Minhas
senhoras e meus senhores, este é o primeiro jantar da Universidade de Verão, é
um jantar mais formal porque os restantes são jantares-conferência.
Vão
reparar que todos os jantares começam com um momento cultural - protagonizado
por vós nos restantes jantares - e por um brinde que também será feito por vós.
Mas, neste primeiro jantar, esses dois momentos ainda são nossos. Estamos a
passar-vos o testemunho.
Num
sorteio que será feito esta noite, dois grupos em cada evento terão de
seleccionar um poema e declamá-lo para iniciar os nossos jantares com um
momento cultural.
Hoje,
como é a nossa escolha, escolhemos um poema que está nas vossas mesas, que podem
colocá-lo nas vossas pastas, no último separador. É um poema de 1960, do grande
poeta Jorge de Sena e tem origem nesta tela: uma tela do século XIX, de 1814,
de Goya, que assinala a invasão de Madrid pelas tropas de Napoleão.
Aquilo
que vocês vêem na imagem, é a máquina brutal do exército francês - nós não
vemos a cara de quem mata, só vemos a cara de quem morre - a assassinar os
madrilenos que resistiam à invasão das tropas napoleónicas. A imagem da tela é
muito marcante, para mim é das melhores telas de Goya, que era um pintor da
corte e que também fez pintura mais estática, como retratos. Esta é uma pintura
que retrata os fuzilamentos em Madrid a 3 de Maio de 1808, por isso, esta tela
para muitos é conhecida como "Os
Fuzilamentos de Goya” ou "Os Fuzilamentos
de 3 de Maio”. É uma tela que ilustra o desespero e o terror, a brutalidade
da guerra e a crueldade que existe quando os homens se matam uns aos outros.
Quem
vai ler o poema é o Paulo Pinheiro, um dos vossos conselheiros e este é o
momento cultural com que iniciamos o primeiro jantar da Universidade de Verão.
Paulo Pinheiro
Carta
a meus filhos sobre os Fuzilamentos de
Goya
Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.
É possível, tudo é possível, que ele seja
aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo,
onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
de nada haver que não seja simples e natural.
Um mundo em que tudo seja permitido,
conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.
E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto
o que vos interesse para viver. Tudo é possível,
ainda quando lutemos, como devemos lutar,
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,
ou mais que qualquer delas uma fiel
dedicação à honra de estar vivo.
Um dia sabereis que mais que a humanidade
não tem conta o número dos que pensaram assim,
amaram o seu semelhante no que ele tinha de único,
de insólito, de livre, de diferente,
e foram sacrificados, torturados, espancados,
e entregues hipocritamente à secular justiça,
para que os liquidasse "com suma piedade e sem efusão de sangue.”
Por serem fiéis a um deus, a um pensamento,
a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas
à fome irrespondível que lhes roía as entranhas,
foram estripados, esfolados, queimados, gaseados,
e os seus corpos amontoados tão anonimamente quanto haviam vivido,
ou suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória.
Às vezes, por serem de uma raça, outras
por serem de uma classe, expiaram todos
os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência
de haver cometido. Mas também aconteceu
e acontece que não foram mortos.
Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer,
aniquilando mansamente, delicadamente,
por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de Deus.
Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror,
foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha
há mais de um século e que por violenta e injusta
ofendeu o coração de um pintor chamado Goya,
que tinha um coração muito grande, cheio de fúria
e de amor. Mas isto nada é, meus filhos.
Apenas um episódio, um episódio breve,
nesta cadeia de que sois um elo (ou não sereis)
de ferro e de suor e sangue e algum sémen
a caminho do mundo que vos sonho.
Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém
vale mais do que uma vida ou a alegria de tela.
É isto o que mais importa – essa alegria.
Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto
não é senão essa alegria que vem
de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez
alguém está menos vivo ou sofre ou morre
para que um só de vós resista um pouco mais
à morte que é de todos e virá.
Que tudo isto sabereis serenamente,
sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição,
e sobretudo sem desapego ou indiferença,
ardentemente espero. Tanto sangue,
tanta dor, tanta angústia, um dia
- mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga –
não hão de ser em vão. Confesso que
muitas vezes, pensando no horror de tantos séculos
de opressão e crueldade, hesito por momentos
e uma amargura me submerge inconsolável.
Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam,
quem ressuscita esses milhões, quem restitui
não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?
Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes
aquele instante que não viveram, aquele objecto
que não fruíram, aquele gesto
de amor, que fariam "amanhã”.
E, por isso, o mesmo mundo que criemos
nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa
que não é só nossa, que nos é cedida
para a guardarmos respeitosamente
em memória do sangue que nos corre nas veias,
da nossa carne que foi outra, do amor que
outros não amaram porque lho roubaram.
[APLAUSOS]
Dep.Carlos Coelho
Bem, e há outra tradição que é o brinde com que se
iniciam os jantares. Eu queria fazer um brinde que não é ditado pelo protocolo,
nem uma obrigação da cortesia democrática.
Estamos na bonita terra de Castelo de Vide e faz
todo o sentido que prestemos a nossa homenagem à terra que nos acolhe, na
pessoa do Presidente da Câmara, aquele que é eleito pelos concidadãos para
representar o município. O Eng. António Ribeiro tem-nos dado o privilégio da
sua presença desde a primeira Universidade de Verão e eu gosto muito de
assinalar uma coisa que o deixa muito embaraçado: é que ele não é apenas o
Presidente da Câmara que nos recebe, ele é um bom exemplo. Desde logo porque é
um verdadeiro independente, quando estamos habituados a ver militantes que se
zangam com os seus partidos, fazem movimentos independentes e concorrem às
câmaras.
O Presidente da Câmara de Castelo de Vide não é
nada disso, é um verdadeiro independente que aceitou ser candidato pelo PSD.
Com o acordo de um partido político, ele foi eleito Presidente da Câmara,
conquistou a Câmara ao Partido Socialista e prova, pelo seu testemunho de
cidadão com intervenção política qualificada, que não é preciso esta filiado
num partido político para fazer intervenção política, mesmo ao nível dos cargos
eleitos.
Em segundo lugar, porque o nosso Presidente é um
homem competente, herdou uma Câmara praticamente falida e conseguiu, em escasso
tempo, devolver-lhe condições de governabilidade.
Em terceiro lugar, porque é um homem sério, ninguém
aponta nada a António Ribeiro, num momento em que os políticos estão sob o ónus
da suspeição, de confundirem aquilo que são os recursos públicos com os bolsos
privados.
E, finalmente, foi um homem que nunca se deslumbrou
e nunca se envaideceu. Há quem vá para um lugar e comece a olhar os outros d
cima para baixo ou a obrigar a um tratamento mais formal ou esquecendo de
pessoas com que se cruzou a vida inteira. António Ribeiro não é isso, é homem
perto do seu povo e que viu, de eleição em eleição, ver reforçada a sua
maioria.
António Ribeiro é um homem que tem como hobby a
leitura de revistas de automóveis, como comida preferia a comida alentejana, o
animal preferido é o cavalo, o livro que nos sugere é a Auto-biografia de Cavaco Silva. O livro que
nos sugere é um grande filme, O Clube dos
Poetas Mortos e a qualidade que mais aprecia é uma qualidade que ele dá
provas na vida, que é a honestidade.
Por isso, proponho que ergam o vosso copo para
bebermos à saúde deste grande homem, que é o Presidente da Câmara Municipal de
Castelo de Vide, António Ribeiro.
[APLAUSOS]
Dr.António Manuel Ribeiro
Senhor Director da Universidade de Verão de 2011,
Deputado Europeu Carlos Coelho; senhor presidente da Juventude Social
Democrata, Deputado Duarte Marques; senhor Secretário-geral, Deputado José Matos
Rosa; senhor Presidente do Instituto Francisco Sá Carneiro; restantes
convidados desta mesa; colegas autarcas da Câmara Municipal de Sousel; senhor
presidente da Assembleia Municipal de Castelo de Vide; senhores Deputados;
caros alunos, quero em primeiro lugar, na minha qualidade de anfitrião desta
terra, expressar os votos de boas vindas a todos os participantes, alunos,
equipa da organização e a todos os conferencistas que durante a próxima semana
vão estar connosco em Castelo de Vide.
Sejam, portanto, muito bem vindos e tenham uma
agradável estadia.
Decorridos que estão 8 cursos desta meritória e
louvável experiência, que é a Universidade de Verão do PSD, temos hoje a
certeza, pelos contactos ocasionais que vamos tendo, do Norte ao Sul do País,
com alunos de anteriores edições, que
quem passa por este projecto, adquire uma experiência inesquecível e única.
Temos a certeza que tal deve-se sobretudo à competência do cérebro que está por
de trás desta iniciativa, o Senhor Deputado, Carlos Coelho, que, juntamente com
a sua empenhada equipa, consegue conferir a este cursos um elevado nível de
qualidade, publicamente reconhecido pela comunicação social e pelos demais
quadrantes políticos.
Efectivamente, muito para além da notável plêiade
de oradores que os programas oferecem, ano após ano, os alunos adquirem aqui
conhecimentos práticos e uma visão consciente e elementar para o melhor
conhecimento dos mecanismos institucionais, essenciais ao funcionamento do
nosso sistema democrático.
Assim sendo, nunca é demais reforçar os benefícios
políticos na área formativa das futuras gerações da classe política que este
projecto proporciona. Porquanto, como já anteriormente o manifestei, este
projecto é a chave da diferenciação que permite aos alunos obterem uma outra
dimensão e outra competitividade que lhes irão ser essenciais ao desempenho das
suas funções futuras.
Mas esta Universidade de Verão tem ainda outro
grande mérito, o de reforçar a identidade política e cívica dos jovens
cidadãos, que saem de Castelo de Vide com uma nova capacidade de olhar, pensar
e agir.
Assim, está pois de parabéns o Instituto Francisco
Sá Carneiro, PSD e, em particular, o Director desta Universidade, pela
capacidade de continuar este projecto, o qual tem ainda o mérito de ser uma acção
descentralizada para uma terra do interior do país. Também aqui, o PSD marca
pontos mostrando que é este o caminho para a sustentabilidade e coesão do
território, bem como para a imergência de dinâmicas fundamentais para a
revitalização que urge implementar em territórios periféricos.
Não posso deixar também de manifestar uma palavra
de apreço ao deputado Matos Rosa, pela dedicação e reconhecido empenhamento em
promover o seu distrito e, muito particularmente, todo o seu entusiasmo em
promover esta iniciativa, a qual seguramente irá, durante a próxima semana,
transformar Castelo de Vide na terra mais mediática do país.
Aproveito ainda o momento para felicitar
publicamente, como é da mais elementar justiça, a sua eleição para
Secretário-geral do Partido, situação que obviamente se traduz como corolário
dos muitos anos de dedicação e entrega abnegada às causas e princípios que a
doutrina social democrata advoga.
E permite-me aqui destacar quer o Deputado, Carlos
Coelho, quer o Deputado Matos Rosa, na justa medida que esta Universidade de
Verão também deverá evidenciar aquelas personagens que, pela coerência dos
respectivos percursos de vida política e partidária, bem como pelos anos de
luta em prol da nossa causa ideológica, se constituem verdadeiros exemplos para
as gerações mais jovens.