[POEMAS:
"Mostrengo”, por Cristiano Gaspar, e "Liberdade”, por Patrícia Brighanti]
Bruno Brito
Boa noite a todos. Espero que o jantar tenha sido do vosso agrado. Em
nome de todos os elementos da Universidade de Verão, o grupo Verde gostaria de
agradecer a presença, do nosso conferencista desta noite, o Professor Doutor
Nuno Crato, que amavelmente aceitou estar connosco neste excelente repasto para
nos enriquecer com as suas palavras sábias e acerca das políticas educativas e
do Futuro do País. Perante currículo académico tão rico é complicado reduzir
num curto espaço de tempo, como poderão constatar no folheto que têm à vossa
frente, os feitos e dados biográficos do actual Ministro da Educação e Ciência
do XIX Governo de Portugal.
O Professor Doutor Nuno Crato nasceu em 1952 em Lisboa, tendo-se
licenciado em Economia no Instituto Superior de Economia e Gestão. Também no
ISEG obteve o grau de Mestre em Métodos Matemáticos para Gestão de Empresas,
trabalhou posteriormente para a Norma e foi director de Estudos de Consultoria
da Norma Açores. Doutorou-se em Matemática Aplicada nos Estados Unidos na Universidade
de Delaware, tendo trabalhado posteriormente vários anos neste país como
investigador e professor universitário. É membro de várias sociedades
científicas, nomeadamente da American Statistical Association e do
International Institute of Forecaster. Foi ainda Presidente em 2000 do
International Simposium of Forecasting.
O Professor Doutor Nuno Crato tem ainda diversos trabalhos de
investigação publicados em revistas reconhecidas internacionalmente, tendo
ainda contribuído regularmente com a Imprensa, nomeadamente com o jornal
Expresso. A escrita é pois uma das suas práticas habituais, tendo sido autor de
obras como "Zodíaco, Constelações e Mitos”, publicada em 2001, "Passeio
Aleatório” publicada em 2007 e "Matemática das coisas” publicada em 2008. Foi
também co-autor de diversas obras como poderão constatar também no folheto à
vossa frente. Publicou ainda "O Eduquês em discurso directo, uma crítica da
pedagogia romântica e construtivista”, coordenou a obra "O desastre no ensino
da Matemática, como recuperar o tempo perdido” e a conferência nacional em 2008
na Gulbenkian sobre "Matemática e o Ensino, questões e soluções”. Coordenou
também o projecto de educação da Fundação Francisco Manuel dos Santos,
conhecida fundação de investigação portuguesa.
O Professor Doutor Nuno Crato ganhou alguns prémios, tendo-lhe sido
atribuído em 2003 pela Sociedade Europeia de Matemática o primeiro prémio do
concurso público Awareness of Mathematics,
em 2008 foi-lhe atribuído pela Comissão Europeia, o European Science Award, também em 2008 foi agraciado com o grau de
Comendador da Ordem Infante D. Henrique.
Refira-se ainda que o actual Ministro da Educação e Ciência foi
pró-Reitor para a cultura científica da Universidade Técnica, Presidente da
Comissão executiva do Tagus Park e Presidente da Sociedade Portuguesa de
Matemática.
O nosso ilustre conferencista tem como hobby principal ler, o animal preferido é o cão, como comida tem um
gosto saudável, peixe grelhado. O livro preferido é "Rousseau e outros cinco
inimigos da Liberdade”, de Isaiah Berlin da editora Gradiva; o filme é
"Matchpoint” de Woody Allen e a sua principal qualidade é a franqueza.
O nosso muito obrigado pela sua presença nesta Universidade de Verão,
é uma honra tê-lo aqui connosco e proponho então um brinde ao Professor Doutor
Nuno Crato.
[BRINDE E APLAUSOS]
Dep.Carlos Coelho
Senhor Ministro da Educação, senhor Presidente da JSD, senhor
Directo-Adjunto da Universidade de Verão, senhores deputados à Assembleia da
República, senhores Presidentes da Câmara Municipal e da Assembleia Municipal
de Castelo de Vide, senhores conselheiros, senhores avaliadores, minhas
senhoras e meus senhores, estamos no primeiro jantar-conferência da
Universidade de Verão 2011.
Creio que começamos com chave de ouro. O Bruno já teve ocasião de
salientar e bem o percurso notável de um académico brilhante a quem fizeram o
desafio da vida. Depois de ter escrito tanto e de forma tão contundente sobre o
Sistema Educativo, cabe-lhe agora a responsabilidade de ajudar a melhorar a
Educação em Portugal.
Nesta Universidade de Verão esse é um valor que nós sentimos bem. O
senhor Ministro tem à sua frente cem jovens que prescindiram de uma semana das
suas férias para se concentrar no estudo e no debate de questões da
actualidade. Naturalmente, sendo uma formação política é multidisciplinar,
comporta Economia, Ciência Política, Ambiente, Comunicação. Discutir o que é
que pode ser o futuro do País faz todo o sentido na Universidade de Verão 2011.
A verdade é que vivemos tempos de crise, que obrigam os decisores
públicos a fazerem um esforço de contenção e a darem mais valor à alocação
daquilo que é o tesouro dos Portugueses e é natural que a barganha à volta do
Orçamento coloque uma responsabilidade acrescida aos decisores políticos. Não
se trata apenas de ter boa ideias – e tenho a certeza que no seu caso,
Professor Nuno Crato, as tem –, trata-se de saber como é que elas podem ser
levadas a prática. Portanto, sob esse ponto de vista faz todo o sentido que,
tendo eu o privilégio de lhe dirigir a primeira pergunta, ela seja sobre esta
questão fulcral. Quando estamos a discutir qual deve ser a prioridade na
alocação dos recursos faz, hoje, sentido investir na Educação?
Minhas senhoras e meus senhores, para responder à minha pergunta e às
vossas perguntas, no primeiro jantar da Universidade de Verão 2011, o Professor
Doutor Nuno Crato.
[APLAUSOS]
Nuno Crato
Obrigado. Muito obrigado. Boa noite, senhor deputado Carlos Coelho, Reitor
da Universidade de Verão, muito obrigado pelo convite.
Bruno, muito obrigado pelas referências que me fez. Deixe-me fazer uma
pequena precisão, não sei se a minha principal qualidade é a franqueza,
gostaria que fosse, é a qualidade que eu mais aprecio nos outros.
Senhores deputados, senhor Presidente da Câmara, senhor
Secretário-Geral do Conselho Nacional da Educação, senhor Presidente da JSD e
vocês, que tiraram dias das vossas férias para estarem aqui, conversarem uns
com os outros, aprendendo, discutindo, trocando experiências, neste ambiente
muito diverso onde há estudantes de Filosofia, onde há pessoas de quinze anos,
outros de trinta, onde há uns ainda mais velhinhos, pelo menos hoje como eu,
muito obrigado pelo convite, para mim é uma honra muito grande estar aqui.
É uma honra muito grande estar aqui, no Partido que me convidou para
este Governo e como independente, evidentemente simpatizante do PSD e do
programa do PSD, do programa do Governo com o qual eu me identifico, é uma
grande honra poder colaborar com o pouco que sei, numa tentativa - que vai ter
sucesso - de melhorar o País e ultrapassar este momento muito difícil em que
estamos.
Nós estamos num momento muito difícil e julgo que a pergunta que o
deputado me fez faz todo o sentido, estamos num momento em que vale a pena
investir na Educação. Eu acho que faz sentido, mas acho que a resposta deve ser
"sim, vale a pena investir na Educação, precisamente por estarmos num momento
difícil”. Porque nós estamos num momento muito difícil, temos problemas de
curto prazo e problemas de médio prazo, mas temos um problema que é fundamental
para o nosso País todo, não hoje, não amanhã, não daqui a dois anos, mas daqui
a três, quatro, cinco, dez, vinte, trinta, quarenta, esse problema é a formação
dos nossos jovens. De vós que aqui estão e dos que vêm a seguir e o
desenvolvimento do País que se faz com acção humana.
Então, vamos recuar um bocadinho e pensar para que é que vale a pena a
Educação. Deixem-me começar por um aspecto que pode parecer prosaico e pode
parecer materialista - e perante tantos idealistas como os que aqui estão
parecer materialista pode ficar mal, mas deixem-me vos dizer uma coisa: estudar
vale a pena para se poder ganhar mais dinheiro. Eu acho que devemos dizer isso
aos jovens, porque o mundo faz-se com idealismo mas também se faz com
incentivos, faz-se com decisões que são feitas com as opções que as pessoas têm
e uma das opções que se têm enquanto jovem e mesmo mais tarde é de nos
prepararmos para a vida e estudar vale a pena porque se ganha mais dinheiro.
Deixem-me citar-vos alguns números, com diferentes níveis de
escolaridade. Com quatro anos ou menos escolaridade o salário médio em 1982 era
520 euros, com o Ensino Secundário completo era 799, e os licenciados tinham um
salário médio de 1339. Portanto, vocês estão a ver a diferença que há do
potencial de se estudar, a diferença que há para se ganhar mais.
Se passarmos de 2006, reparemos que o incremento é bastante grande,
não nos que têm quatro ou menos anos de escolaridade e no Ensino Secundário
também não é muito significativa pois passam de 799 para 861, mas sobretudo
para os licenciados que passam de 1339 para 1625. Portanto, isto quer dizer que
estamos a falar em médias, não estamos a falar deste ou daquele, não estamos a
falar desta pessoa que estudou pouco e que graças a trabalho, graças ao seu
mérito conseguiu ter um grande sucesso na vida, por contraposição um outro que
estudou muito e por vários azares da vida não teve sucesso, não estamos a falar
disso, estamos a falar de médias, à partida como é que estamos melhor colocados
e à partida estamos tão mais bem colocados quanto mais estudarmos, quanto
melhor nos preparamos para enfrentar o futuro.
Bem, estamos entre jovens idealistas portanto vocês se calhar não
estão a ouvir muito aquilo que eu estou a dizer por enquanto, mas o dinheiro
não é só o dinheiro, o dinheiro também é liberdade perante a vida, outro
bem-estar perante a vida. Vocês são idealistas, vocês não querem pensar nisso,
querem pensar no futuro do País e o futuro do País faz-se com pessoas
qualificadas, faz-se com todos, mas quanto mais qualificado cada um de nós
estiver mais capaz está de contribuir para o futuro do País.
Há vários estudos econométricos, ou seja, que medem as coisas de um
ponto de vista estatístico, medem as variáveis económicas de um ponto de vista
estatístico, há vários estudos que explicam que quanto maior é a qualificação
de um país, o capital humano de um país, maior é o Produto Interno Bruto desse
país, maior é a capacidade do país para crescer, maior é a riqueza do país,
essas coisas estão muito quantificadas e percebe-se hoje que um aumento no
PISA, vocês sabem o que é? É o Programa da OCDE de avaliação dos diversos
países em termos de qualificação de quinze anos, essencialmente é isso. Um
aumento no PISA significa estarmos a falar de um aumento numa medida de sucesso
escolar que é feita em diversos países, uma aumento aí significa que se mede um
aumento no Produto Interno Bruto de um país. Portanto, se nós qualificarmos
melhor esta geração teremos um país mais rico, um país economicamente mais
folgado.
Agora, deixem-me dizer-vos aquilo que vocês consideram mais
importante, é que a Educação – vocês são jovens, têm de considerar isto mais
importante – a Educação liberta. A libertação vale também por outras razões,
que é a capacidade que nós temos de ouvir o poema de Fernando Pessoa, perceber
o poema de Fernando Pessoa, gostarmos do poema do Fernando Pessoa, gostarmos e
percebermos o que é o Adamastor, quem era o Mostrengo, quem era o rei D. João
II, quem era Fernando Pessoa. Portanto, a Educação tem essa outra componente de
elevar as pessoas. Há um texto famoso que eu gosto muito de citar, é tradução
livre, uma carta francesa de um matemático que diz para outro matemático: "o
senhor Fourrier (é um célebre matemático que acompanhou Napoleão na expedição
ao Egipto) dizia que a matemática era muito importante pelas suas aplicações,
mas ele estava errado, a matemática é importante porque a ciência constrói-se
pela honra do espírito humano”. "Pela honra do espírito humano”, eu achei isto
de uma grande beleza, ou seja, nós todos estudamos e estudamos a vida inteira e
cada vez mais se estuda a vida inteira e investimos na Educação e queremos
Educação pela honra de todos nós. Porque nos faz a todos melhores.
Se vamos olhar para as coisas do ponto de vista utilitarista imediato
para que é que serve um poema de Fernando Pessoa? Para que é serve? Não serve
para isto. Serve para nos fazermos todos, todos nós, melhores, melhores
cidadãos, melhores pessoas.
Portanto, eu diria que em traços gerais nós precisamos da Educação,
para isto, para estes objectivos, para os objectivos de cada um de nós que não
são incompatíveis com os objectivos da comunidade. Isso é uma das grandes
coisas da civilização ocidental, é que cada um de nós trabalhando com
incentivos, com respeito mútuo e pelas regras mútuas, cada um de nós
trabalhando pelos nossos incentivos, dentro da lei, com respeito pelos outros,
numa sociedade democrática, promove o bem-estar comum.
Não é erro falar do ponto de vista individual, mas deve-se falar do
ponto de vista colectivo. A Educação tem isso, nós temos já de trabalhar para
ter uma melhor Educação, nós temos já que trabalhar para que os nossos jovens
sejam mais bem qualificados. Agora reparemos uma coisa que às vezes nos ilude:
os estudos econométricos mostram também uma coisa, é que se nós compararmos os
países que tenham uma obrigação, por exemplo, em termos da escolarização
obrigatória ou por exemplo da escolarização média da população, ou seja,
quantos anos estudaram em média as pessoas deste país ou qual é a escolarização
média das pessoas deste país, se formos ver o crescimento da riqueza desse
país, a relação é muito ténue. Mas quando vamos comparar aquilo que de facto a
população sabe e aquilo que de facto os estudantes sabem com o crescimento da
riqueza do país vemos uma correlação muito forte.
Um dos grandes econometristas que estudou estes assuntos, que é o
Hanushek, que já esteve em Portugal, tivemos a oportunidade de o ouvir, diz o
seguinte: "isto é senso comum”. Ele fez esses estudos mediu essas variáveis e
diz "isto é senso comum”: se nós sentarmos um jovem na escola durante 12 anos e
ele passar esses 12 anos a brincar sem aprender nada é o mesmo que não estar na
escola.
Portanto, o que conta não é o número de anos que se está na escola,
mas sim o que de facto se aprende na escola e por isso nós não podemos mentir sobre
aquilo que de facto se aprende na escola. Não podemos mentir, temos de ser
realistas, temos de saber o que de facto aprendemos e não podemos pensar que
basta aumentar o número de anos de escolaridade, alargar a Educação, para que
as coisas todas melhorem. Nós temos de combater o abandono escolar, temos de
aumentar a escolaridade obrigatória, temos de ter mais gente a ter sucesso no
Ensino, mas sobretudo temos de melhorar o Ensino pois se os jovens estiverem no
Ensino para não aprenderem isso de pouco serve. Temos de melhorar a qualidade
do Ensino.
Agora, pergunta-se: como é que se melhora a qualidade do Ensino? São
milhões de problemas que aqui existem, vocês imaginem: são problemas de
currículos, de formação de professores, de organização das escolas, de
autonomia nas escolas, é o problema da Filosofia, estava aqui a falar com o
vosso colega e aluno desta Universidade que (por acaso é professor de filosofia)
sobre o ensino de Filosofia nas escolas; são milhões de problemas.
O Ensino tem enormes problemas e vamos ter de escolher quatro ou cinco
coisas fundamentais para actuar nelas e com elas conseguir melhorar o Ensino.
Deixem-me falar dessas quatro ou cinco coisas, ou de algumas destas quatro ou
cinco coisas fundamentais. Acho que já falei de uma essencial que é: temos de
melhorar a aprendizagem. Para isso temos que melhorar os currículos, de
estruturá-los melhor, não serve de nada ter currículos que sejam muito vagos,
que as pessoas vão aprendendo mais ou menos ao seu ritmo, sem perceber bem o
que estão a estudar.
É preciso que os currículos estejam bem estruturados, ninguém aprende
de forma desestruturada, ou seja, haverá uns génios que aprendem as coisas de
forma desestruturada, mas também a escola não é feita para os génios, a escola
é feita para todos nós, pessoas como nós. Nós temos de estruturar melhor os
currículos, temos de encadear melhor as coisas umas nas outras.
Sabem, por exemplo, o que se passa actualmente no segundo ciclo? Há
muitos jovens que acabam o primeiro ciclo, que dominaram o conjunto das
matérias e parece que depois de dois anos esqueceram. É porque as coisas não
estão bem estruturadas. Vocês sabem e alguns de vocês lembram-se disso, ao
passar por essa experiência, a quantidade de disciplinas diferente que existem
no terceiro ciclo do Ensino Básico. Nós temos de estruturar tudo isso. Temos de
concentrar tudo isso e temos de nos concentrar nas questões essenciais da
educação. As questões essenciais são as disciplinas essenciais, tudo é
importante, a Música, a Matemática, a História, a Poesia, a Literatura, tudo é
importante, mas nós temos de ter algumas prioridades, temos que ver que há duas
ou três coisas sem as quais não conseguimos progredir. Duas estão mais ou menos
identificadas, é o Português e a Matemática, mas há outras, as Ciências, o
Inglês, a Literatura, há outras que são importantes também. Por exemplo, todos
falamos da importância da Educação para a Cidadania e de outras matérias mas depois
perguntamos "será que todos os jovens estão a sair do 4º ano de escolaridade a
saber ler e escrever e contar”? Será? A resposta é não. Isso não se passa com
vocês, mas todos vocês sabem que há uma série de jovens que já estão a terminar
o Ensino Básico e ainda têm grandes dificuldades em matérias básicas, como é
que isso é possível?
Isso não pode acontecer: nas matérias básicas nós temos que melhorar o
Ensino, nas matérias básicas nós devemos ter todos os jovens mais bem
preparados.
Se um jovem tiver dificuldades de leitura, jamais terá gosto de ler o
Kant ou uma poesia de Fernando Pessoa. Terá dificuldade com isso. Se um jovem tiver
dificuldades nas contas básicas, nos raciocínios quantitativos, nos raciocínios
formais que derivam da Matemática, esse jovem também terá uma grande
dificuldade em perceber a vida Política, em saber o que é o défice, o que não é
o défice, em saber o que é que significa o crescimento de "tantos por cento”, o
que é que significa "dois pontos percentuais”.
Portanto, eu diria que nós temos de trabalhar para melhorar os
currículos, para melhorar a formação dos professores e melhorar a avaliação.
Vocês sabem, toda a gente sabe, que se nós não somos avaliados não somos
desafiados a progredir e não progredimos tanto quanto podíamos progredir. É um
dos factos mais estranhos do mundo: com avaliação funciona-se melhor. É uma
coisa que no fundo parece um paradoxo, mas vocês pensem no seguinte: uma
empresa que não faça planos e que não esteja constantemente a avaliar de que
forma é que está a trabalhar no mercado, de que forma é que está a trabalhar na
produção, essa empresa não está a progredir. É a mesma coisa com uma equipa,
com um partido político, com uma Universidade, com qualquer grupo de pessoas,
com uma pessoa individual, se nós não fizermos planos e nos avaliarmos não
estamos a progredir tanto quanto poderíamos progredir.
Vocês sabem que se tiverem que estudar para um exame, fizerem um plano
e disserem "esta semana vou aprender isto, esta semana vou aprender aquilo,
aquela semana vou aprender aqueloutro” e se forem verificando dia a dia o que é
que estão a melhorar, sabem que vão muito mais longe do que se não fizerem um
plano e simplesmente disserem "ora, deixem-me estudar português” e começarem a
abrir um livro e começar por ali fora a ler, a ler, a ler...
Portanto, a avaliação é importante para todo o sistema de ensino e a
nossa avaliação também tem uma série de pontos fracos.
Eu estou a falar de milhões e milhões de problemas com que nós temos
de trabalhar. Deixem-me falar também um pouquinho do Ensino Superior e um pouco
da Ciência. Eu comecei por falar destes problemas da Educação básica porque são
os mais imediatos, mais discutidos, vou falar um bocadinho do Ensino Superior e
da Ciência.
Reparem uma coisa, eu até agora não falei sobre a discussão com os
sindicatos, pois não? Não falei, ou seja, há uma grande diferença entre aquilo
que eu estou aqui a falar e aquilo que vocês leem quando abrem todos os dias os
jornais. Porquê? Porque o principal problema da Educação em Portugal não é a
avaliação dos professores. Nós queremos resolver o problema a avaliação dos
professores, queremos arranjar um método em que pela avaliação os professores
também se melhorem a eles próprios tal como os estudantes melhoram quando têm
uma avaliação e quando sabem que têm metas.
Queremos melhorar o Ensino também com a avaliação mas não é o problema
fundamental. Nós estamos a procurar um sistema, temos um modelo aberto. Sabemos
que não há um sistema perfeito, há várias opções por isso estamos com um modelo
aberto. Há que captar diversas contribuições para ver se ultrapassamos este
problema que minou tanto e durante tanto tempo as discussões sobre a Educação e
passar à frente. Porque os problemas principais da Educação são estes de que eu
estou a falar: é aprender! Está-se na escola para aprender.
Coisa muito estranha, durante uns anos não se falou assim, pois não?
Estava-se na escola para quê? Para, diziam alguns, passar de ano, ou diziam
outros para desenvolver o espírito crítico. Não, isto é tudo importante, passar
o ano e desenvolver o espírito crítico é muito importante, mas passar o ano sem
saber é um bocado difícil...
Até se falou em tempos que se calhar o Ministério da Educação, deveria
chamar-se Ministério do Ensino e no início da República, com todos ideais da
República, dizia-se Instrução. Eu acho muito bem que se fale em termos mais
gerais, que se diga que não é só instrução, mas não podemos esquecer a
instrução, não podemos esquecer as funções básicas da escola.
Não sei se já estou a falar há muito tempo, mas há uma pergunta que me
foi feita aqui: "Não se deveria desenvolver o Ensino Técnico em vez de se
desenvolver o Ensino Superior?” Bem, a minha resposta pode parecer simples e de
político que é dizer "devem-se fazer os dois”. Neste caso devem-se fazer os
dois, as coisas não são incompatíveis. Nós temos de ter no Ensino Secundário e
no Ensino Básico, cada vez mais, uma via técnica, uma via profissionalizante,
porque há uma série de profissões que precisam de pessoas que não têm de ser
necessariamente formadas nas Universidade e no Ensino Técnico, podem ser
formadas no Ensino obrigatório até aos 12 anos de escolaridade que são
profissões técnicas. Deixem-me referir duas ou três: técnico de Informática,
canalizador, electricista. Nós temos de valorizar o canalizador, o electricista,
o técnico de Informática, que são todos necessários, como são necessários o
professor e o cientista. Todos nós somos necessários.
Precisamos de uma via profissionalizante mais desenvolvida no Ensino
Básico e Secundário, de forma a dar essas profissões técnicas a quem o queira,
sem esquecer que quem quis ter essa profissão técnica pode depois repensar e
dizer "eu gostaria é de ir para o Politécnico, ou eu gostaria de ir para a
Universidade” e nós temos de oferecer essa possibilidade também. Agora, deixar
os jovens nem ir para o Ensino Superior nem ter uma profissão que os deixe
contribuir activamente para a Sociedade é que me parece uma coisa totalmente
errada.
Não vejo oposição nenhuma entre o ensino profissionalizante e o acesso
à Universidade. Mas falemos um pouco da Universidade. A Universidade é muito
importante e provavelmente, daqui a uns tempos, grande parte da população, se
calhar a maioria ou toda ela, ao fim de algum tempo passará pela Universidade.
Estou a falar daqui a algumas gerações e isso é bom porque pela Universidade –
as pessoas têm aqui uma amostra na Universidade de Verão – há diversidade de
opiniões, fala-se de outras coisas, aprende-se mais, aprende-se outras coisas,
aprende-se com maior profundidade, percebe-se pontos de vista contraditórios e
nós queremos, como é evidente, que cada vez mais jovens cheguem à Universidade
e cada vez mais jovens tenham formação universitária.
Mas nós não podemos desenvolver o País na fase em que estamos se não
tivermos mais jovens com cursos universitários, técnicos, e outros também. Só
que não se aprende a ser poeta com um curso de poetas, o Fernando Pessoa não
tirou um curso de poeta com diploma de poeta e depois disse "agora sou poeta e
vou escrever sobre o Adamastor!”. Não foi assim, mas nós sabemos fazer
técnicos, sabemos fazer engenheiros, precisamos de engenheiros, de cientistas,
de advogados, precisamos de uma série de profissões e temos de formar mais
jovens bons nessas profissões.
Uma das coisas fundamentais da vida, também está num poema de Fernando
Pessoa, é qualquer coisa como "sê grande em tudo o que fazes, sê inteiro,
porque assim a Lua é alta e brilha”; este é um dos mais bonitos de Pessoa,
gostava muito de o saber de cor. Mas vamos aplicar o poema de Fernando Pessoa à
Educação e o que Fernando Pessoa nos diz é o seguinte: nós em Educação não
podemos saber as coisas com ligeireza, não podemos ter uma ideia aqui uma
acolá; nós em Educação quando sabemos uma coisa temos de a saber bem! E quando
um jovem está a estudar o que quer que seja, Electrotécnica, Filosofia,
Psicologia, o que quer que seja, tem de aprender bem, porque aprendendo bem
actua bem sobre as coisas e nós precisamos de todas essas profissões
universitárias, precisamos muito de desenvolver o nosso sistema universitário.
Mas o nosso sistema universitário tem algo, umas irracionalidades, algumas
coisas não estão a funcionar bem e têm de ser racionalizadas. O nosso sistema
universitário tem uma diversidade de cursos universitários que não têm muitas
saídas profissionais...
Temos de racionalizar todo o Ensino Superior, isso não quer dizer que
não se deve dar liberdade aos jovens que queiram estudar coisas que à primeira
vista parecem inúteis, como a Poesia, mas que afinal não são tão inúteis ou que
se calhar não dão emprego imediato mas que possam dá-lo mais tarde. Ou seja,
nós temos de informar as pessoas, racionalizar o sistema, informar as pessoas
do que é que está inerente a cada opção profissional que se faça na
Universidade, mas nós não queremos conduzir os jovens a este curso ou aquele
por esta ou aquela razão.
Agora deixem-me falar um bocadinho da Ciência, porque a Ciência é
muito importante por muitíssimas razões, quase aquelas que eu disse em relação
a estudar e poderia quase repetir os mesmos factores.
A Ciência é importante para os próprios, para quem goste de Ciência e
muita gente gosta de Ciência porque é algo que é muito compensador, porque a
investigação, o trabalho científico é muito recompensador, é importante para as
Universidades e para o Ensino. Porque uma coisa é termos Universidades onde
existem investigadores e por existirem os cursos universitários têm outra cor,
outra vida, outra actualização, e a outra coisa é estarmos em cursos
universitários em que os professores já estão um pouco acomodados. Já estão
afastados da fonte de criação do conhecimento e nós queremos Universidades em
que os professores estejam na fonte do conhecimento, estejam no trabalho do
avanço da Ciência, no trabalho pelo avanço do Conhecimento.
Essa é a grande descoberta da Universidade alemã do século XIX, é
juntar no mesmo sítio aquilo que antigamente estava disperso. Os cientistas
antigamente eram aqueles nobres ricos, ou então eram plebeus que por acaso
tinham sido acompanhados por um nobre e tinham tanto talento que se tornavam
cientistas como o Fahrenheit. Vocês conhecem essas histórias. Eles estavam lá
nos seus cantos, nos seus laboratórios, correspondendo-se uns com os outros,
fazendo experiências. No século XIX inventou-se esta coisa que é a Universidade:
junta-se no mesmo espaço as pessoas que estão a criar o conhecimento e esse
modelo tem-se revelado muito fecundo. É esse modelo que queremos aqui.
Portanto, a Ciência, além de ser boa para quem a faz ela é boa para quem está a
aprender e não quer ser cientista, mas está a aprender Matemática ou está a
aprender História, em contacto com professores que são bons, entre outras
razões, porque estão na fonte do conhecimento, sabem o que está naquele momento
a ser investigado e portanto esses professores são capazes de trazer outra cor
ao Ensino.
Por isso, também a Ciência é importante e ainda por outra razão, essa
outra razão é o desenvolvimento do País. Um factor crucial do desenvolvimento
do País é a investigação científica, tanto a de base como a aplicada, porque a
investigação fundamental e a aplicada não são duas coisas opostas. A
investigação fundamental transforma-se em investigação aplicada e a
investigação aplicada gera problemas teóricos fundamentais.
Os físicos gostam de dizer "nada é mais prático que uma boa teoria”,
ou seja, nada tem mais efeitos no nosso futuro e desenvolvimento económico do
que uma boa teoria e vocês têm a teoria quântica, , sem ela não existiria o
micro-ondas, não existiriam fotocopiadoras, estas fotocopiadoras Xerox, aquele
ecrã que ali está, tudo isto por haver meia dúzia de curiosos que começaram a
pensar em Física Quântica para pensar na Física fundamental. Portanto, onde eu
quero chegar é: a Ciência é fundamental para o desenvolvimento da Sociedade e
para o desenvolvimento do País. O nosso país que é um país que só pode crescer,
no século em que estamos, no século XXI, se for um país que acompanhe o
desenvolvimento científico e tecnológico mundial e que neste ponto e naquele
inove, tenha originalidade, crie valor, crie valor com base no conhecimento e
na investigação científica.
Finalmente, porque é que a Ciência é importante? E com esta me calo. É
pela honra do espírito humano.
Muito obrigado.
[APLAUSOS]
Graças à Ciência e graças à mecânica quântica, há aqui os telemóveis
que permitem fazer uma pesquisa na Internet e agora vou dar uma de erudito e
dizer:
Para ser
grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou
exclui.
Sê todo em cada
coisa. Põe quanto és
No mínimo que
fazes.
Assim em cada
lago a lua toda
Brilha, porque
alta vive.
[APLAUSOS]
Dep.Carlos Coelho
Vamos então à primeira ronda de perguntas.
Pelo Grupo Roxo, falará o Pedro Figueiredo e depois em representação
do Grupo Encarnado, a quem agradecemos o simpático convívio durante esta noite,
será o Pedro Pires.
Pedro Figueiredo
Boa noite, Professor Doutor Nuno Crato. Antes de mais, muito obrigado
por esta excelente conferência, foi sem dúvida uma mais-valia para a formação
de todos os jovens aqui presentes.
Cabe-nos a nós, à equipa roxa, a responsabilidade de abrir este
período de debate, começando então com a seguinte pergunta: senhor Ministro,
com a implementação do Processo de Bolonha em Portugal, concorda com o facto de
assistirmos a uma mercantilização do segundo ciclo da formação universitária?
Pedro Pires
Boa noite, cumprimento a mesa e o Professor Doutor Nuno Crato pela
maravilhosa palestra.
Na minha opinião a inclusão de uma disciplina sobre Política, seja no
segundo ou terceiro ciclo, seria determinante para que os jovens percebessem
melhor a Política e consequentemente se aproximassem mais dela, que é um dos
problemas que temos hoje em dia.
Qual é que é a sua opinião sobre isto? Algumas vez pensou em
implementá-la e se sim em que moldes?
Nuno Crato
Muito obrigado pelas perguntas, eu espero tê-las percebido bem. O
mercantilismo no segundo ciclo universitário significa propinas livres, é isso
que quer dizer. Ou seja, que se pague muito pelos Mestrados, é essa a questão
que está a levantar?
Eu peço desculpa, se calhar não vou responder à pergunta, mas se o
senhor reitor me der licença fazemos um diálogo para acertar a coisa. Eu acho
bem que haja muitos Mestrados. Acho bem que haja muita oportunidade para os
jovens tirarem esse segundo ciclo. Não vamos agora discutir se esse segundo
ciclo se devia chamar Mestrado ou se devia haver três anos mais dois, se devia
ser quatro mais dois, mas o segundo ciclo, aquilo que vulgarmente agora se
chama de Mestrado está generalizado. Eu não acho mal, acho bem que os jovens
tenham oportunidade de tirar esse complemento. Está-se a caminhar para o
seguinte: está-se a caminhar para que o segundo ciclo – esta é a verdadeira
vantagem ou desvantagem da maneira como implementámos o Processo de Bolonha -,
está-se a caminhar para que o primeiro ciclo seja bastante generalista e que na
maior parte dos casos não conduza directamente a uma profissão. Por exemplo,
engenheiro electrotécnico, não pode ser engenheiro electrotécnico ao fim de
três anos e portanto tem a seguir de tirar os dois anos de Mestrado e até se
criam os chamados Mestrados integrados, mas isto significa que muita gente vai
precisar de tirar Mestrados e o primeiro ciclo vai funcionar em muitos casos,
não nos casos das Engenharias, como uma preparação-base que dá oportunidade
para estudos noutras áreas, o que eu acho que é uma coisa muito positiva.
Ou seja, uma pessoa, um jovem, ter estudado Matemática e depois em
seguida quer tirar um Mestrado em Economia, eu acho que isso é bom, acho que dá
outra visão ao jovem e dá-lhe a possibilidade de ter um emprego mais tarde. Um
jovem ter estudado Matemática e depois querer ir estudar computadores, a mesma
coisa. Um jovem ter estudado História e depois querer estudar História da Arte
também é bom e ter estudado História e depois querer estudar Teoria da Estética
é bom. Portanto, eu acho que é bom e essa transição é boa e o facto de haver
Mestrados muito diversificados é bom.
Bem, isto é a teoria, agora a seguir há muitos Mestrados que estão tão
diversificados e são tão ténues que na realidade não estão a funcionar como
deveriam funcionar e em Portugal algumas Universidades adoptaram a política de
"quantos mais Mestrados, melhor”, às vezes os Mestrados são quase todos iguais,
mas têm títulos ligeiramente diferente para atrair os jovens. Isso em Marketing
estudava-se antigamente com as várias marcas de tabaco; as tabaqueiras tinham
marcas de tabaco praticamente iguais, mas pensavam assim: "quanto mais marcas
de tabaco eu tiver, quando alguém que fuma quiser mudar para outra marca a
probabilidade de mudar para outra que é do mesmo fabricante é maior” e portanto
às vezes, há certas instituições de Ensino que criam muitos Mestrados que pouca
diferença têm e tudo isto com o interesse de atrair jovens.
Mas agora cabe-nos também a nós pensarmos pela nossa cabeça e antes de
nos abalançarmos a tirar um Mestrado pensar qual é aquele que de facto queremos
e a grande vantagem deste processo e destas duas etapas é que podemos
reorientar um pouco a nossa carreira profissional. É um pouco difícil por
exemplo, tirar o primeiro ciclo em Filosofia e o segundo em Matemática, creio
eu, ou o primeiro Filosofia e o segundo em Física, ou o primeiro em Física e o
segundo em Filosofia, também deve ser difícil, mas há uma maior liberdade de
opção e eu julgo que isso é bom.
Não sei se respondi à pergunta, naturalmente não tão completamente
quanto gostaria mas tentei.
Em relação à formação cívica, eu julgo que há tal
dispersão de matérias neste momento, tal dispersão de disciplinas, que criar
mais uma disciplina, educação cívica, no sentido político, não me parece uma
boa ideia, à partida. Uma coisa que pode ser vista como opção, como optativa se
nós tivermos um sistema que permita ter optativas, está a falar do ensino
secundário e básico, não é? Mas eu à partida com as dificuldades que temos no
momento, eu volto para a minha ideia-base que é: vamos educar para a Cidadania
pessoas que têm dificuldade a ler? Não, vamos ensinar a ler, ou seja, vamos
centrar nas coisas básicas e vamos tentar dar todos esses conhecimentos e toda
essa atitude e toda essa educação, que é necessária, de alguma maneira que não
nos obrigue a centralizar e a criar mais uma dispersão, mais um foco que é a
Educação Cívica, mais outro que é a Educação Sexual, mais outro que é outra
coisa qualquer e a certa altura nos dispersamos tanto que o Ensino não
funciona.
Mas isto é apenas uma teoria em geral, depois em concreto
teríamos que ver. Também não sei se respondi à pergunta, tentei.
Obrigado.
[APLAUSOS]
Dep.Carlos Coelho
Segundo ciclo de perguntas: pelo Grupo Verde, a Isa Monteiro e pelo
Grupo Cinzento o Rui Pinto.
Isa Monteiro
Muito boa noite a todos. O meu nome é Isa Monteiro e estou a
representar o Grupo Verde. Antes de mais, gostaria de felicitar a mesa e
agradecer a presença do senhor Professor Doutor Nuno Crato. Então a questão do
Grupo Verde é a seguinte: nós vemos actualmente nas notícias e conhecemos
muitos amigos e colegas que estão a ir trabalhar para o estrangeiro. Portanto é
uma verdadeira exportação de profissionais cuja Educação foi paga com dinheiros
públicos e todas as pessoas que pagaram imposto contribuíram para a sua Educação.
Por que razão, um país como Portugal está agora a fornecer mão-de-obra
para os outros países? O mesmo acontece em relação aos cientistas. Temos alunos
excelentes em Portugal que vão fazer doutoramento para fora e a verdade é que
nunca mais voltam. Não seria benéfico para todos criarmos um programa que
fizesse com que essas pessoas se fixassem em Portugal mesmo indo para áreas do
País menos atractivas como o Interior, em relação aos cientistas criar locais
onde fosse possível o desenvolvimento de investigação científica?
Obrigada.
Rui Pinto
Muito boa noite. Senhor Ministro, boa noite. Recentemente prestou
declarações considerando que o programa Novas Oportunidades teria uma acção
muito limitada e que portanto haveria a necessidade de reformular o programa
Novas Oportunidades.
O que o Grupo quer saber é concretamente que futuro terá este programa
nesta legislatura?
Nuno Crato
Muito obrigado.
Exportação de jovens é uma preocupação de todos nós, não é? Quero
dizer, não é preocupação que saiam jovens do País, nós vivemos numa sociedade
livre, portanto as fronteiras estão abertas.
A nossa preocupação é que "fronteiras abertas” significa mais jovens
brilhantes a sair do que jovens brilhantes a entrar, essa é que é a preocupação
e nós não podemos resolver isso fechando as fronteiras, não, nós vivemos noutro
mundo em que hoje felizmente não se fecham fronteiras, eu espero que não se fechem
fronteiras. Mas foi ao ponto certo, o ponto certo é criar condições no país
para que fiquem.
Ora, vamos falar de todos. Primeiro, eu acho bom que as pessoas tenham
uma oportunidade de estudar fora do País, de conhecer outros países e outras
pessoas e acho que, por exemplo, o programa Erasmus é um programa que não está
a ser totalmente aproveitado, seria bom que todos os jovens tivessem
oportunidade e capacidade financeira para poder sair um semestre, sair um ano,
porque isso enriquece muito. Mas o problema aqui é como é que criamos condições
para que regressem e para que se fixem. Uns sairão sempre, outros ficarão,
alguns é bom que saiam, é bom que haja cientistas portugueses no estrangeiro,
mas é bom que haja cientistas portugueses em Portugal e que haja cientistas
búlgaros em Portugal e cientistas ingleses em Portugal. Nós temos é que
resolver este Portugal da mesma forma como funcionamos numa Economia aberta,
que é criar boas condições para as pessoas se fixarem. Isto significa que nós,
em Ciência, temos que apostar naquilo que pode atrair as pessoas e aquilo que
pode atrair as pessoas são as coisas excelentes. A Ciência, em particular, é
uma área extremamente internacional, não há uma ciência portuguesa e uma
angolana, francesa, não há, é internacional, está permanentemente em evolução e
aquilo que se faz num país está imediatamente disponível para se saber como
funcionar, sem ser as patentes e coisas desse género e coisas militares, mas
estamos a falar da Ciência em geral, Genética, Matemática, Física, etc. E,
portanto, sendo uma coisa internacional em que é bom todo este convívio
internacional, nós só conseguimos competir não é se só fizermos um bocadinho de
Ciência aqui num canto que só nós é que ligamos, é se fizermos Ciência tão boa
como a melhor Ciência internacional. Os cientistas atraem-se se tiverem
condições tão boas aqui como as melhores condições internacionais.
É evidente que o nosso País passa por uma crise económica e financeira
profunda, profunda, nós temos todos de ter consciência disso, nós estamos a
fazer sacrifícios, de maneira que vai afectar toda a gente, vamos todos ter de
partilhar este momento difícil, nós todos vamos ter cortes, toda a gente acha
que se deve cortar na Despesa excepto quando chega a si próprio, isso é humano.
Portanto, estamos numa situação muito difícil, mas estamos num momento em que
precisamos de proteger uma série de coisas essenciais e uma das coisas
essenciais que temos de proteger em Portugal é a Ciência e eu estou
completamente de acordo consigo.
Como é que isso se faz? Faz-se de muitas maneiras: faz-se criando
condições excelentes em vários sítios, existem alguns sítios excelentes em
Portugal, já apoiando esses sítios excelentes, fazendo intercâmbio com outros
países, criando em Portugal polos de instituições de investigação de outros países
e criando noutros países polos que colaborem com a Ciência portuguesa, faz-se
de toda essa maneira. Para que não tenhamos ilusões, nós fixamos as pessoas e
fixamos os melhores se lhes oferecermos condições tão boas como outros países
oferecem, portanto a nossa política tem que ser essa.
Em relação às Novas Oportunidades, foram um programa que teve algumas
boas ideias e algumas coisas um bocadinho exageradas e aquilo que nós dissemos
no Parlamento quando se falou das Novas Oportunidades, foi que elas não podem
ser um sistema de distribuição de diplomas. As Novas Oportunidades têm de ser
um sistema de oferta de oportunidades de enriquecimento académico e
profissional às pessoas. Nós neste momento estamos a avaliar muito bem o
trabalho da Agência Nacional para a Qualificação que estava à frente das Novas
Oportunidades, tutelada duplamente pelo Ministério da Economia e pelo
Ministério da Educação e da Ciência. Os dois Ministérios estão muito empenhados
em saber dali o que é que foi bem feito e o que é que foi mal feito e antes
dessa avaliação ser completa é muito prematuro estar a falar do que vai
acontecer, mas a nossa ideia é oferecer novas oportunidades, mas que sejam
oportunidades de enriquecimento e que não sejam simplesmente oportunidades de
dizer que o nosso País têm afinal mais não-sei-quantos milhares de diplomados.
Isso de pouco vale!
Muito obrigado.
Dep.Carlos Coelho
Terceiro ciclo de perguntas: pelo Grupo Castanho a Liliana Dias e pelo
Grupo Azul a Mariana Custódio.
Liliana Fidalgo Dias
Boa noite a todos, boa noite senhor Ministro. A questão do nosso grupo
diz respeito à reorganização da rede do Ensino Superior.
É favorável ao fecho de algumas Universidades tendo em conta a procura
e a oferta de certos cursos?
Mariana Custódio
Boa noite. É uma enorme honra para o Grupo Azul estar com o senhor
Ministro. Achamos que a nossa pergunta virá trazer alguma controvérsia.
Ainda há pouco o senhor ministro salientou que a Música é importante.
Sim, é importante, assim como o Teatro ou a Dança. Agora, sendo o Estado
português um Estado que visa garantir a equidade, então porque é que o Desporto
tem um estatuto de alta competição e não existe estatuto de alta competição
para alunos de Conservatório de Música e de Dança? Pergunto aos meus colegas:
algum de vocês sabe quantas horas é que um aluno do 8º grau do Conservatório
tanto de Música como de Dança passa na sua escola? 15 horas semanais. Algum de
vocês sabe quantas disciplinas é que têm além das da escola? Seis, sendo que
metade são práticas e metade são teóricas, são 15 horas semanais, aulas para
além da escola, é um esforço físico e psicológico inerente. Provas artísticas
para as quais é preciso estudo intensivo, são representações no estrangeiro que
não entram tanto no currículo como entra se calhar um representação de Portugal
para o Desporto.
Com os factos que apresentei, acha que os conservatórios nacionais não
têm razões suficientes para pedir o estatuto.
Nuno Crato
Muito bem. Posso começar pela última pergunta. A minha resposta é sim,
eu acho que tem toda a razão. Eu acho que tem toda a razão e que temos de
arranjar uma maneira de fazer um apoio equiparado ao estatuto da alta
competição em relação a uma série de outras actividades. Por exemplo, os
olímpicos da Matemática, da Física e da Astronomia, são pessoas que dignificam
imenso o nosso País e que sempre que fazem uma deslocação têm de o fazer à
custa de aulas perdidas sem ter quaisquer das possibilidades que são abertas
pelo estatuto de alta competição dos atletas. A mesma coisa em relação à
Música. Eu estou completamente de acordo, é uma coisa que tem de ser estudada e
tem de ser vista. Lembro-me que já há alguns anos, no Governo em que o
Professor David Justino era Ministro da Educação isso já começou a ser pensado,
mas depois não foi concretizado, eu espero que qualquer coisa semelhante se
concretize em breve e os meus parabéns por se interessar por Música e por
Dança.
Em relação à pergunta sobre o fecho de Universidades, bem, nós estamos
numa sociedade livre e as pessoas podem enganar os outros, não é? E podem
manter Universidades desde que não estejam a enganar os outros. Isso é a função
do Estado, verificar se de facto se ensina naquela Universidade, é algo que
está ao nível de uma Universidade, mas temos outro problema que é o nosso
ensino universitário é maioritariamente público, financiado pelo Estado,
portanto o Estado tem uma função dupla aqui: não só garantir que uma Universidade
funcione como uma Universidade, mas não só, como está a usar dinheiros públicos
usá-los da melhor maneira. Aí, eu volto a dizer, há um esforço de
racionalização da oferta educativa nas Universidades que tem de ser repensada.
Não iria tão longe ao ponto de dizer que seria preciso fechar Universidades,
não estou a ver nenhuma que seja preciso fechar, mas inevitavelmente algumas
escolas sejam agrupadas, alguns cursos sejam racionalizados numas áreas e não
noutras, julgo que isso é inevitável e acabará por acontecer.
[APLAUSOS]
Dep.Carlos Coelho
Quarta ronda de perguntas: pelo Grupo Rosa, Frederico Almeida Nunes e
pelo Grupo Laranja o Joaquim Freitas.
Frederico Almeida Nunes
Boa noite a todos. Boa noite, senhor Professor Doutor Nuno Crato. A
pergunta escolhida pelo Grupo Rosa é se não seria importante a realização de um
exame após o curso para que as pessoas que não venham de faculdades tão bem
reconhecidas também tenham a oportunidade de mostrarem os seus conhecimentos.
Já agora poderia falar um bocadinho em como se sente em ser independente neste
Governo?
Obrigado.
Joaquim Freitas
Boa noite. Eu queria renovar os cumprimentos ao Professor Doutor Nuno
Crato, desejando-lhe desde já as maiores felicidades para este mandato, para
esta legislatura, tendo a certeza absoluta que o seu sucesso vai ser
garantidamente o nosso sucesso. O sucesso dos Portugueses. Jacques Delors disse
em 1997 uma frase que eu gostava de citar, dizia ele que "à Educação cabe
fornecer de algum modo a cartografia de um mundo complexo e bastante agitado e
ao mesmo tempo a bússola que permite navegar através dele”.
Disse o Professor hoje, na nossa opinião, muito bem, que o que conta
não é o número de anos, mas o que se aprende na escola e isto leva-nos a uma
questão fundamental que é "quem educa os educadores?”. A pergunta aqui será:
pensa que as Universidades de hoje formam os professores com qualidade
suficiente para cumprir o desígnio de excelência e rigor que o seu Ministério
vai notando como sendo a verdadeira Educação em Portugal?
Nuno Crato
Muito obrigado. Agora vou começar pela primeira pergunta em vez de
começar pela última, para variar.
Falou de exame de acesso à profissão que é uma coisa que não deve ser
generalizada, acho eu. Nós devemos ter um sistema de acreditação dos cursos que
funcione de tal maneira que as pessoas após esses cursos estejam prontas a
assumir a continuidade da profissão. Mas em certas profissões é necessário ir
mais longe, é o caso por exemplo dos médicos que após tirarem o curso de
Medicina, têm de fazer uma série de exames e uma série de práticas, já não me
lembro exactamente, mas eu namorei como uma médica e portanto lembro-me como é
que é.
[RISOS]
Aliás, eu lembro-me que aquilo eram exames atrás de exames porque após
tirar o curso era preciso fazer o exame de acesso à especialidade, depois era o
exame não-sei-quê e os médicos estavam sempre a fazer esses exames e é graças a
isso que temos tão bons médicos no nosso País e portanto acho bem que mantenham
todos esses exames, mas penso que será desnecessário noutro tipo de profissões.
Eu tenho insistido muito num exame de acesso à profissão para
professores, pela mesma razão que a Hillary Clinton instituiu exames de acesso
à profissão quando estava no Estado do Arkansas como Secretária de Estado da
Educação, creio eu que é assim que se chama. Ela dizia que se as escolas
formassem os professores de forma perfeita, nós não precisávamos de fazer esse
exame, mas de facto as escolas de educação de professores em Portugal têm muito
a melhorar e a maneira como o Estado (que é o maior empregador de professores)
coloca professores na carreira é baseada apenas na nota final do curso, o que é
uma injustiça terrível e é – vamos falar outra vez de incentivos, que é uma
coisa que os economistas e os politólogos gostam de falar – um incentivo a quê?
Um incentivo a que a colocação seja a nota final de curso? É um incentivo à
escola de formação de professores para inflaccionarem as notas para atraírem alunos
(os futuros professores) na perspectiva de tirarem melhores nota... que
permitem acesso mais facilitado à colocação profissional.
É preciso algum sistema regulatório no meio disto.
O Salazar resolveria o problema criando um grupo de inspectores que
iria verificar todas as escolas e uniformizar tudo e ter um sistema de escola a
escola que reportava umas às outras e ficava tudo uniforme, o Estaline também
faria uma coisa semelhante, nós podemos fazer alguma coisa nesse sentido,
podemos ter algum poder de regulação nas escolas, podemos tentar regular a
maneira como as escolas funcionam e incentivá-las, mas podemos fazer uma medida
que resolve de imediato, ou que ajuda de imediato a resolver o problema e que
dá de imediato um sinal às escolas que é instituir um exame de acesso à
profissão.
Com um exame de acesso à profissão, que mostra o que os candidatos a
professores sabem, nós estamos imediatamente a dar um incentivo às escolas para
que melhorem a formação de professores e estamos a dar um incentivo aos
candidatos a professores para que estudem o mais possível de forma a entrarem
na profissão que ambicionam.
Vejamos que estou a falar do Portugal de 2011, não estou a falar do
Portugal de 2050, nem estou da Finlândia de 2011. Estou a falar de Portugal dos
próximos anos, estamos a falar de uma maneira que eu julgo que é boa e
eficiente de começar a regular o sistema de forma a que entrem para a profissão
os professores mais bem preparados.
Agora, como é que isso é feito? Que exame? etc., isso agora é toda uma
longa discussão. Eu dei um exemplo dos professores porque é o que me preocupa
mais, mas há uma série de outras profissões que têm preocupações semelhantes.
Vocês sabem que há profissões de engenheiros que não são reconhecidas pela
Ordem? A Ordem faz isso porquê? Porque tem suspeitas da qualidade desses
cursos, portanto está aí a actuar no seu papel regulador.
Eu acabei por responder à segunda pergunta ao mesmo tempo que respondi
à primeira, que é quem educa os educadores. Bem, eu julgo que a pergunta quem
educa os educadores ficou mais ou menos respondida com isto. Ou seja, nós
queremos que quem eduque os educadores sejam as pessoas que eduquem da melhor
maneira os educadores e portanto a minha resposta é queremos que os futuros
professores sejam os mais bem preparados possíveis.
Agora, podem também perguntar "mas será que as Escolas Superiores de
Educação e os departamentos de Educação nas Universidades têm todos a melhor
orientação em relação à formação de professores”? A minha resposta julgo que
vocês sabem, é não, não têm, há muitas coisas a serem mudadas nas Escolas
Superiores de Educação e os departamentos de Educação nas Universidades, há
muitas coisas antiquadas, que são demasiado ideológicas e por aí, isso
levava-nos também numa longa conversa sobre isso.
Depois perguntou-me na primeira pergunta, como é que me sinto como
independente neste Governo e eu sinto-me muito bem, sinto-me muito bem, não
sinto uma grande diferença por ser independente, ser independente no meu caso
significa não estar filiado num dos dois partidos da coligação, aliás em
partido nenhum, não estar filiado num partido, mas é evidente que eu sou um
independente que se identifica muito com as ideologias dos partidos da
coligação e que se identifica muito, eu diria, esse muito é 100% com o programa
do Governo. Portanto, eu tenho a maior admiração pelo senhor Primeiro-Ministro
e pela maneira como o Governo foi constituído e pelos meus colegas e eu diria
que quando me sento no Conselho dos Ministros não sinto diferente dos outros,
sinto-me muito bem.
[APLAUSOS]
Dep.Carlos Coelho
Vamos passar para a última fase de perguntas e respostas ao nosso
convidado a quem agradeço a sua vinda à nossa Universidade de Verão 2011, à
conferência e ao debate que nos proporcionou neste primeiro jantar da nossa
Universidade de 2011.
Para a última ronda de perguntas, terá a palavra pelo Grupo Amarelo o
Miguel Oliveira e pelo Grupo Bege a Cláudia Oliveira
Miguel Oliveira
Bem, antes de mais queria saudar todos os presentes, lançando um
especial cumprimento ao Professor Doutor Nuno Crato. A nossa sociedade
atravessa um período bastante exigente, vivemos um período de crise,
essencialmente económica, no entanto a sua dimensão não se esgota nesse
aspecto. Acredito que também atravessamos uma crise cultural, de identidade, de
valores, e por fim uma crise no sistema educacional. Portanto, o nosso Grupo
Amarelo gostaria de saber qual a sua opinião sobre as turmas de nível, se
considera esta desigualdade justa e se seria benéfico para a sociedade
portuguesa.
Muito obrigado.
Cláudia de Oliveira
Boa noite, senhor Ministro, senhores deputados e caros colegas. Senhor
Professor Doutor Nuno Crato, eu e os meus colegas gostaríamos de saber a sua
opinião sobre a introdução do cheque-ensino como medida de melhoramento do
aproveitamento escolar e também para diminuir as desigualdades de oportunidade
que actualmente acontecem.
Obrigada.
Nuno Crato
Muito obrigado. Estes dois Grupos ficaram para o fim porque tinham as
perguntas mais difíceis, foi isso? Foi perfeitamente aleatório, então foi um
acaso bastante grande.
Eu estou completamente de acordo em relação ao que disse sobre a crise
económica, não é uma coisa passageira e grande parte dos nossos problemas do
Ensino derivam da Sociedade. Quando nós temos famílias que se dirigem à escola
para criticar o professor por ser exigente algo está mal, quando as famílias se
dirigem à escola para agredir ou ameaçar os professores algo está mal.
Isso significa que nós não temos em toda a sociedade aquilo que nós
deveríamos ter que é um grande apoio à educação dos jovens. Toda a sociedade
deveria estar empenhada na educação aos jovens. Agora, outro problema é como é
que a escola vai reagir, a escola não pode baixar os braços a isso.
Agora, a sua pergunta é a pergunta das turmas de nível. Alguns de
vocês são capazes de não saber o que são turmas de nível e eu julgo que estou a
traduzir bem, as turmas de nível são turmas em que tenha jovens mais avançados,
melhores, numa turma e jovens não tão bons alunos noutra turma, era essa a
vossa questão, não é?
A verdade é a seguinte: já existem turmas de nível em Portugal, só que
estão escondidas, porque vocês sabem, ou se não sabem perguntem a colegas
vossos ou a professores, na realidade quando começam a ser feitas as turmas em
algumas escolas, o que acontece é que há uns que vão para a turma A, outros
para a turma B e por acaso os que estão na turma A são todos melhores e por
acaso os que estão na última turma são todos os piores, portanto isto já existe
em algumas escolas, estas turmas de nível. Mas não existe de forma assumida,
que isso é que é mais grave.
Eu diria que este é um problema extremamente complexo, porque o fazer
turmas de nível tem uma grande vantagem que é permitir que o ensino se adapte
ao nível dos alunos que aí estão e portanto possam progredir do ponto em que
estão, ao contrário do ensino em que o professor fala e não está a falar para
ninguém, porque os que estão muito abaixo não percebem nada e os que estão
muito acima estão a dormir, não é? Portanto, ao contrário dessas turmas que
estão muito dispersas, as turmas de nível permitem que se parta do nível em que
o estudante está e se comece a construir a evolução dos estudantes.
Mas tem uma grande desvantagem, é que podem funcionar como um sistema
de perpetuação da desigualdade e portanto, podem funcionar como um sistema que
arrasta para uma condenação um jovem que por acaso no primeiro ano as coisas
não lhe correram muito bem
Eu diria que o nosso grande desafio é instituir alguma adequação das
turmas e do ensino ao nível em que os alunos estão com a permeabilidade do sistema,
ou seja, nós darmos mais apoio aos que estão mais atrasados nos estudos e
incentivarmos quem está mais avançado a progredir. Mas arranjar uma maneira das
coisas se poderem inverter, ou seja, aqueles que estão muito mal numa matéria
possam para o ano seguinte estar bem nessa matéria e que as turmas de nível não
se tornem num ponto de condenação.
Como é que isto se faz? É extremamente difícil. O país que tem mais
experiência nisto são os Estados Unidos que fazem turmas de nível há muito
tempo e fazem-nos por várias razões, é que têm escolas muito grandes e isso
criou outros problemas, enfim, isto é um problema cheio de aspectos não é uma
coisa simples, por isso é que eu disse que esta pergunta era muito difícil. Não
respondi completamente, pois não, a pergunta é muito difícil.
A segunda pergunta também é muito difícil, deixem-me falar
completamente livremente, eu sou um membro do Governo mas posso agora falar um
bocadinho como cidadão. Eu no programa do Governo não vi lá escrito o
cheque-ensino e portanto posso falar como cidadão sobre isso. É um problema que
tem de ser discutido. Eu estou completamente de acordo com o aumento da
liberdade da Educação, ou seja, com um aumento da liberdade das pessoas
escolherem as escolas, inclusivamente escolherem escolas privadas e o Estado
não discriminar entre escolas privadas e escolas públicas.
Não sei se o cheque-educação é o melhor para isso. É uma solução que
do ponto de vista económico parece muito racional, parece uma solução muito
racional. Toda a gente sabe o que é um cheque-educação? Toda a gente sabe.
Parece uma solução muito racional, mas as experiências históricas que existem
são muito limitadas, por isso é um assunto que precisa de ser estudado. Se
agora estivesse aqui um dos partidários ferrenhos do cheque-educação,
começávamos aqui uma grande discussão sobre o assunto, mas de facto a
experiência histórica é muito limitada. A mim, à partida, parece-me uma ideia
muito racional, a de o dinheiro acompanhar os jovens, parece a ideia mais
racional, não é? No entanto, quando nós vamos a certas comunidades em que as
pessoas têm pouca informação, isso significa pura e simplesmente que os que têm
menos informação e que estão menos interessados fazem as piores escolhas só por
si.
Portanto, outra vez, é um problema complexo que vamos ter de resolver
desta ideia que é aumentar liberdade de educação e de dar liberdade aos jovens
todos de terem acesso a melhor educação, não sendo isso obstaculizado pelas
condições económicas de cada um.
Eu creio que respondi o melhor que soube às perguntas, mediante as
limitações de tempo, antes de terminar queria dizer-vos duas coisas.
Primeiro queria dizer-vos que estive hoje no funeral do Professor
Râmoa Ribeiro que foi uma pessoa que me apoiou sempre muito e apoiou sempre
muitos estudantes. Era um militante do PSD, uma pessoa muito empenhada no
Ensino e portanto eu estou ainda bastante comovido com a perda desse meu
reitor.
Eu trabalhei na equipa reitoral dele, convidou-me para vice-reitor,
depois pró-reitor da Universidade, sempre com aquela – quem o conhece sabe
disso, alguns de vocês – paciência que ele tinha para convencer as pessoas
pouco a pouco, convencia, convencia e depois as pessoas ficavam convencidas e
trabalhavam com ele e eu tive imensa honra de conviver com ele nestes últimos
anos da sua vida.
Portanto, queria prestar aqui uma pequena homenagem ao Professor Râmoa
Ribeiro que contribuiu muito para que eventos como esse acontecessem e depois,
em segundo lugar, queria agradecer esta oportunidade que me deram. Não há nada
mais reconfortante para um membro do Governo e para uma pessoa que se preocupa
com a Educação como estar no meio de jovens que se preocupam com a Educação. Às
vezes nós perdemos um pouco o sentido, as proporções, e julgamos que só nós é
que estamos preocupados com as coisas e chegar aqui e ver-vos tão preocupados
com os problemas da Educação dá-nos uma grande esperança de que os problemas
serão resolvidos. Portanto, muito obrigado pela oportunidade de falar convosco.