ACTAS  
 
30/08/2011
Jantar-Conferência com o Prof. Doutor Nuno Crato
 

[POEMAS: "Mostrengo”, por Cristiano Gaspar, e "Liberdade”, por Patrícia Brighanti]

 
Bruno Brito

Boa noite a todos. Espero que o jantar tenha sido do vosso agrado. Em nome de todos os elementos da Universidade de Verão, o grupo Verde gostaria de agradecer a presença, do nosso conferencista desta noite, o Professor Doutor Nuno Crato, que amavelmente aceitou estar connosco neste excelente repasto para nos enriquecer com as suas palavras sábias e acerca das políticas educativas e do Futuro do País. Perante currículo académico tão rico é complicado reduzir num curto espaço de tempo, como poderão constatar no folheto que têm à vossa frente, os feitos e dados biográficos do actual Ministro da Educação e Ciência do XIX Governo de Portugal.

O Professor Doutor Nuno Crato nasceu em 1952 em Lisboa, tendo-se licenciado em Economia no Instituto Superior de Economia e Gestão. Também no ISEG obteve o grau de Mestre em Métodos Matemáticos para Gestão de Empresas, trabalhou posteriormente para a Norma e foi director de Estudos de Consultoria da Norma Açores. Doutorou-se em Matemática Aplicada nos Estados Unidos na Universidade de Delaware, tendo trabalhado posteriormente vários anos neste país como investigador e professor universitário. É membro de várias sociedades científicas, nomeadamente da American Statistical Association e do International Institute of Forecaster. Foi ainda Presidente em 2000 do International Simposium of Forecasting.

O Professor Doutor Nuno Crato tem ainda diversos trabalhos de investigação publicados em revistas reconhecidas internacionalmente, tendo ainda contribuído regularmente com a Imprensa, nomeadamente com o jornal Expresso. A escrita é pois uma das suas práticas habituais, tendo sido autor de obras como "Zodíaco, Constelações e Mitos”, publicada em 2001, "Passeio Aleatório” publicada em 2007 e "Matemática das coisas” publicada em 2008. Foi também co-autor de diversas obras como poderão constatar também no folheto à vossa frente. Publicou ainda "O Eduquês em discurso directo, uma crítica da pedagogia romântica e construtivista”, coordenou a obra "O desastre no ensino da Matemática, como recuperar o tempo perdido” e a conferência nacional em 2008 na Gulbenkian sobre "Matemática e o Ensino, questões e soluções”. Coordenou também o projecto de educação da Fundação Francisco Manuel dos Santos, conhecida fundação de investigação portuguesa.

O Professor Doutor Nuno Crato ganhou alguns prémios, tendo-lhe sido atribuído em 2003 pela Sociedade Europeia de Matemática o primeiro prémio do concurso público Awareness of Mathematics, em 2008 foi-lhe atribuído pela Comissão Europeia, o European Science Award, também em 2008 foi agraciado com o grau de Comendador da Ordem Infante D. Henrique.

Refira-se ainda que o actual Ministro da Educação e Ciência foi pró-Reitor para a cultura científica da Universidade Técnica, Presidente da Comissão executiva do Tagus Park e Presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática.

O nosso ilustre conferencista tem como hobby principal ler, o animal preferido é o cão, como comida tem um gosto saudável, peixe grelhado. O livro preferido é "Rousseau e outros cinco inimigos da Liberdade”, de Isaiah Berlin da editora Gradiva; o filme é "Matchpoint” de Woody Allen e a sua principal qualidade é a franqueza.

O nosso muito obrigado pela sua presença nesta Universidade de Verão, é uma honra tê-lo aqui connosco e proponho então um brinde ao Professor Doutor Nuno Crato.

[BRINDE E APLAUSOS]
 
Dep.Carlos Coelho

Senhor Ministro da Educação, senhor Presidente da JSD, senhor Directo-Adjunto da Universidade de Verão, senhores deputados à Assembleia da República, senhores Presidentes da Câmara Municipal e da Assembleia Municipal de Castelo de Vide, senhores conselheiros, senhores avaliadores, minhas senhoras e meus senhores, estamos no primeiro jantar-conferência da Universidade de Verão 2011.

Creio que começamos com chave de ouro. O Bruno já teve ocasião de salientar e bem o percurso notável de um académico brilhante a quem fizeram o desafio da vida. Depois de ter escrito tanto e de forma tão contundente sobre o Sistema Educativo, cabe-lhe agora a responsabilidade de ajudar a melhorar a Educação em Portugal.

Nesta Universidade de Verão esse é um valor que nós sentimos bem. O senhor Ministro tem à sua frente cem jovens que prescindiram de uma semana das suas férias para se concentrar no estudo e no debate de questões da actualidade. Naturalmente, sendo uma formação política é multidisciplinar, comporta Economia, Ciência Política, Ambiente, Comunicação. Discutir o que é que pode ser o futuro do País faz todo o sentido na Universidade de Verão 2011.

A verdade é que vivemos tempos de crise, que obrigam os decisores públicos a fazerem um esforço de contenção e a darem mais valor à alocação daquilo que é o tesouro dos Portugueses e é natural que a barganha à volta do Orçamento coloque uma responsabilidade acrescida aos decisores políticos. Não se trata apenas de ter boa ideias – e tenho a certeza que no seu caso, Professor Nuno Crato, as tem –, trata-se de saber como é que elas podem ser levadas a prática. Portanto, sob esse ponto de vista faz todo o sentido que, tendo eu o privilégio de lhe dirigir a primeira pergunta, ela seja sobre esta questão fulcral. Quando estamos a discutir qual deve ser a prioridade na alocação dos recursos faz, hoje, sentido investir na Educação?

Minhas senhoras e meus senhores, para responder à minha pergunta e às vossas perguntas, no primeiro jantar da Universidade de Verão 2011, o Professor Doutor Nuno Crato.

[APLAUSOS]

 
Nuno Crato

Obrigado. Muito obrigado. Boa noite, senhor deputado Carlos Coelho, Reitor da Universidade de Verão, muito obrigado pelo convite.

Bruno, muito obrigado pelas referências que me fez. Deixe-me fazer uma pequena precisão, não sei se a minha principal qualidade é a franqueza, gostaria que fosse, é a qualidade que eu mais aprecio nos outros.

Senhores deputados, senhor Presidente da Câmara, senhor Secretário-Geral do Conselho Nacional da Educação, senhor Presidente da JSD e vocês, que tiraram dias das vossas férias para estarem aqui, conversarem uns com os outros, aprendendo, discutindo, trocando experiências, neste ambiente muito diverso onde há estudantes de Filosofia, onde há pessoas de quinze anos, outros de trinta, onde há uns ainda mais velhinhos, pelo menos hoje como eu, muito obrigado pelo convite, para mim é uma honra muito grande estar aqui.

É uma honra muito grande estar aqui, no Partido que me convidou para este Governo e como independente, evidentemente simpatizante do PSD e do programa do PSD, do programa do Governo com o qual eu me identifico, é uma grande honra poder colaborar com o pouco que sei, numa tentativa - que vai ter sucesso - de melhorar o País e ultrapassar este momento muito difícil em que estamos.

Nós estamos num momento muito difícil e julgo que a pergunta que o deputado me fez faz todo o sentido, estamos num momento em que vale a pena investir na Educação. Eu acho que faz sentido, mas acho que a resposta deve ser "sim, vale a pena investir na Educação, precisamente por estarmos num momento difícil”. Porque nós estamos num momento muito difícil, temos problemas de curto prazo e problemas de médio prazo, mas temos um problema que é fundamental para o nosso País todo, não hoje, não amanhã, não daqui a dois anos, mas daqui a três, quatro, cinco, dez, vinte, trinta, quarenta, esse problema é a formação dos nossos jovens. De vós que aqui estão e dos que vêm a seguir e o desenvolvimento do País que se faz com acção humana.

Então, vamos recuar um bocadinho e pensar para que é que vale a pena a Educação. Deixem-me começar por um aspecto que pode parecer prosaico e pode parecer materialista - e perante tantos idealistas como os que aqui estão parecer materialista pode ficar mal, mas deixem-me vos dizer uma coisa: estudar vale a pena para se poder ganhar mais dinheiro. Eu acho que devemos dizer isso aos jovens, porque o mundo faz-se com idealismo mas também se faz com incentivos, faz-se com decisões que são feitas com as opções que as pessoas têm e uma das opções que se têm enquanto jovem e mesmo mais tarde é de nos prepararmos para a vida e estudar vale a pena porque se ganha mais dinheiro.

Deixem-me citar-vos alguns números, com diferentes níveis de escolaridade. Com quatro anos ou menos escolaridade o salário médio em 1982 era 520 euros, com o Ensino Secundário completo era 799, e os licenciados tinham um salário médio de 1339. Portanto, vocês estão a ver a diferença que há do potencial de se estudar, a diferença que há para se ganhar mais.

Se passarmos de 2006, reparemos que o incremento é bastante grande, não nos que têm quatro ou menos anos de escolaridade e no Ensino Secundário também não é muito significativa pois passam de 799 para 861, mas sobretudo para os licenciados que passam de 1339 para 1625. Portanto, isto quer dizer que estamos a falar em médias, não estamos a falar deste ou daquele, não estamos a falar desta pessoa que estudou pouco e que graças a trabalho, graças ao seu mérito conseguiu ter um grande sucesso na vida, por contraposição um outro que estudou muito e por vários azares da vida não teve sucesso, não estamos a falar disso, estamos a falar de médias, à partida como é que estamos melhor colocados e à partida estamos tão mais bem colocados quanto mais estudarmos, quanto melhor nos preparamos para enfrentar o futuro.

Bem, estamos entre jovens idealistas portanto vocês se calhar não estão a ouvir muito aquilo que eu estou a dizer por enquanto, mas o dinheiro não é só o dinheiro, o dinheiro também é liberdade perante a vida, outro bem-estar perante a vida. Vocês são idealistas, vocês não querem pensar nisso, querem pensar no futuro do País e o futuro do País faz-se com pessoas qualificadas, faz-se com todos, mas quanto mais qualificado cada um de nós estiver mais capaz está de contribuir para o futuro do País.

Há vários estudos econométricos, ou seja, que medem as coisas de um ponto de vista estatístico, medem as variáveis económicas de um ponto de vista estatístico, há vários estudos que explicam que quanto maior é a qualificação de um país, o capital humano de um país, maior é o Produto Interno Bruto desse país, maior é a capacidade do país para crescer, maior é a riqueza do país, essas coisas estão muito quantificadas e percebe-se hoje que um aumento no PISA, vocês sabem o que é? É o Programa da OCDE de avaliação dos diversos países em termos de qualificação de quinze anos, essencialmente é isso. Um aumento no PISA significa estarmos a falar de um aumento numa medida de sucesso escolar que é feita em diversos países, uma aumento aí significa que se mede um aumento no Produto Interno Bruto de um país. Portanto, se nós qualificarmos melhor esta geração teremos um país mais rico, um país economicamente mais folgado.

Agora, deixem-me dizer-vos aquilo que vocês consideram mais importante, é que a Educação – vocês são jovens, têm de considerar isto mais importante – a Educação liberta. A libertação vale também por outras razões, que é a capacidade que nós temos de ouvir o poema de Fernando Pessoa, perceber o poema de Fernando Pessoa, gostarmos do poema do Fernando Pessoa, gostarmos e percebermos o que é o Adamastor, quem era o Mostrengo, quem era o rei D. João II, quem era Fernando Pessoa. Portanto, a Educação tem essa outra componente de elevar as pessoas. Há um texto famoso que eu gosto muito de citar, é tradução livre, uma carta francesa de um matemático que diz para outro matemático: "o senhor Fourrier (é um célebre matemático que acompanhou Napoleão na expedição ao Egipto) dizia que a matemática era muito importante pelas suas aplicações, mas ele estava errado, a matemática é importante porque a ciência constrói-se pela honra do espírito humano”. "Pela honra do espírito humano”, eu achei isto de uma grande beleza, ou seja, nós todos estudamos e estudamos a vida inteira e cada vez mais se estuda a vida inteira e investimos na Educação e queremos Educação pela honra de todos nós. Porque nos faz a todos melhores.

Se vamos olhar para as coisas do ponto de vista utilitarista imediato para que é que serve um poema de Fernando Pessoa? Para que é serve? Não serve para isto. Serve para nos fazermos todos, todos nós, melhores, melhores cidadãos, melhores pessoas.

Portanto, eu diria que em traços gerais nós precisamos da Educação, para isto, para estes objectivos, para os objectivos de cada um de nós que não são incompatíveis com os objectivos da comunidade. Isso é uma das grandes coisas da civilização ocidental, é que cada um de nós trabalhando com incentivos, com respeito mútuo e pelas regras mútuas, cada um de nós trabalhando pelos nossos incentivos, dentro da lei, com respeito pelos outros, numa sociedade democrática, promove o bem-estar comum.

Não é erro falar do ponto de vista individual, mas deve-se falar do ponto de vista colectivo. A Educação tem isso, nós temos já de trabalhar para ter uma melhor Educação, nós temos já que trabalhar para que os nossos jovens sejam mais bem qualificados. Agora reparemos uma coisa que às vezes nos ilude: os estudos econométricos mostram também uma coisa, é que se nós compararmos os países que tenham uma obrigação, por exemplo, em termos da escolarização obrigatória ou por exemplo da escolarização média da população, ou seja, quantos anos estudaram em média as pessoas deste país ou qual é a escolarização média das pessoas deste país, se formos ver o crescimento da riqueza desse país, a relação é muito ténue. Mas quando vamos comparar aquilo que de facto a população sabe e aquilo que de facto os estudantes sabem com o crescimento da riqueza do país vemos uma correlação muito forte.

Um dos grandes econometristas que estudou estes assuntos, que é o Hanushek, que já esteve em Portugal, tivemos a oportunidade de o ouvir, diz o seguinte: "isto é senso comum”. Ele fez esses estudos mediu essas variáveis e diz "isto é senso comum”: se nós sentarmos um jovem na escola durante 12 anos e ele passar esses 12 anos a brincar sem aprender nada é o mesmo que não estar na escola.

Portanto, o que conta não é o número de anos que se está na escola, mas sim o que de facto se aprende na escola e por isso nós não podemos mentir sobre aquilo que de facto se aprende na escola. Não podemos mentir, temos de ser realistas, temos de saber o que de facto aprendemos e não podemos pensar que basta aumentar o número de anos de escolaridade, alargar a Educação, para que as coisas todas melhorem. Nós temos de combater o abandono escolar, temos de aumentar a escolaridade obrigatória, temos de ter mais gente a ter sucesso no Ensino, mas sobretudo temos de melhorar o Ensino pois se os jovens estiverem no Ensino para não aprenderem isso de pouco serve. Temos de melhorar a qualidade do Ensino.

Agora, pergunta-se: como é que se melhora a qualidade do Ensino? São milhões de problemas que aqui existem, vocês imaginem: são problemas de currículos, de formação de professores, de organização das escolas, de autonomia nas escolas, é o problema da Filosofia, estava aqui a falar com o vosso colega e aluno desta Universidade que (por acaso é professor de filosofia) sobre o ensino de Filosofia nas escolas; são milhões de problemas.

O Ensino tem enormes problemas e vamos ter de escolher quatro ou cinco coisas fundamentais para actuar nelas e com elas conseguir melhorar o Ensino. Deixem-me falar dessas quatro ou cinco coisas, ou de algumas destas quatro ou cinco coisas fundamentais. Acho que já falei de uma essencial que é: temos de melhorar a aprendizagem. Para isso temos que melhorar os currículos, de estruturá-los melhor, não serve de nada ter currículos que sejam muito vagos, que as pessoas vão aprendendo mais ou menos ao seu ritmo, sem perceber bem o que estão a estudar.

É preciso que os currículos estejam bem estruturados, ninguém aprende de forma desestruturada, ou seja, haverá uns génios que aprendem as coisas de forma desestruturada, mas também a escola não é feita para os génios, a escola é feita para todos nós, pessoas como nós. Nós temos de estruturar melhor os currículos, temos de encadear melhor as coisas umas nas outras.

Sabem, por exemplo, o que se passa actualmente no segundo ciclo? Há muitos jovens que acabam o primeiro ciclo, que dominaram o conjunto das matérias e parece que depois de dois anos esqueceram. É porque as coisas não estão bem estruturadas. Vocês sabem e alguns de vocês lembram-se disso, ao passar por essa experiência, a quantidade de disciplinas diferente que existem no terceiro ciclo do Ensino Básico. Nós temos de estruturar tudo isso. Temos de concentrar tudo isso e temos de nos concentrar nas questões essenciais da educação. As questões essenciais são as disciplinas essenciais, tudo é importante, a Música, a Matemática, a História, a Poesia, a Literatura, tudo é importante, mas nós temos de ter algumas prioridades, temos que ver que há duas ou três coisas sem as quais não conseguimos progredir. Duas estão mais ou menos identificadas, é o Português e a Matemática, mas há outras, as Ciências, o Inglês, a Literatura, há outras que são importantes também. Por exemplo, todos falamos da importância da Educação para a Cidadania e de outras matérias mas depois perguntamos "será que todos os jovens estão a sair do 4º ano de escolaridade a saber ler e escrever e contar”? Será? A resposta é não. Isso não se passa com vocês, mas todos vocês sabem que há uma série de jovens que já estão a terminar o Ensino Básico e ainda têm grandes dificuldades em matérias básicas, como é que isso é possível?

Isso não pode acontecer: nas matérias básicas nós temos que melhorar o Ensino, nas matérias básicas nós devemos ter todos os jovens mais bem preparados.

Se um jovem tiver dificuldades de leitura, jamais terá gosto de ler o Kant ou uma poesia de Fernando Pessoa. Terá dificuldade com isso. Se um jovem tiver dificuldades nas contas básicas, nos raciocínios quantitativos, nos raciocínios formais que derivam da Matemática, esse jovem também terá uma grande dificuldade em perceber a vida Política, em saber o que é o défice, o que não é o défice, em saber o que é que significa o crescimento de "tantos por cento”, o que é que significa "dois pontos percentuais”.

Portanto, eu diria que nós temos de trabalhar para melhorar os currículos, para melhorar a formação dos professores e melhorar a avaliação. Vocês sabem, toda a gente sabe, que se nós não somos avaliados não somos desafiados a progredir e não progredimos tanto quanto podíamos progredir. É um dos factos mais estranhos do mundo: com avaliação funciona-se melhor. É uma coisa que no fundo parece um paradoxo, mas vocês pensem no seguinte: uma empresa que não faça planos e que não esteja constantemente a avaliar de que forma é que está a trabalhar no mercado, de que forma é que está a trabalhar na produção, essa empresa não está a progredir. É a mesma coisa com uma equipa, com um partido político, com uma Universidade, com qualquer grupo de pessoas, com uma pessoa individual, se nós não fizermos planos e nos avaliarmos não estamos a progredir tanto quanto poderíamos progredir.

Vocês sabem que se tiverem que estudar para um exame, fizerem um plano e disserem "esta semana vou aprender isto, esta semana vou aprender aquilo, aquela semana vou aprender aqueloutro” e se forem verificando dia a dia o que é que estão a melhorar, sabem que vão muito mais longe do que se não fizerem um plano e simplesmente disserem "ora, deixem-me estudar português” e começarem a abrir um livro e começar por ali fora a ler, a ler, a ler...

Portanto, a avaliação é importante para todo o sistema de ensino e a nossa avaliação também tem uma série de pontos fracos.

Eu estou a falar de milhões e milhões de problemas com que nós temos de trabalhar. Deixem-me falar também um pouquinho do Ensino Superior e um pouco da Ciência. Eu comecei por falar destes problemas da Educação básica porque são os mais imediatos, mais discutidos, vou falar um bocadinho do Ensino Superior e da Ciência.

Reparem uma coisa, eu até agora não falei sobre a discussão com os sindicatos, pois não? Não falei, ou seja, há uma grande diferença entre aquilo que eu estou aqui a falar e aquilo que vocês leem quando abrem todos os dias os jornais. Porquê? Porque o principal problema da Educação em Portugal não é a avaliação dos professores. Nós queremos resolver o problema a avaliação dos professores, queremos arranjar um método em que pela avaliação os professores também se melhorem a eles próprios tal como os estudantes melhoram quando têm uma avaliação e quando sabem que têm metas.

Queremos melhorar o Ensino também com a avaliação mas não é o problema fundamental. Nós estamos a procurar um sistema, temos um modelo aberto. Sabemos que não há um sistema perfeito, há várias opções por isso estamos com um modelo aberto. Há que captar diversas contribuições para ver se ultrapassamos este problema que minou tanto e durante tanto tempo as discussões sobre a Educação e passar à frente. Porque os problemas principais da Educação são estes de que eu estou a falar: é aprender! Está-se na escola para aprender.

Coisa muito estranha, durante uns anos não se falou assim, pois não? Estava-se na escola para quê? Para, diziam alguns, passar de ano, ou diziam outros para desenvolver o espírito crítico. Não, isto é tudo importante, passar o ano e desenvolver o espírito crítico é muito importante, mas passar o ano sem saber é um bocado difícil...

Até se falou em tempos que se calhar o Ministério da Educação, deveria chamar-se Ministério do Ensino e no início da República, com todos ideais da República, dizia-se Instrução. Eu acho muito bem que se fale em termos mais gerais, que se diga que não é só instrução, mas não podemos esquecer a instrução, não podemos esquecer as funções básicas da escola.

Não sei se já estou a falar há muito tempo, mas há uma pergunta que me foi feita aqui: "Não se deveria desenvolver o Ensino Técnico em vez de se desenvolver o Ensino Superior?” Bem, a minha resposta pode parecer simples e de político que é dizer "devem-se fazer os dois”. Neste caso devem-se fazer os dois, as coisas não são incompatíveis. Nós temos de ter no Ensino Secundário e no Ensino Básico, cada vez mais, uma via técnica, uma via profissionalizante, porque há uma série de profissões que precisam de pessoas que não têm de ser necessariamente formadas nas Universidade e no Ensino Técnico, podem ser formadas no Ensino obrigatório até aos 12 anos de escolaridade que são profissões técnicas. Deixem-me referir duas ou três: técnico de Informática, canalizador, electricista. Nós temos de valorizar o canalizador, o electricista, o técnico de Informática, que são todos necessários, como são necessários o professor e o cientista. Todos nós somos necessários.

Precisamos de uma via profissionalizante mais desenvolvida no Ensino Básico e Secundário, de forma a dar essas profissões técnicas a quem o queira, sem esquecer que quem quis ter essa profissão técnica pode depois repensar e dizer "eu gostaria é de ir para o Politécnico, ou eu gostaria de ir para a Universidade” e nós temos de oferecer essa possibilidade também. Agora, deixar os jovens nem ir para o Ensino Superior nem ter uma profissão que os deixe contribuir activamente para a Sociedade é que me parece uma coisa totalmente errada.

Não vejo oposição nenhuma entre o ensino profissionalizante e o acesso à Universidade. Mas falemos um pouco da Universidade. A Universidade é muito importante e provavelmente, daqui a uns tempos, grande parte da população, se calhar a maioria ou toda ela, ao fim de algum tempo passará pela Universidade. Estou a falar daqui a algumas gerações e isso é bom porque pela Universidade – as pessoas têm aqui uma amostra na Universidade de Verão – há diversidade de opiniões, fala-se de outras coisas, aprende-se mais, aprende-se outras coisas, aprende-se com maior profundidade, percebe-se pontos de vista contraditórios e nós queremos, como é evidente, que cada vez mais jovens cheguem à Universidade e cada vez mais jovens tenham formação universitária.

Mas nós não podemos desenvolver o País na fase em que estamos se não tivermos mais jovens com cursos universitários, técnicos, e outros também. Só que não se aprende a ser poeta com um curso de poetas, o Fernando Pessoa não tirou um curso de poeta com diploma de poeta e depois disse "agora sou poeta e vou escrever sobre o Adamastor!”. Não foi assim, mas nós sabemos fazer técnicos, sabemos fazer engenheiros, precisamos de engenheiros, de cientistas, de advogados, precisamos de uma série de profissões e temos de formar mais jovens bons nessas profissões.

Uma das coisas fundamentais da vida, também está num poema de Fernando Pessoa, é qualquer coisa como "sê grande em tudo o que fazes, sê inteiro, porque assim a Lua é alta e brilha”; este é um dos mais bonitos de Pessoa, gostava muito de o saber de cor. Mas vamos aplicar o poema de Fernando Pessoa à Educação e o que Fernando Pessoa nos diz é o seguinte: nós em Educação não podemos saber as coisas com ligeireza, não podemos ter uma ideia aqui uma acolá; nós em Educação quando sabemos uma coisa temos de a saber bem! E quando um jovem está a estudar o que quer que seja, Electrotécnica, Filosofia, Psicologia, o que quer que seja, tem de aprender bem, porque aprendendo bem actua bem sobre as coisas e nós precisamos de todas essas profissões universitárias, precisamos muito de desenvolver o nosso sistema universitário. Mas o nosso sistema universitário tem algo, umas irracionalidades, algumas coisas não estão a funcionar bem e têm de ser racionalizadas. O nosso sistema universitário tem uma diversidade de cursos universitários que não têm muitas saídas profissionais...

Temos de racionalizar todo o Ensino Superior, isso não quer dizer que não se deve dar liberdade aos jovens que queiram estudar coisas que à primeira vista parecem inúteis, como a Poesia, mas que afinal não são tão inúteis ou que se calhar não dão emprego imediato mas que possam dá-lo mais tarde. Ou seja, nós temos de informar as pessoas, racionalizar o sistema, informar as pessoas do que é que está inerente a cada opção profissional que se faça na Universidade, mas nós não queremos conduzir os jovens a este curso ou aquele por esta ou aquela razão.

Agora deixem-me falar um bocadinho da Ciência, porque a Ciência é muito importante por muitíssimas razões, quase aquelas que eu disse em relação a estudar e poderia quase repetir os mesmos factores.

A Ciência é importante para os próprios, para quem goste de Ciência e muita gente gosta de Ciência porque é algo que é muito compensador, porque a investigação, o trabalho científico é muito recompensador, é importante para as Universidades e para o Ensino. Porque uma coisa é termos Universidades onde existem investigadores e por existirem os cursos universitários têm outra cor, outra vida, outra actualização, e a outra coisa é estarmos em cursos universitários em que os professores já estão um pouco acomodados. Já estão afastados da fonte de criação do conhecimento e nós queremos Universidades em que os professores estejam na fonte do conhecimento, estejam no trabalho do avanço da Ciência, no trabalho pelo avanço do Conhecimento.

Essa é a grande descoberta da Universidade alemã do século XIX, é juntar no mesmo sítio aquilo que antigamente estava disperso. Os cientistas antigamente eram aqueles nobres ricos, ou então eram plebeus que por acaso tinham sido acompanhados por um nobre e tinham tanto talento que se tornavam cientistas como o Fahrenheit. Vocês conhecem essas histórias. Eles estavam lá nos seus cantos, nos seus laboratórios, correspondendo-se uns com os outros, fazendo experiências. No século XIX inventou-se esta coisa que é a Universidade: junta-se no mesmo espaço as pessoas que estão a criar o conhecimento e esse modelo tem-se revelado muito fecundo. É esse modelo que queremos aqui. Portanto, a Ciência, além de ser boa para quem a faz ela é boa para quem está a aprender e não quer ser cientista, mas está a aprender Matemática ou está a aprender História, em contacto com professores que são bons, entre outras razões, porque estão na fonte do conhecimento, sabem o que está naquele momento a ser investigado e portanto esses professores são capazes de trazer outra cor ao Ensino.

Por isso, também a Ciência é importante e ainda por outra razão, essa outra razão é o desenvolvimento do País. Um factor crucial do desenvolvimento do País é a investigação científica, tanto a de base como a aplicada, porque a investigação fundamental e a aplicada não são duas coisas opostas. A investigação fundamental transforma-se em investigação aplicada e a investigação aplicada gera problemas teóricos fundamentais.

Os físicos gostam de dizer "nada é mais prático que uma boa teoria”, ou seja, nada tem mais efeitos no nosso futuro e desenvolvimento económico do que uma boa teoria e vocês têm a teoria quântica, , sem ela não existiria o micro-ondas, não existiriam fotocopiadoras, estas fotocopiadoras Xerox, aquele ecrã que ali está, tudo isto por haver meia dúzia de curiosos que começaram a pensar em Física Quântica para pensar na Física fundamental. Portanto, onde eu quero chegar é: a Ciência é fundamental para o desenvolvimento da Sociedade e para o desenvolvimento do País. O nosso país que é um país que só pode crescer, no século em que estamos, no século XXI, se for um país que acompanhe o desenvolvimento científico e tecnológico mundial e que neste ponto e naquele inove, tenha originalidade, crie valor, crie valor com base no conhecimento e na investigação científica.

Finalmente, porque é que a Ciência é importante? E com esta me calo. É pela honra do espírito humano.

Muito obrigado.

[APLAUSOS]

Graças à Ciência e graças à mecânica quântica, há aqui os telemóveis que permitem fazer uma pesquisa na Internet e agora vou dar uma de erudito e dizer:

Para ser grande, sê inteiro: nada

Teu exagera ou exclui.

Sê todo em cada coisa. Põe quanto és

No mínimo que fazes.

Assim em cada lago a lua toda

Brilha, porque alta vive.

[APLAUSOS]

 
Dep.Carlos Coelho

Vamos então à primeira ronda de perguntas.

Pelo Grupo Roxo, falará o Pedro Figueiredo e depois em representação do Grupo Encarnado, a quem agradecemos o simpático convívio durante esta noite, será o Pedro Pires.

 
Pedro Figueiredo

Boa noite, Professor Doutor Nuno Crato. Antes de mais, muito obrigado por esta excelente conferência, foi sem dúvida uma mais-valia para a formação de todos os jovens aqui presentes.

Cabe-nos a nós, à equipa roxa, a responsabilidade de abrir este período de debate, começando então com a seguinte pergunta: senhor Ministro, com a implementação do Processo de Bolonha em Portugal, concorda com o facto de assistirmos a uma mercantilização do segundo ciclo da formação universitária?

 
Pedro Pires

Boa noite, cumprimento a mesa e o Professor Doutor Nuno Crato pela maravilhosa palestra.

Na minha opinião a inclusão de uma disciplina sobre Política, seja no segundo ou terceiro ciclo, seria determinante para que os jovens percebessem melhor a Política e consequentemente se aproximassem mais dela, que é um dos problemas que temos hoje em dia.

Qual é que é a sua opinião sobre isto? Algumas vez pensou em implementá-la e se sim em que moldes?

 
Nuno Crato

Muito obrigado pelas perguntas, eu espero tê-las percebido bem. O mercantilismo no segundo ciclo universitário significa propinas livres, é isso que quer dizer. Ou seja, que se pague muito pelos Mestrados, é essa a questão que está a levantar?

Eu peço desculpa, se calhar não vou responder à pergunta, mas se o senhor reitor me der licença fazemos um diálogo para acertar a coisa. Eu acho bem que haja muitos Mestrados. Acho bem que haja muita oportunidade para os jovens tirarem esse segundo ciclo. Não vamos agora discutir se esse segundo ciclo se devia chamar Mestrado ou se devia haver três anos mais dois, se devia ser quatro mais dois, mas o segundo ciclo, aquilo que vulgarmente agora se chama de Mestrado está generalizado. Eu não acho mal, acho bem que os jovens tenham oportunidade de tirar esse complemento. Está-se a caminhar para o seguinte: está-se a caminhar para que o segundo ciclo – esta é a verdadeira vantagem ou desvantagem da maneira como implementámos o Processo de Bolonha -, está-se a caminhar para que o primeiro ciclo seja bastante generalista e que na maior parte dos casos não conduza directamente a uma profissão. Por exemplo, engenheiro electrotécnico, não pode ser engenheiro electrotécnico ao fim de três anos e portanto tem a seguir de tirar os dois anos de Mestrado e até se criam os chamados Mestrados integrados, mas isto significa que muita gente vai precisar de tirar Mestrados e o primeiro ciclo vai funcionar em muitos casos, não nos casos das Engenharias, como uma preparação-base que dá oportunidade para estudos noutras áreas, o que eu acho que é uma coisa muito positiva.

Ou seja, uma pessoa, um jovem, ter estudado Matemática e depois em seguida quer tirar um Mestrado em Economia, eu acho que isso é bom, acho que dá outra visão ao jovem e dá-lhe a possibilidade de ter um emprego mais tarde. Um jovem ter estudado Matemática e depois querer ir estudar computadores, a mesma coisa. Um jovem ter estudado História e depois querer estudar História da Arte também é bom e ter estudado História e depois querer estudar Teoria da Estética é bom. Portanto, eu acho que é bom e essa transição é boa e o facto de haver Mestrados muito diversificados é bom.

Bem, isto é a teoria, agora a seguir há muitos Mestrados que estão tão diversificados e são tão ténues que na realidade não estão a funcionar como deveriam funcionar e em Portugal algumas Universidades adoptaram a política de "quantos mais Mestrados, melhor”, às vezes os Mestrados são quase todos iguais, mas têm títulos ligeiramente diferente para atrair os jovens. Isso em Marketing estudava-se antigamente com as várias marcas de tabaco; as tabaqueiras tinham marcas de tabaco praticamente iguais, mas pensavam assim: "quanto mais marcas de tabaco eu tiver, quando alguém que fuma quiser mudar para outra marca a probabilidade de mudar para outra que é do mesmo fabricante é maior” e portanto às vezes, há certas instituições de Ensino que criam muitos Mestrados que pouca diferença têm e tudo isto com o interesse de atrair jovens.

Mas agora cabe-nos também a nós pensarmos pela nossa cabeça e antes de nos abalançarmos a tirar um Mestrado pensar qual é aquele que de facto queremos e a grande vantagem deste processo e destas duas etapas é que podemos reorientar um pouco a nossa carreira profissional. É um pouco difícil por exemplo, tirar o primeiro ciclo em Filosofia e o segundo em Matemática, creio eu, ou o primeiro Filosofia e o segundo em Física, ou o primeiro em Física e o segundo em Filosofia, também deve ser difícil, mas há uma maior liberdade de opção e eu julgo que isso é bom.

Não sei se respondi à pergunta, naturalmente não tão completamente quanto gostaria mas tentei.

Em relação à formação cívica, eu julgo que há tal dispersão de matérias neste momento, tal dispersão de disciplinas, que criar mais uma disciplina, educação cívica, no sentido político, não me parece uma boa ideia, à partida. Uma coisa que pode ser vista como opção, como optativa se nós tivermos um sistema que permita ter optativas, está a falar do ensino secundário e básico, não é? Mas eu à partida com as dificuldades que temos no momento, eu volto para a minha ideia-base que é: vamos educar para a Cidadania pessoas que têm dificuldade a ler? Não, vamos ensinar a ler, ou seja, vamos centrar nas coisas básicas e vamos tentar dar todos esses conhecimentos e toda essa atitude e toda essa educação, que é necessária, de alguma maneira que não nos obrigue a centralizar e a criar mais uma dispersão, mais um foco que é a Educação Cívica, mais outro que é a Educação Sexual, mais outro que é outra coisa qualquer e a certa altura nos dispersamos tanto que o Ensino não funciona.

Mas isto é apenas uma teoria em geral, depois em concreto teríamos que ver. Também não sei se respondi à pergunta, tentei.

Obrigado.

[APLAUSOS]

 
Dep.Carlos Coelho

Segundo ciclo de perguntas: pelo Grupo Verde, a Isa Monteiro e pelo Grupo Cinzento o Rui Pinto.

 
Isa Monteiro

Muito boa noite a todos. O meu nome é Isa Monteiro e estou a representar o Grupo Verde. Antes de mais, gostaria de felicitar a mesa e agradecer a presença do senhor Professor Doutor Nuno Crato. Então a questão do Grupo Verde é a seguinte: nós vemos actualmente nas notícias e conhecemos muitos amigos e colegas que estão a ir trabalhar para o estrangeiro. Portanto é uma verdadeira exportação de profissionais cuja Educação foi paga com dinheiros públicos e todas as pessoas que pagaram imposto contribuíram para a sua Educação.

Por que razão, um país como Portugal está agora a fornecer mão-de-obra para os outros países? O mesmo acontece em relação aos cientistas. Temos alunos excelentes em Portugal que vão fazer doutoramento para fora e a verdade é que nunca mais voltam. Não seria benéfico para todos criarmos um programa que fizesse com que essas pessoas se fixassem em Portugal mesmo indo para áreas do País menos atractivas como o Interior, em relação aos cientistas criar locais onde fosse possível o desenvolvimento de investigação científica?

Obrigada.

 
Rui Pinto

Muito boa noite. Senhor Ministro, boa noite. Recentemente prestou declarações considerando que o programa Novas Oportunidades teria uma acção muito limitada e que portanto haveria a necessidade de reformular o programa Novas Oportunidades.

O que o Grupo quer saber é concretamente que futuro terá este programa nesta legislatura?

 
Nuno Crato

Muito obrigado.

Exportação de jovens é uma preocupação de todos nós, não é? Quero dizer, não é preocupação que saiam jovens do País, nós vivemos numa sociedade livre, portanto as fronteiras estão abertas.

A nossa preocupação é que "fronteiras abertas” significa mais jovens brilhantes a sair do que jovens brilhantes a entrar, essa é que é a preocupação e nós não podemos resolver isso fechando as fronteiras, não, nós vivemos noutro mundo em que hoje felizmente não se fecham fronteiras, eu espero que não se fechem fronteiras. Mas foi ao ponto certo, o ponto certo é criar condições no país para que fiquem.

Ora, vamos falar de todos. Primeiro, eu acho bom que as pessoas tenham uma oportunidade de estudar fora do País, de conhecer outros países e outras pessoas e acho que, por exemplo, o programa Erasmus é um programa que não está a ser totalmente aproveitado, seria bom que todos os jovens tivessem oportunidade e capacidade financeira para poder sair um semestre, sair um ano, porque isso enriquece muito. Mas o problema aqui é como é que criamos condições para que regressem e para que se fixem. Uns sairão sempre, outros ficarão, alguns é bom que saiam, é bom que haja cientistas portugueses no estrangeiro, mas é bom que haja cientistas portugueses em Portugal e que haja cientistas búlgaros em Portugal e cientistas ingleses em Portugal. Nós temos é que resolver este Portugal da mesma forma como funcionamos numa Economia aberta, que é criar boas condições para as pessoas se fixarem. Isto significa que nós, em Ciência, temos que apostar naquilo que pode atrair as pessoas e aquilo que pode atrair as pessoas são as coisas excelentes. A Ciência, em particular, é uma área extremamente internacional, não há uma ciência portuguesa e uma angolana, francesa, não há, é internacional, está permanentemente em evolução e aquilo que se faz num país está imediatamente disponível para se saber como funcionar, sem ser as patentes e coisas desse género e coisas militares, mas estamos a falar da Ciência em geral, Genética, Matemática, Física, etc. E, portanto, sendo uma coisa internacional em que é bom todo este convívio internacional, nós só conseguimos competir não é se só fizermos um bocadinho de Ciência aqui num canto que só nós é que ligamos, é se fizermos Ciência tão boa como a melhor Ciência internacional. Os cientistas atraem-se se tiverem condições tão boas aqui como as melhores condições internacionais.

É evidente que o nosso País passa por uma crise económica e financeira profunda, profunda, nós temos todos de ter consciência disso, nós estamos a fazer sacrifícios, de maneira que vai afectar toda a gente, vamos todos ter de partilhar este momento difícil, nós todos vamos ter cortes, toda a gente acha que se deve cortar na Despesa excepto quando chega a si próprio, isso é humano. Portanto, estamos numa situação muito difícil, mas estamos num momento em que precisamos de proteger uma série de coisas essenciais e uma das coisas essenciais que temos de proteger em Portugal é a Ciência e eu estou completamente de acordo consigo.

Como é que isso se faz? Faz-se de muitas maneiras: faz-se criando condições excelentes em vários sítios, existem alguns sítios excelentes em Portugal, já apoiando esses sítios excelentes, fazendo intercâmbio com outros países, criando em Portugal polos de instituições de investigação de outros países e criando noutros países polos que colaborem com a Ciência portuguesa, faz-se de toda essa maneira. Para que não tenhamos ilusões, nós fixamos as pessoas e fixamos os melhores se lhes oferecermos condições tão boas como outros países oferecem, portanto a nossa política tem que ser essa.

Em relação às Novas Oportunidades, foram um programa que teve algumas boas ideias e algumas coisas um bocadinho exageradas e aquilo que nós dissemos no Parlamento quando se falou das Novas Oportunidades, foi que elas não podem ser um sistema de distribuição de diplomas. As Novas Oportunidades têm de ser um sistema de oferta de oportunidades de enriquecimento académico e profissional às pessoas. Nós neste momento estamos a avaliar muito bem o trabalho da Agência Nacional para a Qualificação que estava à frente das Novas Oportunidades, tutelada duplamente pelo Ministério da Economia e pelo Ministério da Educação e da Ciência. Os dois Ministérios estão muito empenhados em saber dali o que é que foi bem feito e o que é que foi mal feito e antes dessa avaliação ser completa é muito prematuro estar a falar do que vai acontecer, mas a nossa ideia é oferecer novas oportunidades, mas que sejam oportunidades de enriquecimento e que não sejam simplesmente oportunidades de dizer que o nosso País têm afinal mais não-sei-quantos milhares de diplomados. Isso de pouco vale!

Muito obrigado.

 
Dep.Carlos Coelho

Terceiro ciclo de perguntas: pelo Grupo Castanho a Liliana Dias e pelo Grupo Azul a Mariana Custódio.

 
Liliana Fidalgo Dias

Boa noite a todos, boa noite senhor Ministro. A questão do nosso grupo diz respeito à reorganização da rede do Ensino Superior.

É favorável ao fecho de algumas Universidades tendo em conta a procura e a oferta de certos cursos?

 
Mariana Custódio

Boa noite. É uma enorme honra para o Grupo Azul estar com o senhor Ministro. Achamos que a nossa pergunta virá trazer alguma controvérsia.

Ainda há pouco o senhor ministro salientou que a Música é importante. Sim, é importante, assim como o Teatro ou a Dança. Agora, sendo o Estado português um Estado que visa garantir a equidade, então porque é que o Desporto tem um estatuto de alta competição e não existe estatuto de alta competição para alunos de Conservatório de Música e de Dança? Pergunto aos meus colegas: algum de vocês sabe quantas horas é que um aluno do 8º grau do Conservatório tanto de Música como de Dança passa na sua escola? 15 horas semanais. Algum de vocês sabe quantas disciplinas é que têm além das da escola? Seis, sendo que metade são práticas e metade são teóricas, são 15 horas semanais, aulas para além da escola, é um esforço físico e psicológico inerente. Provas artísticas para as quais é preciso estudo intensivo, são representações no estrangeiro que não entram tanto no currículo como entra se calhar um representação de Portugal para o Desporto.

Com os factos que apresentei, acha que os conservatórios nacionais não têm razões suficientes para pedir o estatuto.

 
Nuno Crato

Muito bem. Posso começar pela última pergunta. A minha resposta é sim, eu acho que tem toda a razão. Eu acho que tem toda a razão e que temos de arranjar uma maneira de fazer um apoio equiparado ao estatuto da alta competição em relação a uma série de outras actividades. Por exemplo, os olímpicos da Matemática, da Física e da Astronomia, são pessoas que dignificam imenso o nosso País e que sempre que fazem uma deslocação têm de o fazer à custa de aulas perdidas sem ter quaisquer das possibilidades que são abertas pelo estatuto de alta competição dos atletas. A mesma coisa em relação à Música. Eu estou completamente de acordo, é uma coisa que tem de ser estudada e tem de ser vista. Lembro-me que já há alguns anos, no Governo em que o Professor David Justino era Ministro da Educação isso já começou a ser pensado, mas depois não foi concretizado, eu espero que qualquer coisa semelhante se concretize em breve e os meus parabéns por se interessar por Música e por Dança.

Em relação à pergunta sobre o fecho de Universidades, bem, nós estamos numa sociedade livre e as pessoas podem enganar os outros, não é? E podem manter Universidades desde que não estejam a enganar os outros. Isso é a função do Estado, verificar se de facto se ensina naquela Universidade, é algo que está ao nível de uma Universidade, mas temos outro problema que é o nosso ensino universitário é maioritariamente público, financiado pelo Estado, portanto o Estado tem uma função dupla aqui: não só garantir que uma Universidade funcione como uma Universidade, mas não só, como está a usar dinheiros públicos usá-los da melhor maneira. Aí, eu volto a dizer, há um esforço de racionalização da oferta educativa nas Universidades que tem de ser repensada. Não iria tão longe ao ponto de dizer que seria preciso fechar Universidades, não estou a ver nenhuma que seja preciso fechar, mas inevitavelmente algumas escolas sejam agrupadas, alguns cursos sejam racionalizados numas áreas e não noutras, julgo que isso é inevitável e acabará por acontecer.

[APLAUSOS]

 
Dep.Carlos Coelho

Quarta ronda de perguntas: pelo Grupo Rosa, Frederico Almeida Nunes e pelo Grupo Laranja o Joaquim Freitas.

 
Frederico Almeida Nunes

Boa noite a todos. Boa noite, senhor Professor Doutor Nuno Crato. A pergunta escolhida pelo Grupo Rosa é se não seria importante a realização de um exame após o curso para que as pessoas que não venham de faculdades tão bem reconhecidas também tenham a oportunidade de mostrarem os seus conhecimentos. Já agora poderia falar um bocadinho em como se sente em ser independente neste Governo?

Obrigado.

 
Joaquim Freitas

Boa noite. Eu queria renovar os cumprimentos ao Professor Doutor Nuno Crato, desejando-lhe desde já as maiores felicidades para este mandato, para esta legislatura, tendo a certeza absoluta que o seu sucesso vai ser garantidamente o nosso sucesso. O sucesso dos Portugueses. Jacques Delors disse em 1997 uma frase que eu gostava de citar, dizia ele que "à Educação cabe fornecer de algum modo a cartografia de um mundo complexo e bastante agitado e ao mesmo tempo a bússola que permite navegar através dele”.

Disse o Professor hoje, na nossa opinião, muito bem, que o que conta não é o número de anos, mas o que se aprende na escola e isto leva-nos a uma questão fundamental que é "quem educa os educadores?”. A pergunta aqui será: pensa que as Universidades de hoje formam os professores com qualidade suficiente para cumprir o desígnio de excelência e rigor que o seu Ministério vai notando como sendo a verdadeira Educação em Portugal?

 
Nuno Crato

Muito obrigado. Agora vou começar pela primeira pergunta em vez de começar pela última, para variar.

Falou de exame de acesso à profissão que é uma coisa que não deve ser generalizada, acho eu. Nós devemos ter um sistema de acreditação dos cursos que funcione de tal maneira que as pessoas após esses cursos estejam prontas a assumir a continuidade da profissão. Mas em certas profissões é necessário ir mais longe, é o caso por exemplo dos médicos que após tirarem o curso de Medicina, têm de fazer uma série de exames e uma série de práticas, já não me lembro exactamente, mas eu namorei como uma médica e portanto lembro-me como é que é.

[RISOS]

Aliás, eu lembro-me que aquilo eram exames atrás de exames porque após tirar o curso era preciso fazer o exame de acesso à especialidade, depois era o exame não-sei-quê e os médicos estavam sempre a fazer esses exames e é graças a isso que temos tão bons médicos no nosso País e portanto acho bem que mantenham todos esses exames, mas penso que será desnecessário noutro tipo de profissões.

Eu tenho insistido muito num exame de acesso à profissão para professores, pela mesma razão que a Hillary Clinton instituiu exames de acesso à profissão quando estava no Estado do Arkansas como Secretária de Estado da Educação, creio eu que é assim que se chama. Ela dizia que se as escolas formassem os professores de forma perfeita, nós não precisávamos de fazer esse exame, mas de facto as escolas de educação de professores em Portugal têm muito a melhorar e a maneira como o Estado (que é o maior empregador de professores) coloca professores na carreira é baseada apenas na nota final do curso, o que é uma injustiça terrível e é – vamos falar outra vez de incentivos, que é uma coisa que os economistas e os politólogos gostam de falar – um incentivo a quê? Um incentivo a que a colocação seja a nota final de curso? É um incentivo à escola de formação de professores para inflaccionarem as notas para atraírem alunos (os futuros professores) na perspectiva de tirarem melhores nota... que permitem acesso mais facilitado à colocação profissional.

É preciso algum sistema regulatório no meio disto.

O Salazar resolveria o problema criando um grupo de inspectores que iria verificar todas as escolas e uniformizar tudo e ter um sistema de escola a escola que reportava umas às outras e ficava tudo uniforme, o Estaline também faria uma coisa semelhante, nós podemos fazer alguma coisa nesse sentido, podemos ter algum poder de regulação nas escolas, podemos tentar regular a maneira como as escolas funcionam e incentivá-las, mas podemos fazer uma medida que resolve de imediato, ou que ajuda de imediato a resolver o problema e que dá de imediato um sinal às escolas que é instituir um exame de acesso à profissão.

Com um exame de acesso à profissão, que mostra o que os candidatos a professores sabem, nós estamos imediatamente a dar um incentivo às escolas para que melhorem a formação de professores e estamos a dar um incentivo aos candidatos a professores para que estudem o mais possível de forma a entrarem na profissão que ambicionam.

Vejamos que estou a falar do Portugal de 2011, não estou a falar do Portugal de 2050, nem estou da Finlândia de 2011. Estou a falar de Portugal dos próximos anos, estamos a falar de uma maneira que eu julgo que é boa e eficiente de começar a regular o sistema de forma a que entrem para a profissão os professores mais bem preparados.

Agora, como é que isso é feito? Que exame? etc., isso agora é toda uma longa discussão. Eu dei um exemplo dos professores porque é o que me preocupa mais, mas há uma série de outras profissões que têm preocupações semelhantes. Vocês sabem que há profissões de engenheiros que não são reconhecidas pela Ordem? A Ordem faz isso porquê? Porque tem suspeitas da qualidade desses cursos, portanto está aí a actuar no seu papel regulador.

Eu acabei por responder à segunda pergunta ao mesmo tempo que respondi à primeira, que é quem educa os educadores. Bem, eu julgo que a pergunta quem educa os educadores ficou mais ou menos respondida com isto. Ou seja, nós queremos que quem eduque os educadores sejam as pessoas que eduquem da melhor maneira os educadores e portanto a minha resposta é queremos que os futuros professores sejam os mais bem preparados possíveis.

Agora, podem também perguntar "mas será que as Escolas Superiores de Educação e os departamentos de Educação nas Universidades têm todos a melhor orientação em relação à formação de professores”? A minha resposta julgo que vocês sabem, é não, não têm, há muitas coisas a serem mudadas nas Escolas Superiores de Educação e os departamentos de Educação nas Universidades, há muitas coisas antiquadas, que são demasiado ideológicas e por aí, isso levava-nos também numa longa conversa sobre isso.

Depois perguntou-me na primeira pergunta, como é que me sinto como independente neste Governo e eu sinto-me muito bem, sinto-me muito bem, não sinto uma grande diferença por ser independente, ser independente no meu caso significa não estar filiado num dos dois partidos da coligação, aliás em partido nenhum, não estar filiado num partido, mas é evidente que eu sou um independente que se identifica muito com as ideologias dos partidos da coligação e que se identifica muito, eu diria, esse muito é 100% com o programa do Governo. Portanto, eu tenho a maior admiração pelo senhor Primeiro-Ministro e pela maneira como o Governo foi constituído e pelos meus colegas e eu diria que quando me sento no Conselho dos Ministros não sinto diferente dos outros, sinto-me muito bem.

[APLAUSOS]
 
Dep.Carlos Coelho

Vamos passar para a última fase de perguntas e respostas ao nosso convidado a quem agradeço a sua vinda à nossa Universidade de Verão 2011, à conferência e ao debate que nos proporcionou neste primeiro jantar da nossa Universidade de 2011.

Para a última ronda de perguntas, terá a palavra pelo Grupo Amarelo o Miguel Oliveira e pelo Grupo Bege a Cláudia Oliveira
 
Miguel Oliveira

Bem, antes de mais queria saudar todos os presentes, lançando um especial cumprimento ao Professor Doutor Nuno Crato. A nossa sociedade atravessa um período bastante exigente, vivemos um período de crise, essencialmente económica, no entanto a sua dimensão não se esgota nesse aspecto. Acredito que também atravessamos uma crise cultural, de identidade, de valores, e por fim uma crise no sistema educacional. Portanto, o nosso Grupo Amarelo gostaria de saber qual a sua opinião sobre as turmas de nível, se considera esta desigualdade justa e se seria benéfico para a sociedade portuguesa.

Muito obrigado.

 
Cláudia de Oliveira

Boa noite, senhor Ministro, senhores deputados e caros colegas. Senhor Professor Doutor Nuno Crato, eu e os meus colegas gostaríamos de saber a sua opinião sobre a introdução do cheque-ensino como medida de melhoramento do aproveitamento escolar e também para diminuir as desigualdades de oportunidade que actualmente acontecem.

Obrigada.

 
Nuno Crato

Muito obrigado. Estes dois Grupos ficaram para o fim porque tinham as perguntas mais difíceis, foi isso? Foi perfeitamente aleatório, então foi um acaso bastante grande.

Eu estou completamente de acordo em relação ao que disse sobre a crise económica, não é uma coisa passageira e grande parte dos nossos problemas do Ensino derivam da Sociedade. Quando nós temos famílias que se dirigem à escola para criticar o professor por ser exigente algo está mal, quando as famílias se dirigem à escola para agredir ou ameaçar os professores algo está mal.

Isso significa que nós não temos em toda a sociedade aquilo que nós deveríamos ter que é um grande apoio à educação dos jovens. Toda a sociedade deveria estar empenhada na educação aos jovens. Agora, outro problema é como é que a escola vai reagir, a escola não pode baixar os braços a isso.

Agora, a sua pergunta é a pergunta das turmas de nível. Alguns de vocês são capazes de não saber o que são turmas de nível e eu julgo que estou a traduzir bem, as turmas de nível são turmas em que tenha jovens mais avançados, melhores, numa turma e jovens não tão bons alunos noutra turma, era essa a vossa questão, não é?

A verdade é a seguinte: já existem turmas de nível em Portugal, só que estão escondidas, porque vocês sabem, ou se não sabem perguntem a colegas vossos ou a professores, na realidade quando começam a ser feitas as turmas em algumas escolas, o que acontece é que há uns que vão para a turma A, outros para a turma B e por acaso os que estão na turma A são todos melhores e por acaso os que estão na última turma são todos os piores, portanto isto já existe em algumas escolas, estas turmas de nível. Mas não existe de forma assumida, que isso é que é mais grave.

Eu diria que este é um problema extremamente complexo, porque o fazer turmas de nível tem uma grande vantagem que é permitir que o ensino se adapte ao nível dos alunos que aí estão e portanto possam progredir do ponto em que estão, ao contrário do ensino em que o professor fala e não está a falar para ninguém, porque os que estão muito abaixo não percebem nada e os que estão muito acima estão a dormir, não é? Portanto, ao contrário dessas turmas que estão muito dispersas, as turmas de nível permitem que se parta do nível em que o estudante está e se comece a construir a evolução dos estudantes.

Mas tem uma grande desvantagem, é que podem funcionar como um sistema de perpetuação da desigualdade e portanto, podem funcionar como um sistema que arrasta para uma condenação um jovem que por acaso no primeiro ano as coisas não lhe correram muito bem

Eu diria que o nosso grande desafio é instituir alguma adequação das turmas e do ensino ao nível em que os alunos estão com a permeabilidade do sistema, ou seja, nós darmos mais apoio aos que estão mais atrasados nos estudos e incentivarmos quem está mais avançado a progredir. Mas arranjar uma maneira das coisas se poderem inverter, ou seja, aqueles que estão muito mal numa matéria possam para o ano seguinte estar bem nessa matéria e que as turmas de nível não se tornem num ponto de condenação.

Como é que isto se faz? É extremamente difícil. O país que tem mais experiência nisto são os Estados Unidos que fazem turmas de nível há muito tempo e fazem-nos por várias razões, é que têm escolas muito grandes e isso criou outros problemas, enfim, isto é um problema cheio de aspectos não é uma coisa simples, por isso é que eu disse que esta pergunta era muito difícil. Não respondi completamente, pois não, a pergunta é muito difícil.

A segunda pergunta também é muito difícil, deixem-me falar completamente livremente, eu sou um membro do Governo mas posso agora falar um bocadinho como cidadão. Eu no programa do Governo não vi lá escrito o cheque-ensino e portanto posso falar como cidadão sobre isso. É um problema que tem de ser discutido. Eu estou completamente de acordo com o aumento da liberdade da Educação, ou seja, com um aumento da liberdade das pessoas escolherem as escolas, inclusivamente escolherem escolas privadas e o Estado não discriminar entre escolas privadas e escolas públicas.

Não sei se o cheque-educação é o melhor para isso. É uma solução que do ponto de vista económico parece muito racional, parece uma solução muito racional. Toda a gente sabe o que é um cheque-educação? Toda a gente sabe. Parece uma solução muito racional, mas as experiências históricas que existem são muito limitadas, por isso é um assunto que precisa de ser estudado. Se agora estivesse aqui um dos partidários ferrenhos do cheque-educação, começávamos aqui uma grande discussão sobre o assunto, mas de facto a experiência histórica é muito limitada. A mim, à partida, parece-me uma ideia muito racional, a de o dinheiro acompanhar os jovens, parece a ideia mais racional, não é? No entanto, quando nós vamos a certas comunidades em que as pessoas têm pouca informação, isso significa pura e simplesmente que os que têm menos informação e que estão menos interessados fazem as piores escolhas só por si.

Portanto, outra vez, é um problema complexo que vamos ter de resolver desta ideia que é aumentar liberdade de educação e de dar liberdade aos jovens todos de terem acesso a melhor educação, não sendo isso obstaculizado pelas condições económicas de cada um.

Eu creio que respondi o melhor que soube às perguntas, mediante as limitações de tempo, antes de terminar queria dizer-vos duas coisas.

Primeiro queria dizer-vos que estive hoje no funeral do Professor Râmoa Ribeiro que foi uma pessoa que me apoiou sempre muito e apoiou sempre muitos estudantes. Era um militante do PSD, uma pessoa muito empenhada no Ensino e portanto eu estou ainda bastante comovido com a perda desse meu reitor.

Eu trabalhei na equipa reitoral dele, convidou-me para vice-reitor, depois pró-reitor da Universidade, sempre com aquela – quem o conhece sabe disso, alguns de vocês – paciência que ele tinha para convencer as pessoas pouco a pouco, convencia, convencia e depois as pessoas ficavam convencidas e trabalhavam com ele e eu tive imensa honra de conviver com ele nestes últimos anos da sua vida.

Portanto, queria prestar aqui uma pequena homenagem ao Professor Râmoa Ribeiro que contribuiu muito para que eventos como esse acontecessem e depois, em segundo lugar, queria agradecer esta oportunidade que me deram. Não há nada mais reconfortante para um membro do Governo e para uma pessoa que se preocupa com a Educação como estar no meio de jovens que se preocupam com a Educação. Às vezes nós perdemos um pouco o sentido, as proporções, e julgamos que só nós é que estamos preocupados com as coisas e chegar aqui e ver-vos tão preocupados com os problemas da Educação dá-nos uma grande esperança de que os problemas serão resolvidos. Portanto, muito obrigado pela oportunidade de falar convosco.

[APLAUSOS]