
são incoerentes, porque logo a seguir propõem a criação de uma comissão que
fiscaliza a atividade económica e o cumprimento orçamental para verificar se
existem incompatibilidades. Senhor deputado, estamos a multiplicar organizações
de Estado e as organizações de Estado mostraram até hoje que são pródigas em
multiplicar a despesa e em contribuir para o défice do orçamento.
Vozes
Muito
bem!
[APLAUSOS]
O Orador
Aquilo
sinceramente que nos parece é que o governo não se sente capaz com as suas
medidas de promover uma efetiva consolidação orçamental. O senhor Primeiro-Ministro
disse esses limites podem ser revistos em caso de crise económica ou de
catástrofe natural. Em relação a este ponto há um aspecto muito importante: a
constituição prevê a declaração de estado de sítio em caso de catástrofe
natural. Mas se ele estiver em vigor, a alteração constitucional não pode ser
feita…
[AVISO
DA MESA PARA TERMINAR]
O orador
… e portanto nessa medida não podem alterar os
limites de défice.
Muito
obrigado, senhor presidente.
Para
terminar…
[APLAUSOS]
[AVISO
DA MESA PARA TERMINAR]
O orador
Para
terminar, fixar o limite de défice na Constituição para resolver os problemas
do país é o mesmo que dizer que o doente se cura com a mera receita do médico e
não com o medicamento
Muito
obrigado!
[APLAUSOS]
Duarte Marques
Muito
Obrigado!
Para
responder, o ministro Pedro Sousa
Pedro Sousa
Exmo.
Presidente da Assembleia.
Restante
Governo.
Caros
deputados, caras deputadas.
Antes
de mais agradeço as questões que me foram colocadas, mas eu vou-vos dizer, meus
colegas, que eu considero que estamos no momento em que temos de estar todos
conscientes que os esforços terão de ser maiores para esta medida ser bem
aceite pelo conjunto deste parlamento.
Caso
contrário, só demostra a falta de preocupação com o futuro no nosso país. A
primeira questão foi colocada acerca dos 3% que não é baseado em estudos. Quem
é que lhe disse? Você não estará informado, porque esses estudos estão baseados
na União Europeia. Sim, sim, colega, estão baseados. E estas medidas não serão
só para nós. Serão para futuros governos, serão para prevenir o que aconteceu
no passado recente. Mais vale fazer um orçamento rectificativo do que colocar o
país na bancarrota.
Todos
os défices superiores a 3% do PIB têm sido considerados excessivos na União
Europeia. Portanto nós queremos apenas prevenir este limite. A proposta não
está fechada, queremos negociá-la aqui neste parlamento. Queremos ouvir todos
os partidos, entidades privadas e outras entidades, como já referiu o meu
colega.
Nós
não queremos apenas cumprir tal limite porque acreditamos ser uma forma de
controlar melhor a dívida do Estado, prevenindo assim o risco de recessão
económica, queremos também temos de estar ao nível dos parceiros europeus. Não
sei se é isso que querem, mas se estamos na União Europeia, temos de conseguir
acompanhá-los, não é?
Vozes
Claro!
O Orador
E
depois, o meu segundo colega falou no futuro. É em nome deste que nos estamos a
preparar, meu colega. Como disse o nosso ministro Paulo Portas, basta vermos o
exemplo da situação em que Portugal acabou obrigado a pedir ajuda externa. Tal
foi o descontrolo da despesa.
Portanto
nós estamos preocupados com o futuro do nosso país e queremos antes de mais
prevenir esse risco de recessão, e portanto, digo-vos, meus colegas, que
Portugal precisa de nós e nós precisamos de Portugal. Por isso é que esta
decisão tem de partir de todos nós.
Muito
obrigado!
[APLAUSOS]
Duarte Marques
Muito
obrigado a todos. Vamos agora votar sobre quem ganhou este debate.
Quem
considera que o Governo ganhou este debate, levante o braço.
Muito
obrigado!
Quem
considera que foi a Oposição 1? Oposição 2?
É
esclarecedor. [GANHOU A OPOSIÇÃO 2]
Muito
obrigado. Parabéns
Dou
a palavra ao júri.
Dep.Carlos Coelho
Acho
que o resultado é justo. De facto, parece-me que a Oposição 2 merecia ter ganho
o debate. O Francisco teve uma intervenção bastante bem estruturada, muito
organizada, voltou o argumento ao contrário e foi particularmente eficaz.
Só
duas notas gerais. Primeiro, quando nós vos dissemos para falarem com
convicção, não significa necessariamente subir a voz. Subir a voz causa uma
tensão histriónica que muitas vezes se leva a considerar que o orador não tem
razão, corresponde àquele ditado português que diz "quem muito grita pouco
acerta”, ou algo assim do género. Dar convicção não é necessariamente falar
alto. Não é eficaz, soa a falto, assusta-vos, importuna-vos, perturba a vossa
tranquilidade. Foi exactamente aquilo a que assistimos quer na Oposição quer no
Governo. O falar com convicção, o emprestar autenticidade ao discurso não é
necessariamente altear a voz.
Pedro,
não se diz colegas!
Neste
exercício, as duas coisas mais relevantes foram o altear a voz e os argumentos.
Para os argumentos não temos tempo, estamos com um atraso. Eu teria adorado
fazer com o Pedro Duarte este exercício, um no Governo e um na Oposição, porque
tinham imensos argumentos por onde pegar, era um tema que tinha muita
plasticidade, mas não há tempo para isso.
Pedro Duarte
Eu
vou ser muito rápido. Parecia que tínhamos combinado, mas eu tinha esta questão
do falar alto para dizer. Não foi só, neste exercício, noutros já aconteceu,
mas achei que agora seria eventualmente o momento para isso. Às vezes é mais
eficaz e mais assertivo quando oscilamos o tom da voz. Quando falamos baixo,
somos mais ouvidos do que quando berramos.
Em
muitas circunstâncias houve a tentação de enfatizar, aproximamos muito do
microfone e falamos muito alto. Isso não é necessariamente eficaz, por vezes,
tem este efeito até contrário de incomodar as pessoas.
Eu
diria que gostei mais da intervenção do Francisco, estava muito bem
estruturada, utilizou uma técnica – eu tenho feito um pouco a apologia de que
devemos estar aqui num confronto directo, não devemos falar para terceiros –
neste caso, ele utilizou bem. Quando temos argumentos para destruir a
credibilidade da argumentação contrária, devemos ir directos ao jogo e acho que
ele fez bem, nesse ponto de vista.
Acho
que ele é muito escorreito a falar e talvez por isso, pode prejudicar-se apenas
por acelerar um pouco a intervenção. Se conseguir ser um pouco mais pausado,
demonstrar menos ansiedade na intervenção, ganha com isso. Isso valeu porque a
frase final, por exemplo, foi muito interessante – vê-se que estava guardada
para o final e bem – teve a sorte de durante aqueles cinco segundos não ser
interrompido a meio pelo presidente, podia ter sido. Portanto, às vezes, volto
a dizer, mais vale menos mas dizermos bem o que temos de defender.
Nuno Matias
Vamos
iniciar o oitavo debate, o tema e a proposta é a criação de um programa de
incentivo à natalidade e dou a palavra por cinco minutos ao ministro Afonso
Meireles, Governo Roxo.
Afonso Meireles
Exmo.
senhor Presidente da Assembleia da República.
Senhores
deputados.
Como
membro do governo, venho aqui apresentar o nosso programa que consiste no
incentivo à natalidade. A taxa de natalidade é um índice indicativo de
desenvolvimento do país e como tal, desempenha um papel de extrema importância
no binómio económico-social.
Actualmente,
assiste-se a uma quebra global neste índice nos países desenvolvidos e Portugal
não é excepção. Sim, eu disse Portugal! Em 1990, esta taxa era de 1,5% e nos
últimos vinte anos passou para os 0,95%. Estes dados demonstram uma enorme
fragilidade que pode ter consequências desastrosas, quer ao nível de
competitividade quer ao nível da sustentabilidade do país, sendo por isso
urgente implementar medidas que invertam este estado. Sim, urgente implementar
medidas que invertam este estado.
Os
nossos objectivos para contrariar esta tendência, passam por: incentivar a
natalidade em Portugal, promovendo um rejuvenescimento, ou seja, mais filhos
por família e menos famílias sem filhos; criar condições para uma maior
compatibilização entre familiar e vida laborar; também possibilitar condições
para uma maior qualidade de vida aos seus filhos; o quarto objectivo passa por
assegurar a construção e o desenvolvimento da sociedade, assente no pilar
fundamental, a família e assentando também na valorização e o alargamento desta
num ambiente harmonioso; o nosso quinto objectivo passa por promover medidas
que contribuam para mais crescimento da população activa, o que irá levar
consequentemente a uma maior sustentabilidade da sociedade e permitir que as
gerações mais velhas, a partir de certo momento, tenham alguma garantia de
apoio social; o nosso sexto objectivo passa por promover o rejuvenescimento de
zonas pouco povoadas, sejam elas do interior ou do litoral, combatendo desta
forma a desertificação e levando a um futuro mais próspero destas regiões.
Para
cumprir estes objectivos, este governo propõem um conjunto de medidas
programáticas mais importantes, que vou passar a elencar: primeira medida passa
por complementar os actuais abonos de parentalidade, ou seja, através de
donativos feitos a instituições de cariz social para aquisição de géneros,
sejam fraldas, bens alimentares, carrinhos de bebés, entre outros; passa também
por reforçar benefícios fiscais a famílias com encargos extras a nível de
educação, como creches, ATL, entre outros, a empresas que atendem ao binómio
família- trabalho, promovendo um benefício fiscal no IRC, na aquisição de
produtos de puericultura – produtos necessários à educação de um bebé – e
também a famílias com encargos extra, na renovação da frota e/ou aquisição de
um outro prédio, motivado pelo alargamento familiar; a nossa terceira medida
passa por apostar no investimento em equipamentos e infra-estruturas socias
através de parcerias com autárquicas e IPSS, reduzindo assim o investimento
estatal; a nossa quinta medida passa por possibilitar o auxílio a casais com
problemas de infertilidade, ou seja, vamos facilitar os tratamentos médicos a
estes casais e, caso não haja a especialistas que possam suprir essas
necessidades, recorrer a parceiras público-privadas e, caso não haja
especialistas no nosso país no sistema privado, recorrer à contratação de
especialistas estrangeiros; a nossa sexta medida passa pela promoção de creches
e ATL no país, promovendo uma gestação racionalizada dos recursos financeiros e
recorrendo também ao sector privado, se necessário; a nossa sétima medida passa
por apostas em políticas de planeamento familiar que sejam adequadas à vida e
objectivos do casal; por fim, e não menos importante, a nossa nona medida passa
por criar políticas de habitação ajustadas ao orçamento familiar, recorrendo,
por exemplo, ao arrendamento e não diminuindo assim a qualidade de vida do
casal e, por consequência, aumentar o seu agregado familiar.
Fomos
eleitos para dar respostas hoje, mas sobretudo para montar as bases para o
futuro e o próximo futuro é o nosso.
Obrigado.
[APLAUSOS]
Nuno Matias
Tem
agora a palavra a Oposição 2, do Grupo Bege. A deputada Beatriz Cardoso dispõe
de três minutos.
Beatriz Cardoso
Senhor
Presidente da Assembleia da República.
Exmo.
membros do Governo.
Senhoras
e senhores deputados.
Para
começar, na vossa penúltima proposta, em que querem apostar em políticas de
planeamento familiar incentivadoras da natalidade e ajustadas ao plano de vida
de cada casal, estão-se a referir a quê, senhores ministros? Estão a propor que
acabe a televisão à noite?
[RISOS]
Não
são explícitos!
[APLAUSOS]
Vozes
Muito
bem!
A Oradora
Querem
reforçar os apoios financeiros, contando com doações de instituições de
solidariedade? Senhores ministros, não sabem que as instituições de
solidariedade estão sem fundos para elas próprias sobreviverem? Como estão à
espera que elas consigam apoiar uma medida desta dimensão, sendo que o actual
objectivo do sector social é apenas o melhoramento das camadas mais fragilizadas?
Que
queiram incentivar uma conciliação entre trabalho e família, eu percebo, mas
que o queiram fazer através da criação e promoção de trabalhos mais flexíveis,
não! Senhores ministros, se queremos ser uma geração do futuro, se queremos
fomentar o trabalho construtivo e digno, se queremos aumentar a produtividade
do nosso país, então não podemos consentir com medidas como a promoção de
trabalhos mais flexíveis.
Vozes
Muito
bem!
A Oradora
Importar
especialistas do estrangeiro? Então e os portugueses, Senhor ministro?
Deixamo-los no desemprego? Temos das melhores escolas europeias a nível de
saúde, a nível da medicina reprodutiva e não as iremos saber aproveitar? Além
disso, ao trazer especialistas do estrangeiro, estamos a facilitar a implementação
de empresas estrangeiras no nosso país, o que não nos trará qualquer tipo de
vantagem económica.
Mas
porque nós não somos apenas uma oposição destrutiva, mas também atentos e
pró-activos, uma das várias medidas que iremos apresentar em breve, numa
propostas legislativa, tendo em conta o aumento do número de famílias
monoparentais, é instituir uma consideração especial destas famílias, que cada
vez mais têm maior dificuldade financeira e social.
Após
uma análise ponderada a mais uma das vossas péssimas propostas e, tendo em
conta a tendenciosa oposição da bancada laranja, não nos resta outra
alternativa se não apresentar uma moção de censura.
Vozes
Muito
bem!
A Oradora
Basta!
Queremos um governo que não eleja medidas como a divulgação da existência de
medidas, queremos mais porque merecemos mais, porque Portugal não é isto, nem
tem de ser isto!
Obrigada.
[APLAUSOS]
Nuno Matias
Muito
obrigada.
Tem
agora a palavra pela Oposição 2, do Partido Laranja, o deputado Paulo Tiago
Santos. Tem três minutos.
Paulo Tiago Santos
Senhores
presidentes da Assembleia, que neste caso são dois.
Membros
do Governo.
Senhor
Primeiro-Ministro.
Restantes
colegas deputados.
Eu
começava pela vossa última frase, que eu achei espectacular, segundo a qual nós
temos de preparar o futuro. Pois temos, mas os senhores por estarem a pensar no
futuro, provavelmente nas próximas eleições, esqueceram-se do presente e esta
medida é miserável.
Vozes
Muito
bem!
O Orador
Todo
este programa é uma completa falácia em si, não consigo arranjar fundo de
maneio onde este programa se consiga enquadrar. Vou mais longe, este programa
tem coisas boas, provavelmente o nome da medida, é bastante interactivo.
Quando
li o programa, tinha esperanças que os senhores viesse para aqui explicar-me o
que seria, como tal eu pedi a todo o meu grupo parlamentar para estar em silêncio
para que eu pudesse perceber, e quando os senhores iam falando, eu ia tentando
tomar notas e tinha aqui uma diversidade de questões porque eu li, eu li o
programa.
E
pelo que li, os senhores não deram uma única medida, nada, isto não é nada! Eu
gostava de ver o vosso programa enquadrado com a economia. Os senhores falam-me
em coisas que eu gostava de saber com são praticáveis e os custos delas.
A
minha colega que está aqui perto, mas não é da minha bancada – eu tenho mais
admiração por ela do que ela tem pela nossa bancada; nós gostamos dos nossos
colegas, nós somos democratas, nós somos laranjas – ela criticou a vossa opção
de trazer estrangeiros. Eu não podia estar mais de acordo com a sua
intervenção. Porquê os estrangeiros, especialmente com os custos associados?
Certamente não virão à borla, digo eu, não sei, os senhores podem ter charters e charters de estrangeiros para vir.
[RISOS
E APLAUSOS]
Mais
uma coisa, a questão dos senhores proporem – e relacionando com o ponto da
economia – reduções de IMI e IMT. Fantástico! Medida fantástica, mas nós não
devíamos estar a tratar do arrendamento por causa da bolha imobiliária? Não
devíamos estar a ir por aí? Devíamos e os senhores propõem-no na última medida.
Era isso que o senhor me ia dizer, não era? Já tinha a resposta feita, mas vai
ter que a retirar porque senão é ainda mais grave, porque no mesmo programa
consegue ter duas respostas à mesma coisa. Fantástico!
[AVISO
DA MESA PARA TERMINAR]
O Orador
Serei
breve.
Eu
concluía dizendo que o seu programa, quanto aos fins, esta bancada votaria a
favor, mas os meios são tão maus que não temos como aprovar.
Nuno Matias
Muito
obrigado. Para concluir o debate, tem a palavra a ministra Helena Rebelo.
Dispõe de três minutos.
Helena Rebelo
Exmo.
senhor presidente da Assembleia da República.
Senhores
deputados.
Agradecemos
as questões levantadas pela oposição, porém constatamos que elas não focam o
essencial. Esperávamos mais desta oposição, esperávamos que esta oposição
trouxesse medidas que pudéssemos acolher porque tínhamos um fim último comum:
Portugal.
Nós
julgávamos que tínhamos sido claro, aliás, fizemos um esforço para sermos
claros, porém verifico que ficaram dúvidas relativamente à nossa proposta.
Nós
temos a noção da crise por isso, se não investirmos independentemente da crise,
senhores deputados, teremos uma população envelhecida, ou seja, menos jovens.
Quero com isto dizer que com menos jovens não há população activa, sem
população activa não há população produtiva e a crise continua.
Apostar
na natalidade é apostar em Portugal e Portugal não pode viver alheado da sua
sobrevivência. Um país sem crianças é um país triste, com poucas perspectivas
de futuro e com falta de esperança e de combatividade. Saliento ainda que olhar
para este investimento da natalidade é reconhecer e impor a equidade regional.
Tendo as gerações do passado recebido tanto do estado, pois é justo que se dê
às gerações futuras o que é delas.
Meus
senhores e minhas senhoras, o Estado português tem vindo, ao longo dos anos, a
promover uma das maiores injustiças de que há memória. Até hoje era permitido em
Portugal, perante o fracasso dos tratamentos médicos de uma qualquer doença, o
recurso a especialistas estrangeiros, mas não no que diz respeito à
fertilidade.
As
companhias de seguros privadas, há já vários anos, já tinham percebido a
importância desta questão e ofereciam este serviço. Contudo, só tem seguro de
saúde quem pode pagar, pelo que se impõe uma questão de justiça: possibilitar esta
opção a quem não pode pagar.
O
recurso a esta solução ocorrerá apenas quando o nosso país não tenha condições
para rapidamente solucionar o martírio de uma família que busca por um momento
de realização humana com a dádiva de um filho.
Propomos,
e sabemos que existem, parcerias em relação ao dinheiro e a senhora deputada
deve ter interpretado mal, nós vamos estabelecer parcerias destes mesmos
géneros. Vamos apelar à solidariedade. Fraldas e muitos outros assessórios
farão parte da solidariedade de famílias mais abastadas às menos abastadas.
Minhas
senhoras e meus senhores, senhor deputado, apercebemo-nos das vossas
preocupações e é por isso que a nossa medida faz mais sentido hoje que nunca. O
nosso objectivo é resolver um problema grave dos nossos dias: hoje, os pais tem
quase nenhum poder de escolherem quem fica com os filhos. O que nós queremos é
devolver aos pais a possibilidade de criarem os seus filhos.
Queremos,
através da concertação nacional, gerar entendimentos entre sindicatos e
patrões, coisa que até hoje não foi possível.
Com
crianças mais felizes, fazemos pais mais felizes.
[AVISO
DA MESA PARA TERMINAR]
Vozes
A
alteração ao programa não é permitida.
A Oradora
Aliás,
a moção de censura não pode ser apresentada.
[AVISO
DA MESA PARA TERMINAR]
A Oradora
Meus
senhores e minhas senhora, este não é o tempo de estar parado, este não é o
tempo de ideologias.
Nuno Matias
Vai
ter de terminar, obrigado.
Helena Rebelo
Este
é o tempo das famílias…
Nuno Matias
Vai
ter mesmo de terminar, senhora ministra! Obrigado.
Pedimos
desculpa por uma falha da Mesa na marcação do tempo.
Vamos
votar em quem ganhou este debate.
Quem
entende que foi o Governo?
Quem
entende que foi a Oposição 1?
Oposição
2?
Parece-me
claro que ganhou a Oposição 1.
Pedro Duarte
O
resultado não me surpreende, a Beatriz foi convincente. Da parte do Governo,
quer a Afonso quer agora a Helena a postura corporal e a atitude foi positiva.
Acho que teve pontos positivo, desde logo o facto do Afonso tentar escalonar a
sua intervenção através de numeração. É uma boa técnica.
"Em
primeiro lugar”, "em segundo lugar”, "em terceiro lugar” ou então, "temos seis
medidas”, quantificá-las e depois dizê-las.
Só
que nem isso salvou uma intervenção que foi muito maçadora desse ponto de
vista. Foi uma descrição da proposta. Do ponto de vista parlamentar torna-se
muito ineficaz. Infelizmente a realidade é esta: a plateia rapidamente se
distrai e se não temos elementos de chamada de atenção permanentes, distrai-se.
Acho
que houve esse problema na intervenção inicial.
Eu
percebi que no final se tentou contrariar isso com a frase final, mas como não
bateu com o resto, acho que tem mais dificuldades em resultar. Apesar de
mostrar que a intervenção estava bem estudada, aprofundada e sistematizada.
A
Helena, apesar de, como digo, a postura ter sido a correcta, foi prejudicada
por este final. Apesar de ter havido este lapso de marcar o tempo, ela não é
obrigada a saber. A culpa não foi dela e não conseguiu, até porque tinha uma
série de respostas para dar à oposição sobre a moção de censura e não
conseguiu.
De
resto, na oposição, foram de facto mais eficazes neste ponto de vista. Uma nota
apenas sobre o seguinte: o Paulo julgo que fez uma frase final de síntese muito
interessante, acho que ai no meio distraímo-nos com algumas coisas e quando se
estava a dirigir à colega da outra bancada perdeu-se um pouco. Cuidado com
isso, não nos devemos distrair daquilo que é essencial. A Beatriz teve como
ponto positivo apresentar alternativas: devemos conseguir dizer que não temos só
críticas mas também soluções.
A
questão da moção de censura… este é um exercício de simulação onde é
evidentemente difícil de dizer se foi uma boa iniciativa ou má iniciativa, mas
não é muito fácil de explicar que perante uma iniciativa de apoio à natalidade
se apresente uma moção de censura, bem entendido.
Mas
ultrapassando isso, acho que é positivo ter a vontade de querer marcar o
debate. Essa é chamada a bomba atómica, mas quando aparecem iniciativas desse
género, não tenhamos dúvidas que se isto tivesse a acontecer na Assembleia da
República, o telejornal à noite abriria não com a iniciativa do governo, mas
com a iniciativa da oposição. Isso, por si, é positivo, evidentemente.
Dep.Carlos Coelho
Não
tenho nada de especial para acrescentar, só para dizer que gostei muito da
forma como o Paulo começou porque o Paulo entrou de mansinho. Até porque a
Beatriz, que na minha opinião ganhou claramente o debate, não tenho dúvidas
disso, subiu, na minha opinião, ligeiramente a voz, entrou num registo um
bocadinho histriónico. O Paulo entrou de mansinho, com ar de menino bem
comportado, vozinha baixa, a pensar uma mensagem fantástica. Se o Paulo não se
tivesse perdido a meio e se tivesse mantido as mensagem essenciais nesse
registo, o resultado da votação poderia ter sido diferente, mas como se perdeu
a meio, a coisa não funcionou assim.
Agora,
acho que a Beatriz mereceu ganhar e foi, de facto, a vencedora deste debate.
Duarte Marques
Bem-vindos
à nona reunião da nossa sessão plenária da Assembleia da UV. Vamos agora
discutir uma proposta do governo sobre a promoção e apoio ao primeiro emprego
dos jovens.
No
Governo temos o Grupo Bege.
Vou
dar a palavra durante cinco minutos ao senhor Primeiro-Ministro, David Pereira
de Castro.
David Pereira de Castro
Muito
obrigado.
Exmo.
Senhor Presidente da Assembleia da República.
Exmo.
Membros do Governo.
Senhoras
Deputadas e Senhores deputados.
Deparamo-nos
hoje com uma situação incontornável no actual modelo de emprego. Um em cada
cinco jovens, entre os 15 e os 24 anos, está desempregado. Segundo dados da
OCDE, Portugal deve apresentar uma taxa de 21,1% de desemprego em 2011 e as
previsões para 2012 serão acima dos 20%.
O
XIX Governo Constitucional rejeita uma estratégia de reforço de flexibilidade
no primeiro emprego pela criação de um regime especial de contratação. Ao
invés, procurará reforçar as condições reais de competitividade dos jovens
recém graduados, na entrada no mercado de trabalho, tendo consciência do défice
histórico de adequação da oferta formativa à oferta de emprego.
O
Governo tem como objectivos estratégicos, combater a precariedade do emprego
jovem, valorizar a formação no primeiro emprego, internalizando os benefícios
do mesmo para a sociedade. Se toda a sociedade lucra com a formação de um novo
trabalhador, e se a empresa não retira idêntico beneficio desse esforço, há
pois que incentivá-la para que o faça livremente.
Não
nos podemos esquecer que trabalhamos todos para um bem comum. Queremos também reciclar
competências universitárias em sectores com menor empregabilidade, promover a
permeabilidade sectorial do mercado de trabalho e alinhar as prioridades de
formadores, alunos e recrutadores, combinando as suas acções.
É
necessário preservar ao máximo a despesa na área da competitividade: a
meritocracia e a competitividade são a saúde de uma empresa. No entanto, sem
medidas, nenhum objectivo consegue ser cumprido. Sem mais rodeios, propomos
seis medidas:
Estatuição
de uma regra obrigatória de admissões a estágios não obrigatórios, no quadro de
programas educativos, por cada trabalhador contratado que tenha terminado o seu
percurso académico há menos que três anos.
Criação
de cursos de complemento à formação superior, dirigidos a um conjunto de
licenciados com competências conexas, leccionados em escolas de referência nas
suas áreas curriculares.
Dentro
desta proposta, entendemos que a criação de um formato de pós-graduação
próprio, com prerrogativa de promoção obrigatória nas universidades, é
fundamental. Aliando à aprovação destes novos programas e a atribuição desta
nova categoria académica específica estarão a cargo de uma comissão
independente de recrutadores a constituir pelo governo.
A
manutenção do regime de benefícios fiscais, com a exigência adicional do
reporte das competências a transmitir ao estagiário através da sua posição de
emprego, é também uma das medidas.
Mas
a criação de incentivos ficais à pluralidade de domínios de formação, não nos
pode escapar. Estes incentivos deverão incidir sobre a constituição dos quadros
de colaboradores com a mesma função, conforme estipulado no contrato de
trabalho.
Entendemos
que sem futuro para o actual modelo, estas propostas serão as indicadas para
colmatar este handicap da nossa economia.
Acreditamos neste projecto visto implicar pequenos, médios e grandes empresários,
em colaboração com universidades e institutos politécnicos e escolas
secundárias. Em suma, a possibilidade de garantir um emprego jovem entre os 15
e os 24 anos aumenta de forma significativa, em relação ao actual modelo, tal
como todos nós pretendemos.
Muito
obrigado.
[APLAUSOS]
Duarte Marques
Muito
obrigado.
Vou
agora dar a palavra ao Grupo Verde, ao Bruno Brito. Tem três minutos.
Bruno Brito
Obrigado
senhor Presidente.
Senhores
membros do Governo.
Senhoras
deputadas e senhores deputados.
Apesar
de saudarmos a apresentação da vossa proposta e dos objectivos nobres que a
mesma contém, temos de salientar, senhor Primeiro Ministro, que esta proposta
não foi tratada com a mínima seriedade. As medidas apresentadas por V. Exas.
não passam de pontos superficiais inócuos que visam remendar o que há muito não
é remendável. Continuamos como nos têm habituado, a correr atrás do prejuízo.
21,2%?
Cada um utiliza as variáveis que mais lhe convêm. O desemprego jovem tem este
mês a taxa de 27%, vou repetir, 27%.
Vozes
Muito
bem!
[APLAUSOS]
O Orador
Urge
pois apresentar propostas de profunda reformulação e não de medidas avulsas,
descoordenadas entre si. Limitar o número de admissões, as taxas obrigatórias
ao número de contratações, senhor Primeiro-Ministro, que sentido tem isto? Mais
vale não haver estágios nem empregos e perder ambos! Os estágios remunerados
são uma primeira oportunidade de emprego para os jovens, reforce o Inov Export,
por exemplo, crie-se uma bolsa de estágios anuais.
A
proposta refere também a criação de um novo formato de pós-graduação. A solução
do Governo para manter o jovem mais tempo na universidade. As pós-graduações já
existem, os mestrados também, para quê um novo formato de pós-graduação?
Se
quer criação de formação, criem-se cursos de empreendedorismo, expressão que,
aliás, não faz parte do vosso programa. É uma das melhores formas de
requalificar um profissional desempregado, nomeadamente o jovens, ao incentivá-los
a abrir a sua própria empresa. Mas pasme-se, não faz parte do vosso programa.
A
criação de mecanismos à promoção do próprio emprego é essencial. Se há
programas? Há, mas estão completamente desfasados da realidade e com mecanismos
de comunicação completamente arcaicos.
Vozes
Muito
bem!
O Orador
Querem
valorizar a formação, porque é que não revêem o conteúdo das ofertas
formativas, adequando-as às necessidades do mercado de trabalho, em vez de
criarem mais comissões para aprovar programas de novas pós-graduações
desnecessárias.
Porque
é que não fazem listas anuais de áreas com maior empregabilidade? E já agora,
porquê não fazer uma nova regulação de cursos superiores. O Primeiro-Ministro
sabia que, antigamente, as empresas que contratassem um jovem com menos de
trinta e cinco anos, não descontavam para a segurança social durante três anos?
Agora descontam, quando nesse mesmo período, durante o primeiro ano não
descontam nada, no segundo ano descontam 25% para a segurança social e no
terceiro ano, descontam 50%. E para piorar, só é aplicável a jovens até trinta
anos.
Porque
é que não oiço o senhor Primeiro-Ministro falar em contratos experimentaris,
com período alargado e sem termo? Além do apoio no acesso a capital de risco ou
na criação de incubadoras de empresas nas universidades?
Como
pode verificar, senhor Primeiro-Ministro, esta proposta é mais do mesmo:
medidas sem sentido, sem aplicação prática e sem estudo prévio.
Vozes
Muito
bem!
O Orador
Quer
o Governo combater a precariedade do emprego jovem e o acesso ao primeiro
emprego? A maior precariedade de todas é não ter emprego e com estas medidas é
isso que vai acontecer.
[AVISO
DA MESA PARA TERMINAR]
O Orador
Senhor
Presidente, senhores deputados, a realidade é que o programa aqui apresentado é
ambíguo e muito pouco para fazer face a este grave problema.
A
juventude merece mais e Portugal merece muito melhor.
Vozes
Muito
bem!
Duarte Marques
Obrigado.
Dou
agora a palavra ao deputado Diogo Bizarro, do Grupo Azul. Tem três minutos.
Diogo Bizarro
Muito
obrigado, Senhor Presidente.
Senhor
Primeiro-Ministro e restantes membros do Governo.
Senhoras
deputadas e senhores deputados.
Muito
boa tarde.
Senhor
Primeiro-Ministro, em primeiro lugar, devo confessar-lhe que a vossa proposta
mereceu a nossa melhor atenção. No entanto, se me permite a frontalidade,
vou-lhe deixar uma breve nota. A vossa proposta está extremamente mal
estruturada, nomeadamente, no que respeita à linguagem. Uma linguagem abstracta
e que nos suscita enormes dúvidas. Por isso, se o Senhor Presidente e o Senhor Primeiro-Ministro
me permitem, vou lançar um desafio a esta assembleia.
Foi
distribuído a cada um dos membros das restantes bancadas, uma proposta
exactamente igual a esta, o que vos pedimos é uma breve leitura de análise
sobre essa proposta e que depois retirem as vossas próprias conclusões. É que
nós, na nossa modesta ignorância, não sabemos se o erro é nosso ou se é da
proposta.
Vozes
Muito
bem!
O Orador
E
para desfazer as dúvidas, nada melhor que este quebra-cabeças, julgo eu.
[APLAUSOS]
Em
segundo lugar, não obstante o que eu disse anteriormente, gostaria de colocar
as seguintes questões ao Senhor Primeiro-Ministro. Na segunda medida diz, e
passo a citar, "criação de um formato de pós-graduação com prerrogativa de
promoção obrigatória nas universidades”. A questão é a seguinte, esta
pós-graduação é para as universidades públicas? Privadas? Públicas e privadas?
Aqui não especifica.
Outra
questão é se esta pós-graduação é gratuita ou se acarreta custos para os
estudantes.
Outra
questão que também nos suscitou muito interesse são os cursos com uma baixa
taxa de empregabilidade como, por exemplo, a sociologia. Se eu fosse um aluno
de sociologia, sabem qual seria o valor acrescentado que esta proposta teria
para mim? Eu vou-lhe responder, zero! Rigorosamente zero.
[APLAUSOS]
E
sabe porquê? Porque esta proposta, elaborada pelos senhores, não me dá
garantias nenhumas, nem resposta aos meus problemas.
Em
terceiro lugar…
[AVISO
DA MESA PARA TERMINAR]
O Orador
Terceiro
lugar, queria-lhe deixar uma nota. Este programa é meramente educacional, de
formação e não um programa de promoção ao primeiro emprego, tal como deveria
ser.
[APLAUSOS]
Duarte Marques
Vou
dar de seguida a palavra ao Senhor Ministro João Magro. Tem três minutos para
responder às oposições.
João Magro
Exmo.
Presidente.
Senhores
deputados.
Quero
aproveitar estas generosas sugestões para desmistificar algumas ideias erróneas
sobre o nosso projecto.
Em
primeiro lugar, uma nota importante: o empreendedorismo é uma prioridade absoluta
do nosso governo. Devemos, no entanto, considerar que o empreendedorismo é uma
tarefa difícil, é uma tarefa que requere experiência, sensibilidade, ideias de
mercado.
Só
quem não conhece o sector do capital de risco não sabe que este é um dos mais
exigentes do mercado financeiro, onde o escrutínio às ideias empreendedoras é
grande. O primeiro emprego não é o momento mais adequado, mais propício, na
maioria dos casos, à existência de um projecto empreendedor. Há momentos de
amadurecimento para isso.
Devo
refutar aqui outras ideias importantes. Em primeiro lugar, este projecto é mais
promotor do primeiro emprego do que possam pensar, a flexibilidade não resolve
nenhum problema. Nós acreditamos, tal como os senhores, que a despesa na área
da competitividade deve ser preservada acima de tudo, não apenas porque é uma
despesa que reanima a economia do país, mas porque é sobretudo uma despesa que
promete não perpetuar a miséria daqueles que apoiamos com espirito social.
Vozes
Muito
bem.
[APLAUSOS]
O Orador
Além
disso, da maior importância, nós sabemos que não há a menor rigidez na nossa
medida de ter um certo número de estagiários por contratados, nem nenhuma acção
contraproducente, muito pelo contrário. Nós estamos certos de que só assim
conseguimos parar um círculo vicioso de rotação de estagiários, em que o jovem
tem um estágio, termina o estágio, é substituído por um outro e todos estes
jovens que vão rodando pelo mesmo estágio não conseguem emprego, uma carreira,
um futuro sério, próspero e seguro. É preciso contrariar este fenómeno.
[APLAUSOS]
Além
disso, devo clarificar a natureza destes cursos de pós-graduação. Estes cursos
vão empregar alguns dos recursos já existentes.
Uma
pessoa formada em engenharia, qualquer pessoa que já tenha trabalhado em
finanças sabe isso, pode perfeitamente fazer um curso de pós-graduação
semelhante a uma pessoa licenciada naquela área. Há outras áreas onde isso não
é possível. Nós tivemos um célebre ministro da Saúde que provinha da área do
Direito, especializando-se depois em Saúde. Tem de ser um curso diferente,
desenvolvido para unificar tudo isso é importante ter uma chancela e daí a
nossa certificação.
Mas
procuremos o consenso com as ordens profissionais, procuremos o consenso com os
parceiros e teremos em conta os recursos que já existem.
Todas
estas opções podem reconduzir a um princípio de fundo, rejeitamos a precariedade
por ter sido experimentada com erro em muitos lugares. Por exemplo, em França,
o célebre contrato de primeiro emprego levou a uma onda de contestação social
incrível, uma desmotivação tremenda entre os jovens.
[AVISO
DA MESA PARA TERMINAR]
O Orador
Nós
acreditamos que só rejeitando a precariedade é que podemos dar condições
verdadeiramente reais e não artificiais. Assim, nós salvaremos e resgataremos o
futuro de todos.
Muito
Obrigado.
Vozes
Muito
bem
[APLAUSOS]
Duarte Marques
Muito
bem, obrigada a todos, vamos agora votar em quem consideram que ganhou o
debate. Peço silêncio na sala.
Quem
considera que o Governo ganhou o debate?
Quem
considera que a Oposição 1 ganhou o debate?
Quem
considera que foi a Oposição 2?
O
Governo ganhou o debate, parabéns a todos.
Dep.Carlos Coelho
Este
foi um exercício muito engraçado.
Quem
é que teve melhor colocação de voz, melhor interpretação e foi mais
convincente? Foi o Diogo da Oposição 2, que não teve voto nenhum. Não estou a
dizer que tenha ganho o debate, na minha opinião não teve argumentos, não falou
lá para fora, como diz o Pedro Duarte.
Tentou
demolir a proposta do Governo, presumindo que toda a gente sabia do que se
estava a falar mas quem ouvisse de fora não percebia nada do que ele estava a
dizer. No fundo, limitou-se a dizer que a proposta era vazia, o que, como
argumento político, é fraco. Mas foi aquele que teve melhor colocação de voz,
que interpretou com mais convicção o seu papel.
Eu
ouvi-os a todos, ouvi agora o João Magro que acho que salvou a votação do Governo,
mas o João foi excessivo, nós vimo-lo e foi excessivo. O Diogo não, o Diogo foi
convincente, foi aquele que falou e que acredita naquilo que ele está a dizer.
Quem
teve mais substância? Foi a oposição do Bruno, o Bruno fez uma abordagem
inicial muito inteligente, na minha opinião, e foi muito inteligente nos
argumentos. Houve foi demasiados argumentos: é o problema da comunicação. É
melhor centrarmo-nos em três ou quatro ideias fortes do que dar vinte razões: é
que quando vamos na sétima, já ninguém se lembra da primeira. De resto, o Bruno
esteve bem, teve uma excelente ginástica de mãos que reforçou aquilo que queria
dizer.
Do
João adorei o início, "generosas sugestões” é de uma ironia fantástica, foi um
discurso muito escorreito.
O
João fala bem, tem um discurso fluido, mas muito beligerante, demasiado
agressivo para o registo que seria desejável na minha opinião. O David a mesma
coisa, aliás, os dois membros do Governo tiveram um registo muito parecido.
Pedro Duarte
Estou
integralmente de acordo, portanto limito-me a acrescentar dois pontos muito
breves. O primeiro, para reforçar a questão do Diogo, lembrem-se do taxista.
Até o exemplo que deram da distribuição do projecto cai em saco roto.
Lembrem-se sempre que estão a falar para o taxista.
Quanto
ao Bruno, eu também considero que o Bruno mostrou preparação, confiança, até
convicção naquilo que estava a dizer e é exactamente isto, perdeu-se
excessivamente. Uma nota apenas que valia apenas retocar, entrou a matar
excessivamente. Quando somos demasiado radicais… A primeira ou segunda frase do
Bruno foi, agora já não me recordo, mas foi algo como "isto não presta para, é
tudo para deitar fora, está tudo errado”.
Argumentos
demasiado radicais deixam as pessoas logo à partida a achar que este tipo está
ali para deitar a baixo, só porque é do contra, portanto, às vezes vale mais
entrar de mansinho, como dizia o Carlos e como o Diogo acabou por entrar, de
forma muito educada – "permita-me que lhe chame à atenção” ou algo parecido – é
preferível essa entrada. De resto gostei muito da intervenção.
Nuno Matias
Vamos
então dar inicio ao décimo debate. Reformulação das políticas de controlo da emigração.
Tem a palavra, pelo Governo Rosa, o ministro Hugo Gonçalves, tem cinco minutos.
Hugo Gonçalves
Obrigado.
Senhores
Presidentes da Assembleia da República.
Senhoras
e senhores deputados.
Todos
os portugueses sabem e sentem a situação de crise que Portugal enfrenta,
podemos vê-la todos os dias, espelhada na comunicação social, com os nosso
familiares e amigos que perderam o emprego, com as empresas forçadas a fechar
porque não conseguem obter financiamento.
Vemos
e sentimos, junto dos nosso concidadãos, o descontentamento com um futuro negro
e incerto, antecipando, pela primeira vez nas últimas décadas, dias menos
felizes para os seus filhos. Não são dias fáceis aqueles que vivemos, há
problemas profundos que reclamam urgentemente uma solução. São necessárias
mudanças de fundo em todos os sectores da sociedade e quebrar antigos dogmas
que precisamos de ultrapassar.
É
hoje evidente que é o momento para se adoptarem medidas diferentes e arrojadas
para combater a crise que nos assola. Sabendo que as regras socioeconómicas se
alteram a um ritmo alucinante, queremos então ser pró-activos e actuar com a
mesma agilidade. Este novo paradigma deve então ser visto como uma oportunidade
de mudança, potenciando não só questões de direitos, deveres e de justiça
social, em termos de política de emigração, mas também uma possível forma de
garantir sustentabilidade, emprego e solidariedade social.
É
neste contexto, de necessidade de mudança em políticas de emigração, que o Governo
apresenta o programa do XIX Governo Constitucional.
Em
primeiro lugar, o governo reafirma o seu propósito de contribuir para a
competitividade da economia portuguesa e acreditamos que só com a qualidade nos
nossos quadros ou daqueles que querem operar no nosso país, conseguiremos
aumentar a competitividade das empresas portuguesas e contribuir para o aumento
da riqueza nacional.
Na
nossa concepção, não existe crescimento económico sem os recursos necessários,
nas mãos daqueles que têm as melhores ideias, as iniciativas mais felizes e os
projectos promissores. Por essa razão, é que com o objectivo de manter e
cativar quadros estrangeiros qualificados ou com elevadas competências
técnicas, propomos a alteração do período e dos requisitos de concepção de
visto de estadia temporária em território nacional. O Governo tem o firme
propósito de reformular a arquitectura e os procedimentos de emissão e controlo
de vistos, de modo a garantir resposta consolidada, eficácia e transparência.
Sabemos
também que o método mais eficaz de aumentar a competitividade é a manutenção de
empresas e de pessoas que as constituem em território nacional. Por isso,
propomos o aumento do limite máximo da permanência no território português de
um para dois anos.
Como
sabem, vivemos em tempos muito difíceis, consideramos que pois que o contributo
da família e dos nossos mais próximos, podem amenizar as atribulações e
dificuldades que enfrentamos no dia-a-dia. Numa época em que as transformações
sociais e económicas alteram os valores familiares e são responsáveis pela
redução da taxa de natalidade, é imperioso a fomentação de políticas
direccionadas à harmonia famílias. Com este propósito, estabelecemos como
medida urgente a implementação de medidas de acolhimento que facilitem o
reagrupamento familiar a pessoas estrangeiras que, por motivos da actividade
profissional ou de investigação, se encontrem a trabalhar em território
nacional.
Dadas
as terríveis consequências sociais da crise económica, o Governo não pode
deixar de auxiliar todos aqueles que estão a ser atingidos com particular
violência pelo flagelo do desrespeito dos valores fundamentais e que precisam
de uma protecção do Estado. Neste sentido, iremos reforçar acções pedagógicas
preventivas que visam a protecção e assistência às vitimas e sansão e punição
dos agentes infractores.
Estamos
a finalizar, neste momento, a concepção do programa de apoio à vítima e a sua
concretização permitirá aos diversos intervenientes da protecção do cidadão,
reforçar capacidade de inspecção, prevenção e actuação dos diversos organismos.
Não
obstante as medidas já anunciadas, é estratégia principal do Governo, um
controlo e redução da despesa pública. Num momento em que se pedem sacrifício
aos portugueses, não podemos permitir que estrangeiros em incumprimento
efectivo de pena e em pena assessória de expulsão, se encontrem em território
nacional a gastar findos dos contribuintes. Com esse intuito e com fim À
redução de custos, comprometemo-nos a reduzir o período de cumprimento efectivo
de pena em território nacional, para os casos de pena de expulsão. No mesmo
âmbito referido anteriormente, é objectivo deste Governo agilizar os processos
de afastamento de estrangeiros do território nacional, no caso da aplicação de
pena acessória de expulsão.
O
projecto de Governo, deixa bem claro a sua actuação na matéria de imigração,
fomentando a execução de políticas públicas que incidam sobre o desenvolvimento
sustentado e acompanhado de fluxos migratórios, que possam representar o
aumento de actividade altamente rentáveis…
[AVISO
DA MESA PARA TERMINAR]
O Orador
Vou
já terminar.
Mas
ao mesmo tempo agilizar os processos administrativos de aplicação de pena
assessória de expulsão e, por fim, o combate ao tráfico de seres humanos.
Nuno Matias
Obrigado,
senhor ministro, tem de terminar.
[APLAUSOS]
Tem
a palavra pela Oposição 1. O deputado André Serras dispõe de três minutos.
André Serras
Caríssimo
Presidente da Assembleia.
Membros
do Governo.
Senhoras
deputadas e senhores deputados.
Depois
de analisar o programa e da sua apresentação, ficamos com alguma considerações
a fazer. Numa altura em que a conjuntura macroeconómica está deteriorada, em
que a crise é a palavra de ordem, em que a taxa de desemprego atinge valores
recorde, os imigrantes, se já não o são, não seria agora que passariam a ser
bem recebidos. Isto porquê? Porque enquanto imigrantes de carácter temporário,
apresentam uma oferta de trabalho com baixos salários, mas esta não é única
razão. Estes, na sua maioria, agem como já agimos, imigrando, poupando e
enviando remessas para o seu país natal, baixando assim o PIB português.
Ainda
podemos concordar com a necessidade de inverter a tendência da falência da
segurança social e da baixa taxa de natalidade, porém, esta medida não é o
melhor caminho. Em que seriam diferentes a famílias de imigrantes das
portuguesas com condições iguais? Actualmente, o número de imigrantes
desempregados em Portugal já supera os trinta mil.
Plano
de reagrupamento já é ágil e uma maior agilidade só levaria à sobrelotação de
Portugal. O processo de deportação já é ágil, na verdade, já são dadas todas as
condições aos imigrantes ilegais e só são deportados quando estão garantidas
todas as condições e necessidades básicas no país receptor, isto segundo a lei
23/2007, de 4 de Julho.
E
se já assim são conhecidos casos que acabam por violar os direitos humanos,
imagine-se um projecto mais agilizado, mas não mais eficiente. Numa altura em
que o Ministério da Administração Interna está falido, mas mesmo assim,
conseguiu registar mais de dez milhões de entradas de imigrantes.
Então,
só concluímos que este programa não vai adiantar nada e é de forma construtiva
que a bancada azul considera que o caminho deveria ser no sentido a facilitar o
investimento directo estrangeiro, facilitando os processos burocráticos,
procurar parceiros a que consigamos escoar mão-de-obra nas áreas mais
sobrelotadas em Portugal e satisfazer a procura nas áreas mais procuradas. São
elas a Matemática e a Estatística, a Saúde, a Segurança e a Formação de Professores.
Por
fim, uma medida de futuro é a promoção de um programa de Erasmus de
professores, de modo a dar aos jovens de hoje uma visão muito mais ampla no
futuro uma troca de conhecimentos, de
culturas e mercados, não só para os jovens, como para os professores.
Tenho
dito.
Nuno Matias
Muito
obrigado. Tem agora a palavra a Oposição 2. A deputada Gisela Martins dispõe de
três minutos.
Gisela Martins
Senhor
Presidente da Assembleia da República.
Senhoras
deputadas e senhores deputados.
Senhor
Primeiro-Ministro
No
seu programa propõe-nos o favorecimento da imigração qualificada, de uma forma
sustentada, o que por si só nos parece completamente inócuo.
Vozes
Muito
bem.
[APLAUSOS]
A Oradora
Mais,
Senhor Primeiro-Ministro, o país tem neste momento mais de 50 mil desempregados
licenciados, 50 mil desempregados licenciados. Fixe este valor! O mercado de
trabalho não tem capacidade de absorver este capital humano e o Governo o que
faz é fomentar a entrada de mais quadros qualificados e diz que isto é
sustentável. Não nos parece de todo uma ideia sustentável.
O
seu governo propõe ainda que é necessário implementar políticas de acolhimento
que facilitem o reagrupamento familiar. Pois bem, concordamos completamente, o
que o senhor se esqueceu foi de as apresentar no seu programa, o que nos deixa
bastante tristes.
Mais,
o seu governo define ainda como objectivo a sansão e punição dos agentes de
tráfico. Parece-me bastante obvio que assim seja, o que não nos parece bem é
que mais uma vez o programa não tenha uma única forma de o atingir.
Como
podemos constatar, senhor Primeiro-Ministro, o programa do Governo é vago, é
incipiente, é vazio e só mostra o desnorte em que o seu governo anda há
bastante tempo.
[APLAUSOS]
Nuno Matias
Obrigado,
tem agora a palavra pelo Governo o ministro Nuno Pimentel Gomes. Dispõe de três
minutos.
Nuno Pimentel Gomes
Obrigado
Sr. Presidente.
Senhores
deputados.
Antes
de mais, sou eu que sou o Primeiro-Ministro e como tal, responsabilizo-me pelo
programa de Governo que apresentamos aqui, que não é mais do que decalcar
aquilo que apresentámos…
Ó
senhora deputada, não se exalte agora neste momento, que pode causar um certo
constrangimento, mas efectivamente há aqui um desacerto entre aquilo que nós
propomos e aquilo que os senhores deputados leram.
O
que nós estamos a apresentar não é uma entrada desmesurada, nem sem qualquer
qualificação em termos de imigrantes. Do que nós estamos efectivamente a falar
– o senhor deputado não conseguiu atingir – é do artigo 87º e seguintes,
enquanto o senhor deputado está a falar de uns artigos atrás por achar que
vamos conceder vistos de permanência a qualquer tipo de imigrantes.
O
que nós pretendemos é que haja uma forma de compensar a falta de qualificação
por parte dos quadros que existem em Portugal. Se não conseguimos, ao longo dos
últimos anos, compensar com políticas de educação que apontassem os estudantes
para as verdadeiras necessidades do país, nós precisamos de o vir a compensar,
mais cedo ou mais tarde.
E
mais vale agora, neste momento, que mais tarde. Porquê? Nós não podemos
escamotear a realidade e não podemos deixar de considerar que efectivamente a
segurança social não é viável com o número de habitantes que temos em Portugal.
Da
mesma forma, que nós não conseguimos aumentar só com as políticas de
natalidade, o número de cidadãos em Portugal, para aumentar o número de
contribuições para a segurança social e para fomentar o desenvolvimento. É por
isso, que de uma forma muito limitada e durante curtos períodos de tempo,
iremos conceder vistos de residência a pessoas que tenham qualificações.
Isso
não tem nada que ver com as acusações que, de uma forma demagógica e quase
xenófoba, se me permite – e desculpe-me esta desconsideração – os senhores fizeram
à proposta de governo.
Agora,
enquanto à senhora deputada Gisela Martins. Ó senhora deputada, isto é a
apresentação do programa de Governo, não é a apresentação de um Decreto-Lei ou de
uma proposta que depois venha a baixar à Comissão. Neste documento, estamos
única e exclusivamente a delinear e a balizar aquilo que nós pretendemos
apresentar aos portugueses e, em primeira linha, a esta assembleia.
Só
depois desta proposta ser apresentada é que efectivamente teremos outra capacidade
de podermos regulamentar e definir as nossas prioridades.
A
senhora deputada diz que o programa é inócuo. É inócuo por aquilo que eu acabei
de dizer
[RISOS]
é
que nós não estamos a falar de uma regulamentação, da mesma forma que o senhor
deputado…
É
verdade o que diz dos 50 mil desempregados. Temos de ser um tanto ou quanto
realistas, nós podemos considerar…
[AVISO
DA MESA PARA TERMINAR]
O Orador
Já
termino, Senhor Presidente.
E
quanto à entrada e expulsão do território nacional, essa questão está mais do
que ultrapassada porque o que nós queremos…
Nuno Matias
Vai
ter de terminar, senhor Primeiro-Ministro.
[APLAUSOS]
Vamos
então passar à votação deste debate. Quem entende que ganhou o debate o Governo?
Quem
entende que foi a Oposição 1? Oposição 2?
Parece-me
claro que ganhou o debate o Governo.
A
palavra ao nosso júri.
Pedro Duarte
Eu
diria que não me surpreende este resultado.
Penso
que o Nuno, agora no final, foi particularmente convincente e acho que se deve
a isso este resultado. Acho que o Nuno esteve bem na forma e na substância, foi
muito convincente.
Chamo
a atenção para apenas um pequeníssimo deslize. Acho que foi mesmo um deslize
porque a seguir teve o cuidado de ser diferente. Houve uma altura em que passou
um pouco o limite, chegando a ser arrogante e isso nós devemos evitar ao
máximo. Houve uma altura que disse "o senhor deputado não conseguiu atingir”, ou
algo desse género. Devemos evitar. Eu percebi depois, quando falou em
xenofobia, teve o cuidado de o fazer de forma muito educada e humilde.
Quanto
ao resto, eu chamava a atenção para mais um ponto que se notou muito quer nas
intervenções do Hugo, quer do André, talvez até mais na do Hugo. Eram
intervenções que se percebe que foram preparadas, estavam bem escritas e
delineadas, mas foram pensadas para textos escritos. Não tem mal nenhum nós
socorrermo-nos de papel e lermos o papel se nos sentimos mais seguros, mas
quando escrevemos, estamos a escrever textos para ler, não documentos para
serem enviados por correio ou e-mail,
é diferente.
Nomeadamente,
eu ouvi frases longuíssimas, o que é um erro. Para quem está a ouvir, torna o
discurso monótono, redondo e as pessoas automaticamente perdem a atenção e não
conseguimos passar a mensagem.
Chamo
a atenção para isto, quando construírem discursos, escrevam com frases curtas,
ensaiando a forma de como vão oralizar ou verbalizar esse mesmo discurso.
Dep.Carlos Coelho
Dou
os meus parabéns ao Governo, acho que a vitória foi justa, mas muito devido ao
Nuno, que foi a melhor intervenção neste painel.
Não
tenho nada a acrescentar àquilo que o Pedro Duarte já disse. Quero apenas
agradecer o facto de ter feito o sacrifício de vir de propósito à Universidade
de Verão para nos ajudar neste exercício e queria fazer quatro comentários
finais.
Primeiro
conselho, vocês podem ter ficado desiludidos com a prestação com a prestação
que tiveram esta tarde. Ainda bem que ficaram desiludidos porque da próxima vez
serão mais exigentes convosco próprios. Da próxima vez será melhor.
Isto
é como andar de bicicleta, da primeira vez andamos aos tombos, da segunda vez
andamos aos ziguezagues, da terceira vez já tiramos uma mão do guiador e à
quarta já tiramos a duas. Quanto mais falarem, quanto mais experiência tiverem mais
confiança terão.
Segunda
nota: o que é que eu achei de diferente no exercício deste ano face aos anos
anteriores? Onde eu acho que vocês não estiveram bem foi no artificialismo.
Achei
que, de uma forma geral, mais de 50% das intervenções foram muito artificiais.
Muito redondas. Lembrem-se do que vos disse no falar claro: não façam discursos
redondos. Sejam concretos!
Imaginem
que numa cimeira bilateral entre a França e a Alemanha um jornalista me
pergunta o que eu acho da reunião entre a senhora Merkel e o senhor Sarkozy. Eu
posso seguir a vossa linha e dizer "acho que se deve preservar o carácter
comunitário do projecto europeu tal como foi definido pelos fundadores que
inspiraram o Tratado de Roma e o Tratado da CECA”... mas o que é que isto diz
às pessoas que me estão a ouvir?
Mas,
se eu disser: "é muito importante que o senhor Sarkozy e a senhora Merkel
compreendam que têm uma função importante na Europa mas não podem mandar
sozinhos na Europa” a pessoa que me ouve percebo que estou eu a dizer.
Atentem
nas palavras do Pedro Duarte: vocês escreveram textos bonitos mas não são
eficazes. Eu disse-vos isso no falar claro.
A
comunicação política não é um concurso de elegância, é um exercício de
eficácia.
Não
queiram ser os mais elegantes, os que escrevem melhor, os que dizem palavras
caras. Têm é de assegurar que as pessoas vos compreendem.
Em
terceiro lugar: vocês fizeram um compromisso no vosso grupo, tiveram de dividir
as intervenções. Se calhar alguns grupos deixaram para a assembleia pessoas que
prefeririam ter feito perguntas aos oradores nas aulas, em vez de falarem neste
exercício.
Tiveram
de estabelecer compromissos e talvez isso não tenha sido sempre fácil. Pode ter
havido alguma tensão, não concordância com algumas escolhas. Agora imaginem o
que é gerir isto ao nível de um partido. Somos milhares. Ou num país em que
somos milhões.
O
exercício da democracia é sempre complexo e vocês ao longo de uma semana
tiveram a oportunidade de o fazer nos vossos grupos.
Quarto
e último conselho. Vocês se calhar discordaram de algumas votações dos vossos
colegas, achando que vocês é que deveriam ter ganho.
Ou
então olharam para mim e para o Pedro Duarte e acharam: aqueles tipos são uns
chatos, uns velhacos, disseram coisas cruéis.
Vejamos:
nós podemos ter sido cruéis, mas nunca se esqueçam daquilo que vos disse no
Falar Claro "aquilo que vocês dizem não é o que vos sai da boca, é o que os
outros ouvem”.
Na
comunicação, nenhum de nós é juiz de si mesmo: o nosso juiz é o eleitorado. São
sempre os outros a julgar-nos. E ainda que nós pensemos que fizemos muito bem,
se todos os outros – ou a maioria – acharem que estivemos mal, o problema não é
dos outros: é nosso.