Bom dia a todos, sejam bem-vindos a mais esta sessão da UV.
Hoje temos dois convidados muito especiais.
Um deles é o Carlos Coelho, um senhor que é Deputado Europeu, foi
Presidente da JSD durante muitos e bons anos, criou uma grande escola de
formação.
Ele pediu-me imenso para vir falar a esta Universidade de Verão. Eu
ajudei a convencer o "reitor” a convidá-lo.
O "Falar Claro” é uma das aulas mais importantes da UV e repete-se
desde a primeira hora, e quase sempre com os mesmos protagonistas.
O Carlos Coelho dispensa apresentações. O que posso fazer para o
apresentar é dizer que se trata, talvez, do melhor Presidente da JSD, aquele
que melhores raízes e mais estrutura deixou para o futuro da nossa organização.
[APLAUSOS]
O Rodrigo Moita de Deus é consultor de comunicação, já foi jornalista,
director da revista Teenager, integrou o famoso programa "As Noites Marcianas”.
Mais tarde trabalhou com a Dra. Leonor Beleza, Vice-Presidente da Assembleia da
República, e foi um dos seus braços direitos na construção da Fundação
Champalimaud. É também o fundador do conhecido blog "31 da Armada”, criado ali
atrás numa daquelas mesas, quando o Rodrigo era Avaliador da UV.
Entretanto entrou para a área da comunicação na LPM, de Luís Paixão
Martins, uma das mais importantes agências de comunicação em Portugal, e é
actualmente o director da NextPower.
Foi também colaborador da Revista Atlântico e comentador da TVI24.
No fundo, é sobretudo um homem desta casa: Foi avaliador, conselheiro,
é orador, faz parte da mobília e ajudou a construir a Universidade de Verão que
temos.
Dou agora a palavra ao Carlos Coelho.
Dep.Carlos Coelho
Muito bom dia, isto é o Falar Claro. Pelo título vêem que há um jogo
de semântica. "Falar, claro”, porque não conseguimos conceber a política sem a
comunicação oral, e "Falar Claro”, porque devemos fazê-lo de forma objectiva.
Na brochura que vos distribuímos, incluímos uma secção a que chamámos
"Escrever claro” mas que – por limitações de tempo - não abordaremos nesta
apresentação. Em todo o caso, na parte das perguntas, podemos responder-vos a
dúvidas relativas a essa matéria.
A estrutura da nossa comunicação terá quatro partes: a primeira sobre
comunicar bem, a segunda sobre contactos com a comunicação social, a terceira
sobre os novos media e na quarta são
os 15 conselhos para se falar em público.
Vamos ao Comunicar Bem.
O primeiro conceito que devem reter é este: fazer política é
comunicar! A equação democrática diz que numa democracia quem decide é o povo,
através do voto. Assim, poderemos ser os melhores do mundo, mas se não formos
capazes de o comunicar estamos condenados ao insucesso.
No exercício das nossas funções temos de explicar o que estamos a
fazer, quais são as nossas prioridades e explicar o que está a acontecer. Mas
comunicar não é apenas falar: é também ouvir quais são os problemas e anseios
das pessoas.
Retenham esta ideia: numa sociedade plural, não construímos nada
olhando para o espelho. O sucesso de qualquer intervenção social depende da
nossa capacidade de comunicar, de falar e de ouvir.
O único elemento teórico da nossa comunicação é esta simples relação
que se estabelece entre um emissor e um receptor através da mensagem.
Esta é a equação comunicacional básica: emissor, receptor, mensagem! E
isto só funciona se houver sintonia, capacidade de entendimento. Imaginem que
para além de mim, do Rodrigo e do Duarte, estaria aqui também um excelente
orador chinês. Estaria condenado ao insucesso porque, não havendo nesta sala
quem domine o chinês, não haveria sintonia. Esta ligação não se estabelecia.
Mas atenção, para uma boa equação comunicacional, a sintonia tem de
ser em todos os campos. É diferente eu dirigir-me a uma assembleia jovem ou a
um lar de idosos. A natureza da conversa e a substância da comunicação têm de
ser adaptadas ao nosso interlocutor.
Não é a mesma coisa falar no litoral ou no interior (há palavras que
se usam num lado e não no outro), para uma sociedade de advogados ou para um
clube de pescadores. É preciso adequar a linguagem para que todos compreendam e
à qual adiram emocionalmente.
E atenção: a comunicação não é unívoca, esta equação só fica completa
com o retorno. O receptor transforma-se em emissor e passa a sua mensagem ao
receptor. Quando falamos e ouvimos.
Quando um agente político encomenda uma sondagem, está a ouvir (não por
voz própria mas por um processo de comunicação) quais são os anseios,
aspirações e vontades das pessoas.
O Rodrigo vai agora falar do eleitor.
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Vou agora falar-vos no receptor da vossa mensagem.
Conhecem este peixe da imagem? É o peixe dourado, dotado de uma
memória de 3 segundos. Tem pouco capacidade neuronal e é por isso que anda às
voltas no aquário: ele não se lembra que esteve lá antes.
Este é o nosso típico eleitor.
Quando falamos para alguém, falamos para uma pessoa que tem memória de
3 segundos! Não tem mais paciência para vos aturar senão durante 3 segundos. É
a parte mais difícil de fazer política.
Este é o comportamento eleitoral destes peixinhos: funcionam como um
rebanho de ovelhas. Se uma vira para a direita, viram todas e vice-versa. O
problema é que em democracia passou a haver mais que um cão pastor e eles
dividem o eleitorado. Assim, umas ovelhas vão para a direita e outras para a
esquerda. As ovelhas negras vão para o Bloco.
[RISOS E PALMAS]
Este senhor na imagem chama-se António Damásio, é neurocientista e
escreveu um livro chamado "O Erro de Descartes”. Como sabem, Descartes dizia
"penso, logo existo” e baseou todos o seu pensamento filosófico na racionalidade.
António Damásio vem dizer o contrário.
A ciência hoje permite dizer que partes do cérebro estão a funcionar
em dado momento e que parte do cérebro responde a determinados estímulos. O
cérebro funciona por compartimentos e cada parte do cérebro tem uma função. Uma
parte regula o andar, outra a fala, etc.
O que terá isto que ver com a comunicação? Tudo!
Uma das primeiras conclusões a que se chegou é que a memória visual é
maior que a auditiva. Isso quer dizer que vocês muito mais facilmente se esquecem
das minhas palavras que da minha cara. O que eu disser tem menos importância do
que a forma como eu pareço.
Outras das coisas que os investigadores descobriram é algo chamado de
"Zoning Out”. A hipnose. Esta dá-se quando o cérebro de habitua a um determinado
movimento e estímulo repetitivo. Se estão a ver ou a ouvir a mesma coisa, o
cérebro desliga e começa a pensar em outras coisas.
Isto é científico. Aquilo a que nós chamamos distração nas aulas é um
processo absolutamente normal. Na prática, se eu falar com um tom monocórdico,
vocês adormecem.
Outras das coisas conclusões, uma das mais importantes, é que o
estímulo visual chega primeira à parte do cérebro que controla a emoção e só
depois chega ao processamento racional. Trocando por miúdos, assim que eu
comecei a falar vocês já tinham decidido se gostavam de mim ou se não gostavam.
Tudo o que eu disser agora só serve para fundamentar essa teoria. Se eu vos
parecer um parvo, aquilo que eu vos disser é uma parvoíce; se eu parecer
inteligente, o que eu disser é brilhante.
Poderão pensar: "isso não é possível!”. É possível e chama-se preconceito.
Apesar de os conotarmos com coisas más, os preconceitos podem ser bons
ou maus. Por exemplo, nós estamos condicionados a gostar dos nossos pais, há um
preconceito quanto a isso. Isso são preconceitos e nós em comunicação
trabalhamos com preconceitos.
Chegando à parte da mensagem propriamente dita.
Já vimos que o comportamento do eleitor é uma coisa complicada, que
ele tem memória curta, que gosta mais de imagens que de palavras e que gosta
das pessoas por processos de preconceitos.
Mas eu vou acrescentar outra complicação.
Em 1960, o tempo médio de citação em televisão e rádio era de 60
segundos. Ou seja, se eu fizesse um discurso, o tempo médio do excerto das minhas
palavras era 60 segundos, hoje é 7 segundos.
A diferença é abissal. Na prática, os políticos têm cada vez menos
tempo de antena.
E pior: antigamente o discurso era todo filmado e faziam-se as
citações com base no discurso. Hoje nem sempre é todo filmado e o que passa são
as declarações no final do discurso. E o que sai são sete segundos, tudo o
resto é para encher a peça. De tudo o que ouviram ontem do eng. Ângelo Correia,
o que vai passar são 7 segundos.
É por causa disso que aparecem os "soundbites”. O que é? È uma maneira
inteligente de fazer passar a mesma mensagem de uma hora de discurso em apenas
7 segundos. Uma frase que resume o que eu disse ao longo do discurso ou que
resume uma ideia.
Há bons exemplos disso: "vou andar por aí” (Santana Lopes), "o mundo
mudou” (José Sócrates), "para Angola e em força” (de Salazar, para verem que o
conceito de soundbite não é de agora), "nunca erro”, "geração rasca”, "o país
está de tanga”, (a maneira inteligente de Durão Barroso explicar ao país que
não podia reduzir impostos e que tinha mesmo de os aumentar), e o "beijar uma
mulher que fuma é como lamber um cinzeiro”.
São frases fortes que servem para resumir ideias. Isso são soundites:
forma inteligente de passar a mensagem. Aqui estão outros exemplos:
[VÍDEO E PALMAS NO FINAL]
Isto da memória ser curta é dramático e muitas vezes injusto: estes
três segundos de infelicidade de W. Bush deram-lhe a fama de estúpido. De facto
foram muitos três segundos... mas as pessoas são naturalmente preconceituosas.
E o Bush é um bom exemplo.
Vejamos, ele é inteligente ou é estúpido? É estúpido, claro. Foi
escrito e dito várias vezes. É por isso que aceitamos essa teoria.
Como se constrói um soundbite? Não se trata apenas de uma frase
bonita. É preciso ter atenção a algumas regras.
Em primeiro lugar temos de ter atenção às próprias palavras a
utilizar. Vejam o próximo filme, com Blair e Cameron, que é um bom exemplo.
[VÍDEO]
Há de facto palavras que ficam bem (e outras mal) no ouvido das
pessoas, tal como as caras.
Há outra regra muito importante na construção do soundbite, que é o
KISS (keep it simple, stupid), ou seja, criar frases simples, curtas,
acessíveis, e desistir daquele conceito muito português (muito academicamente
português), que é complicarmos as coisas para parecermos mais inteligentes.
Os anglo-saxónicos têm muita tradição da comunicação simples, nós
temos a mania de falar muito e bem para parecermos inteligentes.
A importância das palavras é vital para a mensagem, porque há palavras
que sabem bem e outras que sabem mal. Viram isso no vídeo do Tony Blair, a
utilização abundante do "change”, tanto no Reino Unido como nos Estados Unidos,
cá usa-se o "mudar”. A palavra "mudar” sabe bem às pessoas, elas acham que
mudar é uma coisa boa porque se muda sempre para melhor.
Há palavras "cool” e outras que o não são de todo.
Há palavras que podemos utilizar num discurso e outras que não.
Exemplos que palavras "cool”: governance,
desenvolvimento, accountabilitiy, think
tank, ambiente, diversidade, tecnologia, etc.
Tudo palavras simpáticas para o ouvido.
Mas há outras que não podemos utilizar: uma delas é empreiteiro. Não podemos dizer que temos um primo
empreiteiro, mesmo que ele seja empreiteiro, sobretudo se estivermos na vida
autárquica. Empreiteiros são todos bandidos,
toda a gente sabe isso.... Outra palavra proibida é negócio: na nossa
tradição judaico-cristã achamos que num negócio há sempre alguém que é
enganado.
Dinheiro é outra. Há fundos e há receitas: nunca se usa a palavra
dinheiro!
Outra palavra péssima é "política”. Nós nunca somos "políticos”, somos
sempre outra coisa qualquer e estamos na política.
E "assessor” é a palavra mais dramática de todas. Eu quando trabalhava
na Assembleia da República explicava ao taxista que era assessor e ele
chamava-me "chulo”.
[RISOS]
Ele não sabia o que eu fazia mas não lhe interessava.
Dep.Carlos Coelho
Chegamos à segunda parte da nossa aula: esta é referente aos contactos
com a comunicação social.
E o que é importante nesses contactos? Algumas dicas são óbvias e
outras poderão não o ser tanto.
Em primeiro lugar, antes de convocarem os jornalistas devem
perguntar-se se isso é mesmo necessário. A coisa pior para a credibilidade é
fazer um acto inútil com a imprensa, chamando os jornalistas sem ter nada de
substancial para dizer.
A segunda pergunta que devem fazer é se a matéria que têm justifica
que eles venham. Se aquilo que têm para acenar é suficiente para eles virem.
Não há nada mais frustrante do que estarmos todos à espera dos jornalistas e
eles não aparecerem.
A terceira é saber se fizemos uma acção com a imprensa ontem.
Banalizá-las não funciona. Se fizemos uma ontem, a menos que haja um grande
motivo, não faz sentido voltar a convoca-los para o dia seguinte.
Depois, é importante saber escolher o dia e a hora. Isto parece
evidente mas muitas vezes, sobretudo com a imprensa regional, os órgãos não são
diários, são semanais. Se um jornal sai à quinta, é absurdo fazer uma
conferência da sexta, porque é pouco razoável que a notícia venha a ser
aproveitada durante uma semana e continue a ser notícia na quinta-feira
seguinte.
Vocês devem definir o dia em função da optimização da passagem da
vossa mensagem.
Convém fazer uma convocatória 4 ou 5 dias antes, para os jornais
podemos inseri-la na agenda e confirmar sempre na véspera, por telefone, para
eles não se esquecerem da iniciativa.
Outra dica tem a ver com a sala: não faz sentido terem na sala 5
cadeiras se esperam 15 jornalistas (um jornalista de pé é um jornalista
mal-humorado), e também não faz sentido estarmos à espera de 3 jornalistas e
termos uma sala para 300.
Devemos dimensionar o espaço às necessidades.
E temos de ter atenção à luz, sobretudo em meios menos sofisticados.
Há quem faça conferências de imprensa com janelas abertas por trás, o que cria
problemas de contraluz na obtenção de imagens.
E depois a decoração. Não apenas por uma questão estética para
sobretudo por eficácia.
No ano passado fizemos este exercício.
[IMAGENS]
Este é António, membro do staff no ano passado. E este é o mesmo
António, vestido da mesma maneira, com o mesmo papel na mão, a falar aos jornalistas, mas com um décor por trás. A imagem é completamente
diferente.
Não apenas em termos estéticos mas também da mensagem que se quer
passar.
Que cuidados devem ter nas conferências de imprensa?
Se tiverem três ou quatro pessoas na mesa, há que dividir o jogo. Não
faz sentido estar apenas um a falar e os outros a fazer figura de corpo
presente. Podem, por exemplo, definir que cada um faça consoante as temáticas
que os jornalistas abordarem.
Nunca se esqueçam de uma regra fundamental: vocês não estão a falar
para os jornalistas. Vocês estão a falar para os leitores/ouvintes desses
jornalistas. Vocês falam para o público através dos jornalistas. Eles são um
instrumento para chegarem às pessoas. Não podem tratar mal os repórteres mas
não podem usar a linguagem mais adequada para eles. A linguagem será a que
querem que passe lá para fora.
Preparem sempre as respostas que terão de dar em justificação de
medidas polémicas e difíceis. E tenham sempre muito cuidado com o tipo de respostas:
deve, ser claras, directas e breves.
Sublinho a importância das respostas breves. Geralmente, com a
imprensa, quanto mais falamos, mais nos enterramos. Logo, quanto mais curta for
a comunicação e mais centrada no essencial, mais eficaz será a mensagem com os
jornalistas.
Respondam sempre sem exasperação, façam-no com classe. Mesmo que o
jornalista seja objectivamente provocador e faça perguntas mal intencionadas.
Aí podemos usar a ironia, mas uma ironia fina. Não é permitido, é uma falha
grave, projectar a nossa raiva no interlocutor.
Nada de respostas evasivas: elas traduzem sempre fragilidade. Mesmo
quando não estamos muito seguros, não podemos deixar transparecer essa ideia.
E, como o Rodrigo dizia, pensem no soundbite: mensagem ou mensagens principais
que querem passar.
Outros cuidados óbvios. Se algum jornalista vos pedir uma entrevista,
vejam se têm algo substancial para dizer. Não há nada mais tonto do que dar uma
entrevista sem alguma coisa forte para dizer. É melhor combinar com o jornalista
uma entrevista para daí a algum tempo, quando tiverem algo para dizer: "este
momento não me parece o indicado”.
Nos jornais regionais e locais, é bom terem fotografias, porque nem
sempre esses jornais levam jornalistas com máquinas fotográficas. Na rádio
devem ter voz firme. Levem notas mas não as leiam com o microfone aberto,
porque isso se percebe lá em casa e é menos eficaz em termos de comunicação de
rádio. E cuidado com as pausas.
Eu aqui posso fazer uma pausa na conversa porque vocês me estão a ver.
É uma ligação visual que mantém a nossa comunicação. Na rádio, o som é a única
forma de comunicar. Uma pausa na rádio significa uma morte na comunicação.
Quanto ao som, tenham a consciência que uma iniciativa pode ser
arruinada devido a um mau som. Recordo-me de uma acção com o Prof. Cavaco
Silva, no Porto, em que o som era péssimo. Quando ele se aproximava do
microfone fazia feedback; quando se afastava não se ouvia. Às tantas as pessoas
já punham as mãos nos ouvidos porque o ruído era insuportável. O Prof. Cavaco
acabou por prescindir do microfone, o que foi sensato, mas dois terços da sala
(que era grande, cerca de 200 pessoas) não ouviu nada.
Essa comunicação perdeu-se.
Portanto, o som é muito importante.
Uma das coisas boas que temos na UV é o som, assegurado pela nossa
equipa de audiovisuais.
Na televisão deve usar-se roupa escura e evitar as riscas e os
quadradinhos. Para os homens o melhor é fato azul escuro, camisa azul e gravata
vermelha, é o que funciona melhor nas câmaras.
Devem inclinar o corpo para a câmara, porque dá mais presença. Não
olhar directamente para a câmara: o Rodrigo diz que quem o faz tende a parecer
confuso. Olhar para o entrevistador e evitar os olhos errantes, que olham para
todo o lado e não me fixam em nenhum deles.
Atenção ao cenário, porque ele distrai. Atenção redobrada quando se
fala na rua. Relaxar e sorrir. O Rodrigo não o disse mas poderia ter dito,
visto que o sabe melhor que eu, mas estudos dizem que as pessoas fixam mais a
nossa fisionomia facial se estivermos a sorrir. E vice-versa: esquecemos mais
facilmente uma cara zangada que uma sorridente.
O Rodrigo falar-vos-á agora da relação com os jornalistas.
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Vocês têm de se pôr do lado de lá e perceberem o que os jornalistas
querem. O que faz um jornalista? Ele faz notícias. Quando ele vem falar
connosco, tem uma notícia para fazer. Na maior parte das vezes, a notícia já
está feita: ele apenas precisa de a alimentar, fundamentar ou alterar.
Portanto, para falarmos com um jornalista devemos ter a nossa história
bem acertada. Devemos pôr-nos no lugar e pensarmos que título daríamos à
notícia. E daí trabalharmos para o título. Porquê? Se estivermos meia hora a
falar com um jornalista e não formos nós a dar-lhe o título da notícia (ou um
soundbite), fará ele esse título. Ele vai à procura desse título porque ele
precisa disso.
Outra coisa a terem em conta: só há notícia se houver uma
controvérsia. Sobretudo na imprensa escrita, a notícia faz-se das
controvérsias, dos problemas. Muito raramente se fazem pelas coisas positivas.
Quando eles vêm falar connosco estão à procura da contradição. E temos de estar
preparados para isso. Não podemos reagir mal.
Como o Carlos há pouco disse, o nosso trabalho com um jornalista não é
responder às perguntas. Seja numa entrevista ou numa conversa, o nosso trabalho
é passar a mensagem. Isso é completamente diferente.
É que se apenas respondermos às perguntas estaremos a ser
condicionados pelas mesmas. Vamos para onde o jornalista quer e não para onde
nos queremos.
Temos um exemplo sobre isso. Recentemente um candidato à presidência
do Sporting, em entrevista, não conseguir explicar o negócio com os angolanos.
Porquê? Primeiro porque se deixou condicionar pelas perguntas e foi de pergunta
em pergunta até ao desastre total. Depois porque ele partiu do princípio que as
pessoas são tão honestas quanto ele. Errado: as pessoas não têm tempo a perder.
Quando somos honestos, partimos de raciocínios dedutivos: "A + B = C”.
Mas quando trabalhamos em comunicação devemos partir da conclusão, senão a
nossa mensagem não passa.
Falemos agora dos novos meios. Há três anos fiz o exercício de
perguntar quem tinha facebook. Hoje vale a pena perguntar quem não tem.
[UM BRAÇO NO AR]
Está ali um braço no ar...
[RISOS]
Quem és tu?!
[RISOS]
Tens twiter? Blog?
UMA VOZ
Tenho e-mail...
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Um e-mail?!
[RISOS]
Bom, a política já vai dispensando cada vez mais o nosso
intermediário, que são os jornalistas. Conseguimos ter uma relação directa com
o nosso público. E, hoje, a tecnologia permite-nos fazer coisas que há muito
pouco tempo eram impensáveis, que é garantir uma audiência já vasta (de 5 ou 10
mil pessoas) ou construirmos canais multiplataforma e multimédia.
Quero mostrar-vos um vídeo que preparámos no 31 da Armada.
[VÍDEOS]
Este vídeo teve ao todo 450 mil visualizações, custou mais ou menos
1500 euros. O senhor que há pouco ouviram a criticar o vídeo falou na RTPN, e
teve cerca de 10 mil espectadores e a RTP tem um passivo acumulado de 801
milhões de euros.
Estamos esclarecidos sobre a questão da eficácia.
E aquilo que ele dizia sobre a análise, o programa da análise política
não passa para a opinião pública. São os ditos 10 mil espectadores da RTPN
àquela hora.
Uma última nota: o objectivo do 31 da Armada era promover uma
revolução, à semelhança e nos mesmos moldes dos nossos irmãos egípcios. Eles,
como nós, viviam numa regime em que a comunicação social era controlada. Daí
que, com pouco acesso aos meios tradicionais, usaram os novos meios.
Há imensas fotos de egípcios a agradecer às redes sociais a ajuda que
lhes deram.
Dep.Carlos Coelho
A última parte da nossa comunicação são os quinze conselhos para falar
em público.
1.º Conselho - Não ter medo do medo.
É perfeitamente normal, principalmente nas primeiras vezes, ter-se
algum receio de usar da palavra, de comunicar, de falar em público. Mas não
devem ter medo do medo, porque o medo é positivo.
Gosto sempre muito de contar a história de uma grande actriz
norte-americana, Sarah Bernhardt, do século passado.
Uma vez em palco a actriz perguntou a uma corista se ela estava
nervosa. A corista fez-se forte e disse: "eu nunca fico nervosa antes de entrar
em palco”. Sarah Bernhardt olhou para ela e disse-lhe: "há vir a ficar, minha
menina, no dia em que tiver algum talento”.
Até o parlamentar mais experiente sente algum medo. É que o pior na
política é o excesso de vaidade: esse excesso pode levar a cometer alguns
erros. Esse medo ajuda a temperar a vaidade.
Ainda sobre o medo, uma coisa que lhe está associada é o nervosismo
que leva algumas pessoas a não saber o que fazer com as mãos durante uma
intervenção. Passo a palavra ao Rodrigo.
Dr.Rodrigo Moita de Deus
O medo, como o Carlos diz, é uma coisa natural, tal como o nervosismo.
Ambos nos fazem tremer, nomeadamente as mãos e deixamos de saber o que fazer
com elas.
A tendência natural é pô-las no bolso, tentá-las esconder e a coisa dá
asneira. É que, de repente, apercebemo-nos que temos mãos... eu não sei se
vocês sabiam mas elas fazem parte do corpo.
Como nos podemos livrar desse problema? Temos de criar um escape para
o nervosismo.
Costumo recomendar às pessoas que segurem alguma coisa nas mãos. Uma
caneta, por exemplo. É um óptimo escape para o nervosismo. O Prof. Marcelo
Rebelo de Sousa passa o tempo a brincar com o relógio, é o seu escape.
Cada um de vós tem de encontrar o seu escape.
Dep.Carlos Coelho
2.º Conselho – Ser firme: não atrair os abutres!
Tal como as moscas são atraídas pelo sangue, numa assembleia as
pessoas são atraídas fraqueza. Isso sucede na natureza também, os predadores
vão atrás dos mais fracos.
Sejam firmes! Nem que tenham de aparentar mais firmeza do que a que
sentem!
Quanto a enfrentar a assembleia, devemos fazê-lo sempre de frente.
Para quem não gosta de enfrentar os olhares dos outros, há um truque que é
olhar um palmo acima da última cabeça. Ao olharmos para esse ponto imaginário,
damos a aparência de estarmos a olhar para a audiência. E, na realidade, não
estamos a olhar para ninguém.
Mas atenção, o ideal é olhar para as pessoas. Fazendo-o, podemos
interagir com a sala.
Se não o conseguirmos fazer, devemos no mínimo simular.
A única coisa proibida é ignorar a assembleia, porque aí não estamos a
comunicar.
3º Conselho – Não começar a falar sem definir o objecto e intuito da
intervenção.
É totalmente diferente estarem a fazer para explicarem o vosso ponto
de vista ou para despertarem emoções. Qual é o intuito da vossa intervenção? É
levarem as pessoas a aderirem emocionalmente ou racionalmente? Porque toda a
construção da comunicação tem a ver não apenas com a substância (o objecto) mas
também com a intenção.
Podem usar várias figuras regimentais, desde as mais livres (como as
intervenções) às mais limitadas (como os pedidos de esclarecimento).
Lembremo-nos do que disse o Rodrigo: nós muitas vezes não temos de responder à
pergunta - podemos, isso sim, utilizá-la para passar a nossa mensagem.
Há cerca de ano e meio, o Presidente da República fez um apelo a
seguir a um Conselho de Estado, que muita gente achou que era dirigido ao PSD.
Nós imaginámos o que seria um diálogo entre o PM, na altura José Sócrates, e um
deputado do PSD sobre este tema.
[VÍDEO 1]
Como viram, há uma pergunta e uma resposta muito objectiva. É um
pedido de esclarecimento típico.
[VÍDEO 2]
Aqui, neste exemplo, aproveitei a pergunta para mudar a conversa. Eu
disse: "sim, ouvi isso, mas não se esqueça aquilo”. É uma forma comum de
aproveitar um pedido de esclarecimento para colocar outras questões em cima da
mesa.
Vejam agora um exemplo de uso da "resposta a pedido de esclarecimento”
em que se ignora o próprio pedido de esclarecimento, subvertendo-o, lançando um
contra-ataque.
[VÍDEO 3]
Vejam que até a figura mais limitada do debate político pode ser usada
para favorecer o vosso objectivo de passar a menagem.
Não se esqueçam que antes de falarem devem definir ideias-chave,
ordenar ideias e argumentos.
4.º Conselho – Não ignorar a audiência.
Falar a uma Assembleia não é falar para, é falar com. Vocês devem
falar com as pessoas. Assimilem esta noção de envolvimento.
Retenham a sigla "AIRE” que significa ganhar a atenção da
assembleia, suscitar o seu interesse e garantir que as pessoas vão recordaras nossas palavras.
5.º Conselho – Não esquecer que os outros nos vêm.
Não se "ouve” um discurso, "vê-se” um discurso.
Há-que "representar” o discurso, usar as mãos, o corpo. Não apenas os
lábios e língua. Devemos usar os olhos, as expressões, mas nada de gestos
exuberantes ou exagerados. E cuidado com os tiques.
Temos aqui exemplos de bons comunicadores com tiques conhecidos
Vejam os tiques.
[VÍDEO]
O eng. Guterres tinha o tique de compor o cabelo. Quando ele falava,
muitos já só estavam atentos ao momento em que ele se descuidaria e faria o
gesto de novo.
6º Conselho - Tenham atenção à vossa imagem as pessoas só votam em
quem confiam.
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Recordam o que eu disse sobre os preconceitos? Trago aqui um exemplo
prático. Reconhecem este senhor na imagem? Isso mesmo, Lula da Silva. Vocês
hoje conhecem-no como Presidente do Brasil mas "este” Lula da imagem
candidatou-se três ou quatro vezes à presidência brasileira. Perdeu sempre. O
que é natural: com esta imagem, eu nem para a freguesia votava nele.
Mas depois fez uma grande transformação. Cá está ele, gravata quase
monocolor, pin na lapela, a barba
aparada, o cabelo arranjado. Este sim, é um homem a quem podemos confiar o
dinheiro dos impostos.
"Este” Lula ganha eleições.
Dep.Carlos Coelho
7º Conselho - Não falem sem sentir o que se diz.
Falem daquilo que sentem, da vossa experiência. As pessoas sentem
quando nós falamos com o coração e sentem quando nós estamos a mentir. A
autenticidade do discurso é um elemento essencial da sua eficácia.
Vai ser-vos distribuída uma brincadeira já muito conhecida.
É uma tabela com palavras dispostas em colunas. Escolhendo uma
expressão de cada coluna podemos fazer 10 mil combinações de frases bonitas mas
sem sentido.
Vejamos esta: "o incentivo ao avanço tecnológico, assim como o
desenvolvimento de formas distintas de actuação oferece uma oportunidade de
verificação das condições apropriadas para os negócios”. Isto soou bem, teve
até um ar tecnocrático, mas que significa isto? Significa zero!
Se usarem todas estas combinações, conseguem fazer 10 mil frases
bonitas mas sem nenhum sentido. 10 mil oportunidades de não dizer nada. 10 mil
oportunidades de não convencer ninguém e de soar a falso.
8º Conselho - Ganhem a simpatia do público.
Temos a tentação de falar caro mas provarmos que somos bons. Isso é má
política. Ora o primeiro discurso não tem de ser um discurso muito elaborado,
mas deve ser um discurso que ganhe a simpatia do público. Sobretudo se se é
jovem. Vejam este vídeo com o Rodrigo.
[VÍDEO RODRIGO MOITA DE DEUS]
Não é um discurso muito substancial, mas deixa um ar de simpatia.
Mesmo os adversários políticos dizem, "é um bom rapaz”. É mais importante
ganhar a simpatia numa primeira intervenção do que assustar os adversários.
Sejam modestos sem serem humildes ou simplórios.
9º Conselho - Não sejam chatos.
Falar mais de 20 minutos é um erro. Não sigam o meu exemplo e o do
Rodrigo aqui hoje. Não falem demais, cuidado quando falam sem papel porque
perdem a noção do tempo, mas não falem depressa demais. Isso é comprometer a
comunicação.
Uma vez, na Assembleia da República, um deputado a quem foi pedido de
terminasse a intervenção, começou a fazer o discurso a correr. Foi um completo
disparate. Falar depressa demais não garante que as pessoas dêem atenção ao que
estamos a dizer, para além de ser ridículo.
Recusem o discurso redondo. O que é o discurso redondo? Acontece
quando queremos falar "caro”. Em Portugal há a ideia que as pessoas têm de
mostrar erudição quando falam.
Ora a comunicação não é um concurso de elegância, é um concurso de
eficácia. Entre ser muito sofisticado ou mais eficaz, o que interessa é ser
eficaz, não é utilizar palavras muito complicadas para as pessoas dizerem:
Vejam o seguinte exemplo, com o Gonçalo Capitão, antigo Deputado da
JSD.
[VÍDEO CAPITÃO 1]
Falou bem, mas no final perguntamo-nos: "O que é que ele quer dizer? O
que é que ele quer dizer com esta coisa?”. Teria sido mais eficaz se tivesse
falado concreto:
[VÍDEO CAPITÃO 2]
Era isto que ele queria dizer.
O discurso mais directo é, de longe, mais eficaz.
10º Conselho - Nunca decorem um discurso escrito.
Quem decora um discurso escrito, arrisca-se a perder o fio a meio e
depois já não o consegue retomar.
Usem tópicos ou outra ajuda mas nunca incorram no erro de levar um
discurso memorizado ou pedirem a alguém para vos escrever o discurso sem o
lerem e trabalharem bem a seguir.
Vejam os resultados:
[VÍDEO SANTANA LOPES]
Esta é uma tomada de posse. Foi penoso.
Alguém lhe escreveu o discurso, ele não o adaptou e foi este o
resultado. Ninguém ousará negar que
Santana Lopes é um grande orador. Neste
exemplo recorda-nos o que devemos evitar.
11º Conselho - Nunca descurar as defesas.
Num debate, é habitual ouvir-se: "O senhor veio aqui falar mas não
disse nada!”. Tentem meter no vosso discurso alguns grandes princípios que
tornem difícil alguém dizer que não concorda connosco.
Exemplos:
- não há solidariedade sem reduzir as diferenças gritantes entre os
cidadãos
- não há progresso justo em Portugal, sem que ele se faça sentir em
todas as regiões do país.
Usem as tais "cool words” de que o Rodrigo há pouco falava:
participação dos cidadãos, qualidade de vida, ambiente, bem-estar,
transparência de administração.
Assim, se alguém vos disser que discorda, podem embaraçá-lo
respondendo: "O senhor não concorda com a igualdade, com a transparência? Com a
redução de assimetrias? etc”.
12º Conselho - É melhor responder que não se sabe, do que simular
conhecimento.
É completamente ridículo a pessoa fingir que sabe e ser apanhado na
ignorância.
Imaginem que me fazem uma pergunta de Física Quântica e eu respondo
que "a Física Quântica é fundamental para o desenvolvimento da sociedade”;
depois imaginem que insistem comigo... a figura é ridícula.
Se eu estiver num debate, por exemplo numa rádio, e for confrontado
com uma coisa que não sei, a pior coisa que eu posso fazer é fingir que sei e
depois ser desmascarado. É melhor arranjar um escape, dizer "Nunca tinha visto
este problema sob esse ângulo, parece-me interessante, (ou perigoso, ou
inaplicável ou de difícil execução), mas gostaria de pensar um pouco melhor
antes de me pronunciar”. A pessoa que está em casa pensa: "Aqui está uma pessoa
séria, não é precipitado.”
Outras formas elegantes: "Evocou argumentos novos que merecem
reflexão”, "Se reagisse de imediato não lhe faria justiça, prefiro valorizar os
seus argumentos, pesá-los com outras opiniões, e voltar ao assunto na próxima
oportunidade”.
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Podemos também usar a estratégia do bloqueio. Quando nos falam de um
assunto delicado que não queremos abordar, bloqueamo-lo e fazemos uma transição
suave para outro tema, mais de acordo com a nossa mensagem.
Há formas usuais como "mais importante que esse assunto é...”, ou
"ainda bem que me faz essa pergunta”, ou, melhor ainda, "não querendo fugir à
sua pergunta”...
Dep.Carlos Coelho
13º Conselho - Atacar com firmeza, protegendo a retaguarda.
Nunca afirmem o que não sabem ou aquilo de que não têm provas. Uma das
formas de reagir a isto é o "parece-nos que”.
Vamos supor que há um escândalo numa autarquia envolvendo o Presidente
da Câmara e que eu sou membro de uma assembleia municipal pela Oposição.
Imaginem esta intervenção: "a confirmarem-se os rumores que correm,
temos de apurar responsabilidades e retirar consequências jurídicas e
políticas”. Vejam a força do português e a adjectivação utilizados.
E imaginem uma tirada com um pouco mais de picante: "… temos que
retirar consequências políticas e criminais”. Aqui estou a subir um bocadinho
mais na pressão política porque a palavra "crime” acende muitas "luzinhas” em
todos nós.
E agora a ironia: "a confirmarem-se essas informações. São prova da
mais grave irresponsabilidade e de aproveitamento ilícito de recursos
públicos”. Ou "boatos desta gravidade têm de ser desmentidos, sob pena de
minarem a credibilidade de autarcas que, até prova em contrário, devem merecer
a nossa consideração.
O uso com modo condicional traz para a agenda um tema picante de uma
forma elegante.
14º Conselho - Nunca atacar com maldade, dosear a agressividade.
Nunca façam ataques pessoais, mas podem insinuar com fundamento e com
clareza. Se formos atacados devemos representar a indignação.
Vejamos o seguinte exemplo.
[VÍDEO CAPITÃO 3]
Vejamos, o Partido Comunista atacou-nos e nós dissemos o pior que se
pode dizer a um Comunista: "os senhores são como os fascistas”. Atacou-se aqui
onde dói mais.
Em todo o caso, nunca ataquem com maldade e usem a estratégia elegante
do "filho da mãe educadinho”.
Vejam um exemplo:
[VÍDEO RODRIGO MOITA DE DEUS]
15º e último conselho - Nunca admitam ser inferiorizados pela idade,
sexo, cor da pele ou o que quer que seja.
A discriminação é intolerável na sociedade democrática.
Imaginem um ataque a um deputado por ser jovem ou inexperiente.
[VÍDEO CAPITÃO 6]
Finalmente, numa das Universidades de Verão, houve uma colega vossa
que me perguntou: "e se a discriminação for múltipla?”
Nós somos um país um bocadinho machista e, nalgumas áreas, racista.
Portanto eu quero que imaginem a situação de uma mulher, jovem, negra, que é
ridicularizada numa assembleia. O que é que ela deve fazer?
Nós começamos a pensar nisso e achamos que o ideal seria uma resposta
deste género: "Vejo-o nervoso, agressivo e precipitado, não sei o que o
perturba mais... (para qualquer homem a ideia de estar perturbado por uma
mulher é logo um ataque forte)… não sei o que o perturba mais: se o facto de eu
ser jovem, de ser mulher ou de ser preta? Qualquer dos receios... (dizer a um
homem que tem receios é muito violento)... qualquer dos receios só por si já o deveria embaraçar.
Concentre-se no que eu aqui afirmei e na razão que me assiste. Tudo o mais é
preconceito que o deveria envergonhar.»
Se a pessoa em causa conseguisse dar esta resposta era 20 valores. Era
embaraçar o provocador.
E não se esqueçam, em todas as situações, o sangue frio valoriza a
intervenção e impede o disparate.
Obrigado!
[PALMAS]
Duarte Marques
Vamos agora passar às perguntas. Peço que sejam rápidos. Rosa
Nogueira, do Grupo Castanho.
Rosa Nogueira dos Santos
Quero em primeiro lugar felicitar os oradores pela apresentação
dinâmica e clara.
Quanto à pergunta: será que um político que fale claro corresponde a
um político que fala verdade?
Dep.Carlos Coelho
Rosa, nem sempre! Tivemos no eng. Sócrates o exemplo de alguém que
falava claro mas não falava verdade. O falar claro significa que a comunicação
é estabelecida, mas se eu for vigarista, estarei a vigarizar.
Aliás, o bom vigarista tem uma comunicação claríssima.
Quando dizemos que devem falar claro, estamos a falar dos
instrumentos. Espero que os apliquem com seriedade. Não pode tudo resumir-se à
forma. É que as pessoas não são estúpidas.
Se as pessoas se aperceberem que um político fala claro mas não fala
verdade, ele ganha o campeonato da comunicação mas perde o da credibilidade. E
num político, quando se perde a credibilidade, é muito complicado recuperá-la.
Duarte Marques
André Serras, Grupo Azul.
André Serras
Bom dia, quero em primeiro lugar agradecer aos oradores os
conhecimentos que nos transmitiram hoje.
A nossa pergunta é: cada vez mais os jovens se refugiam do debate
político através das redes sociais e blogs. Não experienciam o confronto
cara-a-cara. Será que isso deteriorará o debate político no futuro?
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Sim. Desde logo o debate mudou imenso.
E mudou, em primeiro lugar, tecnicamente. Para além de termos mais
jornais, mais canais de televisão e rádios, temos também a internet. E dentro
da internet, os facebooks, os blogs...
Hoje a audiência partiu-se. Já não temos um sítio onde devemos ir para
ficarmos conhecidos. Antigamente íamos à RTP, às oito da noite, quando só havia
dois canais, e ficávamos logo conhecidos. Havia 3 milhões de pessoas que nos
viam.
Hoje, vamos a um programa e há só 15 mil pessoas a verem-nos. E vamos
a um blog mais conhecido e há 3 mil pessoas a lerem. Assim, como a audiência
partiu, é preciso cobrir todas estas áreas. Temos de andar atrás destes vários
grupos.
Isso significa que temos de repetir a nossa mensagem em vários fora. Não quer dizer que somos chatos:
temos é de perceber que quem nos viu na RTPN não são os mesmos que lêem blogs,
ou estão no twiter.
Tecnologicamente muda também o tipo de mensagem. Numa notícia posso
escrever 2 a 3 mil caracteres. No twiter não posso passar dos 140: é preciso
ser muito mais directo e mais rápido.
Como a audiência também partiu, eu tenho de ser muito mais
interessante. Uma das formas de o conseguir é através do humor. Por isso é que
o usamos. O humor é uma arma política! Ele garante o interesse da audiência: se
eu for chato ninguém me quer ouvir. É que eu estou a concorrer com as novelas,
o futebol e os Gato Fedorento.
As novas formas de comunicação, o 2.0, não deterioram o debate: eles
criam é uma outra linguagem.
Duarte Marques
Hugo Gonçalves, Grupo Rosa.
Hugo Gonçalves
Que dicas ou sugestões nos podem dar quando, por exemplo, enfrentamos
as câmaras de televisão e nos fazem uma pergunta mais inesperada ou difícil?
Obrigado.
Dep.Carlos Coelho
Depende da pergunta. Numa pergunta inesperada podem usar o conselho do
Rodrigo: lançar uma outra pergunta para darem a resposta.
Exemplo: um jornalista vem aqui a Castelo de Vide cobrir a UV e
pergunta a minha opinião sobre a declaração do Presidente da República sobre a
taxação dos mais ricos. Eu, que não ouvi as declarações do PR, que não tenho
apetência para as matérias fiscais e não sei o que é a taxação dos mais ricos,
posso responder assim – "Por acaso, é curioso que esta matéria já foi levantada
nesta Universidade de Verão. Das coisas que eu mais gosto na UV é a discussão
sobre os assuntos da actualidade. Não é por acaso, é porque temos os melhores
oradores, os melhores alunos e continuo a falar da UV... Ou seja, usei o meu
minuto para vender o meu peixe.
Se o jornalista insistir na pergunta, eu digo: "percebo o seu
interesse mas aquilo que quero sublinhar é que os 100 jovens que estão aqui têm
de discutir essas e outras matérias. Não só a taxação fiscal mas também a
criação de emprego. Sabe porquê? Porque hoje aquilo que preocupa os jovens
portugueses é a falta de emprego. Etc etc...
E se ele insiste nós mantemos o registo. Voltar a insistir é coisa que
o jornalista já não fará e eu vendi o meu peixe.
Dr.Rodrigo Moita de Deus
No que toca às perguntas difíceis. Eu trabalho em comunicação e falo
todos os dias com pessoas que têm de ir falar aos jornalistas, nomeadamente à
televisão.
Elas perguntam-me o que devem dizer e eu dou a minha opinião. Aquilo
que mais ouço é "eu não posso dizer isso porque...”.
Vivemos num país de cobardes, com medo de darem a sua opinião ou de
falar verdade, mais preocupas consigo que com o País.
Nós vamos enfrentar momentos difíceis e alguns de vós podem ser
chamados a cargos de responsabilidade.
O meu conselho é: sejam verdadeiros, corajosos e francos com os
outros.
Duarte Marques
Deixem-me dar-vos um conselho que o Zeca Mendonça me deu há uns anos.
Muitos de vós vão começar por responder às rádios. Na rádio ninguém vos está a
ver, por isso podem escrever num papel o mais importante do que querem dizer.
Assim não se perdem.
Ângela Caeiro, Grupo Laranja.
Ângela Caeiro
Boa Bia, em nome do Grupo Laranja quero agradecer esta aula tão
fundamental para todos nós. E para mim pessoalmente é óptimo aliar a política à
psicologia.
A autoestima é a avaliação que a pessoa faz de si mesmo. Como poderá
ser um bom comunicador aquele que não gostar de si mesmo? Obrigada.
Dep.Carlos Coelho
É mais complicado, mas prende-se com aquilo que eu disse sobre a
simulação da autoconfiança. Se uma pessoa tem baixa autoestima, receio de falar
em público, etc mas tem de falar em público, deve simular confiança. Não pode
chegar à assembleia a tremer. Por isso vos dei aqueles conselhos: olhar para a
parede, um palmo acima da última pessoa, por exemplo.
A confiança é fundamental à comunicação: se eu for com ar de
coitadinho, já perdi.
Se eu não tiver "a sair de mim” a materialização visível da confiança,
tenho de a simular. Em boa medida, toda a comunicação é uma representação.
Dr.Rodrigo Moita de Deus
E, voltando ao que disse há pouco, temos de arriscar. Aliás, subir a
um palco é um risco.
As primeiras podem sair mal: as pernas tremem, gaguejamos, etc.
Imaginem o pior cenário e há-de ser ainda pior. Mas na semana seguinte já
ninguém se recorda e voltamos a tentar. É assim que começamos a melhorar.
Dep.Carlos Coelho
Deixem-se acrescentar o seguinte. Eu tenho 51 anos, como sabem, e fui
deputado muito novo, aos 19. Comecei, portanto, a falar no palco parlamentar
muito cedo.
Já falei em vários parlamentos, como o europeu.
Eu estou sempre ansioso antes de falar em público. Ontem, na
preparação desta apresentação, estávamos sempre a imaginar qual seria a vossa
reacção. Se me perguntarem se eu estou nervoso antes de uma apresentação, estou
sempre.
Será mau? Não: é normal!
Imaginem o que seria se eu vos desprezasse enquanto audiência, e
pensasse "estou-me nas tintas se gostam ou não, aprendem ou não”, nesse caso
não estaria preocupado.
A comunicação eficaz tem de ser suada, isso implica sempre algum
nervosismo e ansiedade.
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Deixem-me contar-vos outra história. Quando eu participava nas "Noites
Marcianas”, uma vez um dos convidados era um locutor de rádio muito conhecido,
já vos digo o nome. Eu achava que ele se ia safar lindamente mas aconteceu o
contrário. Ele gaguejou, tremeu, mexia os pés, fazia disparates e no intervalo
teve de ir trocar de camisa porque estava todo suado.
Isso era de nervosismo. Mas ele não desistiu devido a essa
experiência: treinou, treinou e treinou e conseguiu.
Chama-se José Carlos Malato.
Gisela Martins
Numa campanha eleitoral, o que é mais importante: o conteúdo das
propostas ou a forma de as comunicar?
Dep.Carlos Coelho
Ambas são importantes. Substância e forma são ambas importantes.
Vocês têm quatro opções:
- não terem nem substância nem forma, que resulta num fiasco total.
- podem ser bons na substância mas maus na forma: satisfaz-nos a
consciência mas é ineficaz em termos políticos.
- ou bons na forma mas maus no conteúdo: aí estamos a enganar as
pessoa.
- só o quadrante das duas variáveis em bom plano é que tem sucesso
político. Quando temos substância e forma.
Cristiana Santos
Obrigada por esta partilha de conhecimentos.
O Grupo Bege considera que o país ainda tem uma taxa de analfabetismo
elevada. Há também um baixo nível de escolaridade médio em Portugal.
Quando os políticos falam, não têm por vezes consciência de estar a
dirigir-se a um público geral e usam linguagem elegante, técnica, pouco clara.
Não poderá ser essa uma das principais razões do afastamento das pessoas
face à política?
Muitas vezes as pessoas acham que os políticos não lhes querem
responder com honestidade e no fundo trata-se de más técnicas de comunicação.
Obrigada.
Dep.Carlos Coelho
Aquilo que disse é verdade mas é um pouco como o sal na comida. É preciso
encontrar o justo equilíbrio. De uma forma geral, a regra é: devemos baixar o
nível da linguagem para ser entendida por um leque mais alargado de pessoas. Se
eu for muito erudito, estou a limitar a minha audiência.
Mas não posso baixar tanto tanto que seja acusado de banalizar,
vulgarizar ou tornar ridículo ou tosco o que estou a dizer.
Na realidade, tem razão naquilo que disse: há hoje uma utilização
generalizada de palavras muito fechadas. O politiquês, o eduquês, o economês,
etc. Porém, a regra de abstenção deste vocabulário aplica-se aos grandes "mass media”. Se eu estiver perante uma
audiência, a regra que vale é eu responder ao meu target. É diferente falar num lar de terceira idade ou numa
assembleia de jovens, num clube de pescadores ou numa reunião de advogados.
Dr.Rodrigo Moita de Deus
É verdade, e lembrem-se que tecnicamente o pública organiza-se em
pirâmide. No topo a classe A e depois sempre descendo.
Apesar de se falar de analfabetismo, o país tem mudado. A tendência é
aumentar a literacia.
E, em bom rigor, as pessoas cujo opinião é escutada e seguida, os opinion makers, esses têm um nível de
literacia. Se eu descer muito o meu nível e não os tocar com o meu discurso,
não terei ninguém que me recomende.
Esse é um dos motivos pelos quais não se pode descer muito.
E há também uma questão de imagem. Se virem a Assembleia da República,
está tudo vestido de igual. Fato azul ou cinzento. Até elas. E até chegarem à
extrema esquerda, que são aqueles senhores que não usam gravata. São os
"diferentes”. Os do Bloco de Esquerda.
Duarte Marques
E da JSD.
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Sim, da Jota também. Estou a ser injusto.
Mas a verdade é que é tudo igual. E as pessoas quando os vêem lá em
casa, dizem que são todos iguais.
Daí eu vos dizer: não tenham medo da diferença.
Pedro Figueiredo
Sabendo que o PSD, nas anteriores legislativas, recorreu a uma equipa
técnica de comunicação, será que assistimos a uma mudança de paradigma em que
um bom político, uma boa campanha deixa de ter por base o bom orador e passa a
ter aquele que recorre às melhores equipas técnicas? Obrigado.
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Você já fez uma campanha? Então sabe da complicação e do trabalho que
dá, certo? Já uma volta para organizar, 30 jornalistas para acompanhar,
comunicados para escrever, há que estar com atenção a cada minuto.
Não me repugna que os partidos ou empresas procurem ajuda técnicas
quando precisam. Vêem fazer cartazes, comunicados, trabalhar. É normal.
E nós já vivemos isso há alguns anos. O Guterres também tinha
profissionais com ele. O Barroso tinha uma equipa de marketing. Lá foram faz-se
constantemente.
Aliás, é impossível ou insustentável as empresas ou partidos terem
esses recursos todos de quadro.
Será que isto torna as campanha falsas? Não! Aquilo que uma equipa
técnica tem de fazer é pegar no programa e nas ideias dos candidatos e
trabalhar para que se tornem visíveis. Os consultores de comunicação não são
homens das ideias políticas. São homens da técnica. As ideias são vossas. Nós
ajudamos a transmiti-las.
Bernardo Branco Gonçalves
A minha pergunta é um pouco diferente.
Qual é a personalidade que, em vosso entender comunica melhor no
panorama português.
Pedia que a mesa funcionasse com um júri, Duarte incluído, e tentassem
eleger um político que fosse o melhor comunicador. Se acharem relevante para o
debate, claro.
Dr.Rodrigo Moita de Deus
José Sócrates: esse sim é um artista.
Ele fazia aquilo na perfeição. Lembram-se do episódio do ângulo de
filmagem? O país estava a entrar em bancarrota e ele a perguntar "Luís, fico
melhor assim ou assim?!”...
Carla Ferreira
O Ministro das Finanças tem sido elogiado e criticado pela sua forma
de comunicar. Como a avaliam?
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Ontem, na televisão, alguém dizia que só se tem uma oportunidade para
causar uma primeira boa impressão e que o Ministro tinha falhado três. Eu
respondo-vos que o Ministro não está lá para causar boas impressões. O tempo
das boas impressões levou o país à bancarrota.
O tempo das intervenções de Vítor Gaspar não é uma preocupação do
país. Até março do próximo ano, devemos preocupar-nos com tudo nas finanças
menos com o poder de comunicação do Ministro.
[APLAUSOS]
Dep.Carlos Coelho
Eu acrescento o seguinte: a política também se faz em função do
momento e é preciso saber fazer a diferença.
A opinião pública às vezes cansa-se de um estilo e quando isso sucede
é bom ter outro estilo.
Talvez o Ministro das Finanças fale um pouco demais mas as pessoas
percebem que ele não se está a tentar impor mas sim a explicar.
Isto não pode é cansar. É impossível manter este estilo por muitos
anos.
Mas vejamos que um estilo que pelos livros devia ser evitado, em
determinados momentos políticos pode ser desejado.
E há posturas que as pessoas mais facilmente aceitam em certos
intervenientes que noutros.
André Couceiro
Eu não vou agradecer a vossa presença aqui, vou agradecer a minha
porque tem estado a ser uma honra. E eu devo-vos a minha presença aqui.
[APLAUSOS]
Após o boom dos "social media” acham que no futuro estes meios tendam
a regredir, devido a uma diminuição do número de utilizadores – com receio de
partilhar informação globalmente?
E quanto ao filme "Message from Portugal to Finland”, que serviu para
aumentar o moral do nosso país, que consequências teve?
Que resultados atingiu?
Dep.Carlos Coelho
Eu sei que a modéstia do Rodrigo vai levá-lo a diminuir a grande
responsabilidade que ele teve na realização desse filme mas é mais uma coisa
que ficamos a dever à sua grande criatividade.
[PALMAS]
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Pela forma como o mundo evolui, as redes sociais vão sempre
aumentando. Porque fazem de nós produtores de conteúdos. Todos temos essa
capacidade de concorrer com as televisões.
Portanto, a tendência é aumentar!
Nós podemos pôr a televisão no computador mas não o inverso. E o
computador vai engolindo cada vez mais a televisão.
Para responder à segunda pergunta: o vídeo teve consequências reais. O
filme era dirigido aos finlandeses mas os destinatários da mensagem era os
portugueses. E ideia era que começássemos a olhar para nós de outra maneira.
Levantem o queixo e acabem com o miserabilismo.
Eu discuti o vídeo com o Presidente da Câmara de Cascais, se o
fazíamos ou não, e ele foi apresentado nas Conferências do Estoril, com o
discurso do Presidente, e ele não teve medo de fazer diferente. Tinha dois
prémios Nobel sentados à sua frente.
E em vez de fazer uma coisa monótona, chata, quis mesmo passar a
mensagem de maneira diferente. Porque sabia que quanto mais diferente fosse,
mais impacto teria.
Essa é que é a grande lição do vídeo.
António Roxo
A minha pergunta é mais dirigida ao Rodrigo, enquanto blogger do 31 da
Armada.
Os blogs são cada vez mais lidos. Há vídeos ou blogs mais vistos que a
maioria dos debates na televisão.
E eu pergunto: já se chegou à definição de um blog? O que é um
blogger? Qual o seu poder? Até que ponto um político pode aproveitar esse
poder?
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Nós temos um ministro que é blogger, para além dos outros assessores,
chefe de gabinete, etc. O blogger não é um estatuto: eu não tenho carteira
profissional.
Antigamente havia muitos blogs, agora há menos mas têm mais audiência.
Os pequenos blogs foram-se transformando em twiters, facebook, e foram ficando
os grandes blogs, que são hoje – na prática – jornais online.
Hoje tenho pessoas a trabalhar a tempo inteiro para o 31 da Armada.
Estão a fazer um documentário sobre a vida do Dr. Pacheco Pereira, que vos
recomendo
[RISOS]
é já uma estrutura profissional.
O que é um blog? É um sítio muito simpático, onde é muito rápido
publicar ideias. Mas não falemos só em blogs, falemos também do facebook e
outros mecanismos de produção de conteúdos.
Esse é que é o verdadeiro poder: conseguirmos produzir conteúdos e
termos muitos consumidores do mesmo.
E ser blogger não é ter uma profissão: é o aproveitamento de uma
ferramenta tecnológica para passar a mensagem.
Gonçalo Picarote Rodrigues
Devo dizer que estou maravilhado por esta apresentação. Obrigado por
me terem escolhido para estar aqui.
A minha pergunta é a seguinte: imaginemos que uma iniciativa sofre uma
hora de atraso. De que forma conseguimos apagar a má imagem, anulando a ideia
que os organizadores faltaram à consideração e ao respeito aos presentes?
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Essa resposta já lhe foi dada no início da própria Universidade de
Verão: não se atrase!
Rogério Gomes Gouveia
Eu sou madeirense, pertenço à ilha mais bonita de Portugal e tenho
orgulho no meu presidente, o Dr. Alberto João Jardim. Porém, o Dr. Alberto João
podia, no meu ver, melhorar a sua forma de discurso.
Ainda há pouco tempo, num arraial madeirense, expulsou uma jornalista
dentro de uma igreja.
Atendendo à personalidade do Dr. Alberto João, qual acham que devia
ser a sua forma e conteúdo ?
Dep.Carlos Coelho
Obrigado pela pergunta sincera. A resposta vai também ser sincera: tem
tudo que ver com target. O Dr. AJJ,
na maior parte das suas intervenções tem um público-alvo, que é a população da
Madeira.
E tem feito uma comunicação, concordando ou discordando, que é eficaz.
Renova sempre a maioria absoluta.
O problema é que o Dr. AJJ tem visibilidade nacional. Uma comunicação
que é eficaz para a Madeira, compromete a sua imagem a nível nacional. Acontece
o mesmo com os sindicalistas. Estes têm uma comunicação muito focalizada no seutarget mas cometem excessos de
linguagem que faz comprometer a sua imagem junto de outros sectores da
sociedade.
Portanto, perguntem-se qual é o vosso objectivo. Se o objectivo é
ganhar uma Junta de Freguesia, mesmo que tenham visibilidade nacional, falem
para o vosso público. Se quiserem ganhar uma associação de estudantes, não vos
interessa ter um discurso que agrade aos professores, porque o vosso alvo são
os colegas.
O Dr. AJJ tem um target:
tudo o resto são danos colaterais.
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Há também uma componente histórica para percebermos a figura do Dr.
AJJ. Quando se candidatou pela primeira vez à Madeira, a ilha era pouco
estratificada. Havia a "madeira velha”, pessoas de uma diminuta alta burguesia,
e todo o resto da população. Quem detinha os meios de comunicação era a tal
"madeira velha” e o Dr. AJJ teve de dispensar essa forma de comunicação para
falar directamente para o seu eleitorado.
Permitam também que vos diga que o Dr. AJJ tem dois méritos
absolutamente extraordinários.
O primeiro é o de ser dos políticos mais inteligentes deste país. Não
há um dos seus tão badalados "disparates” que seja por acaso. Ele tem sempre um
objectivo claríssimo.
Isto tem a ver com outro dos seus méritos. Sabem qual é a segunda
região mais rica do país? É uma ilha, um penedo no meio do mar. Ele fez da sua
ilha uma região extraordinária.
Nuno Pimentel Gomes
Muito obrigado.
Eu tenho estado a criar um comportamento quase pavloviano sempre que o
senhor Ministro de Estado e das Finanças fala. Sempre que faz um anúncio ou eu
chego mais pobre ao escritório ou tenho de dizer à minha mulher que ela está
mais pobre.
Diz-se que o senhor Ministro já teve três boas hipóteses de fazer boas
figuras. Eu acho que ele faz sempre boa figura, o problema é que – talvez
- a substância e a forma estejam
desenquadradas com os paradigmas que tínhamos anteriormente.
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Eu já vou à pergunta mas lembro aqui uma história engraçada.
Certa vez houve uma greve na TAP e a jornalista entrevistou um
passageiro muito irritado que dizia: "estou muito irritado, isto é um problema
de comunicação”.
Não: o problema é da greve e de não haver voos. Mas as pessoas
confundem e acham que o problema é da comunicação.
Aquilo que, no tocante ao Ministro, mais nos maça são os anúncios
constantes para dar más notícias. Não podia ser tudo de uma só vez? É a
pergunta que fazemos.
Eu não estou lá mas julgo que não podia ser tudo de uma só vez. Se
eles pudesse fazer de um modo diferente, fá-lo-iam.
E tenho outra ideia, de que todos nós nos esquecemos: o país faliu
mesmo! Não tenham uma dúvida sequer. O país está em bancarrota. Acabou o
dinheiro.
E muito embora vocês não sintam isso, ou sintam-no menos no vosso
bolso, estamos a falar de coisas tão simples como os funcionários públicos
deixarem de ter ordenado.
E aconteceu uma coisa curiosa: o Estado faliu primeiro que os seus
cidadãos. E, para além de falir, estamos a dever muito muito dinheiro. É por
isso que insisto: o Ministro das Finanças deve ser julgado por tudo menos pelo
seu poder de comunicação.
Já agora, uma pergunta: você aceitava ser ministro nesta altura? Algum
de vós aceitava ganhar menos do que habitualmente para passar os dias nos
jornais a ser insultado? E ser Ministro das Finanças? Acha que o Ministro das
Finanças continua a ir ao seu café do costume, onde já ia há 30 anos?
Nestas circunstâncias, ser ministro não é uma honra, é um sacrifício.
Aquele homem sabe que vai lá estar durante 2 ou 4 anos e que não vai fazer um
único amigo. Ele sabe disso. E, de cada vez que se senta, cheio de paciência,
para explicar durante uma hora e meia que vai ter de tirar mais dinheiro à sua
própria família, aos seus amigos e às pessoas que o rodeiam, ele sabe que no
final do seu mandato não lhe vai sobrar ninguém.
Ele merece tudo menos ser julgado pela duração das suas intervenções.
Rui Bernardino
Eu gostava de perguntar como se conquista uma plateia que revela má
vontade ou cujas ideias são completamente antagónicas.
Dep.Carlos Coelho
É sendo inteligente, Rui. É atendendo à ideia que a imagem simpática é
mais importante na primeira intervenção que a própria substância, e encontrar
pontos comuns.
Dou-vos um exemplo concreto.
O Dr. António Vitorino foi convidado a vir à UV há dois anos.
Ele sabia que vinha falar para um público laranja e as primeiras palavras
dele, com muito humor – o Rodrigo dizia que o humor era importante -, geraram
logo a simpatia da assembleia.
Que disse ele? Brincou com o facto do Prof. Marcelo não ter vindo e
com a circunstância do Prof. Marcelo ser o comentador político "dos domingos”,
ele próprio ser o "das segundas” e a Constança Cunha e Sá ser a "das terças”. E
disse: "quando o Carlos Coelho me convidou para vir à Universidade de Verão, eu
fiquei intrigado, mas agora percebi tudo. O Prof. Marcelo não pode vir e o
Carlos convidou o comentador da segundas. Mas podia ser pior, se não viesse eu,
estaria cá a Constança Cunha e Sá, que é a comentadora das terças”.
E conquistou assim a assistência.
Uma nota de humor pode criar uma ponte.
Criar essa ponte é importante. Uma vez falei para uma assembleia de
comunistas. Defini os pontos que queria focar e um deles era o património comum
de luta pela democracia, que também lhes reconheço.
Os mais antigos que lá estavam terão pensado: este senhor pode ser
fascista mas é um democrata. Encontrei uma ponte comum.
Portando, devem ter gestos de simpatia, de humor ou encontrar pontos
comuns. Isso garante que não seremos enxovalhados quando falarmos para um
público adverso.
Pedro Sousa
Os portugueses são temperamentais como os sul-americanos. Que técnicas
devemos usar para manter o sangue-frio?
Dep.Carlos Coelho
Aqui não há técnica, há autocontrolo.
Eu não sou a melhor pessoa para vos falar disto porque já por uma ou
duas vezes perdi o controlo. Claro que não perdi a postura mas perdi os
melhores argumentos porque estava muito irritado. Graças a Deus não me exaltei,
mas perdi na eficácia da resposta.
No Parlamento Europeu já se deu o caso de um deputado português
agredir um deputado inglês e foi suspenso durante três dias. Já foi há muitos
anos.
Quando respondemos com irritação, perdemos sempre.
Repito que felizmente não me exaltei, mas perdi na eficácia da
resposta.
Cada um tem as suas técnicas: respirar devagar, pensar na avó, olhar
para o céu, etc.
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Já agora o deputado português era o Rosado
Fernandes, que não gostou que o inglês o tivesse acusado de estar ao serviço do
lobby das tabaqueiras. Foi lá e bateu-lhe.
Eu achei bonita essa defesa da sua própria
dignidade.
Marta Lopes
Pergunto se não acham que hoje, nos dias
que correm, as pessoas comunicam mas não se sentem sempre responsabilizadas por
aquilo que dizem e exteriorizam?
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Tem toda a razão.
Antigamente o papel durava muito tempo.
O efeito da televisão era também outro.
Antes as palavras de cada um perduravam
muito mais no tempo.
Hoje em dia temos um mural, uma publicação
onde vão caindo posts.
E o último é que conta, porque as
anteriores palavras foram perdendo efeito, até desaparecerem no mural.
Eu estou a dizer isto relativamente ao
facebook e à blogosfera mas podia estar a falar de políticos. Eles hoje falam
cinco vezes. E o que é notícia de manhã já não é à tarde. O mundo passou a
viajar a outra velocidade.
Por isso foi tão divertido fazer aquele
vídeo do 31 da Armada. Já ninguém se lembrava que José Sócrates tinha dito que
se demitia se o orçamento chumbasse. E 15 dias depois estava a fazer o
contrário. E já ninguém se lembrava.
Era preciso quem trouxesse à luz esse
vídeo.
A vida está cada vez mais facilitada: a
rapidez, a desresponsabilização, a cadência.
Cabe a todos vós fazer a parte mais difícil
que é não serem os maus.
Pedro Roberto
Falamos muito das vantagens das redes
sociais e menos das desvantagens que eventualmente tragam.
Há cerca de uma mês, deu-se uma "explosão social”,
as palavras não são minhas, muito impulsionadas pelas redes sociais. O
vandalismo causado deu-se muito por culpa da comunicação expansiva que teve
lugar.
Acham que as redes devem sofrer alguma
transformação para essas situações terríveis deixarem de acontecer?
Dep.Carlos Coelho
A minha resposta é não.
Todos os instrumentos podem ser usados para
o bem ou para o mal.
Se eu tenho uma faca, posso usá-la para
descascar uma peça de fruta ou para matar.
Um copo de vinho pode ser usado para
desfrutar ou para embriagar.
Eu posso usar uma câmara de videovigilância
para garantir a segurança dos cidadãos ou para devassar a sua privacidade.
Tudo pode ser usado para o bem e para o
mal.
A resposta errada é dizer: porque um
instrumento foi mal usado, vamos proibi-lo. Isso já aconteceu na História. A
Lei Seca, nos Estados Unidos, veio proibir o álcool.
Nos aviões passou a haver talheres de
plástico.
A pergunta é: vamos ter de regulamentar as
redes sociais para não acontecer o que vimos no Reino Unido? A minha resposta é
não, porque isso é uma limitação da liberdade.
De facto foi mau o que essas redes fizeram
no RU, mas foi bom o que fizeram no Egito, na Tunísia, na Líbia, na Síria, onde
foram o instrumento da liberdade de um conjunto de jovens que eram oprimidos
por regimes ditatoriais e encontraram nas novas tecnologias a forma de se
organizar e fazerem cair ditaduras que existiam há décadas.
Podemos dizer que num caso é bem utilizado
e noutro não?
O problema não está nas redes sociais, está
em quem pratica crimes.
Sob este ponto de vista, a abordagem das
autoridades britânicas foi a correcta: havendo provas da prática de desacatos
(imagens de rua de pessoas a partir montras, a atearem fogo, etc) leva as
pessoas à Justiça. A Justiça está a ter mão de ferro e eu acho bem.
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Eu estou totalmente de acordo com o Pedro.
Acho que devíamos formar aqui uma comissão.
Essa comissão, que vai julgar aquilo que se pode escrever e não pode escrever,
precisa de ferramentas de monitorização de tudo o que é escrito. Para depois de
poder dizer se isso pode ser escrito ou não.
Mas para fazermos isso, temos primeiro de
controlar o acesso à internet, certo? Ter um único mainframe para toda a
internet passar por ali.
Depois teremos de cortar as ligações aos
outros países, para não existirem bypasses, em que uma pessoa finge que está a
escrever em Madrid, como hoje acontece. Temos de controlar isso.
Cortamos todas as outras ligações à
internet, à excepção daquela que usamos para monitorizar tudo aquilo que os
outros escrevem para decidirmos se o podem escrever ou não.
Outra coisa a fazer é definir as
consequências imediatas: se uma pessoa prevaricar vai enfrentar um regulamento
punitivo. E tem de haver meios para pôr em prática esse regulamento. Para a
polícia poder actuar.
Eu acho que esse modelo já existe, Pedro,
num país chamado Coreia do Norte.
Ronaldo da Rosa
Eu acho que no discurso político não
devemos tomar posições muito convictas ou dizer "desta água não beberei”.
Tivemos um ministro que disse "margem sul jamais” e depois foi tomada precisamente
a opção pela margem sul.
Gostava de saber a vossa opinião.
Dr.Rodrigo Moita de Deus
Ainda bem que cita o saudoso ministro Mário
Lino.
A frase que referiu foi por ele proferida
num encontro com engenheiros e, no seu rigor, a frase é esta: "estive reunido
com ambientalistas e todos eles dizem que na margem sul jamais!”.
Ele nunca disse que não faria o aeroporto
na margem sul mas sim que os ambientalista nunca o permitiriam. Textualmente.
Foi um erro de comunicação e deve-se ao
simples facto da palestra ter sido dada depois do almoço...
Dep.Carlos Coelho
Há um livro de que gosto muito, "O
horizonte perdido”. No livro, um avião é desviado para o Tibete e um conjunto
de ocidentais encontra uma civilização perdida. Essa civilização é baseada na
tolerância. Tudo é tolerante, até a própria abordagem da tolerância, ou seja,
há coisa em que eles são excessivos.
A mesma coisa se passa com o nunca. Não se
deve dizer nunca mas esse nunca não pode ser levado muito a sério. Porque há
coisas em que eu digo "nunca”. Poucas.
Se me perguntarem se eu alguma vez
admitirei a pena de morte, eu digo "nunca”, porque para mim o valor da
dignidade da vida humana está acima de tudo.
Há para mim quatro ou cinco valores
matriciais em que devemos dizer "nunca”.
Mesmo que seja um grande assassino. Nunca!
A História está cheia de erros judiciais, sobretudo na justiça americana,
muitos deles com base em preconceito racial. Há casos de pessoas que foram
assassinadas (executadas em processos judiciais que hoje se prova que estavam
errados). Todos os meses saem pessoas da cadeia por erros judiciais. Deu-se
cabo da vida de alguém durante 20 ou 30 anos.
Se a pessoa estiver viva, pode tentar-se a
reparação do dano. Se a pessoa estiver morta não é possível.
Por isso, há valores matriciais em que
devemos dizer nunca, mas no quotidiano é imprudente fazê-lo porque podemos ter
de nos desdizer.
João Magro
Muito obrigado por esta aula tão importante
para a nossa formação.
Por vezes vemos que algumas boas
intervenções são distorcidas por citações mal feitas. Há alguma forma de
reparar este dano ou é mesmo impossível?
Dep.Carlos Coelho
Duas notas breves: por vezes, aquela que
para nós é uma boa comunicação política, para outros não é. Isso tem a ver com
o target.
Eu posso declarar uma coisa para a
televisão à qual o público laranja reage achando que eu sou o maior e o público
rosa reagir achando que eu sou um aldrabão. Porque houve um preconceito.
É por isso que eu costumo frisar que aquilo
que nós dizemos não é o que nos sai da boca mas sim o que os outros entendem.
É aquilo que os outros entendem, com os
seus preconceitos, posições de partida e com as suas orelhas.
Eu era deputado à Assembleia da República e
fiz uma intervenção em que falava do recrutamento de doentes. Notem o meu
embaraço quando vos digo que o debate era sobre educação. A minha dicção não
deve ter sido a mais indicada porque disse doentes em vez de docentes. Posso
ter falado depressa demais e a senhora que fez a acta e os meus colegas ouviram-me
falar no recrutamento de doentes.
Se eu tivesse falado na televisão teria
sido complicado.
Por
isso não se esqueçam que o mais importante não é o que nos sai da boca: é o que
os outros ouvem.
Dr.Rodrigo Moita de Deus
E o melhor exemplo disso é o "jamais”. Alimentado por declarações
colaterais do próprio ministro, que falou do deserto, etc.
Isto prova que nós ouvimos com os
preconceitos todos.
Uma frase dita por mim não tem a mesma
interpretação que uma frase dita pelo Duarte.
A pergunta é: qual a fórmula de
salvaguardar uma boa comunicação política? Não há! As circunstâncias são
diferentes, os palcos são diferentes, etc.
O Churchill tinha brilhantes comunicações
políticas, a maior parte delas eram frases soltas. Eram apartes parlamentares.
Eu diria que hoje o importante é sabermos
reduzir os nossos discursos, até porque não conseguimos pôr no facebook
discursos de 2000 caracteres. Hoje, 300 já é bom.
Temos de fazer o exercício de síntese e
depois trabalhar palavra a palavra. Assim limitam-se as margens de erro e
ninguém ficará a dizer que você disse que nunca faria um aeroporto na margem
sul.
E essa foi, de facto, uma injustiça.
De tantas coisas que ele fez, ficar
associado a essa foi a maior injustiça de todas.
Cláudia de Oliveira
Na blogosfera nacional haverá consciência
dos votos que valem cada post? Devemos temer que no futuro haja um jogo de
interesses que comprometa a liberdade de cada acção?
Dr.Rodrigo Moita de Deus
A Cláudia pergunta se vamos conseguir
manter as redes sociais livres e independentes. Mas, Cláudia, eu não sou nem
livre nem independente! Nem estou lá para fazer análises imparciais!
Santo Deus! O que seria de mim!?
Se eu quisesse fazer isso tudo ia para o
Conselho Deontológico da RTP. Ou para o Sindicato dos Jornalistas, que é outra
coisa independente e rigorosa.
[RISOS]
falando a sério, eu não estou lá para
promover a isenção e o rigor. Estou lá para defender as minhas causas, as
minhas ideias e os meus amigos. Assumidamente.
E isso é um exercício de liberdade. Esse é
que é o exercício de liberdade: termos a possibilidade de defender os nossos
amigos, causas e ideias sem que nos venham apontar o dedo acusando de
parcialidade.
Eu sou assumidamente comprometido: sou
militante do PSD, sempre disse isso. Eu trabalhei na Assembleia da República,
os contribuintes já me pagaram o ordenado!
Vou agora defender o contrário do que o meu
partido defende? Às vezes pode acontecer.
[UM MINUTO INAUDÍVEL]
Tiago Cunha
A minha questão é a seguinte: na penúltimas
eleições, provou-se que uma excelente mensagem mas com uma forma pouco
apelativa perdeu contra um mau conteúdo embrulhado numa excelente forma.
Como evitar que estar coisas aconteçam?
Dr.Rodrigo Moita de Deus
A minha resposta é um pouco cínica: as
pessoas adoram ser enganadas. Adoram ser enganadas e mandadas.
É uma coisa dramática para quem faz
política porque se sente tentada a enganá-las...
São duas más características mas as pessoas
sentem-se mais tranquilas se forem bem mandadas e enganadas.
O que foi curioso é que as principais
linhas eleitorais do PSD não mudaram de 2009 para 2011. O que mudou foi o país.
O que mudou foi o outro senhor ter sido
apanhado.
E voltamos ao princípio da nossa conversa:
a vida é muito mais facilitada para os vigaristas.
O caminho difícil é o outro.
Você perguntará: "a campanha de 2009 foi um
desastre?”. Não, não foi. Nem nunca poderemos meter na cabeça que dizer a
verdade é um desastre. Esse é um mau caminho e estaremos todos no sítio errado
se pensarmos assim. É indigno estarmos aqui e apresentarmo-nos dessa maneira.
Mudar a mentalidade das pessoas começa
também aqui nesta sala. Começa em vocês. Começa em deixarem de julgar o
Ministro das Finanças pelos seus dotes de comunicador e serem capazes de
explicar às pessoas que aquele trabalho não é fácil. Ele não está lá para ser
amado. Esse tempo acabou e essa é, também, a mensagem que vocês têm de levar
daqui.
Dep.Carlos Coelho
Eu concordo com as palavras do Rodrigo e
acrescento o seguinte: se o nosso adversário tem muita forma e pouca
substância, devem explorar essa fragilidade. Muito do combate político reside
no explorar da fragilidade do adversário.
E devemos tornar essas fragilidades
evidentes. Eles parecem bem mas por detrás da figura não há mais nada.
Em todo o caso, isso pode não ser
suficiente no imediato, mas fica a semente. Porque um partido não vive para um
ano ou três: a campanha eleitoral está limitado no tempo mas a campanha
política permanece, e um partido não vive para uma eleição. Ele é um património
de discurso e credibilidade que vai conquistando a cada momento.
Hoje há muita gente que olha para o nosso
discurso de 2009 e diz: eles afinal tinham razão. Isso dá-nos credibilidade.
Notas finais.
Vocês já terão percebido por que razão a
obrigatoriedade de todos falarem na UV é uma das coisas singulares da nossa
distinção face a outros eventos formativos.
Não se trata apenas da lição que vos damos
de resolução de diferendos internos na distribuição de trabalho. É mais do que
isso: não é possível estabelecer formas de comunicação política sem a
oralidade. Esta é essencial na comunicação política e nisso a UV é singular
porque não há hipótese de algum de vós entrar mudo a sair calado.
Todos são obrigados a falar e alguns falam
em público pela primeira vez. Isso é uma mais-valia.
Deixo-vos três mensagens finais:
- não tenham medo do medo: o medo pode
ajudar-vos.
- não esqueçam o vosso target: saibam qual
é o público a quem se querem dirigir.
- não se esqueçam que a comunicação eficaz
é aquela que tem substância e forma. Se for apenas uma das duas, não têm uma
comunicação equilibrada.